Sebastian faz outro lance. Sem dizer uma palavra sequer, diferente de Scar, apenas levanta sua placa toda vez que Ava o faz.No segundo andar, o homem levantava a placa sempre que o anfitrião anunciava um novo lance, como se ela fosse um controle remoto e ele estivesse apenas mudando de canal, por puro tédio. Lá embaixo, Ava se contorcia na cadeira como se espinhos brotassem do estofado. A cada movimento de Sebastian, ela se virava para encará-lo, ofegando tão intensamente que seu peito subia e descia em ondas como se o homem, a dez metros de distância, pudesse enxergar com clareza.Não podia. Ou, talvez, apenas escolhesse não ver.Então, Ava lançava o olhar aflito entre o anfitrião que mais parecia anunciar o fim de sua vida e o homem que ela amou com todas as forças. Durante as pausas nos lances, ela disputava a placa com o pai até ceder, fechar os olhos e levantar novamente, apenas para ver sua esperança ser esmagada, vez após vez, pelo mesmo homem.Assistindo àquela farsa, Scar

Ela não se importava em saber por quê, antes, só queria o dinheiro e o poder dele para se vingar, e achava que ele queria o mesmo: nada de laços, apenas uma figura pública para desviar os ataques. Mas não era exatamente isso que Silco estava obtendo desse acordo. Ele organizava a vida dela da forma mais confortável e segura possível; fornecia informações que ela não tinha; e cuidava das necessidades dela nos mínimos detalhes.Como hoje. Ela nem estava exatamente precisando de ajuda, mas ele apareceu do nada, pegou o chip que ela carregava no ombro e a ensinou a saborear a vingança, conduzindo-a adiante.Ele era como um bom amigo. Um mentor. Um... Pai que ela nunca teve.— Você vai saber, princesa. — Disse Silco, levantando-se enquanto ajeitava o terno. — Quando a poeira baixar, se ainda quiser saber, então vai saber.Mesmo sabendo que ele estava escondendo sua identidade com a desculpa mais esfarrapada possível, Scar não sentia nem um pingo de raiva. Ele sabia como acalmá-la, como

Scar jamais esqueceria a expressão no rosto de Sebastian quando ela anunciou aquele número.Ele sabia. Sabia de tudo.Sabia que ela havia descoberto quanto de liquidez ele possuía, sabia que era uma armadilha mirando tudo o que ele tinha, e sabia... que ela escolheu matá-lo daquela forma, quando pronunciou aquele número.Havia uma serenidade invadida por um desespero morto e real, com um toque de amargura no olhar dele.A sala inteira permaneceu em silêncio, mas, diferente do silêncio adormecido de antes, agora um sussurro frenético começava a se espalhar. Todos os olhos estavam fixos em Sebastian. Só agora percebiam que aquele prolongamento nem era mais um jogo era o teatro do poder sobre suas cabeças.Fosse qual fosse a decisão de Sebastian, as consequências não recairiam sobre eles. Talvez quisessem os itens, mas o espetáculo era muito mais valioso até mesmo para o nível deles.O que ele faria? Eles queriam saber. E Scar também.Ele abriria mão de seu amor? Da lembrança mais

Não que Scar queira admitir, mas esse idiota tem uma voz realmente bonita. Em vez da suavidade que a voz clara e doce de Alice traz à canção de ninar, a voz rouca dele transmite uma sensação de segurança. Magicamente, o poder masculino embutido em uma canção tão suave de alguma forma a torna ainda mais reconfortante.Talvez esse seja o poder que uma canção de ninar deveria ter a segurança proporcionada pelos pais.— Ei, como você está se sentindo, pequena? — Damian toca o queixo de Scar com um dedo suavemente curvado, e sua voz ecoa com algo profundamente guardado na memória de Scar, como se houvesse uma vez um garotinho cuja voz compartilhava apenas o menor traço da voz de Damian, mas com o mesmo tom exato com que ele olhava para ela daquele jeito e a chamava de "pequena".O episódio acabou, mas os olhos de Scar permanecem arregalados como os de um animal assustado, enquanto memórias e perguntas demais se apertam em sua cabeça, tentando escapar. A primeira a sair com sucesso é.—

— No primeiro dia em que você chegou em casa, mamãe a colocou no berço que tinha sido preparado na sala de estar, esperando por você há dias. Eu fui dar uma olhada em você. Naquela hora, eu não sabia como me sentir em relação a você. Mamãe me disse que você seria minha melhor amiga para a vida toda, e papai disse que não era amiga, mas meu anjinho.A palavra "anjinho" fez Scar se encolher.Sebastian costumava chamar Ava assim o tempo todo. Ela ficou tão ciumenta que começou a odiar essa palavra.— Antes de você chegar, eu realmente achei que você fosse como todos os brinquedos que eu poderia querer. Quero dizer, o que mais um anjo poderia significar, certo? — Damian ri, quase arrancando uma gargalhada de Scar, mas ela apenas esconde o sorriso com os braços.Damian permite que ela desvie, sentando-se no tapete à frente de Scar enquanto continua com a história que ela não pediu para ouvir.— Eles tinham o quarto todo cheio de coisas de bebê. — Damian pega seus próprios tornozelos, s