A Academia Dallacorte - Volume I
A Academia Dallacorte - Volume I
Por: Juck Olegário
⊶ 01 ⊷

— … e eu disse para a sra. Ratiolly que eu não me importava mesmo se tiver que ficar em um dormitório; é muita gasolina e eu simplesmente não posso pedir para meu pai pagar mais do que ele e Claudia já estão pagando… — Klaus abraçou os livros em seu peito e manteve a cabeça baixa.

Brayan considerou essa postura. Klaus se postava com os ombros erguidos e a postura reta como sempre, mas o jeito como ele mantinha a cabeça baixa e se recusava a fazer contato visual com a maioria dos garotos de Dallacorte tornava claro que ele ainda precisava ficar verdadeiramente confortável com as mudanças.

Brayan olhou para Dimitri, que observava de onde estivera previamente estudando partituras de músicas, também com olhos em Klaus. Os dois Hall’s Babbler trocaram um olhar compreensivo em relação ao que ambos tinham notado, e o líder dos Hall’s Babbler voltou-se para o provável novo membro:

— Bom, nós ficaríamos mais que felizes em ter você no nosso dormitório, é claro.

— Ah, você é um aluno interno? — Klaus piscou, voltando a olhá-lo.

— Bourbon. — Brayan assentiu, desviando o olhar da forma mais casual que conseguiu: toda vez que Klaus emanava o poder total do incrível calor em seus olhos (no momento amplificado pelos raios de sol que passavam pelas janelas) para ele, pensar racionalmente tornava-se complicado.

Dimitri fingiu não notar a acentuada queda no intelecto geral de Brayan e apenas revirou os olhos. Mas disse:

— Ainda há alguns quartos livres em Bourbon, sabe.

A Casa Bourbon, que ficava na ala Leste, era um dos três dormitórios de Dallacorte, os outros sendo a Casa Orsini, mais ao longe, na ala Oeste, e a Casa Canossa, na ala Norte. O Sul e a área central eram onde ficavam a maiorias das salas de aulas e instalações.

Brayan assentiu — apenas com uma animação ligeiramente exagerada que não era notável.

— A gente pode falar com o sr. Hélder para você. Ele é o chefe da Casa Bourbon.

— Tem certeza que está tudo bem…? — perguntou Klaus cuidadosamente. Ele só tinha estado em Dallacorte por algumas horas e ainda estava apreendendo o local, mas até ele conseguia entender que haviam certas regras sociais na escola.

Cada dormitório era protetor de seu próprio orgulho fraternal e os garotos às vezes se dividiam como tal quando caminhavam em grupo. Klaus maravilhou-se com o tanto de fofoca relacionada a isso que ele tinha ouvido em um dia e concluiu que garotos geralmente falam tanto quando garotas.

— É claro que está tudo bem. — Dimitri sorriu amigavelmente. — Além do mais, mesmo que o grupo seja uma grande salada mista, tem mais Hall’s Babbler em Bourbon do que em Canossa e Orsini. Nós somos pressionados para treinar o tempo todo, e será mais fácil para você se você estiver praticando com a gente. Isso, é claro, se você conseguir entrar. — Dimitri parecia quase arrependido ao mencionar a última parte.

Klaus engoliu em seco e soltou o ar pela boca.

— Certo. — Ele assentiu. — Eu vou tentar afinal.

— Ei, não se preocupe muito. — Brayan sorriu. — Você vai entrar, tenho certeza.

Klaus sorriu para ele fracamente.

— Obrigado, mas, considerando que você nunca me ouviu cantar de verdade, vou tomar sua profecia como inspiração. — Ele sorriu torto e levantou uma charmosa sobrancelha.

— Ali está Wen. — Brayan olhou então para seu amigo na tentativa de não ser capturado por outra armadilha Klaus-me-dá-uma-expressão-adorável. — E ele ainda está vivo! Ele escapou do assassinato da Madame Saint-Clair.

Encontrando os outros três, Wen caminhou na sua direção, desviando da massa de garotos que tinham acabado de sair do fórum da professora de Francês. Dimitri o cumprimentou com sorriso irônico.

— E como foi? Teve sangue? Seu cérebro pelo menos parece intacto.

