Capítulo 6

Samuel

Encontrar minha mãe tão debilitada sobre uma cama foi um choque tremendo, mas sentir seus toques e todo o seu amor fez meu coração se encher de felicidade.

— Mãe eu senti sua falta — digo deixando que as lágrimas rolem pelo meu rosto, sem vergonha de demonstrar meus sentimentos para ela.

— Meu menino eu queria tanto te ver. — Ela passa os dedos nos meus cabelos, os penteando para trás em vão. –Eu senti tanto sua falta meu garotinho.

Beijo todo seu rosto, sentindo seu cheiro e vendo que a abraçar e tocá-la é real que eu não estou sonhando.

Apesar de estar muito magra e cansada ela está linda como sempre. Seu sorriso encantador está presente em seu rosto.

— O meu menino eu acompanhei seu crescimento ano após ano estou tão orgulhosa de você.

— Obrigada mãe. — A abraço encostando o rosto em seu peito.

Ela me faz muitas perguntas sobre meu trabalho, sobre o passado e sobre Airon, com toda a calma do mundo respondo cada um dos seus questionamentos, aproveitando cada pequeno momento ao seu lado. A felicidade consumindo meu coração por estar novamente ao lado da minha mãe, por poder toca-la e dizer o quanto a amo. Jamais deveria ter ficado tanto tempo longe dela.

— Quem é a moça bonita que está com você? Nunca te vi em revistas com mulheres, mas ultimamente ela tem aparecido em várias páginas.

— Ela é minha menina mãe, estou apaixonado — digo a verdade.

Seu sorriso se alarga e ela aperta minha bochecha rindo.

— Mãe...

— Vá buscá-la quero conhecê-la. — Seu semblante se ilumina.

Sem questioná-la me levanto indo até a porta para buscar Katy. Ao abrir vejo Izac próximo a ela, a olhando com desejo, cobiça e fascinação.

Envolvo a mão em sua cintura a puxando para mim.

— O que faz aqui? — A voz desdenhosa de Izac não me surpreende.

O observo em silêncio apertando levemente os dedos entorno da cintura de Katy. Ela coloca sua mão sobre a minha acariciando os meus dedos levemente.

— Você não deveria estar aqui — diz irritado.

— Foi você quem me ligou certo? — digo indiferente.

— Sam se o pai te ver vamos ter problemas. — Ele suspira.

— Pouco me importo com o que o pai vai achar Izac, para mim ele morreu a muito tempo.

— A culpa é sua por ela estar tão mal seu desgraçado, depois de tanto você resolve reaparecer? — Ele se altera.

Katy da tapa no rosto de Izac fazendo as marcas dos seus dedos ficarem estampadas em seu rosto.

Surpreso ele se cala. Assustado ele a olha em silêncio.

Acredito que em toda a sua vida essa deve ter sido a primeira vez que Izac levou um tapa, mas sinceramente adoro quando Katy mostra quem está certo e quem está errado.

— Você não conhece os motivos dele para julgá-lo — ela grita irritada.

Acabo sorrindo ao vê-la me defender e seguro suas mãos para acalmá-la, mantenho seu corpo próximo ao meu antes que ela avance em cima dele sem rodeios ou medo.

— Vamos Katy, minha mãe quer te conhecer. 

— Eu ainda não terminei aqui, ele não pode te julgar quando não conhece seus motivos. — Me observa brava.

— Deixe ele, eu sabia que seria assim. — A abraço protetoramente.

Retrucando Katy, se mostra indignada perante as palavras maldosas do meu irmão, mas apesar de tudo elas não me atingiam. O que me preocupa realmente e o olhar de cobiça que Izac lança a Katy.

— Não se aproxime de Katy não ficarei quieto igual fiquei com Mary — o alerto.

— Quem é Mary? — Katy pergunta franzindo a testa.

— Explico depois vamos. — Apoio a mão na base de sua coluna a conduzindo para o quarto.

Um pouco confusa ela segue para dentro do quarto com uma expressão irritada. Sabia que trazê-la aqui só traria revelações desnecessárias, fecho os olhos suspirando silenciosamente para que ela não perceba meu desconforto.

