Beck acreditava que eu o amava profundamente. Depois de me ferir repetidas vezes, ele esqueceu que entre nós só havia um contrato — e que esse contrato de companheiros estava prestes a expirar.
Depois que Beck anunciou a identidade de Wendy, ela se aninhou timidamente ao seu lado.
Quando me aproximei, Wendy levantou a mão e brincou com o cabelo, exibindo o anel de diamante que simbolizava o status de Luna, o olhar cheio de provocação.
Isso não me irritou. Entreguei a Wendy o cartão com o cronograma do banquete da alcateia de hoje e saí do salão sem olhar para trás.
Afinal, Beck e eu só tínhamos uma relação contratual. Quando os três anos terminassem, nosso vínculo seria dissolvido.
Agora que ele havia encontrado alguém de quem realmente gostava para assumir meu lugar como companheira, eu só sentia um alívio imenso.
De volta à casa que Beck e eu compartilhávamos, comecei a arrumar minhas coisas.
Três anos se passaram num piscar de olhos. Ao observar a parede coberta com fotos dos dezoito banquetes da alcateia, fiquei atônita por um instante.
Eu era a companheira predestinada de Beck, mas ele nunca me quis de verdade.
Para a estabilidade e prosperidade da alcateia, ele assinou comigo um acordo de três anos.
No dia em que firmamos o contrato, o olhar dele era profundamente complexo.
Seu tom foi indiferente:
— Não entendo por que você é a minha companheira predestinada. Afinal, a sua posição não está à minha altura.
— Mas esta é a orientação da Deusa da Lua, e não posso desobedecer.
— Então, Carla, preciso que nos unamos temporariamente para estabilizar a alcateia. Três anos depois, romperemos esse vínculo.
Como Ômega, fiquei feliz em contribuir com o que pudesse pela alcateia e acenei em concordância.
A partir daquele dia, Beck me passou muitas tarefas, e ele mesmo me ensinava com paciência.
— Embora você seja apenas uma Ômega, como minha companheira predestinada, ainda deve aprender os assuntos da alcateia.
Naquele tempo, ele reservava todos os dias um momento para verificar meu progresso.
Mas não sei desde quando, Beck deixou de perguntar sobre meus estudos.
Por causa da minha posição, Beck não queria comparecer comigo aos banquetes da alcateia, mas também não podia faltar com a etiqueta.
Assim, os banquetes que deveriam ter sido organizados por nós dois acabaram recaindo somente sobre mim.
Eu não queria desapontar os ensinamentos de Beck, e também prezava a chance de contribuir com a alcateia. Por isso, começava os preparativos três meses antes de cada banquete, para garantir que nada saísse errado.
Do tipo e disposição das flores à escolha e preparo dos ingredientes, eu verificava tudo pessoalmente.
Sem falar na confirmação da lista de membros da alcateia, na inspeção do local e na organização de toda a programação.
Beck já havia dito que, no último banquete antes do término do nosso acordo, eu poderia organizá-lo do meu jeito.
Então, para o 19º banquete da alcateia, decorei tudo de acordo com minhas preferências e preparei um vídeo com nossas memórias, querendo encerrar essa relação com dignidade.
Mas, quando cheguei ao local, tudo já havia sido substituído.
As rosas brancas que eu tanto amava tinham sido trocadas por vermelhas vibrantes; as toalhas de mesa, mudadas para combinar com elas.
O vídeo que preparei com tanto carinho havia sido trocado por cenas de interações doces entre Beck e Wendy.
Achei que não teria motivo para tristeza, afinal, minha partida estava próxima.
Mas, ao lembrar do vídeo, as lágrimas caíram.
As imagens mostravam as raras memórias que Beck e eu dividimos nesses três anos:
Ele me ensinando a treinar sob o luar; nossa primeira ida ao campo de caça, onde ele me protegeu; a primeira vez que me deu um presente de aniversário...
Pensando nisso, vendo meu banquete de despedida transformado na celebração deles, meu coração começou a doer.
Será que Beck lembraria que esse seria o último banquete que organizei para a alcateia?
Enquanto estava com Wendy, será que lembrava que nossa conexão de companheiros seria dissolvida em apenas três dias?
De volta ao quarto, encarei as dezoito fotos dos banquetes na parede. Elas eram minhas memórias preciosas, a prova do meu esforço.
Arranquei-as uma a uma. Quando retirei a última, recebi uma conexão mental de Beck.
Seu tom estava cheio de acusações:
— Carla, você fez de propósito, não foi? Esse processo é tão complicado que nem eu consigo entender! Imagine a Wendy!
Fiquei sem palavras, mas como era minha responsabilidade, respondi calmamente:
— Quer que eu volte para coordenar?
Beck ficou em silêncio por um bom tempo antes de responder:
— Esqueça, é melhor você não vir.
Assim, nossa conversa terminou bruscamente.
Antes que eu pudesse terminar de arrumar minhas coisas, Beck voltou para casa furioso.
— Não deixá-la ser Luna foi a decisão mais certa que já tomei! Deixar as coisas pela metade? Isso não é atitude de uma Luna!
Ele puxou a gravata com irritação, revelando sem querer as marcas vermelhas no peito.
Naquele momento, Wendy entrou, com um ar magoado.
— Beck, seu terno está sujo. Eu trouxe outro. É tudo culpa minha por não conhecer os procedimentos...
Enquanto ela falava, o rosto de Beck suavizou, cheio de carinho indulgente.
— Não é culpa sua, a culpa é da Carla, que planejou um processo tão complicado!
— Se não fosse você lidando sozinha com tantos convidados e com essa programação exaustiva, eu não teria dado conta.
Depois disso, Beck voltou-se para mim, furioso:
— Carla, não vai me dar uma explicação? O quê? Ao primeiro sinal de dificuldade, você se esconde e joga a Wendy na linha de frente?
— Ainda bem que a Wendy conseguiu lidar hoje, senão eu nem quero imaginar o caos que teria sido!
Dei de ombros e respondi friamente:
— Meu erro.
Beck, que estava pronto para continuar me repreendendo, parou surpreso.
Nos olhos dele surgiu um traço de espanto, e, gaguejando, não conseguiu dizer mais nada.