— Eu me recuso a estudar mais uma palavra de Francês. — Wen assentiu com um pouco mais de melodrama do que o permitido: ele tinha se manifestado determinado em ajudar Brayan a reinar sobre a loucura de Dallacorte para não assustar o garoto novo tão cedo. — Se eu prometer recusar as viagens anuais dos meus pais para Paris, não vou mais precisar disso, certo?

Os outros riram.

— Eu posso te ajudar, se quiser — ofereceu Klaus com um sorriso.

— Você? — Wen levantou uma sobrancelha. Ele olhou para os outros dois garotos antes de se voltar para Klaus. — Sem ofensa, mas… Meliano era tão difícil para gente do terceiro ano do Francês Avançado?

— Confie em mim, eu posso ajudar — disse Klaus confiantemente. — Eu sempre dei ênfase exagerada para o Francês. — Aquele uniforme vermelho e branco que ainda estava escondido nas profundidades do seu guarda-roupa era uma prova disso. — Se você não passar no próximo teste oral, eu te compro café latte por uma semana.

— Ora, quem diria… temos tanta sorte de ter você. — Wen se virou para Brayan, implicando algo que o outro garoto poderia ter dito antes. Brayan corou apenas superficialmente, mas então ele acidentalmente acotovelou Wen nas costelas enquanto pigarreava e movia-se para manter seu lugar ao lado de Klaus enquanto eles caminhavam. Os outros dois, atrás deles, olharam-se rapidamente e bateram os pulsos com risadinhas precariamente camufladas.

Brayan olhou para Klaus e lhe lançou um sorriso. Klaus retribuiu, ainda ansioso, mas se sentindo melhor.

Meu nome é Klaus. E esta é a Academia Dallacorte.

Como você deve saber, eu acabei de me transferir com o objetivo de evitar certas… Dificuldades em Meliano. Não me leve a mal: eu adoro a Academia anterior —, mas a verdade é, a água começou a subir e agora… aqui estou eu. Sou oficialmente um aluno de Dallacorte.

Meu problema é que meu plano ia até chegar à Dallacorte e ponto final. Agora que realmente estou aqui, percebo que não tenho a mínima ideia do que espero que ocorra comigo aqui.

Felizmente, tenho Brayan, Dimitri e Wen para, pelo bem ou pelo mal, me levar a alguma direção.

— Vamos lá! — chamou Dimitri ao descer os degraus. — Se a gente quer achar Hélder, temos que chegar cedo ao refeitório!

— Por que vocês vão falar com Hélder? — perguntou Wen ao seguir seu amigo.

— Vamos colocar o novato em Bourbon.

A repentina risada zombeteira de Wen foi repreendida pelo olhar furioso de Brayan.

— Ah, quer dizer, claro. Ei, talvez Hélder não mate a gente se pedirmos desta vez. Nossa, boa sorte em chegar à mesa dos professores, Dimitri. Eu não vou me juntar a vocês, mas mandarei flores para os seus túmulos.

— Tem algo sobre o sr. Hélder que eu deveria saber? — perguntou Klaus, empalidecendo ligeiramente. — Eu estou prestes a conhecer o cara e gostaria de continuar inteiro depois disso.

— Não é você, somos nós. — Brayan suspirou. — Essa não é a primeira vez que tentamos colocar alguém em Bourbon.

— Ou a segunda — resmungou Dimitri.

— Ou a terceira — acrescentou Wen.

— Ou a quinta.

— Ou a sexta.

— O que está acontecendo aqui? — perguntou Klaus.

— Gente nova não dura muito em Bourbon… — Wen sorriu fracamente. — E quanto eles duram, não ajuda muito a causa de Bourbon.

— Por quê?

Os outros três pausaram, olhando-se. Klaus olhou para eles e gesticulou expectativamente.

— Então?

Dimitri sorriu.

— Brayan disse pra gente não te assustar ainda.

O líder dos Hall’s Babbler avançou nele — Dimitri se abaixou, virou-se e se levantou de novo —, mas Brayan se voltou para Klaus e respondeu:

— Não escute ele. É que só certas pessoas toleram algumas das loucuras que acontecem em Bourbon. Não apenas na sala comunal. É… geral.

