Capítulo 5

"Maick"

Sentado de frente com a senhora Sara penso em tudo que tenho que dizer e travo no lugar. Como explicar pra ela que sua filha está doente e precisa de ajuda urgente.

Como dizer para minha futura sogra ou não, que Maila tem reprimido um segredo que é quase uma mentira e que a culpa dessa mentira que ela acha que é verdade é toda minha.

-Bom, por onde devo começar? -pergunto mais para mim mesmo do que para ela.

-Vai devagar e com calma, temos tempo. -diz com sua calmaria de sempre.

Desde que conheço a senhora Sara, ela nunca mudou sempre tem um rosto calmo e uma voz que nos deixa calmos, acho que por que ela ja foi enfermeira ela tem as manhas. Sempre resolve os conflitos quando o clima fica tenso, ou coloca ordem na bagunça quando os outros não conseguem.

-Vou começar por cinco anos atrás então. -penso bem em como colocar em palavras, todos os sentimentos, as angústias, os medos e inseguranças. Sinto sua mão em meu ombro e vejo ela sentada em meu lado, não sou fraco, mas também não sou forte.

-Cinco anos atrás quando Maila foi sequestrada e ficou sumida por quase um ano, eu fiquei perdido naquela época por exatamente um mês, não sei se sabe mas desde aquela época já era completamente apaixonado por ela. -paro sorrindo minimamente antes de jogar a bomba.

-Quando eu encontrei ela, foi um choque pra mim ver seu estado. Vocês não sabem porque eu nunca contei, nem ela me deixou contar, mas o que aconteceu naquele tempo marcou a gente bem fundo. -vejo o olhar perdido de Sara.

-Mas me lembro que Maila só foi encontrada depois de mais de um ano sumida, nós ficamos loucos atrás dela, aí ela foi descoberta em um hospital, você ta me dizendo que encontrou ela um mês após ela ter sumido e não disse nada pra ninguém. -só confirmo com a cabeça fechando os olhos.

-Me deixe terminar e a senhora vai entender o porquê de não ter dito nada. -sorrio triste olhando o pingente em minha mão, o pequeno anjo que sempre esta comigo desde cinco anos atrás.

--Lembranças contadas on--

'Cinco anos antes, rua principal da capital.'

-Maick achamos, os caras daquela vez. -pego o notebook olhando as imagens das câmeras, são realmente eles.

-Onde é esse lugar? -pergunto pra George o jovem gênio da máfia. Apesar de eu ser mais novo que ele, mas isso não importa muito.

Já faz quase duas semanas que não temos uma pista sequer sobre o sequestro de Maila, todos estão de mãos atadas, sem saber por onde seguir ou ter o que fazer.

-Uma cidade pequena a uns quilômetros daqui, não existe muitas câmeras por lá, então é bem difícil achar qualquer coisa sobre o local. -diz sério enquanto digita rápido no teclado enquanto varias coisas vão aparecendo no monitor na sua frente.

-Descubra tudo sobre essa cidade, cada morador, casa, ou coisas suspeitas, irei ate la imediatamente. -coloco o notebook sobre a mesa já pegando a chave do carro. -Me envia tudo no meu celular até as seis da manhã.

-Bele, começando agora mesmo. -diz e nem escuto o resto só saio rumo à rua. 

Finalmente temos algo pra procurar, mas não posso alarmar ninguém sem pistas mais concretas, ninguém vai me ouvir mesmo, então preciso ir até lá e ver por mim mesmo, então informar eles depois.

Entro no carro, minha mãe não pode nem sonhar que estou indo para fora da cidade e de carro ainda por cima, ela me bateria até eu ficar branco que nem papel.

Passo em um banco retirando uma grande quantia em dinheiro, se usar meu cartão vai saber onde estou então melhor prevenir, vou comprar algumas outras coisas que podem ser úteis também. 

Depois de pegar tudo necessário e avisar a algumas pessoas que estou dando um tempo pra mim mesmo entro de novo dentro do carro para finalmente seguir para a cidadezinha onde conseguimos algumas pistas.

Acelero para fora da cidade sem nem pensar em levar ninguem comigo pra me ajudar, a única coisa que tenho são algumas facas, alguns galões de gasolina e meu revolver, isso tem que dar.

Foram três horas de viagem, estou com sono mais finalmente cheguei na cidade, vejo as pequenas casas e algumas pessoas já andam pelas ruas mesmo sendo de madrugada.

Vejo uma enorme placa indicando um hotel, estaciono o carro olhando em volta, aqui parece um bom lugar pra dormir um pouco antes de andar por aí amanhã.

Saio do carro pegando minha mochila com os documentos falsos e alguns mantimentos, como por exemplo dinheiro. Entro no lugar vendo um homem velho e barbudo na recepção.

-Oi você tem um quarto vago? -pergunto e ele me olha de cima a baixo enquanto masca o que parece ser chiclete.

-Se está fugindo de casa ou da Polícia não. -diz e volta a ler seu livro.

