01

Hideaway - 1440.

 A vida pacífica era agradável para aqueles que já estavam cansados de presenciar a morte e nunca serem levados. Talvez por serem fortes demais, talvez por simplesmente ansiarem viver.

Em um mundo onde as mulheres não tinham voz nem vez, havia Lilian, uma princesa vampiro. Não gostava de ser chamada assim, preferia o termo guerreira, pois era como ela se mostrava. Orgulhava-se do vermelho de seus cabelos, pois a lembrava do sangue. Os calos nas mãos mostravam todo o seu esforço em treinos com a lança. Embora queimasse sua pele rosada ao sol, sempre retornava ao seu tom natural. Lilian gostava de treinar e sua arma favorita era a lança.

– Tenho um presente para você – Disse Nicolau, o irmão mais velho e futuro líder das raças, aproximando-se, interrompendo o treino diário de Lilian e a entregando um embrulho.

– Uma adaga? É sério? – Lilian arqueou as sobrancelhas e sorriu debochando do presente – Obrigada, mas de que vai me servir uma arma tão pequena? – Tomou-a em mãos e a manuseou como fazia com a lança.

– Você só treina batalha a longa distância – Disse o irmão desviando dos golpes – E se um dia tiver que lutar corpo a corpo? Ela pode lhe ser útil.

– Lutar? – Indagou Lilian encerrando seus movimentos – Contra quem? Esquilos?

Nicolau a encarava pensativo e então ela prosseguiu.

– Tempos bons eram o do nosso avô. Havia sangue, gritos e pedidos de misericórdia, hoje é só sangue e sexo – Revirou os olhos.

– Não se esqueça do vinho – Nicolau brincou – Aqueles humanos sabem como fazer um bom vinho – Lambeu os lábios.

– Ah! É, o vinho – Lilian sorriu.

– E porque está reclamando do sexo? – Nicolau perguntou com ironia – Por acaso Michele não está mais lhe satisfazendo?

Lilian moveu-se rápido posicionando-se as costas do irmão, uma das mãos tampou-lhe a boca a outra levou a adaga até o seu pescoço.

– Shiu! Se alguém descobre estou morta – Sussurrou.

Nicolau murmurou algumas palavras que saíram abafadas.

– Duas fêmeas não podem procriar.

– Ah! É mesmo – Disse Lilian soltando o irmão – Sabe que você tem razão – Admirou a adaga – Ela pode mesmo me ser útil – Sorriu e a guardou entre as vestes próximas ao quadril – Aliás, porque está aqui? Não deveria estar na coleta?

– Eu não preciso ir e você sabe, aliás, nós dois não precisamos.

– Graças a Michele – Lilian sussurrou.

...

O castelo do Conde Vladmir ficava no topo de uma montanha, a mais alta da ilha Lalfheim. No cômodo da torre mais alta podia-se ter uma limpa visão de qualquer direção em que se olhasse. O caminho até o castelo era de difícil acesso, não havia estrada, apenas árvores e rochas, porém para os vampiros não tinha importância, já que, eles poderiam saltar a longas distâncias.

Nicolau era o filho mais velho, o orgulho do pai, e a quem seria passado os segredos do continente. Seguia a risca todas as leis e costumes. Não ousava discutir tampouco decepcionar o pai. Mas ficava triste sempre que presenciava algumas das leis severas em ação.

Em seu caminho para casa, avistou uma bruxa a carregar um bebê humano. O terceiro do sexo feminino. Os humanos tinham porções para não gerar filhos mais do que o permitido na ilha, porém as bruxas continuavam a levá-los. Estavam em tempos de paz e para a mesma continuar todos faziam sacrifícios, inclusive entregar suas próprias filhas para o abate.

Nicolau sabia que as bruxas não matariam as crianças sem antes fazê-las passarem por experiências. Mas não podia interferir, apenas ignorava a atrocidade diante de seus olhos. Fechá-los e seguir caminho era sua única opção.

No castelo, o clima não estava agradável, uma notícia repentina e inesperada deixava o Conde nervoso.

– Cinco servos da família Bhatair ficaram sem sangue hoje, alguém poderia me explicar o que houve? – Perguntou Vladmir, enquanto massageava a testa, preocupado.

