Uma Segunda Chance

Uma Segunda ChancePT

Todos
Última actualización: 2021-10-30
Amanda Kraft  Completo
goodnovel16goodnovel
10
1 Reseña
37Capítulos
3.4Kleídos
Leer
Añadido
Resumen
Índice

Sinopsis

O que você faria se fosse um cientista, detentor de uma patente que revolucionasse a medicina, trazendo a cura para uma doença irreversível? Em Uma Segunda Chance, Daniel é esse cientista. Um jovem pesquisador do Instituto de Química da USP-São Carlos, atormentado pelos meios de comunicação, que fazem de tudo para ridicularizar sua pesquisa revolucionária. Cansado de lutar, após o falecimento de seu Mestre-Orientador na pesquisa, e a perda de Marina - seu grande amor - para o seu melhor amigo, ele desaparece misteriosamente sem deixar rastro. Entretanto Carol, uma graduanda em Química, que em criança fora atormentada por visões que nunca pôde entender, descobre uma foto antiga do rapaz, escondida em um livro de seus pais. Isto a torna obcecada, disposta a descobrir seu paradeiro. Nessa jornada encontra um grande amor, Brian, que fará de tudo para ajudá-la. Conseguirá Carol desvendar o mistério acerca de Daniel, dando a todos Uma Segunda Chance? Um livro apaixonante, que aborda dois temas polêmicos, onde os personagens mostram seus tormentos e ansiedades de uma forma real e vívida, fazendo-nos pensar, rir e se emocionar.

Leer más

Capítulo 1

Capítulo 1

                                                               Daniel

Ele encontrava-se no laboratório de pesquisas da Química-USP São Carlos. Esperava pacientemente pela chegada do professor, que imputara em sua vida, o sentido que havia perdido. Seu coração batia forte no peito e suas mãos se encontravam ligeiramente trêmulas. Talvez aquele fosse o momento pelo qual eles tanto esperavam. Foram anos de pesquisas coordenadas pelo professor Alberto Cavendish, porém, com sua participação, apenas oito. E foi nesses oito anos, para sua sorte e deleite, que a substância apresentou eficácia nos pacientes portadores de câncer.

- Bom dia, Daniel – disse o professor Cavendish, adentrando à sala com seu jaleco branco balouçando por entre as pernas.

- Bom dia, professor. E então? – levantou-se aflito, procurando por um resquício de alegria no semblante do velho professor.

- Sinto muito filho, não foi dessa vez. De novo! – respondeu o professor, tirando o jaleco e se jogando na cadeira, diante do olhar perplexo de seu aluno.

- Não é possível. Eles só podem estar de brincadeira – esmurrou a mesa, enquanto apertava os lábios, transformando-os numa linha fina; visivelmente enfastiado.

- Eu meio que já esperava por isso.

- O que eles disseram agora? – a raiva tomou conta de sua voz, no momento em que encarava o professor.

- Sei como você se sente, Daniel. Também tinha esperança de que dessa vez sairíamos vencedores.

- Vamos falar com o Reitor. - disse andando de um lado para outro - Ele conhece o Governador. Com certo empenho político podemos m****r a ANVISA[1] para o inferno.

- Nem mesmo o governador poderá m****r a ANVISA para o inferno, meu filho – informou o velho com um sorriso cansado nos lábios.

- Mas esse ano é um ano de eleições. Além do mais, a FURP[2] fica aqui perto e é destinada à produção e distribuição de medicamentos para o SUS. Se falarmos com o Governador, ele pode autorizar a produção.

- Ainda assim, ele necessitará da aprovação da ANVISA. Precisamos que a Agência encare a Fosfoetanolamina como um coadjuvante para o tratamento e a transforme em remédio. Só que para isso vão requisitar dados clínicos!

- É claro - disse, sarcástico - Dados clínicos, que já fornecemos a eles quando testamos a substância no Hospital de Jaú. Esqueceram? Conveniente, não acha?

- Negam que tenham sido procurados por nós. Conheço bem essa história – revirou os olhos, resignado.

– O que eles pretendem com isso, professor? – Daniel esmurrou a mesa mais uma vez e ergueu as mãos para o alto - Por que se negam a nos ouvir? Não bastou a distribuição das 50 mil cápsulas a mais de mil pessoas por mês? Não bastou a cura dessas pessoas que hoje estão vivas para contar suas histórias?

- Acho que não bastou. E não se esqueça de que fomos proibidos de distribui-las.

- Essa portaria da Universidade é ridícula. Enquanto esperam pela autorização da ANVISA, muitos vão morrer.

- Os pacientes já entraram na justiça; mas, como tudo no Brasil é demorado, sabe-se lá quando poderemos distribui-las novamente. – disse o cansado professor.

- O que a Agência alegou agora?

- O de sempre. Querem documentos e dados clínicos.

- E como podemos fornecer mais dados clínicos se eles não disponibilizam um hospital público onde possamos fazer novos testes, já que os da universidade parece não convencê-los?

