5

                                                         (...)

 Numa corrida apressada que envolvia tropeços leves e diversos corpos dançantes esbarrando no seu, Alana seguia atrás de Ian chamando pelo mesmo. Sabia que ele a ouvia, não estavam tão distantes assim para não ouvir, e além disso estava a gritar.

Ian deu a volta na pista de dança, e foi na diminuída de velocidade de seus passos que Alana viu a chance de enfim alcançá-lo. Apressou os próprios passos, desviando dos corpos que dançavam e pulavam, desviando-se das mãos másculas que a tentavam agarrar e trazê-la para a pista de dança. Quando, enfim alcançou o loiro, bastou um toque em seu ombro e de repente Alana se viu imprensada contra uma parede num dos cantos mais obscuros do estabelecimento. Ofegou.

— O que você quer, Alana? — a sua frente, com a voz rouca e os olhos fincados no seu, estava Ian. — O que veio fazer aqui?

— E-Eu... Eu vim atrás de você. Estava preocupada. — disse, suas respiração saindo tão rápida quanto eram as batidas de seu coração. Ian riu divertido, jogando a cabeça para trás um momento antes de voltar a cravar seus olhos sobre ela.

— Preocupada?... Porque? — ele quis saber, sua voz tornando-se cada vez mais fria, ele se tornando cada vez mais frio. Cada vez mais distante. — ... Você não tem mais motivos para se preocupar comigo. Não namoramos mais, se lembra? Você terminou comigo... — sorriu amargamente, fazendo Alana se sentir pequena demais mediante a tanta magoa e raiva que haviam em suas palavras.

— Por favor Ian, não faça isso... — ela suplicara baixo; tentou tocá-lo a face mas Ian desviou o rosto do gesto, só fazendo aumentar o peso em seu peito. Engoliu o choro, segurou as lágrimas e continuou. — ... Não se afaste de mim.

Ian deu um passo para trás, dessa vez gargalhando mais alto. Quando tornou a falar seu tom não podia ser mais acusativo do que fora.

— Me afastar?... Foi você que se afastou, lembra?... Ou você não sabia que quando se termina a porra de um namoro com uma pessoa é por que você não a quer mais perto?

Alana baixou os olhos, apertando o tecido do vestido rente ao coração com uma mão, tentando fazer a dor do mesmo parar.

— Eu estou aqui agora... Eu voltei por você. — sussurrou, e sabia que embora o sussurro tivesse sido abafado pela música e todo barulho do local, Ian havia entendido pois sabia ler seus lábios.

— Se está tendo que voltar é por que antes foi embora...

— Eu estava magoada e com raiva de você... — Alana explicou, dando um passo a frente, aproximando-se novamente. Olhou-o nos olhos, e ao ver o vazio que havia se estabelecido nas orbes azuis sentiu-se desesperar. — Por favor, não vamos falar disso agora... Só... Só vamos sair daqui. Você está machucado, eu estou machucada mas... Mas a gente pode dar um jeito. Podemos curar um ao outro.

Ian a encarava. As palavras dela ecoando em sua mente. Queria acreditar nelas, mas simplesmente não podia. Oh, não! Estava perdido demais, com raiva, com dor demais para acreditar em qualquer coisa.

— Eu não posso te curar Alana. — disse com lentidão, vendo os olhos pérolas encherem-se de lágrimas que ela fazia força para segurar. — E você também não pode me curar...

— Eu posso... Eu posso... — Alana soluçou em desespero. Suas pequenas mãos seguraram a camisa de Ian, apertando o pano macio enquanto lágrimas começaram a escorrer por sua face. — Por favor... Por favor... Não faça isso. Não deixe de ser o Ian que eu amo...

De repente, Alana sentiu suas costas novamente de encontro a parede e as mãos de Ian estavam cada uma de um lado de seu corpo. Soluçou. E, estremeceu ao sentir a cabeça de Ian descansar em seu ombro apenas por um segundo antes de ouvir a voz arrasta dele em seu ouvido.

— O Ian que você ama... Está morto. Assim como a minha irmã...

Encararam-se, e o vazio que Alana viu nos olhos azuis dele só fez com que mais lágrimas rolassem por sua face. A dor se transformou em medo, e o medo em desespero quando Alana o viu se afastar. Sentiu-se oca. Vazia. E mais uma vez, quebrada. Mas não, não podia se sentir assim. Não queria. Descolou o corpo da parede e alcançou Ian antes dele dar um passo a mais. Fora certeiro. No instante em que sentira o leve toque em seu ombro, Ian virou-se. Tentou afastá-la para longe de si, mas Alana era esperta e enrolou firmemente as mãos em sua camisa, levando-o junto. Logo, a situação que se seguia era a de Alana com o corpo encostado numa pilastra e Ian colado a si.