O dia da coleta é quando os vampiros se reúnem na ilha Lalfheim para sugar o sangue dos humanos. Para cada cinco vampiros, um humano dispõe de suas veias. E este ritual acontece uma vez na semana.

Nicolau não estava pronto para assumir o controle de tudo, mas sempre se fazia presente nos assuntos da raça vampiro.

– Algum problema meu pai? – Perguntou Nicolau após uma reverência.

Com um gesto de mão, o conde ordenou que o subordinado, que fazia a contagem dos humanos, se retirasse.

– Estão nos negando o sangue – Vladmir respondeu – Eu já esperava por isso, em breve os humanos irão se rebelar. Hoje deixaram cinco vampiros com fome, na próxima coleta poderão ser dez e não posso fazer nada, preciso manter a paz.

– Tem certeza de que não houve nenhuma morte recente meu pai? A contagem pode estar errada.

– Nenhum humano morreria sem que eu soubesse. Eles estão se escondendo. Em tempos antigos eles sequer ousariam nos deixar sem alimento – Disse o conde após um suspiro – Mas agora com o acordo de paz não podemos fazer nada.

– Como não? – Indagou Lilian adentrando a sala após ouvir parte da conversa. Somos a espécie mais forte. Podemos obrigá-los.

- Lilian, mostre respeito perante o conde - Disse Nicolau.

Apesar de ser o pai, era tradição que todos, inclusive a própria esposa e filhos, fizessem reverência perante o líder. Vladmir era um pai atencioso e não fazia questão de tantos honoríficos, mas tinha que manter sua autoridade.

– Não é tão fácil quanto parece - Disse o conde – Poderíamos, sim, obrigá-los, mas isso não garantiria nosso alimento de amanhã. Se forçarmos um humano a nos dar mais do que ele pode, ele certamente morreria, ou não estaria totalmente recuperado até a próxima coleta e os vampiros teriam que esperar mais ainda para saciar sua sede.

– Os humanos não são tão burros meu pai, não carece de se preocupar – Disse Nicolau, tomando a palavra – Eles sabem que precisam de nós no comando, para protegê-los. Eles não estão nos alimentando, estão trocando seu sangue por proteção.

– Ainda penso que deveríamos forçá-los, é melhor prevenir antes que a rebelião comece – Disse Lilian.

– Porque não deixa esse assunto para os homens da família resolver? – Disse Nicolau a encarando com seriedade. Ele odiava ter que usar violência, o total oposto de Lilian.

– Como o senhor ordenar futuro líder – Disse ela com ironia – Espero que esse acordo continue de pé até o seu reinado, mas caso isso não aconteça, a garota aqui estará preparada para uma guerra, se esta começar.

O olhar da filha fazia o conde repensar todas as leis, mas não cabia a ele mudá-las. Vladmir já estava beirando os duzentos anos, para um vampiro, estava na metade da vida que lhe era permitida. Não estava preparado, tampouco tinha vontade de começar uma guerra.

Lilian na maioria das vezes era rebelde, revoltada com as injustiças que eram feitas para com as mulheres. Queria ter a voz, mas ninguém lhe ouvia, queria ter vez, mas ninguém lhe dava atenção. Porém ela continuava a treinar mesmo sozinha, para estar preparada para uma possível futura batalha.

Por outro lado, Nicolau era como o pai, não importava os meios, ele queria manter a paz. Treinava tanto quanto a irmã, mas não tinha desejo algum em ver pilhas de cadáveres aos seus pés.

...

O jovem vampiro procurou investigar sozinho o desaparecimento do humano. Queria ajudar seu pai que já carregava o peso de tal responsabilidade. Passeou pelo vilarejo e observava os humanos. Procurava por algo suspeito, algo que respondesse as suas perguntas.

As casas eram baixas, feitas de barro e palha. Os humanos mal cuidados viviam cada um por si. Alguns bem vestidos com os trapos que os vampiros disponibilizavam, outros não se importavam em sequer tomar banho. Cercados por altas montanhas e duas florestas perigosas. A prioridade era sobreviver por mais tempo possível, mesmo sendo apenas o gado.

– Bom dia senhor Nicolau – Michele cumprimentou o vampiro ao vê-lo saindo do vilarejo.

