O rosto de Helena perdeu toda a cor num piscar de olhos.Caio também ficou confuso.— Mas por quê? Você sempre gostou da Helena, não gostava?Lorenzo não olhou para ela. Respondeu com frieza controlada:— Pai, colocar a Helena como noiva pode até resolver o problema de hoje. Mas e depois? Ele explicou:—A família Bastos tem dezenas de negócios com os Navarro. A Estela pode ter passado a gestão para os administradores, mas todas as decisões finais ainda estão nas mãos dela. — Continuou, com voz firme. — Ela não veio hoje, é verdade. Mas e se for só orgulho ferido? Se ela descobrir que trocamos a noiva e resolver acabar com todos os contratos com a nossa família? E mais: mudar a noiva de última hora vai levantar suspeitas. Vai parecer que a família Bastos não honra compromissos. E isso afeta nossa reputação nos negócios.Caio, aos poucos, foi sendo convencido.— Faz sentido... Mas e a cerimônia de hoje?— Também é fácil resolver. — Disse Lorenzo, interrompendo. — Ontem a mansão dos Nava

Lorenzo voltou à universidade e encontrou o professor Adriano. Foi direto ao ponto:— Prof. Adriano, por favor, me passe o contato do centro de pesquisa onde a Estela está. Eu vou trazer ela de volta.O professor arregalou os olhos, surpreso.— Você não entendeu o que eu disse! O projeto que ela está participando é classificado como prioridade nacional, altamente confidencial. Isso não é brincadeira. Todos os pesquisadores foram escolhidos a dedo. Uma vez dentro, não dá simplesmente pra sair quando quiser!Lorenzo, sempre tão calmo, sentia uma inquietação que mal conseguia disfarçar. A impaciência escapou na voz:— Professor, o senhor não conhece a Estela como eu. Ela não quis realmente entrar nesse projeto. A gente brigou uns dias atrás, ela ficou de cabeça quente e foi embora só pra me provocar!Sim.Até aquele momento, Lorenzo ainda acreditava que Estela só tinha ido embora por raiva, por impulso.— Daqui a uns dias ela vai se arrepender. E isso pode atrapalhar o andamento do projet

Lorenzo estava prestes a empurrar a porta quando sua mão congelou no ar.Com os olhos arregalados, ele olhou pela parte de vidro da porta e viu a cena no interior do camarote.Helena estava no centro, rodeada por suas amigas. O rosto, carregado de maquiagem, não tinha nada da doçura ou inocência que costumava mostrar. O que havia ali era puro orgulho e arrogância.— Claro que consegui — Disse ela com ar vitorioso. — Vocês não ouviram? Aquela velha da noiva, a Estela, foi embora pra um centro de pesquisa espacial. Vai ficar lá por uns dez, vinte anos, se é que volta!As outras meninas bateram palmas e gritaram animadas.— Você é demais! Conseguiu quebrar um noivado entre as duas famílias mais poderosas de Cidade Solmar!— Helena, conta pra gente como fez isso. Queremos aprender com a mestre!Helena riu ainda mais convencida:— Eu fiz um monte de coisa. Pra começar, aquela noite em que o Lorenzo finalmente aceitou casar com a Estela? Foi porque eu dei uma droga pra ele. Ele ficou fora de

Havia duas pilhas de objetos à frente de Lorenzo.A primeira era composta pelas coisas que Estela tinha mandado entregar. Ele deu uma olhada. Eram presentes que ele mesmo havia dado a ela.Como a maioria ele tinha pedido pro assistente comprar por pura formalidade, nem lembrava mais de muitos deles.O olhar de Lorenzo escureceu.Então ela já tinha decidido devolver tudo antes mesmo de partir?Desviou o olhar para a outra pilha.Esses, ele reconheceu. Eram os presentes que Estela tinha dado a ele.Só então se deu conta de quantas vezes ela o presenteava — aniversário, datas comemorativas, qualquer desculpa servia.Ele sempre achava demais, cansativo. Depois de um tempo, nem abria mais. Jogava tudo no porão, sem nem olhar.Agora, tudo estava ali, limpo e organizado por Beatriz.Lorenzo ficou parado, atordoado. Pegou os presentes, um por um, agora cobertos de poeira, e começou a abrir.Tinha um amuleto escolar, que ela conseguiu no ano do vestibular dele. Ele se lembrava porque foi o mai

No instante em que acordou, Lorenzo sentiu uma alegria absurda.Estela ainda estava viva naquele mundo. Ela não tinha sido esfaqueada até a morte por causa dele.Mas, um segundo depois, a realidade caiu sobre ele como uma marreta.Estela estava viva, sim… Mas tinha ido embora para um lugar onde ele jamais conseguiria alcançar ela.O peito dele apertou de um jeito insuportável.No sonho, por pior que fosse, ele ao menos teve Estela por mais de vinte anos.Na vida real, ele a perdeu por completo. Irremediavelmente.Só de pensar nisso, a dor tomou conta de todo o corpo.Levantou as mãos e apertou a cabeça, como se quisesse sufocar a angústia. Cada respiração parecia uma batalha.Beatriz se assustou ao ver ela naquele estado.— Lorenzo, meu filho! O que está acontecendo? Está sentindo alguma coisa? Quer que eu chame o médico?Lorenzo levantou os olhos. Estavam vermelhos, úmidos.A voz dele saiu arranhada, rouca, como se as palavras tivessem que ser arrancadas à força da garganta:— Mãe...