O casulo do conde

#Madalena

_ Eu tenho certeza que ele não é tão ruim assim, Bella. _ digo para a mulher aflita ao meu lado enquanto coloco as últimas peças de roupas dentro da minha mala. _ além disso, você sabe que eu não tenho escolha, preciso desse emprego e de um lugar para morar.

A situação tem sido difícil desde que me entendo por gente e atualmente não é diferente. Estou com 25 anos e as vezes me sinto cansada de lutar. Sou brasileira, mas depois de ficar órfã, acabei me mudando para Londres em busca de uma vida melhor.

Ledo engano esse meu.

Desde que cheguei aqui trabalho feito uma condenada, já trabalhei de tudo, desde de garçonete até faxineira. Mas, a três meses fui demitida da casa que trabalhava como doméstica porque não aceitei prestar outros "serviços" para o velho tarado do meu ex-patrão.

A verdade é que mesmo depois de tanto avanço, ainda existem pessoas que me julgam pela minha cor ou pelo meu corpo. Acreditam que estou desesperada por um homem que aceite o "fardo" de foder com uma mulher negra e gorda. Perde as contas de quantas vezes ouvi tanta piadinha preconceituosa, ou das humilhações explícitas mesmo.

Isso me causa dor.

Mas, eu não sou de desistir nunca. Levanto e sacudo a poeira e dou a volta por cima. É por esse motivo que aceitei essa proposta maravilhosa que surgiu como um milagre na minha vida.

_ Mas dizem que ele é desfigurado Lena, e que é cruel e malvado com todos a sua volta. _ ela diz enquanto vai busca mais um pouco de chocolate quente, afinal em Londres parece que está sempre abaixo de 0°. _ não é à toa que ninguém se aproxima daquela mansão a anos, todos temem o conde.

Certo.

Eu não posso ter medo.

As pessoas podem exagerar na verdade.

O Conde William Frederico Westphalen, ou melhor, conde de Westphalen é um dos homens mais estranhos que já ouvir falar. Tudo o que sabemos sobre ele é a partir de fofocas que rolam pela cidade. Dizem que ele era o homem mais bonito de toda Londres, bondoso e rico até que sofreu um terrível acidente que lhe fez ficar desfigurado. Desde então, ele vive trancafiado em sua belíssima mansão no lado mais afastado do centro da cidade e ninguém se atreve a incomodá-lo.

Foi por esse motivo que fiquei completamente surpresa quando o senhor Clinton, gerente da agência de emprego, me ligou oferecendo uma vaga de doméstica na mansão Westphalen. O emprego é em tempo integral, o salário é bem acima da média, além dos diversos auxílios trabalhistas.

Era tudo o que eu mais precisava no momento.

Desde que fiquei desempregada, não tinha conseguido arrumar mais nenhum trabalho. As contas estavam atrasadas e o dono do pequeno apartamento no subúrbio da cidade em que eu morava estava me ameaçando de despejo.

Enfim, tudo o que eu precisava era de um emprego.

Qualquer um.

_ Não deve ser verdade isso, Bella, você sabe como as pessoas podem ser maldosas. _ eu mesma sabia disso a cada vez que cruzava a porta da minha casa e enfrentava os olhares julgadores. _ talvez ele seja só um adepto da tranquilidade do campo.

Ela me olhou como se eu estivesse louca. Isabella é a primeira e única amiga que fiz nesse prédio. Uma linda moça alta, branca, magra e de rosto delicado. Ela vive aqui com uma tia, trabalha como garçonete enquanto estuda enfermagem a noite. Nos tornamos melhores amigas desde que nos conhecemos e eu a amo.

Mas às vezes, em momentos como esse, gostaria que ela falasse menos.

_ Ele ameaçou o entregador quando ousou aparecer lá. _ ela diz gesticulando com as mãos. _ eu estou com medo por você amiga.

Sorriu para ela tentando tranquiliza-la enquanto me aproximo.