Diferente dos demais moradores do vilarejo, Michele sempre tinha em seu rosto um sorriso e uma luz de esperança, ninguém entendia o porquê. Nicolau gostava de sua personalidade, era seu lanche favorito.

Ela carregava consigo um cesto de legumes que parecia pesado para seus braços magrelos. O rapaz aproximou-se olhando os arredores e certificando-se de que ninguém os via.

– Bom dia Michele – Disse tomando o cesto de suas mãos.

– O que faz tão cedo no vilarejo? – Perguntou a moça – Ontem foi a coleta e eu não o vi.

– Graças a você, eu não preciso pegar fila – Ele disse, mas ainda com um olhar distante, o que preocupou a jovem.

– Aconteceu alguma coisa?

Nicolau suspirou deixando a moça confusa. A pequena estrada de terra que dava acesso ao vilarejo encurtava a cada passo e Nicolau retornava sem nenhum êxito em sua pesquisa.

– Estou preocupado com os humanos – Ele disse.

– Com os humanos? – Indagou ela, confusa – Nota-se que será um grande líder, pois se preocupa até mesmo com o gado. Eu queria ser um vampiro, para poder presenciar seus dias de reinado. Tenho certeza que fará grandes mudanças no mundo.

– Quero pelo menos poder ter a mesma força que meu pai.

– Sim, ouvi dizer que o conde foi um bravo guerreiro em seus tempos de juventude.

– Não me refiro a esse tipo de força, mas sim a que usa todos os dias para suportar o peso das responsabilidades.

A moça sorriu e em um passo largo ficou a sua frente tocando o rosto do vampiro com gentileza.

– Você é diferente dos outros.

– Você também é diferente dos humanos. Você é a única que consegue sorrir, que consegue ver o outro lado das coisas. E o seu sangue... é o mais saboroso que já provei.

A mão subiu lentamente acariciando o rosto dela e pousou em seus lábios. Os olhos a fitaram com sede, mas não de sangue. Logo a mão deslizou para nuca e a puxou para um beijo. Michele era seduzida facilmente pelas palavras do jovem vampiro, mas ele também se sentia como uma vítima, hipnotizado pelo doce aroma do sangue de Michele.

...

Um antigo celeiro era o lugar favorito para os encontros as escondidas. Ninguém ousaria passear por aquela região, já que, ficava muito próximo da floresta poisonous. Os moradores foram forçados a saírem antes que perdessem suas vidas para a neblina venenosa que transbordava da floresta da morte. As bruxas sugaram toda a energia daquela parte da natureza, e agora, do solo saíam gases venenosos.

– Seu sangue parece ficar cada vez mais gostoso – Disse Nicolau, soltando o pescoço de Michele e lambendo os lábios.

– Então não pare - Ela sussurrou ao seu ouvido. Estava sentada em seu colo, conectados por suas intimidades.

Acomodados sobre a pilha de feno, que ficara abandonada pelos antigos moradores, o casal deliciava-se do momento a sós. A veia pulsante no pescoço de Michele estava rompida, mas em vez de dor ouvia-se sussurros de prazer, sentindo o toque das mãos do vampiro que desciam os trapos a procura de outros lugares para morder.

– Meu sangue é mesmo tão bom como diz? – Perguntou ela, agarrada ao corpo do vampiro. Suas pernas pareciam duas serpentes enormes a abraçá-lo.

– Se você pudesse sentir com o nosso paladar... – Nicolau movimentou o quadril abaixo da moça a fazendo gemer – ...Saberia o quanto é delicioso.

Era um celeiro velho e muito antigo, mas abrigava muitas recordações, principalmente libidinosas.

Uma das leis proibia o relacionamento entre raças diferentes. Mestiços não eram bem vindos. Nicolau sabia o que fazia e como fazia, não tinha em mente decepcionar o pai e manchar o nome da família, mas tinha Michele como uma grande amiga. Uma parceira sexual de longa data e um baú de segredos a quem confiava cegamente seus pensamentos pecaminosos.

– Preciso descobrir o que houve com o humano desaparecido – Ele disse, após terminarem seu ato sexual e vestindo suas roupas.

– Queria poder ajudá-lo – Disse Michele.

– Eu sei, mas agora precisa cuidar de si mesma, vá para casa e cuide disso – Ele apontou para o rompimento no pescoço da jovem.

A despedida nunca era demorada, e naquele dia foi ainda mais rápida, pois Nicolau estava com pressa para continuar sua investigação. Já Michele tinha seus afazeres no vilarejo, mas fez um breve retorno ao celeiro e colheu um pouco do sêmen do vampiro que ainda havia sobre as palhas.

...

A noite era a camuflagem perfeita para o castelo do Conde Vladmir, suas torres pontudas podiam ser facilmente comparadas aos picos das montanhas. A única coisa chamativa no castelo eram as roupas de Nicolau sujas de sangue e o cheiro de sexo que pairava por onde ele passava.

– Perdão meu pai, não pude resistir desde que ela me ofereceu de tão bom grado – Disse Nicolau de cabeça baixa perante seus pais.

– Uma moça – Disse Amélia, sua mãe, cerrando os olhos – Então é por isso que não foi à coleta? Porque já tinha sua fonte de sangue pessoal? E pelo cheiro que traz consigo, não é apenas sangue que ela lhe oferece.

– Não pense errado de mim minha mãe – Disse Nicolau – Não ousaria me envolver com humanos a ponto de gerar mestiços. Sempre despejo minhas sementes fora.

– Então não é a primeira vez – O conde semicerrou os olhos.

– Não meu pai.

– Não volte a encontrar essa moça, nossa raça agradece – Disse a mãe.     

Não era do feitio de Nicolau infringir as leis, mas os encontros com Michele eram quase uma necessidade. O jovem vampiro sentia-se sufocado naquelas paredes envoltas por leis e tradições. Porém, ele não era o único, Lilian também compartilhava daquele corpo, do sangue e dos desejos de Michele. A humana era o lanche favorito dos irmãos Flowster.

– Andou aprontando de novo? – Lilian perguntou, o abordando a caminho do quarto.

Nicolau não parecia querer conversar, mas Lilian insistiu, ficando a sua frente, bloqueando a passagem.

– Estava em uma investigação – Nicolau respondeu, suspirando.

– E o que descobriu?

– O sangue de Michele está cada vez mais gostoso – Nicolau sorriu, a provocando. Sabia o quanto a irmã detestava as ações dos homens. Lambeu os lábios, como se ainda tivesse o sangues de Michele em sua boca. Lilian o deu passagem, enojada, mas o cheiro nas roupas do irmão a deixava curiosa.

Na manhã seguinte, não hesitou em fazer uma visita a humana. Como sempre, Michele estava a carregar um cesto grande e pesado de legumes, que acabara de colher. A horta ficava fora do vilarejo e a moça sempre fazia uma longa caminhada.

– Isso não é demais para seu corpo frágil? – Lilian perguntou, tomando o cesto das mãos da moça.

– Princesa Lilian? – Michele a encarava surpresa, não esperava uma visita dela após ter servido seu irmão no dia anterior. A moça precisaria repor seu sangue ou acabaria morrendo.

– Já disse para não me chamar de princesa – Lilian franziu a testa.

– Perdão – Michele baixou a cabeça.

– Tudo bem. É só que... Parece tão... Frágil. Essa palavra não combina comigo. Ou você me acha fraca?

– De jeito nenhum – Michele respondeu – Pelo contrário, nunca conheci uma mulher tão forte. Sinto inveja e até me pego desejando ser como você. Peço perdão por isso também.

Lilian a encarou com dó, coisa rara vindo de um vampiro. Tomou a frente segurando o rosto de Michele e o levantou olhando em seus olhos.

– Não peça perdão por querer ser forte – Ela disse.

– Para você é fácil, é um vampiro, a raça mais forte. Tem força e poder para fazer o que quiser. Tem idéia do que eu faria se eu fosse um vampiro?

Os olhos de Michele brilhavam, pareciam que ia se inundar a qualquer momento, mas a moça se fez forte e segurou as lágrimas.

– Você não conhece sua própria força – Lilian disse, e a garota a encarou confusa – Você é forte a sua maneira. Nos seus limites.

Não eram as palavras que Michele esperava ouvir, e aquela conversa também não estava e seus planos. Não importava o que dissessem, ela continuaria a ser o alimento deles.

– Bem, não foi por isso que vim aqui – Disse Lilian mudando o assunto – Faz tempo que não nos encontramos. E ontem Nicolau chegou em casa com um aroma muito agradável. Creio que seja o seu.