Percebo o nervosismo de Katy por estar diante da minha mãe e passo as mãos em seu braço na tentativa de acalmá-la. É estranho vê-la envergonhada e receosa perto de alguém.

— Mãe essa Katy Clarkson e Katy essa minha mãe Lauren Rizzon. — Apresento as duas.

A face da minha mãe se ilumina ao ser apresentada para minha namorada, a felicidade explicita em seus olhos me enche de alegria, mas ao mesmo tempo parte meu coração.

Deveria ter enfrentado meu pai e ter ido fazer visitas frequentes para minha mãe, mas me faltava força para conseguir fazer isso e não posso me culpar pelo passado. Tenho que tentar reparar meus erros agora antes que seja tarde e o medo domina cada parte do meu coração. 

— Menina vem aqui — ela chama Katy para perto.

As bochechas vermelhas de Katy me faz rir e acabo recebendo um olhar irritado dela, então cruzo os braços desviando o olhar.

— A senhora está melhor?

— Pode me chamar de Lauren, estou melhor sim e muito contente em rever meu filho. — Ela segura a mão de Katy. — Estou tão feliz em te conhecer.

— Também estou feliz em poder conhecê-la Lauren, Samuel é muito parecido com você, principalmente seus olhos.

Soltando uma risada gostosa mamãe dá leves tapinhas nas mãos de Katy.

— Ele continua sendo cabeça dura? — pergunta olhando para mim.

— Com certeza, ele também é teimoso e mandão.

Mamãe coloca uma mão na barriga e enxuga algumas lágrimas que caem de seus olhos pelo ataque de risos.

— Vocês duas podem parar com isso, estão acabando com o meu ego. — Reviro os olhos.

A porta do quarto se abre com um puxão revelando quem eu menos queria ver, automaticamente meu corpo assumi um sistema de defesa e a tensão fica palpável no ar.

Aqueles olhos de repreensão focam em mim com ira e Izac tenta impedir a entrada de Bennett a força, mas é em vão.

— O que faz aqui Samuel? Você não é bem-vindo nessa família. — Sua voz denota o desprezo que ele sentia por mim.

— Bennett pare já com isso ele veio me ver e estou muito contente — mamãe fala, deixando-o confuso.

— Você sempre o defendeu Lauren, deixou ele fazer o que queria é por isso que ele não seguiu as ordens da família, quis ser um mero advogado enquanto tinha um império para comandar. — Sua voz alterada deixa a mágoa explicita no rosto de mamãe.

— Pouco me importo o que acha de mim, não dependo do seu dinheiro e nem do seu império para sobreviver, muito menos do seu nome.

— Sam. — Izac repreende.

Katy caminha em direção ao meu pai com irritação, mas seguro sua mão mantendo-a ao meu lado, não deixando que ela continue.

Apoiando a mão em meu braço ela se recosta em mim. O olhar de luxuria que Izac lança para minha menina faz meu sangue ferver.

— Sam venha me visitar mais vezes, você é muito bem-vindo em nossa casa meu filho, quando sair do hospital prepararei um jantar para sua namorada. E você bela moça, cuide bem do meu menino enquanto eu não melhoro. — O sorriso sincero em seu rosto parte meu coração.

Não sei se ela voltará para casa e isso me desespera, mas creio que o seu quadro ainda pode melhorar e que os tratamentos surtirão efeitos.

Katy está inquieta ao meu lado e mantém uma expressão séria e fechada para meu pai, mas gentilmente abre um belíssimo sorriso para minha mãe.

— Foi um prazer conhecê-la Lauren, adorarei participar desse jantar, então por favor melhore logo.

Dói tanto ver minha mãe em uma situação tão crítica e ter que fazê-la passar por momentos tão embaraços mesmo nessa situação. O ódio que carrego do meu pai por me manter tanto tempo afastado dela só aumenta.

— Vamos Katy.

Ela aperta minha mão ao olhar para meu pai e caminho em direção a saída, mas Katy não se contém, parando na sua frente. Seus olhos castanhos se fixam nos dele e ela aponta o dedo em seu peito.

Com superioridade ele a observa desdenhoso, mas ao ouvir suas palavras sua expressão de soberba cai gradativamente.

— Reveja os seus conceitos, pois eles são horríveis e desnecessários.

