Capítulo 3

  Maria acordou um pouco mais cedo que o normal depois de uma festa, embora não a tenha aproveitado, era cedo, 8h da manhã. O dia estava ensolarado, quente como o inferno. Levantou-se da cama e foi até a cozinha, passou pela sala e viu Samara no sofá da sala dormindo, lembrou-se da festa e consequentemente do padre que roubava em sua mente mais do que devia.

-  Merda!

Praguejou. Era para acordar e nem ao menos pensar nele. Mas como não pensar em alguém que em apenas um mínimo contato a fez passar por um furacão de sentimentos? Raiva. Por que aquilo tinha que acontecer justo com um padre? Ele poderia ser muitas coisas, mas um padre era brincar com seu juízo.

O telefone tocou, ainda presa em seus devaneios ela suspirou e atendeu, Samara mexeu-se no sofá.

- Alô ?

- Maria, bom dia, desculpe ligar esse horário sei que acorda tarde, mas é que hoje acordei e não vi Samara na cama, enfim, eu e Renato nos preocupamos.

       Ah, os pais de Samara, Renato e Elise, Maria sentia pena por eles, Samara sempre os preocupava com essas saídas. Apesar da jovem ser maior de idade, sempre seria a menina de seus pais, sempre seria indefesa o suficiente para que eles a procurassem se ela ficassem uma noite sem contata-los.

- Tudo bem, eu já tinha acordado, ela dormiu aqui em casa depois da festa, dormiu dentro do carro a caminho daqui. - Explicou apaziguando o aperto em seus corações.

Um suspiro se foi ouvido do outro lado da linha.

- Ah, entendo. Desculpe pelo incômodo Maria, Samara sempre fica aí perturbando.

- Hi, Não se preocupe Senhora Elise! Adoro Samara e faço tudo por ela, não me importo dela dormir aqui, na verdade gosto.

Uma de suas melhores companhias por sinal.

- Ótimo, diga a ela que não vamos almoçar em casa e qualquer coisa para ligar.

-  Tudo bem.

- Obrigada Maria, tchau.

-  Que isso! Não é nada, de verdade! Um beijo!

Desligou o telefone, espreguiçando totalmente. Havia dormido tão bem que não se lembrava a última vez que tinha recuperado boas energias com um sono tão profundo. Seguiu para Sala admirando Samara deitada completamente torta sobre o sofá, com seus cabelos rosados também sua face e sua boca entreaberta.

- Ei, acorda dorminhocaaaaa ! -  sacudia pelos ombros

Despertou de supetão. Belo susto!

- Hã...Anh...Maria... Bom dia.

Samara falou manhosa.

- Bom dia. Sua mãe já ligou. Samara você deveria dar um sinal de vida. Coitada, está sempre preocupada com você! – lamentou a morena.

- Eu sei, mas que culpa tenho se apago e nem vejo.

- Deveria beber menos.

    Samara riu.

- Está bom viu senhorita que não bebe!

- Não foi isso que eu disse!

As duas riram.

- Mas sério, ela avisou que vai almoçar fora, então você pode almoçar no restaurante do hotel comigo!

- Ah...Ta bom.

A porta se abriu em felicidade e ela sorriu, era Vitor entrando.

- Bom dia meninas! – Vitor como sempre entrava animado.

-  Bom dia! – as duas exclamaram juntas.

- Como foi a noite? – Perguntou com olhares maliciosos sobre as duas.

- Ah eu conheci aquele tal de William. Bonitinho, mas chaaato. – a Elinois ficou decepcionada.

Vitor e seus romances baratos e péssimos. 

- Ou seja, fracasso né amor?

- Exato. - Ele sempre concordava.

- E você, hein Dona Maria? Com o loirão?- Vitor arqueou as sobrancelhas repetidamente. Maria apenas fechou a cara e bufou.

- O loirão ? Você quis dizer padre né. - Revirou seus olhos só de recordar.

- O queee ??? Padre?Como assim!!? – Os olhos de Vitor se arregalaram experimentando o mesmo sentimento de surpresa da Lancaster, embora nela tenha sido mais uma espécie de balde de água fria. 

-  Isso mesmo querido, o ‘loirão’ é padre. Aaaah! Eu odeio isso! – Maria berrou e apertou com força os cabelos. 

Deus, aquilo era um pecado.

Aquele homem ser um padre era um pecado.

