ANTÔNIA
O meu tom de voz aumenta a cada palavra proferida, Hafiq não rebate e não discute, me olhando surpreso pela minha reação. Ele tenta me abraçar e eu me desvencilho, eu já estou no meu limite com essa conversa inútil.
Uma crise de choro me toma de surpresa e eu não consigo mais parar.
Vê-la para quê? Ligar para ela já é esquisito pra cacete, eu nem consigo chamá-la de mãe.
Quantos anos faz? Treze anos. Treze anos que a gente mal se fala, e eu sinto que estar cara a cara com ela é como tentar transpor inutilmente um abismo.
Eu não estou preparada para me lembrar do cheiro de cachaça de Pedro, das mãos asquerosas em minha pele e principalmente de minha mãe, deitada em seu quarto, fingindo que dormia, enquanto ele me usava do jeito que bem quisesse.
Eu quero esquecer a sujeira da minha infância, quero me sentir limpa, será possível que esse sujeito insistente não consegue entender isso?
Hafiq me puxa da cadeira