Dois dias sem trabalhar eram uma novidade para Luana, que, nos últimos anos, só vivera para o seu trabalho. Era estranho caminhar pela rua, entrar no supermercado em pleno horário comercial e percorrer os corredores sem pressa.— Acho que levei até o que não precisava — sussurrou, olhando para o carrinho de compras, e soltou um riso.Abanou a cabeça enquanto caminhava em direção ao caixa, mas parou junto a uma prateleira de vinhos. Deteve-se para apreciar as várias garrafas expostas. Pegou uma, estudou o rótulo e a recolocou. Repetiu o gesto com outras garrafas até que uma voz chamou sua atenção.— Eu não levaria esse vinho. Tem um rótulo bonito, mas não avisa da dor de cabeça que você terá na manhã seguinte.Luana sentiu os pelos do corpo se arrepiarem ao reconhecer aquela voz tão familiar. Um

A noite avançava, quase na virada da madrugada, quando Luana se despediu de Sheila e Jéssica.— Pena que a Érica não ficou. Ela teria adorado — lamentou Sheila.— Pois é, mas tenho certeza de que oportunidades não faltarão. Aliás, está combinado que ainda teremos pelo menos mais dois encontros para que eu e a Érica possamos retribuir a gentileza da conta — tentou animá-las Luana.— E vocês precisam voltar para me ouvir cantar. Disso não abro mão! — lembrou Jéssica, enquanto todas se abraçavam em grupo.— Está mais que combinado. Depois de ouvir tantos elogios do Dário, estou ainda mais ansiosa para te ouvir cantar sem os shots de tequila atrapalhando — disse Sheila, rindo.— Hum... o Dário... — Luana comentou, olhando para Sheila, que lhe retribuiu o olhar como se compartilhasse um segredo.— O que tem o Dário? — Jéssica perguntou desconfiada, fitando as duas. — Não me diga que estás interessada nele?— Já tem homem demais na vida da Luana — Sheila respondeu, soltando um riso. — Mas n

Jéssica sentia que algo tinha mudado dentro de si, uma transformação que ia muito além dos olhos curiosos das pessoas ao seu redor. Os elogios e o apoio caloroso dos funcionários do bar apenas reforçavam o que já percebia — o sorriso em seu rosto brilhava mais do que nunca. Exceto por um: o dono do bar, Dário, parecia distante, reservado e com algo a esconder.— O que se passa com ele? — perguntou Jéssica, apontando discretamente para Dário, que andava agitado, gesticulando e falando alto ao telefone.— Ninguém sabe. Meu conselho é que vás pelo outro lado, ou vais acabar levando bronca junto — respondeu o guitarrista, com um sussurro conspiratório.Mas Jéssica, curiosa e determinada, fez exatamente o contrário. Interrompeu o ensaio e caminhou firme em direção ao canto onde Dário estava. Ele andava de u

Luana vivia duas vidas separadas. Uma durante um dia em que ela era a advogada competente, rigorosa e fria. A Luana que o mundo estava habituado e que todos já sabiam o que esperar dela. Mas para ela era uma capa que vestia, uma máscara que colocava todos os dias para poder se integrar na sociedade. Ela era o que todos a sua volta esperavam dela. Rafael fazia parte dessa vida politicamente correcta e ele se encaixava nela na perfeição. Ele parecia decidido a reconquista-la e não media esforços para provar seu empenho.Mas havia a nova Luana, louca, extrovertida e com sede de viver a vida nos seus termos. Esta Luana existia somente para um grupo privilegiado. Ela sabia disso e fazia questão de manter este seu lado bastante discreto. E apesar desta Luana só aparecer nas noites, quando estivesse longe do trabalho e com as suas novas amigas, ou nos encontros furtivos e fugazes que tinha com Lucas, ela sentia que esses momentos eram os que mais importavam. Era nesses momentos que seu cor

No instante em que Luana viu Lucas atravessar a porta, várias coisas lhe vieram à cabeça, mas nenhuma delas chegou sequer perto do motivo pelo qual ele estava ali. Sheila olhou para ela, e Luana podia perceber a pergunta no olhar dela.Luana apenas encolheu os ombros e voltou a atenção para o homem, que agora abraçava Jéssica com um sorriso largo no rosto. A confirmação chegou como um soco no estômago para Luana.Com tantos homens na Terra, ela tinha que envolver-se justamente com o irmão de Jéssica? Se questionava, irritada com sua falta de sorte.— Muito prazer, eu sou a Érica. — Érica quebrou o silêncio, estendendo a mão em direção a Lucas, que estava preso num transe, os olhos postos em Luana.— Lucas... — Jéssica chamou por ele, e só então ele acordou, percebendo a mão estendida de Érica.— Me desculpe — falou, aceitando a mão e apertando logo em seguida. — Mas não entendi seu nome.— Érica. — Ela repetiu.— Muito prazer, Érica. — Ele disse, lutando para não olhar para Luana nova