O que você faria se fosse um cientista, detentor de uma patente que revolucionasse a medicina, trazendo a cura para uma doença irreversível? Em Uma Segunda Chance, Daniel é esse cientista. Um jovem pesquisador do Instituto de Química da USP-São Carlos, atormentado pelos meios de comunicação, que fazem de tudo para ridicularizar sua pesquisa revolucionária. Cansado de lutar, após o falecimento de seu Mestre-Orientador na pesquisa, e a perda de Marina - seu grande amor - para o seu melhor amigo, ele desaparece misteriosamente sem deixar rastro. Entretanto Carol, uma graduanda em Química, que em criança fora atormentada por visões que nunca pôde entender, descobre uma foto antiga do rapaz, escondida em um livro de seus pais. Isto a torna obcecada, disposta a descobrir seu paradeiro. Nessa jornada encontra um grande amor, Brian, que fará de tudo para ajudá-la. Conseguirá Carol desvendar o mistério acerca de Daniel, dando a todos Uma Segunda Chance? Um livro apaixonante, que aborda dois temas polêmicos, onde os personagens mostram seus tormentos e ansiedades de uma forma real e vívida, fazendo-nos pensar, rir e se emocionar.
Leer másDaniel
Ele encontrava-se no laboratório de pesquisas da Química-USP São Carlos. Esperava pacientemente pela chegada do professor, que imputara em sua vida, o sentido que havia perdido. Seu coração batia forte no peito e suas mãos se encontravam ligeiramente trêmulas. Talvez aquele fosse o momento pelo qual eles tanto esperavam. Foram anos de pesquisas coordenadas pelo professor Alberto Cavendish, porém, com sua participação, apenas oito. E foi nesses oito anos, para sua sorte e deleite, que a substância apresentou eficácia nos pacientes portadores de câncer.
- Bom dia, Daniel – disse o professor Cavendish, adentrando à sala com seu jaleco branco balouçando por entre as pernas.
- Bom dia, professor. E então? – levantou-se aflito, procurando por um resquício de alegria no semblante do velho professor.
- Sinto muito filho, não foi dessa vez. De novo! – respondeu o professor, tirando o jaleco e se jogando na cadeira, diante do olhar perplexo de seu aluno.
- Não é possível. Eles só podem estar de brincadeira – esmurrou a mesa, enquanto apertava os lábios, transformando-os numa linha fina; visivelmente enfastiado.
- Eu meio que já esperava por isso.
- O que eles disseram agora? – a raiva tomou conta de sua voz, no momento em que encarava o professor.
- Sei como você se sente, Daniel. Também tinha esperança de que dessa vez sairíamos vencedores.
- Vamos falar com o Reitor. - disse andando de um lado para outro - Ele conhece o Governador. Com certo empenho político podemos m****r a ANVISA[1] para o inferno.
- Nem mesmo o governador poderá m****r a ANVISA para o inferno, meu filho – informou o velho com um sorriso cansado nos lábios.
- Mas esse ano é um ano de eleições. Além do mais, a FURP[2] fica aqui perto e é destinada à produção e distribuição de medicamentos para o SUS. Se falarmos com o Governador, ele pode autorizar a produção.
- Ainda assim, ele necessitará da aprovação da ANVISA. Precisamos que a Agência encare a Fosfoetanolamina como um coadjuvante para o tratamento e a transforme em remédio. Só que para isso vão requisitar dados clínicos!
- É claro - disse, sarcástico - Dados clínicos, que já fornecemos a eles quando testamos a substância no Hospital de Jaú. Esqueceram? Conveniente, não acha?
- Negam que tenham sido procurados por nós. Conheço bem essa história – revirou os olhos, resignado.
– O que eles pretendem com isso, professor? – Daniel esmurrou a mesa mais uma vez e ergueu as mãos para o alto - Por que se negam a nos ouvir? Não bastou a distribuição das 50 mil cápsulas a mais de mil pessoas por mês? Não bastou a cura dessas pessoas que hoje estão vivas para contar suas histórias?
- Acho que não bastou. E não se esqueça de que fomos proibidos de distribui-las.
- Essa portaria da Universidade é ridícula. Enquanto esperam pela autorização da ANVISA, muitos vão morrer.
- Os pacientes já entraram na justiça; mas, como tudo no Brasil é demorado, sabe-se lá quando poderemos distribui-las novamente. – disse o cansado professor.
- O que a Agência alegou agora?
- O de sempre. Querem documentos e dados clínicos.
