Catarina sempre sonhou com um amor e, quando é pedida em casamento pelo juiz da cidade, realmente acredita que essa é a sua chance de ser feliz. No entanto, os seus sonhos vão por água abaixo já na noite de núpcias, quando descobre que o seu casamento é apenas fachada e que ela é uma simples alegoria nas mãos do agressivo e inescrupuloso Heitor Vasconcelos. Depois de uma década de sofrimento e submissão, presa a um marido cruel, Catarina conhece o amor nos braços do jovem Theo Albuquerque. Só que entregar-se a essa paixão avassaladora é arriscado e muito perigoso, representando uma ameaça à integridade dos seus pais e, principalmente, à sua própria vida.
Ler maisCatarina
Eu sempre sonhei com um grande amor. Idealizava aqueles romances novelescos, repletos de clichês e banhados por calda de açúcar. Queria as frases-feitas, as declarações cafonas, o fogo incontrolável das paixões desmedidas. E, claro, tudo isso com direito a músicas de fundo emocionantes, igualzinho aos romances das telinhas.
Mas, com 23 anos, o máximo que consegui foram uns beijos xoxos e atrapalhados, em uns caras absolutamente sem graça. Nada que me desse palpitações nem despertasse os meus devaneios. É justo ressaltar que a marcação cerrada dos meus pais e o fato de morar em uma cidade pequena também não ajudam muito os meus planos românticos.
Enquanto penso na falta de emoção da minha vida, salto do ônibus e ando os dois quilômetros de estrada de terra que me deixam na porta de casa. Todos os dias, faço esse trajeto, na ida e na volta da faculdade em Vassouras, que fica a vinte minutos de Cinco Lagos, bairro de Mendes em que moro desde pequena.
Só que hoje, ao me aproximar do portão, vejo um carro pomposo e percebo que temos visita. Quando entro, dou de cara com Heitor Vasconcelos, o todo-poderoso juiz da cidade, tomando café na minha sala.
Por um momento, fico assustada, pensando nas dívidas do meu pai e na sua doença, que se torna cada dia mais evidente. Será que é por isso que Heitor está aqui? Dizem que ele manda e desmanda em tudo e em todos, controlando o destino dos mendenses ao seu bel-prazer. Para ser sincera, eu nunca prestei atenção. Até porque não tive coragem para isso. A sua figura e a sua fama parecem exigir certa distância e até uma espécie de reverência.
Mas, hoje, aqui na minha casa, ele parece só um homem comum. Está relaxado, sorridente e lançando o seu olhar na minha direção. E, pela primeira vez, noto que ele tem um quê interessante: o queixo angulado e os olhos expressivos.
Depois que ele vai embora, meu pai não consegue segurar a sua euforia. Vem me chamar no quarto, pede para a minha mãe parar de cozinhar e, sem nenhum preâmbulo, solta:
— Catarina, o Doutor Heitor está interessado em você. Ele quer frequentar a nossa casa para te conhecer melhor.
Minha mãe dá um grito, enquanto deixa o pano de prato cair no chão. Então, os dois me olham, cheios de expectativa, prontos para a minha reação.
Fico sem saber o que sentir e, principalmente, o que pensar. Nunca, em nenhuma fantasia louca da minha cabeça, imaginei me relacionar com um homem como ele. Fora que conversar com meu pai, antes de falar comigo, é algo surreal para os dias de hoje. Eu me sinto dentro de um romance de Jane Austen.
Por outro lado, pondero que ele é atraente, bem-sucedido e poderoso. E parece gentil. Também penso que faz muito tempo que não vejo os meus pais sorrirem. Por eles, eu poderia me esforçar. Afinal, o que teria a perder?
Preciso conhecê-lo melhor, mas quem sabe essa não é uma boa chance de viver o meu tão esperado amor? Lá no fundo, começo a sentir uma empolgação se formar na boca do estômago. Parece que a minha hora está, enfim, chegando.
