Aqueles que são da Zona Sul, jamais podem se misturar com aqueles que são da Zona Norte, mas, no Colégio Saferat isso pode mudar. Lucy Valverde, uma líder de torcida popular, é obrigada a trabalhar com o delinquente Mattias Belmonte no laboratório na aula de química. Em busca de boas notas, eles não estavam prontos para conhecerem o elemento perfeito para a reação química ideal: o amor. Será que só assim, eles vão deixar de lado suas zonas diferentes?
Leer másLucy
Todos sabem que sou perfeita. Tenho uma vida perfeita. Roupas perfeitas. Até minha família é sinônimo de perfeição. E embora tudo seja uma completa mentira, me esforcei muito para manter as aparências, para ser perfeita em todos os sentidos. Se soubessem da real, minha imagem iria por água abaixo. Parada em frente ao espelho do banheiro, com o som ligado no último volume, corrijo, pela terceira vez, mais uma linha torta que tracei, sob o olho.
Droga! Minhas mãos estão tremendo. Começar o último ano do segundo grau e reencontrar meu namorado, depois de ficarmos longe um do outro nas férias de verão, não deveria ser tão estressante assim... Mas hoje o dia começou mal.
Primeiro, o meu modelador de cachos começou a soltar fumaça e logo parou de funcionar. Depois, o botão da minha blusa predileta quebrou. E agora este delineador resolveu que tem vontade própria! Se eu pudesse escolher, ficaria em minha cama, bem confortável, comendo biscoitos com gotas de chocolate, quentinhos, o dia todo.
- Venha, Lu!
Hum... Acho que ouvi minha mãe gritar, lá do hall.
Meu primeiro impulso é ignorá-la, mas isso nunca me traz nada de bom, a não ser bronca, dor de cabeça... E mais gritos.
- Já vou! Só um minutinho — respondo, esperando conseguir passar esse delineador direito e acabar logo com isso.
Por fim, acerto o traço, jogo o delineador no balcão da pia, confiro minha imagem no espelho, uma, duas, três vezes. Desligo o som e desço correndo para o hall.
Minha mãe está parada, aos pés da nossa esplêndida escadaria, analisando meu visual. Endireito os ombros.
Sim, eu sei... Tenho dezoito anos e não deveria ligar para o que mamãe pensa..., Mas não é você que mora aqui, na casa dos Valverde.
Minha mãe sofre de ansiedade... Não do tipo facilmente controlado por pequenas pílulas azuis. E, quando está estressada, todos os que convivem com ela sofrem também. Vai ver que é por isso que meu pai sai para trabalhar cedinho, antes que ela se levante: para não ter que lidar com... bem... com ela.
- Odiei a calça, amei o cinto — diz minha mãe, apontando com o indicador para cada uma das minhas peças de roupa. — E aquele barulho que você chama de música estava me dando enxaqueca. Ainda bem que você desligou.
- Bom dia para você também, mãe — eu digo, antes de descer a escada e dar-lhe um beijinho no rosto. Quanto mais me aproximo dela, mais meu nariz sofre com o tormento do seu perfume forte. Minha mãe parece uma milionária, em seu uniforme de tênis Blue Label, da Ralph Lauren. Claro que ninguém poderia levantar sequer um dedo para criticar suas roupas.
- Comprei o muffin que você mais gosta, para o seu primeiro dia de aula — ela anuncia, me mostrando um saquinho que tinha escondido atrás das costas.
- Não quero, obrigada — eu digo, olhando em volta para ver se acho minha irmã.
- Cadê a Karla?
- Na cozinha.
- A nova enfermeira já chegou?
- Seu nome é Amora. E, não, ela só vai chegar dentro de uma hora.
- Você já contou a Amora que a lã irrita a pele de Karla... E que ela puxa os cabelos de quem está por perto, quando fica nervosa?
Karla sempre deixou claro, mesmo sem falar, que detesta o contato da lã contra a pele. Puxar cabelos é sua nova mania que, aliás, já causou alguns desastres... E desastres, em minha casa, são quase tão sérios quanto um acidente de carro. Portanto, evitá-los é uma coisa crucial em nossas vidas.
- Sim... E sim — responde minha mãe. — Dei uma bronca em sua irmã, hoje cedo, Lucy. Se ela continuar desse jeito, perderemos mais uma enfermeira.