- E como podemos fornecer mais dados clínicos se eles não disponibilizam um hospital público onde possamos fazer novos testes, já que os da universidade parece não convencê-los?
- Acho que a verdade é bem mais simples, meu filho. Eles não querem reconhecer a Fosfo, por ela ser apenas uma substância sinalizadora das células cancerosas, fazendo o sistema imunológico matá-las e removê-las.
- O que eles querem? Mágica? Só sintetizamos uma substância que nosso próprio organismo produz, para nos defender das células que se diferenciam. Talvez um dia possamos transformá-la numa substância preventiva.
- Para isso precisaríamos ter parceria com mais médicos, a ajuda de um laboratório, e isso seria um pouco mais complicado.
- Por quê? Podemos levar a Fosfo para o Butantan, ou FIOCruz.
- O Butantan[3] já sabe da existência da Fosfo. Existem mais de dez trabalhos publicados em revistas de Oncologia do mundo, inclusive internacionais, que trabalham juntas com o Instituto.
- E a FIOCruz[4]?
- Eles querem a patente, mas quem me garante que ao obtê-la, não a engavetarão?
- E deixar de obter dinheiro com isso? – perguntou Daniel, sarcástico, ao professor.
- Seria difícil produzir a Fosfo para distribuição, quando nós já informamos a vários meios de comunicação, que temos o produto e o fabricamos a um custo de R$ 0,10 por cápsula. Com certeza não fariam pelo mesmo valor. Há remédios de quimioterapia que acabam com o paciente e que chegam a custar R$ 16.000,00 a caixa.
- E esse funciona! Entendo bem esses meandros... E se nós continuássemos a produzi-la? A Universidade não precisa saber. Podemos dizer que estamos trabalhando em outra coisa.
- Você ainda é muito jovem, meu filho. Também era assim na sua idade. Aos trinta e dois anos somos cheios de sonhos. – sorriu afetuoso - Mas não podemos continuar nosso trabalho. Eu já estou velho e cansado, Daniel. Acho que não vou viver para ver o dia que a Fosfoetanolamina vire um remédio poderoso no combate ao câncer. Meu coração...
- Não diga isso, professor. Nós venceremos. Tenho certeza. A ANVISA acabou de aprovar o registro de um antineoplásico indicado para o tratamento de mulheres pós-menopausa, com câncer de mama inicial, ajudando a reduzir o risco do câncer se alastrar para a outra mama. Além de outro medicamento indicado para o tratamento de pacientes com melanoma metastático.
- Humpf. – sorriu forçado, o professor. – E por que será que aprovaram? Há muito em jogo. Talvez algum dia nós também consigamos, meu filho. Talvez, quando algumas emissoras de TV e alguns médicos deixarem de fazer reportagens mentirosas sobre a Fosfo. Mas eu não os condeno. Eles têm medo.
- Mede de quê? Alguns condenam por serem sionistas farmacêuticos. É claro que vão continuar falando que a Fosfo tem um efeito colateral terrível. Porém a quimioterapia, cujo tratamento é caríssimo, não acaba com o sistema imunológico do paciente? Isso eles não dizem! Antes de ficarem fazendo reportagens falsas, deveriam se importar com o ser humano e não com os lucros da indústria farmacêutica. Isso me enfurece, professor!
- Foi por isso que o escolhi, Daniel. Seu ímpeto, seu desprendimento, será seu maior trunfo, ou sua desgraça. Sua juventude o impele a lutar contra os tiranos, os donos do poder. Nós temos que ter a malícia, meu filho. Comer pelas bordas, como se diz. Não é lutando de forma direta contra eles que conseguiremos alguma coisa.
- E o que fazer então? Temos que incitar a população a se levantar contra a ANVISA, contra essas malditas reportagens mentirosas e contra essa indústria funesta que só pensa em lucro e nada mais. O câncer virou comércio, professor, e é isso o que mais me irrita.
- Eu sei meu filho. Mas precisamos ter cuidado. O Dr. Roberto Menguele, nosso grande parceiro, já foi ameaçado.
- Se todos os médicos fossem como ele, teríamos vencido essa luta – suspirou infeliz - E o que podemos fazer, professor? – sentou-se esgotado.
- Esperar, meu filho. Esperar.
Levantou-se cansado, apertou o ombro do aluno e deixou a sala. Três semanas depois, Daniel recebeu a notícia da morte do velho amigo e professor.
[1] Agência Nacional de Vigilância Sanitária, órgão ligado ao Governo Federal.
[2] Fundação Para o Remédio Popular, ligada ao Governo Estadual.
[3] Instituto Butantan, de São Paulo.
