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— Vou explicar de forma resumida. — Respirou fundo. — Contei a minha irmã que tenho um noivo, e que iria passar as férias com a minha família. O problema é que esse noivo não existe, e eu não contava que ela contaria a todo mundo antes de eu voltar atrás, e dessa forma eu não posso mais desmentir. — Ethan brincou com a borda do copo passando o dedo sobre ele, analisando a história recém ouvida. Ele a encarou e as palavras soaram como ironia.

— E para você seria melhor mentir contratando alguém a contar a verdade. — Ele riu. — Precisa então que eu seja seu noivo? — Indagou o homem obtendo uma confirmação da morena. — Já está bem grandinha para ficar mentindo assim para a família, não acha?

Ele começou sério. Ela mirou um instante seus olhos azuis, e só então percebeu o quão profundos eles eram, exatamente como o mar, uma imensidão azul que poderia engolir facilmente quem quisesse, como o oceano faz em seu mais violento estágio.

— Achei que você fosse um acompanhante.

As sobrancelhas escuras arquearam-se. Ele balançou a cabeça rindo, seu riso era quase uma cantoria. Definitivamente Ethan seria perfeito para seu noivo. Não só em sua cabeça, mas definitivamente na de toda mulher. Dono de uma aparência impecável e olhos que fariam qualquer mulher lhe conceder o que quisesse, por que diabos ele era acompanhante?

— Em algum momento desde a minha chegada eu disse que eu não era acompanhante? Esse é o motivo de estarmos aqui. — Sua postura se tornou ríspida. — Entenda, senhorita Jones, acompanho mulheres em reuniões, formaturas e coisas do tipo, algo que duraria certamente nada além de mais ou menos umas cinco horas. — Ele gesticulava com as mãos, de forma quase hipnotizante. — Além disso, está me propondo por mais de vinte e quatro horas ser um noivo de mentira.

Ela suspirou, acreditando que sua proposta já lhe havia sido negada.

— Na verdade, minha proposta são trinta dias no Texas, na fazenda da minha família, como meu noivo. Assim que terminarem esses trinta dias, eu digo que terminamos, você volta para a sua vida e eu para a minha.

Ele mexeu na barba mal feita com os dedos, pensativo. Sua mão correu até o copo, o levando à boca. Bebericou o líquido para depois balançar o copo enquanto pensava.

— Cobrarei muito caro por isso. — Tomou mais um gole rápido, puxou um guardanapo e pediu uma caneta ao garçom, escrevendo ali um valor tão alto que a faria desistir de tal loucura ou se olhar no espelho para concluir que com tamanha beleza, ela não deveria contratar um noivo, pois conquistaria facilmente um. Mas ele estava enganado. Ela sorriu.

— Aceito. — Ela cerrou os olhos, ela havia enfim, caído naquela loucura. — Partimos no domingo, às dezenove horas. Me passe sua conta bancária e uma foto do seu passaporte para que eu possa retirar suas nossas passagens aéreas.

Ágil, essa era a palavra.

— Devo saber algo sobre seus pais? — Perguntou seu agora, noivo.

— Poucas coisas, te enviarei junto da passagem por e-mail — respondeu-lhe Joanne e ele assentiu. Ela se levantou da cadeira sorrindo ainda sim de forma singela, pronta para partir. Em um chamado quase mudo pediu a conta para o garçom. — E sobre você, eu preciso?

De repente o sorriso que vestia os lábios rosados que tornava o homem ainda mais atraente desapareceu, dando a ele uma beleza a mais, mesmo quando ela achou que aquilo pudesse ser impossível. Apoiou o cotovelo na mesa e espalmou as mãos no rosto em posição de pensamento, uma expressão avaliadora caiu sobre sua face.

— Não tenho relações íntimas com clientes. — Ele riu. — Além do mais, eu sempre faço o papel de amigo, irmão, ou algo do gênero. Mas, noivo? É bem peculiar.

— Não será necessário.

Ele se levantou da mesa sem parar de fitá-la.

— Já que será minha noiva, preciso conhecê-la com mais detalhes. A única coisa que sei é seu nome. — Ele levou as mãos grandes para a gola de sua camiseta ajeitando o tecido amarrotado que era presente ali. — Se quiser conduzir, pondo limite, sinta-se à vontade. — Ele se aproximou, resgatou sua mão direita em um apertar de mãos amistoso e bem profissional, antes de deixar o dinheiro na conta acima da mesa e se virar para ir embora. Foi possível notar o sorriso sacana que novamente vestiu os lábios junto com suas últimas palavras. — Levo muito à risca meu papel, sua família irá acreditar, mas espero que você não.

(...)

— Puta merda, ele deve ser gostoso mesmo pra te cobrar tudo isso! — Gritou Cassie pelo telefone. Mal sabia a loira que havia pago barato. A ideia surreal de que aquele homem costumava trabalhar como acompanhante ainda tomava sua cabeça. — Cara, faz ideia de que o valor que você está pagando para esse homem passar trinta dias com você é maior do que um ano inteiro do meu salário? Você deve estar louca.

— Cassie, não me deixe pior ainda com toda essa situação! — Ela suspirou, sentando na quina da cama. — Uma reparação de erro necessária.

Foz tossia, o frio da empresa junto ao calor extremo estava lhe deixando doente.

— Eu te juro que achei que estivesse blefando. — Aquilo era como uma bronca de irmã mais velha. — Sabe a merda que vai dar se vocês forem descobertos, não sabe? Você contratou um completo estranho para passar trinta dias com você, tem ideia?

Na verdade, ela tinha total noção do que estava fazendo, e era justamente essa noção que a deixava num estado de nervosismo total. Sempre planejara sua vida de forma que essa caminhasse sobre os trilhos em sua permissão e sobre seus olhos. Mas, nos últimos dias, ela não teria como prever o resultado de suas escolhas, era praticamente impossível. Estava cega diante do desenvolver da situação.

— Ele me pareceu uma boa pessoa e... — Sua cabeça explodiria se seguisse na mesma linha de raciocínio da amiga. — Você falando dessa forma me deixa mal. Além do mais, foi ideia sua.

— Eu te amo e sou sua amiga, você sabe disso. — Pigarreou. — Eu juro que não achei que você aceitar a ideia — disse a loira. — Eu acho melhor que fira seu pai com a verdade do que o decepcione com a mentira. Estou começando a me arrepender de ter dado aquele cartão a você.

Joanne se jogou de braços abertos sobre o colchão em seu quarto.

— Eu também te amo, Cassy — ela respondeu — mas preciso prosseguir, não seria capaz de decepcioná-lo.

— A escolha é sua, vou deixar você se organizar. Sabe que pode contar comigo, né? — Joanne sorriu vazio, sabendo que Cassie tinha total razão. Quem em sã consciência faria algo como aquilo? — Seja cuidadosa, se seu pai descobrir, você vai desejar ter contado a verdade desde o começo.

As palavras de Foz raramente lhe chateavam com a verdade, mas quando a loira estava coberta de razão era diferente. Dessa vez, ela era a própria razão.

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