-Não, só estou voltando pra casa depois de acampar uns dias, gosto de curtir a natureza mas preciso de um bom banho antes de aparecer na frente da minha mãe. -falo, o homem ainda meio desconfiado me entrega uma chave.

-Sobe as escadas, terceira porta a direita, são cinquenta por hora, cem se você quiser ficar escondido. -pago pra ele quinhentos e o homem me olha sério.

-Nunca estive aqui senhor, irei ficar por algumas horas. -digo antes de subir as escadas em direção ao quarto.

Entro no quarto já me jogando na pequena cama, estou exausto, mas o que posso fazer depois de tantas horas sem dormir, suspiro alto passando a mão nos olhos.

Acho melhor dormir um pouco e esperar a mensagem do George com as informações e também tenho que estar pronto pra tudo amanhã, não quero desperdiçar tempo por estar muito cansado amanhã.

Deixo o cansaço me invadir, depois de vários dias sem descanso meu corpo pede por uma pausa, preciso de pelo menos duas horas de sono antes de continuar, coloco um despertador pra tocar daqui a duas horas e finalmente relaxo dormindo.

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Acordo com o sol batendo em meu rosto, olho o celular e ainda falta alguns minutos pra o despertador tocar, desativo e me sento na cama. Minha cabeça dói um pouco e meu corpo parece pesar uma tonelada, tiro a camisa me colocando de pé.

Vejo uma pequena porta, esse deve ser o banheiro, bem pequeno por sinal, preciso de um banho antes de começar minha busca. Pego uma muda de roupa que tinha trazido na mochila e vou para o banheiro, tenho que achar Maila a todo custo.

Tiro a roupa entrando no chuveiro, sinto a água fria molhar meu corpo dolorido, meus pensamentos voam longe, não sei o que me aguarda nessa busca doida por ela, mas espero que possa encontrar pelo menos seu corpo se ela já estiver morta.

Mas espero muito que ela esteja viva, por egoísmo meu, espero sinceramente que ela esteja viva para que eu possa mais uma vez tê-la em meus braços.

Só assim talvez possa me perdoar por tudo que ela deve estar passando.

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Assim que saio do banho e me visto pego minhas coisas saindo do pequeno hotel, o senhor da recepção finge não me ver, o que acho ótimo.

Menos um transtorno pra ter que lidar depois, espero apenas que ele esqueça minha existência pela resto da sua vida.

A pequena rua que quando cheguei tinha poucas pessoas agora tem algumas a mais, crianças, idosos, jovens e adultos, alguns em suas casas limpando outros conversando alguns indo pra escola.

Entro no carro olhando o celular, tem vinte mensagens de George, são seis arquivos com toda informação sobre os moradores locais, qualquer pessoa fora dessa lista é suspeito.

Olho alguns e vejo um que pode me ajudar por algum dinheiro ou melhor ainda, pela Famiglia, esse cara vai ser de grande ajuda, Ruan Vegas, tem dois filhos e foi diagnosticado com câncer terminal além de ter feito parte da família por um tempo.

Pode ser que me ajude se eu implorar um pouco, os filhos são gêmeos e que tem a minha idade, estão terminando a escola e trabalham em meio período na cidade.

Envio uma mensagem por mais informações sobre a família Vegas, alguns minutos depois George me manda as informações sobre eles.

Uma coisa ainda melhor vem junto, o homem Ruan Vegas trabalhava para la famiglia principal, isso facilita muito minha vida, ele vai me ajudar porque conhece o pai de Maila.

Ligo o carro para ir até o endereço marcado na ficha, as ruas e casas por aqui são todas iguais, só se diferenciam pelos números, mas mesmo assim é difícil de se localizar.

Vejo alguns jovens da minha idade parados em frente à um parque e resolvo pedir informação sobre os Vegas, me aproximo e eles ficam alertas.

-Oi, eu to meio perdido, pode me dizer onde fica a casa dos Vegas? -pergunto e vejo um deles me olhar desçonfiado.

-Porque quer saber? -ele pergunta, certo ninguém vai falar a localização de alguém assim tão fácil, ainda majs em uma cidade desse tamanho.

-Tenho uma encomenda pro senhor Ruan Vegas, do senhor Wolker. -digo por fim, o menino levanta vindo até a janela.

-Pode entregar pra mim, sou Douglas Vegas, filho de Ruan Vegas. -diz, ele parece um garoto feroz de espírito livre. Destravo as portas, olho os outros que conversam entre si e riem.

-Entra aí, tenho que entregar isso na mão do seu pai. -digo olhando pra ele sério, o mesmo ainda desconfiado fala alguma coisa para os amigos e abre a porta entrando no carro.

-Carro legal. -diz quando coloca o cinto. Ele ainda está meio cabreiro sobre mim, mas vou derrubar suas barreiras aos poucos.

-Muito prazer, sou Maick Burcht, pode me mostrar por onde ir. -me apresento pisando no acelerador.

-Segue reto e vire a direita, minha casa é a única sem flores na frente depois da virada, meu pai deve estar na frente trabalhando. -da de ombros para minha apresentação.