[4] Fundação Oswaldo Cruz, do Rio de Janeiro.
Este livro não se refere ao câncer em si. Nem sobre como as pessoas portadoras desse mal definham diante de você, sem que se possa fazer nada para aplacar sua dor. Porém, trata-se da Fosfoetanolamina.No final de 2015, eu e meu marido levamos nosso filho a São Carlos, na USP, para prestar vestibular. Ao chegarmos em frente aos portões de entrada, uma passeata chamou nossa atenção. Lembro-me de ter pensado que aquele não era o momento para isso, com tantos carros chegando e descarregando seus filhos, naquele dia nublado, sem me importar com as faixas e a voz que saía pelo megafone. Poucos dias depois, meu filho comentou sobre a passeata, e foi assim que fiquei sabendo da luta de um Professor aposentado do Instituto de Química, para fazer a Fosfoetanolamina ser aprovada como um medica
Carol Pouco antes de Carol conseguir os trâmites legais para compartilhar os segredos da Fosfoetanolamina, uma notícia no jornal da tarde chamou sua atenção, enquanto eles almoçavam. Um senhor, de idade avançada, tendo atrás de si o Campus da ESAS, dizia à repórter que o entrevistava: - É com muito pesar que lamentamos a morte de um dos professores mais renomados dessa Entidade Escolar. O professor Renan era muito estimado pelos alunos e um grande amigo. Estamos de luto. - Ele foi encontrado pela manhã, já sem vida. O senhor pode nos informar a causa da morte? – perguntou a jovem, ansiosa pelo furo da reportagem. - Ainda não sei de nada. A Universidade acabou de receber a notícia e estamos todos em ch
CarolCarol ainda estava calada, com a garganta doendo; porém, agora estava segura naquele carro que a levava de volta para casa. Seu pai dirigia atento à estrada, enquanto sua cabeça descansava no colo da mãe, que acariciava seus cabelos.Tudo acontecera muito rápido. Renan caído no chão e depois, sendo agarrado pelo segurança da Universidade e levado para longe dela. Brian a olhava petrificado. Acabara de salvar sua vida. Ela tentou agradecer, mas ele a impediu com um gesto das mãos.- Eu ouvi tudo. Sinto muito – disse pesaroso.- Eu me lembrei – Carol disse num fio de voz, encarando-o, aflita.<
Carol entrou no laboratório após Brian ter saído para um lanche. Estava próxima do entendimento, tinha certeza de que em mais algumas horas, conseguiria fazer a coisa funcionar. Foi quando viu Renan parado na bancada em que ela trabalhava, olhando seu caderno de anotações. Sentiu-se traída e irritada. Que direito ele tinha de mexer em suas coisas? Não sabia que aquilo era particular? Caminhou decidida até ele:- O que está fazendo? – perguntou visivelmente furiosa.- Nada. Pensei que pudesse ter anotado algo sobre a pesquisa. – disse, fechando o caderno, mantendo o semblante impassível, enquanto colocava as mãos no bolso do jaleco.- Isso não lhe dá o direito de mexer nas minhas coisas.Renan balbuciava alguma desculpa, mas ela já não o enxergava mais. Sua mente fora atacada por diversas cenas que corriam velozes, se misturando &agra
CarolVocê está bem? – perguntou Brian, assim que Carol entrou no carro, visivelmente pálida.- Estou – respondeu a um Brian desconfiado.- Não parece estar. Como foi?- Horrível, mas eu tinha que tentar – fez silêncio, olhando o nada que se descortinava à sua frente, enquanto Brian dirigia – E antes que me pergunte, ele não é meu pai.- Entendo – disse, virando a rua e entrando na Avenida São Carlos – O que vai fazer agora?- Vou tentar descobrir onde ele está.Brian dirigia em silêncio, perdido em seus próprios pensamentos, quando Carol deixou a po
DanielTarde da noite, depois de se sentir angustiado durante o dia todo após sua visita na ESAS, Daniel fechar o bar para Mo. Antes de se deitar recebe o tão aguardado telefonema de Renan:- Ei Dan?- E aí cara. Diga que vai me ajudar. - disse, sem preâmbulos.- Não foi fácil. Tive que inventar uma história, mas sim, consegui. Vou te ajudar, mas terá que trabalhar durante à noite.- Quando? - pergountou ansioso.- Venha depois que o bar fechar. Quanto mais tarde, melhor.- E o segurança do Campus? Vamos ter problema com ele?- Não. Já resolvi tudo.- Valeu, cara. Quando posso
Último capítulo