- Fiquei de cara! Aquele gato é padre ? Ah, me recuso a aceitar ! Eu vi ele encarando você. – Vitor falou com a mão na cintura indignado.

Maria pulou.

- Você também viu? – Graças! Ela não fora a única!

- Claro! Ta certo que ele não foi tããão descarado, olhou no seu rosto, mas euzinho aqui tenho certeza que vi aqueles olhinhos azuis percorrerem esse corpinho  – Vitor falou olhando para Samara enquanto gesticulava.

-  Meu Deus! Maria, amiga, conquistando até padre agora? –  Samara também perceberá algo de errado quando o perguntou se ele a considerava bonita...Enfim, não percebeu muito bem devido à bebida.

Comico se não fosse trágico. 

- Eu também vi. – Maria choramingou. – Tudo bem vamos encerrar o assunto porque o que eu menos quero é pensar naquela criatura, quanto mais rápido tirá-la dos pensamentos, mais em paz ficarei! – Maria falou convicta, mas parecia que algo dentro dela não queria aquilo de jeito nenhum.

- Huum...medo! Tudo bem, agora vamos almoçar, hoje você tem o dia de folga querida.

- Ah perfeito! – Sim, estava cansada, precisava descansar.

O celular de trabalho de Maria que andava sempre com Vitor tocou.

- Um momento.

- Alô? - A voz do ruivo era um doce

A respiração estava presente embora a voz ainda não tivesse se manifestado. 

- Alô, esse é o celular de Maria Lancaster?

- Quem gostaria?

-Sou Criseida Spencer, gostaria de conversar com ela sobre a ajuda à nossa comunidade de Hope.

- Ah sim, um momentinho.

Vitor tirou o telefone do ouvido para falar com Maria.

- É uma tal de Criseida Spencer. – ele sussurrou com o telefone abafado no peitoral.

-  Quem é essa? – Maria franziu a sobrancelha. Criseida...aquele nome não era estranho.

- Sei lá, falo algo da comunidade de Hope... Ignoro?

     Hope... comunidade... paróquia... Padre...Damon! O coração de Maria acelerou, ela estendeu a mão para Vitor pedindo o telefone. Não devia, mas queria, queria ajudar a comunidade de Hope, queria reencontrar Damon, entender o que era aquele turbilhão de sentimentos. Respirou fundo mantendo a calma e atendeu.

- Pois não? - Ela manteve a postura

- Maria?

- Sim. – respondeu confiante

- Bom dia, aqui é Criseida, estou ligando para rever sobre aquela ajuda a nossa comunidade.

- Ah claro Criseida! Eu acordei pensando nisso mesmo - ”na verdade em Damon” - olha, eu antes de tudo gostaria de conhecer o local, as crianças, poderíamos marcar?

- Mas é claro! – A Spencer estava empolgada com tamanha gentileza.

- Que dia pode ser?

- Qualquer dia! Damon estará disponível para lhe mostrar os arredores da chácara.

Damon! Os olhos de Maria brilharam.

- Olha, hoje minha agenda está livre. – Ela precisava ver se tudo aquilo era mentira. Não que achasse que eles fossem impostores, mas o mundo está cheio de pessoas com maldade e ela precisava ter certeza de que o rosto bonito de Damon não era só pra atrair moças molhadas como ela mesma.

- Perfeito, avisarei Damon para que se prepare para te receber!

- Então fica assim querida, após o almoço vou até vocês, na chácara pode ser?

-Claro.

- Um beijo Criseida, até logo.

          Maria jogou-se no sofá com os braços para o alto e soltou um gritinho.

- O que aconteceu querida? Parece que viu um passarinho rosa!

-  Não Vitor, melhor!

Recuperou-se e levantou-se do sofá.

-  Tudo bem. Precisamos nos arrumar. Vou trocar de roupa, Samara, Vitor vocês vão comigo até a chácara de Hope para conhecê-la. Pretendo ajudar muito essa comunidade e ser bem participativa. Agora ouçam bem: Samara, nada de falar merda, safadezas nem , Vitor, por favor ignore seu lado gay que tanto amamos por um momento? Estamos indo visitar o padre, Damon Spencer, seria um desrespeito, certo? Em todo caso você namora Samara ok? Estamos entendidos?

Vitor levantou a mão.