Klaus, um veterano em loucura que tinha sobrevivido mais de um ano de coral em Meliano, onde ele tinha estado bêbado, caminhado vestido de Lady Gaga, jogado no time de futebol americano, participado das líderes de torcida, tinha experimentado alucinações, algumas performances incrivelmente ferozes, lidado com uma treinadora de torcida psicótica, uma conselheira estudantil neurótica, um professor de coral preso nos anos 80, tinha se envolvido em uma estrondosa batalha com robôs sem alma (Euforia), e, mais importante, lidado com as confusões de um grupo de coral e Rute Barbieri (que merece uma citação separada), agora levantou uma sobrancelha.

— Loucuras?

— Não.

Brayan aumentou a potência de seu sorriso.

— Vamos lá, sr. Hélder, sério mesmo. Você não vai ter problemas com o Klaus.

— Foi isso que você disse quando trouxe Duarte.

— E Duarte ainda está em Bourbon! — exclamou Dimitri alegremente.

— Infelizmente, ele ainda está. — O homem jovial e alto olhou para baixo repreensivamente. — Quando vocês me disseram que ele tinha hábitos estranhos, vocês não disseram que ele era ainda mais supersticioso que um construtor de casa de 1800.

— Então ele gosta de pendurar alho nas janelas — disse Wen, tentando adotar um tom indiferente, que, apesar de seu melhor julgamento, decidiu participar da missão de colocar o novato em Bourbon para poupar-se da promessa de vingança infinita de Brayan caso ele se recusasse. — A gente já conseguiu convencer ele de parar de colocar sal nas portas!

— E nós falamos para ele parar de "caçar fantasmas" na velha catedral! — contribuiu Dimitri. — … como está o zelador, por sinal?

— Eu não sei que tipo de corante alimentar Duarte usou, mas eu sei que aquela "marca" no braço do sr. Teodoro ainda está lá! — rosnou Hélder em voz alta. Brayan estremeceu, gratificado que eles tivessem encontrado o chefe da casa quando ele ainda estava no corredor. Eles estavam recebendo olhares estranhos de alguns garotos de Orsini que estavam passando e poderiam saber o que estava acontecendo. Klaus permaneceu em silêncio ao seu lado, aparentemente tentando ignorar o que estava ouvindo.

— E, falando sério, Klaus é mais normal que muitos de nós — disse Brayan com um sorriso. — Ele era parte do coral da sua outra escola. Só isso. Estamos esperando que ele se junto aos Hall’s Babbler.

— Se você quer que ele junte seu grupo, tudo bem, mas ele vai vir reclamar comigo em uma semana, tenho certeza. — Hélder cruzou os braços sobre seu peito.

— Na verdade — Klaus finalmente disse, e todos olharam para ele —, eu tive que aguentar algumas coisas bem estranhas na minha antiga escola. Tenho certeza que vai dar tudo… certo.

Hélder pareceu surpreendido por isso e passou pelos outros três garotos. Ele olhou para Klaus através dos seus óculos. Klaus olhou para cima devido à altura do homem e manteve o olhar firme.

Tobias Hélder era chefe da Casa Bourbon por quase vinte anos. Ter recebido essa posição lhe permitiu observar futuros líderes da nação chegarem e partirem da Casa Bourbon, algum deles retornando para visitar hora ou outra. Nos últimos anos, as coisas não continuaram tão pacificamente como ele gostava. Às vezes até preocupantemente. Bourbon podia ser uma casa muito popular, mas se havia algo que era notável, era que a vida lá nunca era (pelo bem ou pelo mal) entediante. Ter feito uma vida disso ao mínimo lhe permitiu entender o comportamento do garoto de primeira. Ele olhou Klaus dos pés à cabeça.

— Qual o seu nome, filho?

— Klaus Henke, senhor. — Klaus sorriu.

Hélder considerou o pequeno garoto com aspecto de duende.

— Então você canta?

— Sim.

— Só isso?

— Bom… Eu gosto de moda.

— E?

— E o quê?

— Hábitos de dormir incomuns? Alergias alimentícias? Hobbies estranhos? Tendências para destruir propriedade? Compulsão de arrancar magnólias? Andar para trás? Soltar animais de laboratório? Recitar a Summa Teológica por inteiro? Em latim?

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >
capítulo anteriorpróximo capítulo

Capítulos relacionados

Último capítulo