Vou até a cozinha, pois não estou a fim de ouvir a lengalenga de minha mãe, nem suas teorias sobre os motivos que levam Karla a partir para aqueles repentinos ataques. Minha irmã está sentada à mesa, na cadeira de rodas, ocupada em ingerir sua comida, que precisa ser especialmente preparada. Pois, apesar de seus vinte e um anos, Karla não consegue mastigar nem engolir, como fazem as pessoas que não têm as mesmas limitações físicas que ela.
Como de costume, a comida acabou grudada em seu queixo, lábios e bochechas.
- Ei, Shell-Bell, minha Conchinha Barulhenta— digo, inclinando-me na direção dela para limpar seu rosto com um guardanapo. — Hoje é o meu primeiro dia de aula. Não vai me desejar boa sorte?
Desajeitadamente, Karla estica os braços e sorri seu sorrisinho torto... Como amo esse sorriso!
- Quer me dar um abraço? — pergunto, já sabendo a resposta. Os médicos sempre nos dizem que quanto mais Karla interagir com as pessoas, melhor ela ficará.
Karla responde sim, com a cabeça. Deixo-me envolver por seu abraço, tomando cuidado para manter suas mãos longe do meu cabelo. Quando me endireito, dou de cara com minha mãe, que está ofegante. Até parece um juiz apitando, interrompendo minha vida por um momento, só para dizer:
- Lu, você não pode ir à escola assim.
- Assim... como?
Ela balança a cabeça, com um suspiro de frustração:
- Olhe só para a sua blusa.
Obedeço... E vejo uma grande mancha úmida, bem na frente de minha blusa Calvin Klein branca. Ops! Baba da Karla. Só de olhar para o rosto tenso da minha irmã, capto a mensagem que ela não consegue expressar facilmente, com palavras: Karla sente muito. Karla não queria sujar a minha roupa.
- Não foi nada — digo a ela, apesar de saber, lá no fundo, que a mancha acabou com meu visual perfeito.
Franzindo a testa, minha mãe umedece um papel-toalha, na pia, e esfrega a mancha com ele. Quando ela faz essas coisas, eu me sinto como uma criancinha de dois anos.
- Vá trocar de roupa.
- Mãe, é só pêssego — digo, com todo cuidado, para que essa estória não vire uma gritaria daquelas. A última coisa que eu quero na vida é deixar minha irmã se sentindo mal.
- Pêssego mancha. Você não quer que as pessoas pensem que não se importa com sua aparência...
- Tudo bem.
Puxa, eu gostaria que minha mãe estivesse num de seus bons dias... Dias em que ela não me enche com essas bobagens. Dou um beijo bem no alto da cabeça da minha irmã, para mostrar a ela que não me incomodei, de jeito nenhum, com sua baba.
- Vejo você depois da escola, Shell-Bell... — digo, tentando manter a animação matinal — para terminar nosso jogo de damas.
Subo a escada correndo, agora de dois em dois degraus. Chego ao meu quarto e olho o relógio... Oh, não! São sete e dez. Fiquei de dar uma carona a Sierra, minha melhor amiga. E ela vai surtar se eu chegar atrasada. Pego um lenço azul claro, no meu armário, e rezo para que dê certo... Se eu o prender direito, talvez ninguém veja a mancha de baba.
Volto a descer a escada e lá está minha mãe, de novo, analisando o meu visual...
- Amei o lenço.
- Ufa!
Quando passo por minha mãe, ela me entrega o saquinho com o muffin:
- Para você comer no caminho.
Acabo aceitando. Enquanto caminho na direção do meu carro, vou mordendo o muffin, distraída. Infelizmente, não é de blueberry, meu sabor preferido. É de banana com nozes... E as bananas passaram do ponto. É, esse muffin está bem parecido comigo: por fora, aparentemente perfeita..., Mas, por dentro, um verdadeiro mingau.