— Por que você não me deixa ir?... Não vê o que estou fazendo, Alana?... Estou destruindo a nós dois!

A Steawart soluçou.

— Eu sei. — disse, fungando em meio a uma respiração profunda e lágrimas que continuavam a transbordar-lhe os olhos. — Eu só... Eu só não consigo. Não me importa quantas vezes você me machuque, ou quantas lágrimas me faz derramar por sua causa, eu não vou te deixar sozinho.

— Eu mereço ficar sozinho... — Ian disse firme, muito embora sua testa estivesse junta da dela.

— Você não precisa ficar... — sussurrou em resposta.

Alana observou, com um nó na garganta, a face de Ian se contorcer naquela já tão familiar expressão agoniada. Ela sempre se fazia presente quando o loiro parecia estar num duelo pessoal consigo mesmo, e Alana nunca sabia o que poderia sair dali. Estava prestes a perguntar quando, novamente, os olhos de Ian enfim pareceram voltar a se focalizar no seu. Não houve tempo pra perguntas. No instante em que seus olhares se cruzaram e se mantiveram, Alana sentiu seu fôlego ser tomado pelos lábios de Ian que capturaram os seus.

Tudo em volta havia desaparecido, de repente. Música. Pessoas. Não havia nada. Absolutamente nada para eles que não um ao outro.

Quando a língua de Ian deslizou para dentro de sua boca, Alana sentiu que não havia mais nada no mundo que não ele, que não aquele momento. As mãos pequenas, mais depressa foram as costas dele, as unhas fincando-se na carne por cima da camisa do mesmo enquanto o sentia apertá-la de encontro a seu corpo.

Não era um beijo como nenhum outro que já haviam trocado, e ambos sabiam disso. Nenhum beijo entre eles havia sido tão desesperado e tão terrivelmente prazeroso quanto ao que compartilhavam no momento.

Era o desespero de suas almas. Era o prazer de seus corpos.

E era com um prazer doentio, com uma dor sublime que eles notaram o quanto podiam fazer bem e o quanto podiam fazer mal um ao outro. Era irônico. Era destrutivo. Era feliz. Era real. Era eles.

Mas Ian não queria pensar em nenhuma daquelas coisas no momento, não, não queria. Ele sabia que quando aquele beijo terminasse, novamente se veria perdido em meio a tanta dor, raiva, mágoa e desespero. Não queria perder aquele momento, aquele único momento em que todas essas emoções eram diminuídas. Em que nada mais existia para si. Só Alana. Só existia Alana.

Apertou-a mais contra si, desfrutando do prazer que era ter aquele corpo pequeno de encontro ao seu, do prazer que lhe era sugar os lábios, do prazer que era sentir as pequenas unhas dela lhe arranhar as costas por cima da camisa.

Alana odiava o oxigênio. Decretou isso em mente no instante em que a falta do mesmo obrigou-lhe a separar os lábios dos de Ian. Com o coração batendo a mil e ainda ofegante, lentamente fora abrindo os olhos com um sorriso tímido nos lábios. Um sorriso que sumiu por completo diante da expressão vazia com a qual era encarada por Ian.

Ela soube, antes mesmo que ele falasse, que, mais uma vez, ele lhe quebraria.

— Esse beijo não muda nada...

Estava certa afinal de contas, e já podia sentir as tão familiares lágrimas retornarem a seus olhos.

— ... Não sou mais o seu Ian, Alana. Desculpe-me. Eu não posso ser o que você precisa agora.

Ele havia sumido, Alana notou isso em desespero enquanto encarava as orbes azuis, completamente vazias de emoções. O seu Ian havia sumido. Não havia... absolutamente nada ali, não havia nada de Ian em seus olhos azuis. Tudo o que havia no momento, e ela notou isso com o coração em frangalhos no peito, era uma casca. Não uma casca vazia, pois estava preenchida de ressentimento, culpa, dor e raiva consigo mesmo; mas ainda sim, apenas uma casca. Uma casca de Ian.

De repente, estava de volta ao local. A música continuava alta, as pessoas envolta continuavam a se divertir, alucinados, e Ian se virava na intenção de se afastar. Sentiu o coração falhar uma batida com a visão de Ian lhe dando as costas, e foi com dor que se perguntou por quantas vezes mais ele faria isso. Quantas vezes mais o permitiria lhe dar as costas? Por que era tão difícil abrir mão dele, mesmo que sua razão gritasse loucamente no fundo de sua mente que era exatamente isso que deveria fazer para não sofrer ainda mais?