- Acho que a verdade é bem mais simples, meu filho. Eles não querem reconhecer a Fosfo, por ela ser apenas uma substância sinalizadora das células cancerosas, fazendo o sistema imunológico matá-las e removê-las.

- O que eles querem? Mágica? Só sintetizamos uma substância que nosso próprio organismo produz, para nos defender das células que se diferenciam. Talvez um dia possamos transformá-la numa substância preventiva.

- Para isso precisaríamos ter parceria com mais médicos, a ajuda de um laboratório, e isso seria um pouco mais complicado.

- Por quê? Podemos levar a Fosfo para o Butantan, ou FIOCruz.

- O Butantan[3] já sabe da existência da Fosfo. Existem mais de dez trabalhos publicados em revistas de Oncologia do mundo, inclusive internacionais, que trabalham juntas com o Instituto.

- E a FIOCruz[4]?

- Eles querem a patente, mas quem me garante que ao obtê-la, não a engavetarão?

- E deixar de obter dinheiro com isso? – perguntou Daniel, sarcástico, ao professor.

- Seria difícil produzir a Fosfo para distribuição, quando nós já informamos a vários meios de comunicação, que temos o produto e o fabricamos a um custo de R$ 0,10 por cápsula. Com certeza não fariam pelo mesmo valor. Há remédios de quimioterapia que acabam com o paciente e que chegam a custar R$ 16.000,00 a caixa.

- E esse funciona! Entendo bem esses meandros... E se nós continuássemos a produzi-la? A Universidade não precisa saber. Podemos dizer que estamos trabalhando em outra coisa.

- Você ainda é muito jovem, meu filho. Também era assim na sua idade. Aos trinta e dois anos somos cheios de sonhos. – sorriu afetuoso - Mas não podemos continuar nosso trabalho. Eu já estou velho e cansado, Daniel. Acho que não vou viver para ver o dia que a Fosfoetanolamina vire um remédio poderoso no combate ao câncer. Meu coração...

- Não diga isso, professor. Nós venceremos. Tenho certeza. A ANVISA acabou de aprovar o registro de um antineoplásico indicado para o tratamento de mulheres pós-menopausa, com câncer de mama inicial, ajudando a reduzir o risco do câncer se alastrar para a outra mama. Além de outro medicamento indicado para o tratamento de pacientes com melanoma metastático.

- Humpf.  – sorriu forçado, o professor. – E por que será que aprovaram? Há muito em jogo. Talvez algum dia nós também consigamos, meu filho. Talvez, quando algumas emissoras de TV e alguns médicos deixarem de fazer reportagens mentirosas sobre a Fosfo. Mas eu não os condeno. Eles têm medo.

- Mede de quê? Alguns condenam por serem sionistas farmacêuticos. É claro que vão continuar falando que a Fosfo tem um efeito colateral terrível. Porém a quimioterapia, cujo tratamento é caríssimo, não acaba com o sistema imunológico do paciente? Isso eles não dizem! Antes de ficarem fazendo reportagens falsas, deveriam se importar com o ser humano e não com os lucros da indústria farmacêutica. Isso me enfurece, professor!

- Foi por isso que o escolhi, Daniel. Seu ímpeto, seu desprendimento, será seu maior trunfo, ou sua desgraça. Sua juventude o impele a lutar contra os tiranos, os donos do poder. Nós temos que ter a malícia, meu filho. Comer pelas bordas, como se diz. Não é lutando de forma direta contra eles que conseguiremos alguma coisa.

- E o que fazer então? Temos que incitar a população a se levantar contra a ANVISA, contra essas malditas reportagens mentirosas e contra essa indústria funesta que só pensa em lucro e nada mais. O câncer virou comércio, professor, e é isso o que mais me irrita.

- Eu sei meu filho. Mas precisamos ter cuidado. O Dr. Roberto Menguele, nosso grande parceiro, já foi ameaçado.

- Se todos os médicos fossem como ele, teríamos vencido essa luta – suspirou infeliz - E o que podemos fazer, professor? – sentou-se esgotado.

- Esperar, meu filho. Esperar.

Levantou-se cansado, apertou o ombro do aluno e deixou a sala. Três semanas depois, Daniel recebeu a notícia da morte do velho amigo e professor.

[1] Agência Nacional de Vigilância Sanitária, órgão ligado ao Governo Federal.

[2] Fundação Para o Remédio Popular, ligada ao Governo Estadual.

[3] Instituto Butantan, de São Paulo.

[4] Fundação Oswaldo Cruz, do Rio de Janeiro.

Desplegar
Siguiente Capítulo
Descargar

Último capítulo

Más Capítulos

Último capítulo

user avatar
Marcelo Neto
Uma estória bem atual. Surpreendentemente.
2022-01-03 00:00:53
0
37 chapters
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Explora y lee buenas novelas sin costo
Miles de novelas gratis en BueNovela. ¡Descarga y lee en cualquier momento!
Lee libros gratis en la app
Escanea el código para leer en la APP