Luciele“Um dia me disseramQue as nuvens não eram de algodãoUm dia me disseramQue os ventos às vezes erram a direção”Somos quem podemos ser - Engenheiros do HawaíAcordei mais uma vez. Devia ser madrugada, porque minha mãe ainda dormia profundamente. Aos poucos, meus olhos permaneciam abertos por mais tempo, fixando-se melhor no ambiente escuro. Eu ainda estava no hospital, com acesso no dorso da mão esquerda.Sentia-me mais ativa e ansiosa para sair dali. Chamei minha mãe, percebendo que minha voz já estava bem mais firme.— Minha filha, você está bem? Está sentindo alguma coisa? — ela acordou num pulo, visivelmente preocupada.— Mãe, estou ótima! — respondi, com uma energia que nem eu sabia de onde vinha. — Preciso comer. Tem comida aqui? — perguntei sorrindo.— Vou perguntar para as enfermeiras — disse ela, saindo apressada, enquanto eu me acomodava na cama, sentada.Tive alguns flashes de memórias, sem saber se eram reais ou falsos. Precisava esclarecer algumas coisas que surg

Capítulo 13David“E eu que tinha apenas dezessete anosBaixava a minha cabeça pra tudoEra assim que as coisas aconteciamEra assim que eu via tudo acontecer” Camila, Camila - Nenhum de NósTerminei a aula da minha turma de violão e resolvi passar numa floricultura. Queria levar um vaso de begônias para a Luci. Descobri que essa planta simboliza felicidade, delicadeza, lealdade e cordialidade — tudo o que eu desejava para ela naquele momento. Encontrei também uma caixa bonita de chocolates para acompanhar o presente. Saí de lá satisfeito, quase aliviado, como se aquele gesto simples fosse capaz de transmitir um pouco do meu carinho.“E se ela não se lembrar de mim?” Era um risco, eu sabia. Mas estava disposto a correr. O que importava é que eu me lembrava dela — e isso já bastava.Peguei o primeiro ônibus para o hospital, ansioso e cheio de expectativas. Ao chegar, vi a mãe dela conversando com um médico no corredor. Ela me disse que Luci estava dormindo. Pedi licença e entrei no q

Luciele“All we need is just a little patience”Patience - Guns N' RosesOs dias foram passando e eu continuei sem noção do tempo. Não sei exatamente quando as horas viraram dias, nem quando os dias se tornaram semanas. Tudo é nebuloso. Sei apenas que meus pais estão sempre por perto; minha irmã aparece de vez em quando para me ver, e, de tempos em tempos, recebo a visita dos pais do meu suposto amigo David. Amigo esse que eu nunca vi — ou, pelo menos, não me lembro de quem seja.O mais incrível nesse cara, seja lá quem for, é que todos os dias ele me envia uma flor diferente. Minha mãe as coloca num vaso, ao lado da minha cama. São cores, perfumes e formas que quebram um pouco o cinza dessa rotina, mesmo que eu não saiba exatamente o motivo desse cuidado.Não lembro bem quando o hospital decidiu me mandar para casa, para receber os cuidados da minha família. Só sei que continuo passando a maior parte do tempo deitada. Alguém disse à minha mãe que eu precisava de muitos cuidados, porq

Luciele“Love is like a flame It burns you when it's hotLove hurts, Ooo-oo Love hurts”Love hurts - Nazareth Tudo foi tão rápido como se um raio tivesse caído na minha cabeça. Eu estava ali sozinha, naquela tarde de sábado, lendo o meu livro preferido “Orgulho e Preconceito”, na minha cama. Quando, de repente, ouço passos e a porta se abrindo bem devagar. Saí do transe da minha leitura, com um cheiro maravilhoso de perfume masculino, que tomou todos os meus sentidos. Não me lembro de onde conhecia aquele cheiro, mas me era muito familiar. Parei de ler o livro para olhar para o lado e ver ele, completamente lindo em todo seu esplendor, o cara que aparecia nos meus sonhos todo santo dia. Eu não consegui reagir bem, porque senti uma dor lancinante e, na hora, me lembrei de quem era ele. Como poderia ser ele o cara que aparecia nos meus sonhos? Era o David. O DAVID. Ninguém imaginava que eu já tinha um amor platônico por esse rapaz que eu achava não conhecer, mas eu o conheci. Eu lemb

David“And if you leave me nowYou'll take away the very heart of meOooh no, baby please don't goOooh girl, I just want you to stay” If you leave me now - ChicagoPassei a visitar a Luci todos os finais de semana, virou uma rotina de muita alegria e contentamento para mim. Quanto mais eu a conhecia, mais eu me impressionava com o jeito dela. Estarmos juntos era um hábito que me fazia sentir vivo. A cada semana, eu inventava uma forma diferente de passar mais tempo na casa dela. Me tornei perito em ler histórias ou poemas, enquanto ela deitava a cabeça no meu colo. Me transformei em um mágico, que inventava mil e uma formas diferentes de tirar uma moeda de trás da sua orelha ou, pelo menos, tirar um sorriso do seu rosto. Aprendi a jogar Dama, ludo e cartas, coisa que nunca me chamou atenção, só para poder aproveitar ao máximo o nosso final de semana. Ela estava me transformando em um cara melhor, e a gente se divertia à beça junto.Eu sempre levava algo legal para fazermos juntos.