Chegaram em casa um pouco depois do previsto. Levaram hambúrguer e batata frita para Daniel e Otto — uma forma de se desculpar pelo horário. Encontraram os dois nos fundos da casa. Daniel estava sentado à mesa de piquenique lendo um livro, enquanto Otto olhava para o nada, pensativo. Ambos pararam o que estavam fazendo assim que as duas passaram pela porta de vidro.— Meu amor, você está linda — disse Daniel, largando o livro, levantando-se e beijando Patrícia. — Julia! — exclamou ao reparar nela. — Não acredito que fez isso!— Estou feia? — perguntou, brincando.— Claro que não, só está parecendo uma adolescente — riu, passando a mão pelos cabelos dela. — Está linda, menininha — abraçou-a.— Obrigada — sorriu. — Trouxemos hambúrguer e batata frita para vocês dois — mostrou os pacotes.— Desculpa a demora, resolvemos ir ao salão hoje. — falou Patrícia — Tudo bem, a Enny me ligou avisando.Daniel sentou-se, abrindo um dos pacotes, enquanto Patrícia entregava o de Otto e se sentava ao

Julia e Otto tomaram café e seguiram para a faculdade, onde ela tinha permissão para usar uma das salas. Ao estacionar o carro, Otto a olhou com carinho.— Por que não deixamos o medo de lado? Queremos a mesma coisa — disse ele.— Me deixa trabalhar? — riu.— Te busco que horas?— Meio-dia.Otto ficou observando Julia até ela entrar no prédio. Depois, voltou para casa e passou a manhã fazendo pesquisas de vagas de trabalho. Com os contatos que tinha, começou a fazer várias ligações e enviar seu currículo para diferentes escolas.Grace chegou em casa no meio da manhã. Na cozinha, a conversa animada começou.— Conta tudo — disse Patrícia assim que Grace entrou, largando a bolsa na cadeira.— Consegui vender o apartamento! — falou aliviada. — Eu nem estou acreditando... depois de meses de tortura!Patrícia e Grace se abraçaram em meio a gritos de celebração.— Vamos festejar!— Patrícia, não inventa, por favor...— Como não? Vamos comemorar sim! Você esperou muito por isso. Tem que comem

Otto não teve muito tempo para descansar. Bem cedo já estava de pé e entrando no carro quando Julia apareceu bocejando e coçando os olhos.— Ei — chamou. — Deixa eu te dar bom dia.Otto sorriu e foi até ela, que estava parada na porta. Abraçou-a e a beijou.— Boa sorte.— Obrigado, amor — respirou fundo. — Estou ansioso.— Vai dar tudo certo. Você é incrível, não pensa besteira.— Mas essa escola é particular... são meio chatos.— Ei, para — disse, segurando o rosto dele. — Vai dar tudo certo. Se não for essa, vai aparecer outra. Vai lá, mostra quem você é — beijou seu rosto.— Até mais tarde.— Até.Julia voltou para a cama e se enrolou até a cabeça, mas foi interrompida.— Esqueceu do almoço de hoje? — Patrícia invadiu o quarto.— Remarca! — a voz saiu abafada.— Nem pensar! Vamos ficar sem tempo. Sua

— Que porra você fez? Você está louco?! Como pôde fazer isso? — Edward falava, segurando o filho pelo colarinho da camisa. — Eu não fiz nada! — retrucou Matthew. — Então ele está mentindo ou é a Julia? Eu não acredito que foi capaz de uma coisa dessas! — Matt, meu filho, o que é isso? — Nancy apareceu em sua frente, tentando limpar seu rosto. Matthew afastou a mão dela, que insistia em limpá-lo. — Quantas vezes eu te disse que existiam mulheres melhores do que ela? — disparou Nancy, com raiva. O silêncio se instalou por um segundo, e todos ao redor ficaram em choque com a declaração. — Como é que é? — Grace deu um passo à frente, a voz carregada de indignação. — Você está dizendo que a minha filha não presta? Depois de tudo o que o seu filho fez? — O Matthew passou meses tentando se aproveitar da fragilidade dela... e agora a

Os comentários no bairro não cessavam, e a cada dia uma nova informação era passada. O declínio da família Fisher era o assunto do momento. Todos sabiam o que havia ocorrido, todos opinavam, e, com isso, os Evans ficaram ainda mais conhecidos.Otto e Julia recebiam acenos e sorrisos; Patrícia e Grace eram cumprimentadas por mães e tratadas com muita simpatia, chegando até a serem elogiadas na fila do mercado pela postura diante de toda a situação. Daniel, como estava viajando, não recebia esse tipo de tratamento — mesmo assim, isso não impediu que o pessoal do trabalho ficasse sabendo.— Aquela Nancy é maluca, né?— Você nunca reparou mesmo que ela estava a fim de você, Danni?— O filho dela realmente foi preso?— E o Otto, como está?— Eles eram amigos, né?Essas eram algumas das perguntas mais frequentes. Daniel, no início, apenas dava respostas curtas, mas, com o tempo, se viu obrigado a contar a história — somente para ter um pouco de sossego. Não foi tão eficaz quanto esperava, j