_ Vai dar tudo certo, Bella. _ digo abraçando a minha amiga. _ você vai ver como as coisas vão ficar bem, vou conseguir um bom dinheiro e depois posso procurar outro trabalho. Não se preocupe comigo.

***

Sem sombra de dúvidas nunca vê nada parecido com esse lugar em toda minha vida, tão sombrio e luxuoso que me deixou arrepiada. O motorista da mansão, senhor André Robinson, foi me buscar no horário combinado. Duas horas de viagem depois, entramos na propriedade da família Westphalen, e logo avistei a mansão.

Caramba.

Era uma magnífica construção, aparentemente tinha uns três andares, em estilo clássico, estava cercada por um lindo jardim. 

Suspirei com a imagem a minha frente.

Mas, de alguma forma eu senti um aperto no peito, uma sensação estranha ao entrar naquele lugar.

_ Vamos senhorita Santos, vou lhe apresentar aos outros funcionários. _ o senhor Robinson falou assim que desci do carro.

Nós seguimos para a porta dos fundos, que deu em uma ampla cozinha. Observei bem aquele lugar, era um espaço enorme, muito bem equipada com os utensílios e equipamentos necessários. A decoração era neutra e apesar de estarmos quase no natal, nada por ali denunciava que haveria uma comemoração.

Vejo algumas pessoas sentadas em volta de uma ampla mesa no canto esquerdo da cozinha. Primeiro tem uma senhora vestida com um avental e toca, ela era rechonchuda e tinha um sorriso simpático no rosto. Do lado dela, tinha uma moça alta, loira e magra, parecia me analisar da cabeça aos pés e percebi o olhar desconfiado que me lançou. Por fim, tinha uma senhora baixinha, vestia um uniforme preto que lhe deixava meio assustadora, contrastando com o sorriso acolhedor que me lançava.

_ Pessoal, essa é a nova emprega, a senhorita Madalena Santos. _ o senhor André anunciou a todos.

Coloquei meu melhor sorriso, apesar de tudo, eu sempre gostei de fazer novas amizades e quem sabe não encontrava pessoas legais aqui?

_ Seja bem-vinda filha. _ a senhora do uniforme diz me abraçando carinhosamente. _ eu sou Marta, a esposa do André e governanta da casa. Essa é a Catarina, a cozinheira _ ela diz apontando para a senhora rechonchuda sorridente. _ e aquela é Juliene, a que arruma a mansão.

Eu cumprimentei a todos com abraços singelos, a todos, menos a tal Juliene que saiu da sala assim que me foi apresentada.

_ Podem me chamar de Lena, _ eu disse enquanto tomava o melhor chocolate quente que já provei na vida.

Conversamos um pouco e depois dona Marta me levou para conhecer a mansão. Descobri que em baixo ficava uma ampla sala de visitas, que mais parecia um salão de baile, toda decorada com quadros famosos e vasos caros. Depois tínhamos outra sala, mais simples e aconchegante. Em seguida, tem um corredor que leva para uma sala de música, uma sala de leitura, uma sala de jantar, banheiro social, e uma varanda.

No segundo andar ela me mostrou onde ficavam os quartos, na sua grande maioria estavam fechados já que nunca eram utilizados. Tinha também, uma biblioteca enorme, que me deixou imediatamente encantada, um escritório, uma sala de descanso. Por fim, ela apontou para o quarto do patrão e me disse para nunca entrar lá.

_ Basicamente é isso Lena. _ ela diz quando chegamos ao lugar dos empregados, e onde se localizava meu quarto. _ esse aqui é o seu quarto, vou te deixar descansar um pouco, depois conversamos sobre seu trabalho e sobre as regras da casa. Mais uma vez seja bem-vinda.

Sorriu para mim e me deixou sozinha na frente do quarto que seria meu de agora em diante. Eu sabia, eu sentia que as coisas nunca mais seriam a mesma.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo