Capítulo 32Geraldo ficou parado no meio da oficina, segurando o papel como se ele queimasse em suas mãos. O som do motor ao fundo parecia distante agora, como se tudo ao redor tivesse perdido a nitidez.- O que esse playboy realmente quer? - murmurou, franzindo o cenho. - Acha que pode chegar aqui, todo arrumadinho, inventar uma história dessas e sair como se tivesse feito uma grande revelação?Ele olhou de novo para o documento, os olhos percorrendo as palavras impressas. Estava bem-feito, claro... com selo, data, assinatura. Mas isso não provava nada.- Qualquer um pode fazer uma montagem dessas hoje em dia - rosnou. - Um papel não me engana.Jogou o envelope em cima da bancada, como se quisesse se livrar do peso que aquilo trazia. Caminhou até a parede da oficina, encostou as mãos no concreto frio e respirou fundo. Sua mente fervia.Flash de memórias começaram a surgir, confusos, cortantes, Maria rindo no quintal com Beatriz ainda criança... Maria chorando depois de uma discussão.

Capítulo 34Maria olhou para o vazio por um momento antes de começar. Sua voz saiu baixa:— Ninguém sabia. Nem mesmo a Tia Augusta. Ele fazia tudo às escondidas. Sabia exatamente como me humilhar, me machucar, sem que ninguém percebesse. Eu sorria para os outros, mas por dentro... estava em pedaços.Ela respirou fundo e continuou:— Os filhos dele viam. Ficavam calados, com medo. Já o viram me empurrar, me xingar, gritar como se eu não valesse nada. E ninguém fazia nada. Como se aquilo fosse normal. E, no fim, eu também comecei a achar que era.Dr. Ivan a ouvia com atenção, sem interromper.— Ele já me deixou trancada fora de casa à noite. Já ameaçou me internar dizendo que eu estava louca.O advogado fechou o caderno com cuidado e olhou nos olhos dela.— Maria, com base no que você relatou, é possível sim abrir um processo por violência doméstica. A Lei Maria da Penha garante proteção e punição. Se houver testemunhas, como os filhos, e, principalmente, se você estiver disposta a rela

Capítulo 36Beatriz entrou na casa com uma caixa nos braços e um sorriso tranquilo no rosto. A casa que alugou com o namorado era simples, mas acolhedora, e o melhor de tudo: não precisariam se preocupar com aluguel por um bom tempo, já que a casa dele na cidade grande fora alugada por um bom valor.Eles também tinham planos para o futuro, um terreno perto do lago da cidade, que a prefeitura estava vendendo a um preço acessível. Um lugar encantador, com uma vista que acalmava qualquer coração agitado.Ela colocou a caixa no chão com cuidado e suspirou.— Não precisa se esforçar, querida — disse o namorado ao entrar com um copo d’água nas mãos. — O pessoal que contratei pra montar tudo e o caminhão de entrega está quase chegando.— Caminhão? — ela perguntou, surpresa.— Os móveis da minha casa. Por isso não precisamos comprar nada agora.Ela sorriu, aliviada e feliz. Pensou que passariam a primeira noite dormindo no chão duro, o que, com três meses de gravidez e a barriga já começando

Capítulo 38Na cozinha arejada da nova casa, Fábio cantarolava baixinho enquanto mexia a lentilha com carne moída na panela. O cheiro do tempero se espalhava pelo ambiente, misturando-se ao aroma do arroz soltinho que já descansava no fogo baixo. No canto da pia, uma tigela colorida com salada de cenoura e vagem trazia uma lembrança da infância, era o prato favorito dele e de Beatriz, feito muitas vezes pela Maria.Ele sorriu sozinho, sentindo uma felicidade tranquila crescer dentro do peito. Pela primeira vez em muito tempo, sentia paz.Na sala, Beatriz estava sentada no sofá, vestindo roupas leves, com os pés apoiados numa almofada. Leonardo, com um carinho paciente, massageava suas costas com as mãos firmes e um toque cuidadoso, enquanto a televisão passava um programa qualquer que servia mais como som ambiente do que como distração.— Isso tá bom demais — ela disse entre um suspiro de alívio. — Nem parece real.— Mas é, meu amor — respondeu Leonardo, sorrindo contra os cabelos del

Capítulo 40Geraldo caminhava com passos largos pelo mercado, sentindo-se mais apresentável do que de costume. Naquele dia, havia tomado um banho demorado, lavando o corpo com vigor e até esfregando o couro cabeludo com o restinho de shampoo que encontrou num frasco quase vazio. Vestira a última roupa limpa do armário, uma camisa polo desbotada e uma calça jeans frouxa. Até a cueca, sem opções, estava do avesso. Mas para ele, aquilo era o auge do capricho.Seguiu direto para o açougue, onde escolheu com gosto suas carnes prediletas. Pediu dois quilos de peito de boi, um bom pedaço de barriga de porco e algumas linguiças bem gordurosas.— Vai fazer churrasco? — brincou o açougueiro.— Não. É pra mim mesmo. Gosto de comida de macho! — respondeu com um sorriso convencido, ajeitando o que tinha de cabelo ainda úmido com os dedos.Com os sacos de carnes no carrinho, passou no corredor de bebidas. Pegou duas garrafas da sua cachaça favorita, uma de vinho barato e alguns refrigerantes para “