- Fale Vitor. – Pediu a modelo

-  Não entendi porque tenho que fingir ser hetero!

- Porque a igreja católica não está muito de acordo com homossexuais, vai que o padre sente-se ofendido! Mais alguma coisa?

Essa foi a vez de Samara levantar a mão.

- Não foi você que disse agora a pouco que quanto antes esquecesse o padre melhor seria?

-  ... Eu sei que devo. Mas não é o que quero no momento! Quero entender isso tudo. – Algo mais forte dentro dela dizia para ela encontrá-lo, mais, mais e mais!

- Isso tudo o que? – indagou ele

- Mas que saco! Que tantas perguntas! Vamos logo nos aprontar! – Como explicar que o que sentiu quando encontrou Damon era mais forte do que com qualquer outro homem? Não poderia, encerrou o assunto.

O que Maria queria realmente entender eram seus sentimentos e ela faria de tudo para isso.

                            ◇◇◇◇◇◇◇◇◇◇◇

- Damon, liguei para Maria esta manhã, ela virá visitar a chácara essa tarde.

Damon engasgou com seu café e sentiu o líquido pingar de seu nariz. 

Ótimo, o diabo faria uma visita ao céu na intenção de transformá-lo no inferno

-  Já? – Não sentia-se muito preparado para a visita da mulher, ainda mais quando acordou pensando justamente nela.

- Sim. Está tudo bem Damon? Credo! Está estranho desde ontem.

- Está tudo ótimo Cris,! Vou avisar as crianças.

       Damon levantou-se para limpar-se do café que derramou na roupa. Mal tinha esquecido-se de Maria e sua tia já iria trazê-la lá e ainda quer que ele a leve em um passeio pela chácara! Aquilo era bizarro.

Nunca uma mulher havia o deixado tão desnorteado.

O que era aquela ela? Porque ele sentia-se tão nervoso perto dela? Algo o avisava que deveria evitá-la, mas ele queria evitá-la?

                                   ◇◇◇◇◇◇◇◇◇◇◇◇◇◇◇◇

             Maria trocou de roupa, vestiu uma blusa laranja colada com uma saia alta, um pouco acima do joelho e branca estampada. Nos pés uma rasteirinha branca com dourado. Resolveu alguns assuntos pendentes pela manhã, passou na casa de Samara para ela trocar-se e logo depois que almoçaram, dirigindo-se para a chácara.

- Tudo bem, comportem-se ok? - Pedia detalhadamente.

         O carro de Maria era um rápido, chegando a chácara percebeu que o lugar era muito humilde, mas muito aconchegante, tinha um portão, mais parecido com uma porteira na entrada, ela estacionou o carro e buzinou. Qual não foi sua sensação quando viu quem vinha recebê-la. Era ele, porém em roupas mais simples, uma bermuda jeans e camiseta cinza. Nos pés um simples chinelo. Podia alguém tão mal vestido ser tão magnífico? Ah sim, ele podia.

Abriu a ‘porteira’ e Maria entrou com o carro.

          Quando escutou a buzina, foi como se todas as extremidades de seu corpo entrassem em circuito elétrico, levantou-se automaticamente para atendê-la. Já lá fora, quando a viu ali dentro do carro com um homem rechonchudo e uma outra mulher, a mesma da noite anterior de cabelos rosa, deu graças a Deus, assim não teria que ficar sozinho com ela. Abriu o portão que era fechado apenas por uma cordinha.

       Maria entrou com seu carro, Damon fechou o portão e ao virar-se deparou-se com Maria descendo do carro, “linda” pensou. As pernas roliças, O quadril largo e os seios empinados, os cabelos longos sempre jogados, ela levantou os óculos escuros e olhou para ele, foi como se despertasse de um sonho, no mínimo excitante. Sua voz angelical o fazia ficar centrado apenas nela, se esquecendo que além dela tinham mais duas pessoas

-  E então Damon? Estamos prontos para o nosso tour! – sorriu Maria alegremente

- Ah sim. Vocês não querem um café ou algo do tipo? – Ele sorriu com olhos emaranhado em suas grandes mãos nos fios loiros.

- Não é necessário, acabamos de almoçar. A propósito, estes são Samara minha secretária e Vitor meu assistente. – Apresentou-os

Damon curvou-se.

- É um prazer conhecê-los. – cumprimentou o padre

-  Então, por onde começamos?

Sorriu galante.

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