Cap. 4 - Surpresa inesperada.

Álex entrou no ônibus depois de fazer um lanche rápido em um estabelecimento dentro da rodoviária. No caminho, ficou pensando em tudo novamente e como aquilo o que aconteceu no colégio o deixava cada vez mais irritado. Lembrou-se também de seu “subemprego”, porque realmente o que fazia na empresa de materiais de construção não era mesmo um emprego. Trabalhava para o Sr. Costa que era um daqueles velhos chatos que tinha uma loja com uma fachada antiga. Justamente muito parecida com o dono.

Uma passada no pensamento pela Rose também foi incondicional. Sempre em momentos que não havia nada para fazer dentro de seu trabalho, o pensamento buscava o rosto magnífico de Rose.

Chegando à rodoviária de Aplanador, Álex desceu e logo em seguida já encontrou com seu pai.

- Fez boa viagem Álex? – disse ele com uma cara animada para uma notícia de velório.

- Sim pai. Foi tranquila. O que está acontecendo para que eu tivesse que perder um dia de trabalho para vir até aqui? – perguntou ele da forma natural de quem não está entendendo nada.

- Bom filho. Vamos pegar o carro. Temos muito que conversar. – disse ele colocando a mão às costas do filho o empurrando para o seu próximo destino.

Chegando ao carro, Álex tomou um grande susto. Seu pai pegou uma chave e apertou o botão que aciona o alarme perto de um carro luxuoso e importado. Porém “sóbrio” e “prata”. Com cara extremamente “chocada” entrou no carro. Seu pai deu a partida e suavemente saíram da rodoviária, mas sem nenhum comentário a respeito. Somente depois de algum tempo é que o Sr. Olivier começou a conversa.

- Bom. Nem tenho que explicar muito, não é? – disse ele dirigindo aquele carrão.

- É verdade. – disse Álex olhando o interior do carro.

- Meu Tio está realmente muito doente. E fez um pedido muito inesperado.

- Então ele não está falido, está? – perguntou Álex.

- Dá para perceber, não é? – disse seu pai.

- Mas, então. – disse Álex olhando pela janela juntamente com um silêncio sábio. – O que é esse pedido inesperado?

- Bom. Você se lembra da história que na minha infância éramos muito ricos?

- Sim, e como me lembro! Até que seu pai brigou com esse seu Tio. A fábrica pegou fogo e tudo o mais. Não consigo esquecer esta história de nossa família nem por um segundo! É essa história que nos fez ser tão pobres. – disse olhando para o seu pai.

- Pois então. Eles brigaram, muito. Até a morte de meu pai. Eu, como era seu filho, vivi longe de meu Tio, perdemos o contato, assim como você já sabe.

Álex somente resmungou.

- Agora não sei se fico triste, ou alegre. – disse o Sr. Olivier passando a mão ao rosto com um sorriso envergonhado.

- Mas por quê? – disse Álex prontamente.

- Meu Tio disse que ficou muito triste com meu pai. Também disse que nunca se casou e que a sua herança seria nossa. Mas tem um “porém” nessa história. – disse e Álex pressentiu o pior - Ele não irá dar sua herança para mim. Mas sim, para você! – disse isso e olhou para Álex. - Você foi o único que nunca esteve perto das brigas de seu avô com ele. – disse e deu uma resmungada. – Eu não entendi nada disso. Tentei argumentar ao contrário, mas ele foi irredutível! – deu outra resmungada. – Até o advogado disse para não insistir. Parece que ele ainda está sentido comigo, por eu também ter perdido o contato com ele. – terminou Sebastião.

- Nossa! Mas... Isso... É inesperado mesmo! Até mesmo posso dizer que é de uma mesquinharia imensa! – disse Álex.

- Sim, é verdade! – disse seu pai já chegando à frente da gigantesca e “cinematográfica” mansão de seu Tio.

Álex ficou impressionado somente com o portão da mansão. Assim que se abriu, viu que alguns seguranças estavam à porta. Falavam ao rádio, uns de um lado, outros do outro. Sebastião abaixou o vidro de seu carro e deixou ser visto pelos seguranças que olharam para Álex já abrindo um sorriso amistoso, porém nem tanto caloroso. Andou mais um pouco, por uma pequena estrada muito bem decorada com pinheiros aos lados, até chegar a um chafariz bem em frente à mansão, que nesse caso, depois desta vista, mais parecia um castelo. Uma grande limusine estava parada à frente. Era branca e chamava atenção completamente de nosso pobre rapaz. Sebastião parou um pouco mais a frente. Notou que parecia com aquelas casas extremamente luxuosas, que sempre apareciam nos filmes de Hollywood, ou, até mesmo, as casas das estrelas do cinema.

Desceu do carro, e olhou em volta. Ainda havia alguns seguranças com cachorros. Olhavam desmedidamente para Álex, que respondia o olhar meio que sem entender e com aquela cara de sempre, “amarrada”, sem expressão e com cara de poucos amigos.

- Vamos meu filho! – disse o Sr. Olivier. – Meu Tio está com pouco tempo de vida e quer conhecê-lo! Apresse-se!

Acordando de seu pequeno transe, Álex levantou seu olhar para seu pai que já estava parado ao topo das escadas que levavam para a grande porta da mansão. Seguiu instintivamente enquanto ainda olhava tudo ao redor. Percebeu naquele momento o carro cinza que havia vindo. Parou e analisou a grande porta de madeira maciça que se abria em duas “folhas”. A porta se abre e magnificamente o interior é revelado. Entrando no grande salão viu que tudo ali demonstrava ser realmente muito luxuoso e até mesmo exagerado em sua pequena concepção de conhecedor do que é luxuoso ou não. As escadas, à sua frente, levavam para o segundo andar da casa, porém, no andar em que estavam, existiam grandes salas, tanto para a direita quanto para a esquerda. Mais empregados esperavam por eles ali perto da escada para cumprimentá-lo cordialmente e sem extravagâncias. Afinal, o clima era de profundo respeito. Subiram os degraus passivamente. O ar da casa estava realmente muito difícil de suportar. Todos estavam tristes por seu patrão estar em seu leito de morte e ao mesmo tempo interessados e curiosos em saber quem seriam esses herdeiros que moravam tão perto, mas nunca haviam visitado seu parente que já padecia de doença grave há alguns anos. Muitas coisas eram “ditas e desditas” nos corredores daquela mansão.

Um cortejo praticamente fúnebre era anunciado. O mordomo e o advogado esperavam os dois ilustres senhores no alto da escada. Cumprimentaram a Sebastião e a Álex com um “fraco” e quase inaudível “meus pêsames” e os levaram até o quarto de seu Tio.

Caminharam silenciosamente pelo corredor imenso do segundo andar da grande casa, somente quebrando o silêncio pelos barulhos dos sapatos finos que os dois usavam, juntamente com o barulho inconveniente e “descompromissado” do tênis desgastado de Álex, numa sinfonia incompreendida de “toc, toc” das solas dos sapatos finos, junto com os “nhec, nhec” do tênis furado e descompromissado.

Abriram uma grande porta. Quase do mesmo tamanho do que a grande porta de entrada. O imenso quarto foi visto e podia-se ver a cama de seu Tio juntamente com todo o aparato médico ao lado. Um médico e algumas enfermeiras também faziam parte do quadro e estavam ali cuidando com toda esperança em salvá-lo.

- Álex! – disse a voz moribunda de seu Tio do fundo do quarto. – Alexandre Oliviére! – disse ele levantando a mão ao longe pedindo assim para que Álex pudesse chegar até perto.

Álex, sem entender, pois seu nome que herdara de seu pai não tinha um assento, sendo sempre chamado de “Olivier”, sem assento. Olhou para o seu pai que somente acenou com a cabeça, sendo seguido pelos mesmos gestos, do mordomo e o advogado.

Chegou até bem perto e as enfermeiras deram espaço para que ele visse e conhecesse o rosto do Tio e vice-versa.

- Como vai garoto? Está estudando muito? – disse seu Tio tentando conhecer o filho de seu sobrinho há muito perdido e colocando a mão sobre sua mão.

- É, tenho que estudar, não é mesmo? – respondeu friamente.

- Espero que tenha ambições meu jovem. Que tenha um amor. E que também tenha motivos para viver. – disse tossindo “feiamente” ao final da sentença.

- Por que diz isso, Tio? – disse Álex já se interessando pela conversa moribunda de seu Tio igualmente moribundo.

- Falo isso, - tossiu. – porque às vezes na vida, somos levados por motivos que depois de um grande tempo nem mais lembramos o porquê fizemos aquilo. – disse olhando para o seu sobrinho, pai de Álex que estava longe, fazendo-o chegar mais perto. – Quando eu era jovem, juntamente com seu avô, - disse olhando para Álex – Fizemos muitas pequenas coisas se tornarem grandes. – voltou seu olhar agora para o teto como se estivesse lembrando-se de épocas douradas juntamente com seu irmão. Um brilho parecia até ter voltado para seus olhos um tanto opacos pela hora da morte a chegar – Nós tínhamos sonhos, nós tínhamos vontade, mas, não tivemos um motivo. Por isso brigávamos, por coisas tão pequenas, que se tornavam tão imensas, que hoje, nem me lembro do porquê de seu início. – falou de forma arrastada dando mais ainda o ar cadavérico que seus ossos magros da face exigiam ser interpretados.

Houve uma pausa, tossiu secamente e preocupantemente, a qual fez com que o médico e suas enfermeiras corressem para ajudá-lo a respirar, colocando uma máscara de oxigênio que estava ao lado de sua cama. Nesse instante, Álex, dando um passo atrás, notou que muito que havia seu Tio falado, era para o seu pai. E isso ficou claro quando o seu Tio tomou suas forças e decidiu contar o que estava acontecendo.

- Álex, - disse tirando a enfermeira de lado enquanto ela segurava a máscara de oxigênio - não quero repreender seu pai no leito de morte, mas também não quero deixar a ele de “mão beijada” tudo o que tenho, visto que poderia ter escolhido vir me ver, mas o orgulho de meu irmão passou a ele e nunca deu notícias de onde estava. Tão perto e tão longe ao mesmo tempo. Por isso mandei que lhe chamasse.

Todos agora estavam mais perto da cama esperando para que tudo o que fora escrito no testamento do velho, fosse realmente confirmado por ele ainda em vida e à frente de seu herdeiro.

- Me tornei rico, depois da morte de meu irmão. – continuava com a voz “arrastada”. - Reconstruí a fábrica que pegou fogo a “duras penas”. – disse e pegou novamente o inalador para ter acesso ao oxigênio que faltava em seus pulmões. – Vou deixar tudo para você. Filho de meu sobrinho, porque sei o que sofre em tudo o que faz e você não é culpado pelo que seu pai escolheu. Você não pode pagar pelo o que recai sobre você.

Perplexo, Álex ficou olhando para o seu Tio, viu que estava sendo amoroso ao fim de sua vida. Seu Tio sabia que Álex iria dar ao seu pai o que herdara, mas sabia que iria usar a sua herança também.

- Demorei muito para encontrar vocês e tudo o que vocês vivem. Eu sei. Tive que contratar detetives para saber onde estavam e descobrir o que passa em seu colégio, onde seu pai trabalha. – continuou ele. – Mas, Álex, não faça como seu pai. Não abandone a família, nunca!

Álex olhou para o seu pai com olhar repreensivo e seu pai abaixou a cabeça enquanto dava um passo para trás. Continuou a olhar silenciosamente para o seu Tio que retornou a sua imensa explicação inusitada.

- Então, Álex, espero que saiba usar o dinheiro e tudo o que irei deixar a você. Espero que sejam muito felizes, assim como fui. – ficou em silêncio apertando mão de seu sobrinho junto ao seu corpo, como havia ficado desde que Álex o cumprimentou, dando ainda mais o ar de despedida ao primeiro encontro. – Agora, me deixem descansar, pois falar me arranca meu último suspiro.

Assim se fez. Sebastião segurou pela última vez a mão de seu sobrinho e somente com o olhar se mostrou grato de ter conhecido ele, Álex concedeu-lhe a mesma forma de olhar, reciprocamente. Saíram todos do quarto, somente ficando o médico e suas ajudantes.

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