Sem esperar uma resposta vira as costas me puxando para a saída. Izac fica imóvel ao vê-la enfrentar Bennett com tamanha ousadia, e por mais surpreso que eu esteja, sorrio ao ver toda a revolta e preocupação que minha amada tinha por mim.

Seguimos a passos rápidos para a saída.

— Seu pai é um idiota — ela desabafa em um forte suspiro caminhando irritada para o carro.

— Eu sei. — Rio com sua irritação.

Vê-la tão nervosa e irritada pelas palavras do meu pai me faz amá-la ainda mais, mesmo que as palavras dele me atinjam nada mudará, para mim ele é somente um homem vazio.

— Por que ele tem que ser tão cabeça dura? Ele é ridículo e sua mãe é maravilhosa. — Ela se encosta no carro com os braços cruzados.

— Sei que o assunto não é esse, mas não se aproxime de Izac. — Ela arqueia uma de suas sobrancelhas.

— Por quê?

Suspiro a observando.

Por que que com ela as coisas sempre são mais difíceis? Ela poderia somente concordar.

— Ele é psíquico e não se contenta com o que tem. Quer tudo que seja meu e você é minha. Minha menina. — Acaricio seu rosto fazendo sua expressão séria de desmanchar.

— Realmente não gostei dele e muito menos do seu pai. — Sua expressão triste me faz abraçá-la.

Amo Katy por sua sinceridade, ela é uma pessoa que não consegue esconder seus sentimentos e muito menos sua raiva. Adoro seu jeito explosivo e sua língua afiada. Ela é o tipo de pessoa que não leva desaforos para casa e não mede esforços para defender quem ama.

Ultimamente tenho percebido sua aproximação involuntária, sem medo e sem receios o que me deixa feliz.

Tenho muitas perguntas para fazer a ela, sei que provavelmente ela foi abusada, pois seu medo de aproximação mostra que algo aconteceu, ela evita toques íntimos e se fecha em um mundo paralelo que aos poucos está me deixando entrar.

Sei que é cedo para pressioná-la a dizer algo, mas também sei que chegará o momento em que descobrirei tudo, só peso que esse abuso tenha sido em proporções menores e esse receio é um meio de proteção e não um trauma causado por agressão, pois juro que usarei de todos os meios para acabar com a pessoa que lhe fez mal.

— Sam quem é Mary? — a pergunta de Katy me tira de meus pensamentos me deixando tenso.

É complicado explicar sobre Mary para Katy, mas não tem como evitar esse assunto totalmente desnecessário e diante de toda essa situação se torna necessário. Para evitar brigas futuras resolvo contar a verdade emitindo alguns fatos que só gerariam discussões.

— Mary é uma prima que cursou advocacia junto comigo, ela era minha namorada, mas quando Izac soube começou a persegui-la e persuadi-la. Ela sempre participou das festas da família e estava mais presente em minha casa do que eu, então deixou se levar pelos encantos e falsas promessas de Izac, me traindo com ele. Ele a usou por um tempo e depois a dispensou como um mero objeto. Tentando reconciliação ela voltou a me procurar, mas a dispensei. Ela trancou a faculdade e se mudou de país, não me pergunte para onde, não tenho informações dela desde então.

Não gosto de comentar sobre esse assunto com Katy, para mim ela é minha única mulher, esse forte sentimento que cresce dentro de mim jamais senti por outra pessoa.

Mary era minha noiva íamos nós casar ao termino da faculdade, mas Katy não precisa saber disso. Particularmente odiaria saber que ela já foi noiva de alguém, sei que ela já teve namorados, mas imaginá-la prestes a se casar com outro homem faz minha pulsação se acelerar e a raiva dominar meus pensamentos.

Quieta ela cruza os braços observando a entrada do hospital que fica atrás de mim.

— Não gosto do seu irmão e muito menos dessa Mary. — Sua expressão irritada me faz sorrir principalmente pela explicita demonstração de ciúmes.

Apertando-a mais contra meus braços esfrego o nariz em seus cabelos sentindo o cheiro do seu perfume misturado com seu xampu, é um cheiro doce e inebriante que vai ficar gravado em minhas roupas, me lembrando dela ao decorrer do dia, o que particularmente amo, afinal me sinto perto dela o dia todo. 

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