Quatro anos depois #LucyEnfim chegou o dia da nossa formatura, depois de anos de estudos e pesquisas eu e Mattias conseguimos um emprego no maior centro de pesquisa do Colorado. Karla a cada dia está desenvolvendo suas habilidades motora e fala, eu e Mattias estamos sempre indo visitá-la e jogar uma bela partida de dama com aquela peralta. Nala e Gastón se casaram realizando uma pequena cerimônia, depois de um ano de casados Nala deu há luz a uma pequena princesa chamada Ana Simonette Perida a coisa mais fofa desse mundo. Jim se mudou para o Chile lá acabou conhecendo o seu marido Jorge Lopez e abrindo um studio de fotografia onde ambos eram sócios.#MattiasDepois de todo esse tempo
Cinco Meses Depois#LucyOs aromas de agosto, no Colorado, são definitivamente bem diferentes dos de Illinois.Dou uma ajeitada nos cabelos, agora bem mais curtos, sem me preocupar com os fios rebeldes. Depois, retomo o que estava fazendo: abrindo caixas e mais caixas... Estou me instalando em meu novo lar: a Universidade.Minha companheira de quarto, Clara, é do Arkansas. Ela parece uma fada, pequena e doce... Talvez seja uma descendente de Sininho. Nunca vi essa menina aborrecida, nem de mau-humor. Juro.Nala, que está na Universidade de Illinois, não teve a mesma sorte. Dara, sua companheira de quarto, dividiu o closet e a sala em dois espaços separados. Ela se levanta às cinco e meia da manhã, todos os dias, inclusive nos fins de semana, para estudar e fazer trabalhos. Nala está arrasada com isso. Mas passa a maior parte do tempo
#LucyHoje é primeiro de abril. Faz cinco meses que não vejo Mattias. Não o vejo desde aquele dia, no hospital.Os comentários sobre Mattias e Noah finalmente arrefeceram.Os psicólogos, assistentes sociais e orientadores educacionais “extras” que mandaram aqui para o colégio, já foram embora.Na semana passada eu disse à orientadora educacional que durmo mais de cinco horas por noite, mas isso é mentira. Desde que Mattias levou aquele tiro, tenho dificuldades para dormir. Sempre acordo no meio da noite, porque não consigo deixar de pensar naquela conversa horrível que tivemos no hospital. A orientadora disse que levarei um bom tempo para superar esse sentimento, essa mágoa por ter sido traída.O problema é que não me sinto traída; na verdade, me sinto triste e humilhada. Depois de tudo, ainda passo hora
Quando eu saía com os colegas, depois do trabalho, eles tentavam me apresentar umas garotas mexicanas.Todas eram bonitas, sexies e, definitivamente, sabiam como seduzir um cara. Só havia um problema: elas não eram Lucy. Eu precisava tirar aquela menina da cabeça. E rápido.Bem que tentei... Certa noite, uma hóspede americana me convidou a entrar em seu quarto. Primeiro, achei que fazer sexo com uma garota do mesmo tipo físico de Lucy me ajudaria a esquecer... Mas, logo no início da coisa, travei.Foi então que entendi que Lucy havia me arruinado... Pois eu jamais me contentaria com nenhuma outra.Não adiantava. A menina não tinha o rosto de Lucy, nem seu sorriso, nem mesmo seus olhos. E não era só isso, não era só na superfície. As feições de Lucy, assim como seu corpo, faziam dela um modelo de beleza, não só para mi
#MattiasEstou neste hospital há uma semana. Detesto enfermeiras, médicos, agulhas, exames. E, principalmente, essas camisolas horríveis. Acho que se eu continuar aqui vou ter uma crise nervosa, por conta desse mau-humor. Ok, eu não deveria ter xingado a enfermeira que tirou minha sonda. Mas o que me deixou furioso foi seu bom humor, aquela enervante disposição à alegria.Não quero ver ninguém. Não quero falar com ninguém. Quanto menos gente se envolver em minha vida, melhor.Quase morri para conseguir mandar Lucy embora... E, para isso, precisei magoá-la profundamente. Mas, afinal, eu não tinha escolha. Quanto mais próxima ela ficasse de mim, mais sua vida correria perigo. Não posso deixar que aconteça com ela o que aconteceu com Noah. Pois Lucy &
#Lucy Acordo às cinco da manhã, com o toque do meu celular. É Jim quem está ligando, provavelmente para me pedir algum conselho sobre Noah... — Oi, Jim, você sabe que horas são? — digo, sonolenta. — Ele está morto, Lucy. Ele se foi. — Quem? — pergunto, apavorada. — Noah. Não sei se eu deveria ter telefonado, mas você acabaria descobrindo que Mattias também estava lá e... Aperto o celular com força: — Onde está Mattias? Ele está bem? Por favor, diga que sim! Eu imploro, Jim... Por favor! — Mattias foi baleado. Por um instante, espero ouvir as palavras que mais temo: “Mattias está morto.” Mas não é isso que ela diz: — Ele está sendo operado, no Lakeshore Hospital. Antes que Jim termine a frase, arranco o pijama e começo a me aprontar para sair. Meus gestos são trêmulos. Pego as chaves e caminho até a porta, ainda ouvindo Jim, que relata o que aconteceu, com t
Último capítulo