2020 Catarina Hoje faz dois anos que me casei com Theo e posso dizer que a nossa vida juntos tem sido fantástica. Claro que enfrentamos as dificuldades e os problemas de qualquer casal, mas tudo tem leveza e é permeado por amor. E isso faz qualquer obstáculo parecer pequeno. Henrique está enorme e cada dia mais inteligente, idêntico ao pai em todos os sentidos. É uma miniatura do meu marido, tão adorável e apaixonante quanto ele. Nós compramos uma casa no ano passado, com um lindo jardim e bastante espaço para o nosso menino brincar. É bonita, funcional e muito aconchegante. Moramos na região da Savassi, que é um dos melhores bairros aqui de Belo Horizonte, com comércio farto e muitas opções de lazer. Saímos para comemorar em um restaurante das redondezas, e levo comigo um presente muito especial para Theo. Fiz uma embalagem rebuscada e estou muito ansiosa para ver a su
Catarina A noite inteira parece um conto de fadas, mas nada me prepara para o seu desfecho: Theo ajoelhado aos meus pés, segurando uma aliança reluzente e me pedindo para ser a sua mulher. Eu não penso em mais nada e voo no seu pescoço, perdendo a compostura e gritando repetidas vezes o “SIM” mais sonoro que já falei na minha vida. Sem cerimônia, ele me tira para dançar e ficamos os dois, no meio do salão do restaurante, completamente alheios a tudo o que está à nossa volta. Vamos para casa abraçados e fazemos amor demoradamente, com delicadeza e paixão. Dormimos abraçados, totalmente extasiados de felicidade, mal acreditando que vamos ficar juntos. No dia seguinte, penso na questão geográfica e me preocupo. Não vai ser fácil viver em uma ponte aérea entre Rio e Minas, principalmente tendo uma criança no esquema. Resolvo dividir o meu receio com Theo, que abre um sorriso gigante e me conta que vai se mudar par
TheoSaio do hotel em que Catarina está hospedada radiante e preocupado. Sinto uma alegria incontrolável pela noite que tive com a mulher que eu amo, mas também carrego a culpa pelo que fiz com Natália. E, principalmente, com o que ainda terei de fazer. Ela estava possessa ao telefone, e não ajudei muito: fui completamente evasivo em todas as minhas respostas. Ela SABE que alguma coisa séria aconteceu, mas não sei se consegue imaginar a dimensão do que foi.Ligo para o trabalho para avisar que chegarei mais tarde e vou direto para o meu apartamento encarar a minha namorada. Chegando lá, a encontro sentada na sala, com a cabeça apoiada nas mãos, com o rosto já inchado de chorar. Vê-la desse jeito faz com que eu me sinta um babaca, e, para ser sincero, é isso que sou.Deixo as minhas coisas em cima da mesa e me sento ao
Catarina Ando meio sem rumo, completamente atordoada com o que acabou de acontecer. Claro que pensei em Theo quando vim para o Rio, mas quais as chances de esbarrar com ele, no primeiro dia, em uma cidade tão grande e cheia de gente? Estou com a boca totalmente seca e, sem querer, analiso a roupa que visto, o estado do meu cabelo, os sapatos nos pés. Eu me sinto uma adolescente. Penso no encontro que teremos logo mais, tentando não criar qualquer tipo de expectativa. Pego um táxi e vou direto para o hotel. Tomo um banho relaxante e me deito para tentar relaxar. Preciso decidir o que estou disposta a contar. Penso em Henrique e sinto, de repente, uma saudade enorme do meu filhinho. Ligo para casa, falo com Fernanda e confiro se está tudo bem. Depois, tento tirar um cochilo, mas a adrenalina não me deixa pegar no sono. Faço
Theo 2018 Consegui fechar um negócio milionário para a empresa e, com certeza, vou ganhar um bônus que vai compensar toda a dedicação dos últimos tempos. Nas duas semanas que passaram, virei noites para dar conta do projeto e praticamente abandonei a minha vida pessoal. Natália tem reclamado que quase não apareço em casa, sempre me cobrando por mais atenção. Gosto muito dela e de tudo o que construímos juntos, mas me incomoda essa mania de querer sempre mais, como se o que eu ofereço nunca fosse o suficiente. Namoramos há quase um ano e já moramos juntos há cinco meses. Ela entrou na minha vida e, quando me dei conta, já estava dentro da minha casa. Agora, fala o tempo todo em casar, em fazer uma enorme festa e até em ter filhos. Estou feliz, mas, quando fecho os olhos, não me imagino ao seu lado pela vida inteir
Catarina 2018 Henrique vai completar dois aninhos na semana que vem. Às vezes, nem consigo acreditar que o tempo passou tão rápido. Ele é uma criança adorável e esperta, que ri o tempo todo e se ajusta a qualquer ambiente. Dorme bem, come que nem um leão e é muito carinhoso. Agora que está bem crescido, as semelhanças físicas com o pai são gritantes: os cabelos castanho-claros e os olhos verdes como uma límpida e brilhante esmeralda. Toda vez que ele me encara com profundidade, faz com que eu pense em Theo. Ele se tornou uma lembrança boa, que provoca uma saudade gostosa. Não sinto mais nenhum tipo de raiva e até consigo entender que foi muita pressão para ele, com tão pouca idade. Não que isso justifique a maneira como ele me deixou, mas pelo menos ameniza o estrago que isso causou em mim. &nbs
Último capítulo