Ponto de Vista do HectorA dor surda foi o que me despertou, até que o sofrimento tomou conta de vez, queimando minha pele nos braços, no peito e na garganta.Prata. Eu estava acorrentado com prata.Olhei ao redor na escuridão, meus olhos se fixaram numa figura também presa a uma cadeira, assim como eu.Não...Minha visão começou a se ajustar, mas eu já sabia. Eu sentia ela pelo vínculo... Aquela urgência desesperadora de tirar ela ali, seja lá onde for.Era a figura que se movia atrás dela, acariciando o cabelo dela sobre a testa, com a cabeça caída de lado...— Tire essas mãos de cima da minha companheira! — Gritei, com a voz rouca, cheia de ódio.— Ora, ora, Hector... Tenho certeza de que, se ela soubesse da verdade, aceitaria tirar essa marca por vontade própria. — Rosnou Samson, com as mãos deslizando pelo pescoço dela, e parando logo acima do peito.— Que verdade? — Puxei as correntes com força, sentindo a prata rasgar minha pele.— Não se faça de desentendido. Que você também é

Ponto de vista da Kaia— Isso vai sumir logo... — Ele se inclinou na minha direção, os dedos roçando a marca de Hector no meu pescoço... Um arrepio percorreu minha espinha.Minha loba, incomodada com outro macho nos tocando, me lançou para frente com um rosnado, e tentei morder ele. Ele recuou rápido, mas as correntes me puxaram de volta, impedindo que eu chegasse mais perto. Ainda assim, meus dentes deixaram claro que, se ele ousasse me tocar de novo, eu morderia mesmo.— Você só saiu da masmorra porque o Samson prometeu que você ia se comportar... Um passo em falso e sou eu quem vai te açoitar e te acorrentar lá embaixo de novo. Entendeu? — O Alfa Zederick rosnou para mim, totalmente diferente do homem que eu achava que conhecia.A porta se abriu. Samson entrou e Zederick saiu. Eles trocaram algumas palavras, mas eu já estava perdendo o foco. O sedativo ainda corria no meu corpo.Samson se sentou na ponta da cama. Virei o corpo de lado, mantendo os olhos fixos na janela.Na minha rot

Ponto de Vista da KaiaNão sei se ele me deu menos sedativo de propósito ou se sabia exatamente o que estava fazendo... Mas o Samson me deu o suficiente para deixar meu corpo dormente, mas não os olhos, nem minha mente.Meus olhos ficaram fixos por cima do ombro dele, observando o prédio abandonado que tinha sido a base deles enquanto nos mantinham em cativeiro. Vi as chamas se espalharem, consumindo tudo.Minha loba foi forte o bastante para uivar dentro da minha mente, uivar pelo companheiro que ela amava, o companheiro em quem ainda acreditava, enquanto ele morria lá dentro.Ninguém poderia ter sobrevivido àquilo.A morte pode apagar a marca de um companheiro?Mas eu não queria ser marcada por mais ninguém. Sim, eu tinha resistido desde o momento em que aconteceu... Mas eu sentia o vínculo entre mim e o Hector. Sentia que éramos destinados. Será que eu sentiria aquele mesmo vínculo com outra pessoa? Com o Samson?Não.Ele dizia que o Hector me manipulava, mas foi ele quem me ajudou

Ponto de Vista do HectorCom o corpo sem vida dela nos meus braços, eu corri para fora da casa, os olhos procurando um carro que nos tirasse o mais rápido possível daquele inferno.Encontrei um carro na frente, que parecia ter batido num tronco enorme de árvore na beira da estrada.Abri a porta de trás, do lado do passageiro, com muito cuidado e deitei a Kaia nos bancos traseiros. Dei um beijo na testa dela antes de ir abrir a porta do motorista. Eu realmente esperava que aquele carro ainda funcionasse.Quando abri a porta do motorista, um corpo caiu no chão aos meus pés.Dei um passo para trás... Era o Samson.Meus olhos foram direto para Kaia no banco de trás. Será que foi ela? Foi assim que ela conseguiu voltar para mim?Ele estava como ela... Pálido e sem vida. O que ela tinha feito?Me abaixei e peguei ele pela gola da camisa... Ele ainda estava vivo, por pouco.— O que você fez com ela? — Meu tom virou uma espécie de rosnado demoníaco, nem parecia minha voz.Sacudi ele com força,

Ponto de vista do Hector— Eu não esperava que você fosse tão gentil com uma garota... — Comentou Orpheus, achando graça da situação em que eu e Kaia nos encontrávamos.— Se seus homens não tivessem me parado, eu já estaria quase no meu território. — Rebati com raiva, sem achar graça nenhuma, ainda mais com minha companheira desacordada nos meus braços.— Você sabe as regras. Teria feito o mesmo. E de qualquer forma, sua aura é difícil de esconder, Hector...— Qual é o nome da sua garota?— Ela não é uma garota. É minha companheira. E nós fomos emboscados. — Respondi, enquanto a deitava numa das macas do hospital. A equipe médica se movimentava rapidamente ao redor, conectando aparelhos ao corpo dela.Não, de novo não...— Nome da paciente? — Um dos médicos entrou na sala e seu olhar mudou assim que viu nossas roupas cobertas de sangue e as queimaduras nos nossos corpos. Samson sabia exatamente o que estava fazendo.As dela iriam cicatrizar, as minhas deixariam marcas. Acônito e prata