– Você quer dizer, meu sangue? – Michele perguntou desconfiada.

– Você precisa se cuidar, não pode ficar alimentado meu irmão sempre que ele quiser. A coleta foi a pouco tempo, você precisa se recuperar, mesmo sendo ele seu favorito.

– Não! – Michele a interrompeu – Não tenho um favorito, nem poderia. Eu gosto dos dois igualmente.

Lilian a encarava com um olhar provocativo, procurando, onde no corpo da moça, Nicolau havia cravado seus dentes.

O olhar inocente de Michele e o aroma penetrante que transbordava de seu corpo eram a combinação perfeita para uma visita ao antigo celeiro abandonado. Michele nunca dizia não para os filhos do conde, seu corpo estava sempre disponível seja para beberem ou deliciar-se em prazer.

...

– Nicolau tinha razão, está mesmo delicioso – Disse Lilian enquanto apertava o frágil corpo de Michele sobre o seu colo.

Embora estivesse fraca, a jovem humana, não negava o desejo de ceder o seu sangue. Michele ainda não tinha um parceiro humano, e enquanto este não viesse, ela se divertia em prazeres com os irmãos Flowster.

...

As tardes eram terrivelmente quentes. Lilian não se importava de se expor ao sol e bronzear sua pele. Maior parte do dia ela ficava nos campos abertos da ilha, qualquer lugar que estivesse livre e limpo de mato ela o tomava como sua arena de treino.

Após liberar Michele, Lilian procurou um lugar novo na ilha, coisa difícil de achar, visto que ela já conhecia cada pedaço de terra. Mas as caminhadas nunca eram entediantes.

Retornando ao castelo, pegando a estrada que cortava a floresta poisonous e seguia por entre o vilarejo, Lilian avistou uma bruxa. Não dava para comparar o ódio de Lilian entre homens e bruxas, os dois eram detestáveis aos seus olhos. Homens por criar leis que diminuíam as mulheres a nada, e bruxas por sacrificarem vidas em experimentos por pura curiosidade.

A bruxa na sua mira carregava consigo um bebê humano. Diferente de Nicolau que apenas fechava os olhos para tais acontecidos, Lilian se importava, e muito, principalmente por serem as mulheres o alvo principal dos sacrifícios.

A adaga em seu quadril finalmente seria de utilidade.

Lilian a arremessou na direção da bruxa que caiu derrubando a criança. O bebê rolou distanciando, mas não chorou, provavelmente estava sob feitiço para dormir, já que as bruxas gostavam de fazer seus experimentos com suas vítimas ainda vivas.

Lilian aproximou-se da criança, estava enrolada em trapos.

– Desculpe-me, não era minha intenção assustá-la – Ela disse, com cinismo.

Sem tirar os olhos da bruxa, ela pegou a criança pelos trapos, por serem velhos demais, eles rasgaram-se deixando o bebê rolar desnudo no chão. Um menino. Um bebê, do sexo masculino, sendo levado por uma bruxa. Isso ascendeu a curiosidade de Lilian. Embora odiasse o fato de serem levadas as meninas, um bebê macho significaria grande coisa, e vindo das bruxas não seriam boas.

Contudo, não houve tempo para questionamentos, a bruxa agiu rapidamente liberando um flash de luz nos olhos de Lilian. Seus bloqueadores foram quebrados, ela agonizava de dores ao sentir a luz do sol queimar suas retinas. A bruxa aproveitou a oportunidade, recolheu a criança do chão e fugiu.

– Maldita! – Lilian gritava bloqueando o sol com as mãos.

Não podia abrir os olhos ou queimaria o que lhe restou da visão. As lágrimas vermelhas desciam, a dor parecia tomar conta de toda a sua cabeça, era como se seu cérebro fritasse junto. As mãos procuravam um apoio, os outros sentidos tentavam ajudar, mas sua cabeça doía demais para ela se concentrar em qualquer coisa. Lilian sabia que o melhor a se fazer era esperar. Esperar o sol se por e a noite banhar a terra. Andar sem direção só a levaria a problemas, poderia se perder e acabar presa dentro da floresta da morte. Ficar sozinha e indefesa não era nada bom, mas era sua única opção.

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