-Você não me conhece? Nunca ouviu meu sobrenome pelo seu pai? -pergunto, não sei porque o senhor Vegas quis sair da famiglia, mas tem algo errado nessa história.

-Nunca ouvi seu sobrenome nem te conheço. -diz e olha pela janela indiferente, viro como ele indicou e de longe vejo um senhor mexendo em um carro, realmente não tem flores nem grama na frente da casa.

Já que é uma oficina na frente, um outro rapaz sai de dentro da garagem da casa trazendo uma maleta de ferramentas, os dois meninos se parecem muito, são realmente gêmeos idênticos.

Estaciono na frente da casa e Douglas sai já falando algo com o irmão e o pai, desligo o carro saindo do mesmo com minha mochila em mãos.

-Olá senhor, por la famiglia! -dou a famosa saudação da Invict e o vejo arregalar os olhos limpando a mão em um pedaço de pano velho.

-Por todos, la famiglia vamos! -responde, pelo visto ainda segue a diretriz da saudação da Invict, se você é cumprimentado assim e responde de forma errada ou não responde é como ae fosse um sem educação ou um desertor.

-Um rapaz tão jovem já faz parte da famiglia? -diz enquanto me aproximo deles.

-Não esperava encontrar um veterano nesse lugar, como esta senhor. -falo estendendo a mão para cumprimentar.

-Passo bem, mas o que faz aqui? Não é um local visitado com frequência. -seus olhos são ferozes, aceno com a cabeça em direção a casa. -Porque não entramos um pouco, deve estar cansado da viagem.

Andamos ate a porta depois do cumprimento, os dois meninos da minha idade parecem confusos com o modo que o pai agil ao me ver.

A casa é simples, sala, cozinha, banheiro e um segundo andar onde devem ser os quartos, sento no sofá já abrindo minha bolsa e colocando algumas coisas na mesa.

-Então, está em missão? Ou fugindo? -pergunta assim que se senta na minha frente.

-Missão de importância máxima. Necessito de algumas informações. -falo espalhando as fotos na mesa sob o olhar atento dos três.

-Informe o que ouve, se estiver no meu alcance lhe ajudarei. -diz por fim e apoia o rosto com as mãos me olhando nos olhos.

-Essa é Maila Wolker, filha mais nova de Adrian e Sara Wolker, desaparecida a pouco mais de uma semana, depois de ser sequestrada perto de casa ao sair da escola. -ele olha a foto que aponto com o dedo.

-Então quem assumiu o comando foi Adrian, alguma informação sobre os sequestradores? -pergunta olhando o mapa todo marcado e alguns informações que George me deu.

-Esse é meu maior problema, não achamos nada além de uma imagem de câmera de uns três dias atrás, um bar de beira de estrada vindo nessa direção. -mostro a foto do carro e dos caras. -Tudo indica que eles ainda estão nessa cidade, já que todas as saídas foram verificadas e ninguém saiu ou entrou na cidade nesse meio tempo.

-Pai de que merda esse cara tá falando? Isso não é caso de Polícia? O que tem a ver com a gente? -o segundo rapaz pergunta já impaciente com um semblante raivoso.

-Explico depois filhos, vão tomar conta da loja, tenho que conversar com ele a sós. -diz e os filhos ainda com dúvidas estampadas na cara saem.

-Olha não acho que possa te ajudar muito, meus filhos não sabem mais estou doente, a única coisa que posso fazer por você é oferecer alojamento, alimentação e algum auxílio com armas e munição. -diz me olhando sério.

-Sei da sua situação, mas isso já é o suficiente, mas sobre esses caras já viu algum deles por aqui? -pergunto aflito, essa é minha última esperança.

-Sim, esse aqui. -aponta a foto com o cara grande e careca com uma cicatriz na orelha. -A uns seis meses atrás esse cara apareceu por aqui comprando muitas casas, até ofereceu dinheiro pela minha. Ele disse que tinha uma sobrinha doente e esse lugar era bem calma pra ela viver.

-Então ele pode ter trazido Maila pra cá com o pretexto dela ser sua sobrinha doente. -digo em fúria. -Assim que eu por minhas mãos nele, nem respondo por mim.

-Ele rodou por muitos lugares, comprou seis casas e foi embora, mas eu não o vi desde então. -conclui me deixando aflito e vazio, suspiro jogando a cabeça pra trás.

Vou ficar louco, porque não acho ela? Porque teve de ser assim? Não podia ter sido eu ao invés?

-Vou ficar por alguns dias, pode me acolher nesse meio tempo? -pergunto sem olhar para ele.

-Pode ficar o tempo que achar necessário, vou falar pros meninos o que está acontecendo, já esta na hora deles saberem da vida que o pai levou até agora. -diz se levantando e passando por mim batendo a mão em meu ombro.

Fico assim por um tempo, minha mente gira e preço o foco de tudo ao redor, sinto somente o cansaço me tomando aos poucos e minha mente ficando vazia.

    〰〰〰〰〰〰 continua 〰〰〰〰〰〰

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