Sebastião olhou para mim com um olhar mais profundo. Eu sorri levemente:— Apesar de você não falar, eu já sei quem é.— Quem você acha que é? — Ele perguntou.Eu o encarei, sem dar resposta.Sebastião se sentou, até pareceu que iria sair da cama. Ele me perguntou:— Carolina, você não acha que é Miguel, acha? Você vai namorar ele para se vingar de George?Sebastião foi quem esteve comigo durante anos de namoro, ainda sabe o que penso.— Não é ele? Então me diga quem é. — Eu perguntei diretamente.— Carol, não é Miguel. Como você pode achar que é ele? Mas quem é, eu também não sei. Na verdade, eu disse que houvesse alguém por trás disso, era só uma suposição. — Sebastião se corrigiu.Eu estava calma, sem pressa, disse:— Se não for ele, ainda melhor. Ficar com ele não seria um peso para mim.Sebastião ficou imóvel.— Carolina...Eu suspirei.— Sebastião, nós nos conhecemos há dez anos, namoramos por quatro, depois me apaixonei por George. Eu já vivi o amor platônico e o amor à primeira

Os homens sempre dizem que homens não devem chorar facilmente. Especialmente na frente de mulheres.Mas eu vi, com meus próprios olhos, Edgar, diante de mim, com os olhos vermelhos e lágrimas escorrendo.Eu não tentei o consolar, apenas saí do escritório dele, o deixando sozinho para relembrar sua amizade com George.Edgar disse que essa empresa era de George, mas o chefe era ele. Isso só mostrava o quão forte era a amizade deles, ao ponto de George confiar tudo a Edgar.Agora que George se foi, como Edgar, que ainda esperava pelo retorno dele, conseguiria lidar com isso?A dor dele não devia ser menor que a minha ao perder George.Eu saí do escritório de Edgar e fui para o estúdio de George. Ele trabalhava com pesquisa e desenvolvimento, e sempre tinha muitos equipamentos para testar seus projetos, mas seu escritório nunca foi bagunçado.Olhando para aqueles equipamentos e vendo o caderno de anotações na mesa, com os dados e as linhas firmes de sua escrita, meu coração apertou novame

— Carina!A voz de Miguel continuava a mesma: suave e acolhedora, como sempre fora.Mas, para mim, agora parecia um espinho macio, perfurando silenciosamente meu peito.Um homem que, por fora, parecia tão gentil e inofensivo, mas cujo interior era escuro como a noite.Para alcançar seus objetivos, ele não hesitaria em destruir tudo ao seu redor.Respirei fundo, engolindo a dor, e fui direto ao ponto.— Miguel, preciso da sua ajuda.— Diga. — Respondeu ele, mas sua entonação já não era a mesma.Agora que ele assumira o comando do Grupo Martins, sua voz carregava o tom de alguém no poder.Afinal, o cargo não muda apenas a mente, mas também as palavras.— Uma ex-funcionária da empresa, Ana Gomes, também minha amiga, desapareceu. Preciso que você a encontre.— Ana Gomes? — Ele repetiu, e depois respondeu sem hesitar:— Certo.— Obrigada, Miguel.Minha resposta foi formal, como sempre.— Carina.Ele chamou meu nome suavemente.— Podemos nos encontrar?— Claro. Quando?Respondi sem hesitação

— Quando Miguel Martins e eu descemos do carro e entramos na Mansão Martins, Sebastião Martins já estava lá.Seu rosto imediatamente se fechou, ficando visivelmente sombrio.Tia Cátia continuava tão calorosa como sempre. Ao me ver, seus olhos se encheram de emoção e até enxugou algumas lágrimas.— Finalmente você veio, querida! — Disse ela.Tio João estava deitado em uma cadeira de balanço ao lado do sofá. Seu estado de saúde e energia não pareciam nada bons.Pelo visto, sua condição não havia melhorado.Além disso, seu olhar para mim era hesitante, claramente desconfortável.Há coisas que, uma vez expostas, nunca podem voltar a ser como antes.— Tio. — Cumprimentei educadamente.Já que escolhi zerar as contas do passado, não faz sentido agir como se me devessem algo.Tio João assentiu, mas permaneceu em silêncio.Sebastião se levantou e, ao passar por Miguel, murmurou:— Vem comigo.Desde pequeno, Sebastião nunca soube esconder ressentimentos. Seu comportamento deixava claro para todo

— Miguel Martins caminhou até nós com o rosto frio e determinado, pronto para enfrentar seus pais diretamente.O semblante de Tio João imediatamente se tornou sombrio.— Miguel, você realmente quer seguir esse caminho sem volta? — Perguntou Tio João.Miguel olhou para eles e falou, sua voz carregada de ressentimento reprimido:— Na minha memória, desde que Sebastião nasceu, tudo na minha vida mudou. Mamãe e papai só tinham olhos para ele, o mimavam, o protegiam. E eu? Eu fui deixado de lado. Vocês dormiam com ele, enquanto eu, sozinho e com medo, me encolhia no quarto infantil, escondido debaixo do cobertor.— Vocês diziam que ele era pequeno, mas já pararam para pensar? Eu só sou alguns anos mais velho que ele. Quando ele era um bebê, eu ainda era uma criança que também precisava do amor dos pais.— Mas ele não só roubou o amor de vocês. Ele tirou meus brinquedos, minhas roupas, tudo o que era meu. E vocês sempre justificavam dizendo: 'Ele é seu irmão mais novo, Miguel. Seja um bom ir