— Eu sabia que você ia tentar sair.

Alana piscou, despertando de seus pensamentos e voltando a realidade do presente. Vincent estava parado frente a Ian, encarando-o seriamente. Provavelmente estranhara a demora do retorno do loiro e fora conferir.

— Saia da minha frente, Vincent. — ao aproximar-se lentamente Alana ouviu Ian murmurar por entre os dentes.

— Vamos levá-lo para casa. Seu pai está a ponto de colocar a polícia atrás de você e...

— Porra! Eu mandei sair da minha frente! — berrou o loiro numa explosão de raiva, e antes que qualquer um pudesse prever Vincent ia ao chão com o soco de direita que, mais uma vez no espaço de vinte e quatro horas, Ian lhe desferiu.

O Bennie caiu por sobre uns corpos que dançavam, e quase no mesmo instante em que Alana gritava em susto, a mesma já estava a se abaixar para ajudá-lo a reerguer-se. Ajuda que, orgulhoso como era, negou e levantou-se sozinho.

— Cadê ele? — rosnou o moreno, um filete de sangue escorria do canto esquerdo de seu lábio, enquanto assim como Alana buscava por um sinal de Ian.

Era tarde. O loiro que, assim que derrubara Vincent, saíra em disparada para a porta agora já se encontrava no corredor estreito, seguido por Elizabeth que observara tudo de longe com um sorriso doce nos lábios.

— Me dê a chave do seu carro... — ordenou Ian, deixando a palma da mão aberta para receber o'que havia requerido.

— Por quê?... Aonde vamos? — perguntou Lizzie sem jamais perder a falsa inocência que trazia sempre na voz, muito embora já depositasse o molho de chaves na mão do loiro.

— David está aí fora. Com certeza, fazendo plantão frente ao meu carro. — murmurou, a contragosto a idéia de deixar o próprio carro para trás. Mas, tudo bem, voltaria para buscá-lo depois.

Assim que romperam pela porta de metal, chegando a rua e ignorando por completo a garota na portaria e as pessoas na fila que só se fazia aumentar, Ian olhou para Elizabeth.

— Qual deles? — questionou, lançando um olhar para a fileira de carros do outro lado da calçada.

— Ferrari vermelha. — respondeu-lhe, os olhos parando sobre o veículo vermelho, um pouco antes apenas do Mazda de Ian. E foi seguindo o olhar frente ao carro laranja e preto que avistaram David e Lisandra, ao que parecia, numa discussão.

— Merda. — praguejou o loiro, sua cabeça indo de um lado para o outro antes de suspirar.

Não esperou por Elizabeth, sabia que ela iria segui-lo não importando o quanto aquilo o desagradasse. Caminhou com passos rápidos, mas não em corrida para não chamar a atenção do casal que discutia. O plano foi por água abaixo ao destravar o alarme do veículo. Os faróis traseiros da Ferrari vermelha piscaram, e de imediato as cabeças de David e Lisandra estavam voltadas na mesma direção, os olhos cravados em Ian.

— Ian!!! — a Sheroman exclamou ao que David já corria para alcançar o loiro que sem demora entrou no carro.

— Trave a porta! — rosnou o Norton à Elizabeth, e sorrindo em satisfação a fuga do mesmo aos amigos, a garota assim o fez.

Ian já estava pronto a arrancar com a Ferrari, quando David surgiu ao lado de sua janela, espalmando as mãos no vidro.

— Ian... Desça do carro. — esbravejou o ruivo, franzindo o cenho quando os olhos de Ian pousaram em si. O Norton estreitou os olhos, e sem expressão alguma engatou a marcha. David saltou para cima da calçada, apenas para evitar ter os pés esmagados pelos pneus da Ferrari quando Ian acelerou, saindo com a mesma. — Bastardo miserável...

— David! — Lisandra estacionava sua BMW ao seu lado, afobada. — Vamos atrás dele, rápido!

Pouco importou o fato de que a minutos atrás ambos estavam em uma discussão acirrada sobre confiança, David simplesmente deu a volta no carro e saltou para o banco do carona, enquanto Lisandra engatava a marcha. Estava pronta a arrancar com o carro quando Vincent irrompeu pela porta do clube e praticamente atirou-se frente ao veículo prateado, espalmando as mãos sob o capo do carro.

                                                          

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