INDOMÁVEL E SEDUTOR
Augustus aproveitou a deixa e levantou, fechando a sua pasta.
— Bem, preciso ir.— disse estendendo a mão para Fabian.
Contrariado, Fabian levantou-se também e apertou a sua mão.
Giovana levantou-se sorrindo com simpatia.
Estendeu a mão para Augustus, que a pegou e beijou-lhe com cavalheirismo.
O homem se retirou e Fabian deixou-se cair em sua cadeira, desanimado.
Ele colocou as mãos na cabeça em desespero.
— Mãe, não vou casar, não vou! Por que a minha tia fez isso comigo?
Giovanna foi abraçar o filho.
— Calma! Nós vamos resolver esta situação.— ela dizia.
— É a minha vida mãe! Não me sinto preparado para casar!— Fabian falava inconformado.
Giovanna riu enquanto acariciava os cabelos do filho.
— Já tem mais de trinta anos, filho! Quando pretende casar?— ela questionava.
— Não sei nem se quero casar! Quero ser livre mãe!— ele respondeu se exaltando.
Giovanna acompanhou o filho com o olhar enquanto ele se dirigia até a janela e olhava a rua através da persiana.
— Vamos arrumar uma moça que aceite um casamento arranjado. — ela disse sorrindo, se achando muito inteligente.
Fabian virou-se de súbito irritado. E ficar com uma mulher me controlando?— ele quis saber.
— Não, se colocarmos todas as condições em contrato. — ela disse animada.
— Mãe você é incrível! —Fabian exclamou eufórico.
Giovanna suspirou vaidosa.
Fabian ficou pensativo. Passando a mão no queixo, acariciando a sua covinha, falava com malícia no canto dos lábios:
— Podemos colocar várias cláusulas. Nada de sexo, herdeiros, cobranças etc.
Giovanna animou-se, batia palminhas suaves com as mãos, enquanto assentiu com a cabeça.
Fabian voltou e sentou-se com a mãe.
— Será que a filha de alguma amiga sua, aceitaria a nossa proposta?— ele quis saber.
Giovana gargalhou diante da inocência do filho.
Fabian fechou o semblante. Estava a ser motivo de chacota.
Giovanna desfez o sorriso imediatamente e disse:
—Eu quero dizer, que temos que comprar uma moça!
Fabian sobressaltou-se:
— Comprar!— exclamou.
— Sim, comprar meu filho!— Giovanna reafirmou.
Fabian esboçou um sorriso frio e calculista. Os olhos esverdeados brilharam.
— Mãe você é maquiavélica!— exclamou.
Giovanna debruçou-se sobre a mesa na direção do filho e começou a expor os seus planos:
— Eu pensei num fazendeiro muito ambicioso, conseguir uma moça que se encaixe nesses requisitos.
Fabian ouvia a mãe, concordando com a cabeça.
— Seu assessor poderia fazer a ponte entre nós — ela sugeriu.
Fabian levantou-se decidido.
— É isso! Quero esse fazendeiro aqui em São Paulo. Quero olhar no olho dele e fazer negócio de homem pra homem!
Giovanna levantou-se animada. Pegou o interfone e chamou Duílio, o assessor.
O rapaz chegou agitado. Era um jovem de estatura mediana, cabelos penteados para trás, lhe dando um ar de mais velho. Na verdade, podia ter pouco mais de vinte e seis anos. Usava um terno impecável, na cor cinza.
Os olhos bem pretos do rapaz estavam fixos em Fabian.
— Pois não senhor! Em que posso ajudá-lo?— ele falava ansioso pela atenção do patrão.
Fabian virou-se frio para ele.
— Preciso de uma esposa— disse seco.
O rapaz ergueu as sobrancelhas e não respondeu. Ficou estático por um instante depois indagou:
—Eu entendi direito, senhor? O senhor precisa de uma esposa, é isso mesmo?
Fabian suspirou impaciente. Fez um gesto para que a mãe explicasse.
Geovanna riu maliciosa. Todos ali na empresa a temiam. Duílio encolheu os ombros, enquanto ela falava inclinada na sua direção. Ele podia sentir o seu hálito no rosto:
— Precisamos que nos traga um fazendeiro muito ambicioso para conversarmos com ele, entendeu?
Duílio engoliu em seco e assentiu com a cabeça.
Fabian fez um gesto para que o rapaz sentasse à mesa.
— Duílio, preciso de uma esposa de fachada. Pensei numa moça simples, que não me criasse problema algum. Ela tem que ser muito humilde para que encha os olhos com a recompensa que lhe darei ao unir-se a mim. — quando terminou de falar, Fabian examinou a expressão assustada do rapaz e controlou a sua ansiedade, falando com voz mais branda:
— Sabe de um fazendeiro, lá das bandas de Minas Gerais, que possa nos ajudar? Ele também será bem recompensado.
— Sei, sim senhor. O coronel Ambrósio!— o rapaz respondeu prontamente.
Giovanna ergueu as sobrancelhas e sorriu.
Fabian inclinou-se para olhar nos olhos do rapaz e disse com voz controlada, parecia uma súplica:
— Pode trazê-lo aqui? Quero tratar com ele.
O rapaz assentiu com a cabeça e Fabian falou em tom de ordem:
— Amanhã! Quero-o aqui amanhã!
Duílio levantou-se assustado olhando para o chão.
— Sim senhor! Vou ligar para ele agora. Nesse minuto. — disse isso e saiu apressado.
Quando Duílio saiu da sala, Fabian encostou-se a sua cadeira sorrindo. Suspirava aliviado. Estava tudo arquitetado. Se casaria com uma moça qualquer, só para herdar a herança e nunca mais a veria depois do término do contrato.
— Mãe, mande preparar o contrato para esse tal coronel Ambrósio levar aos pais da moça, seja ela quem for. — disse animado.
— Imagine, em pleno século vinte e um, alguém ainda ser chamado de coronel porque é um fazendeiro abastado! Que tipo de homem é esse?— Giovanna analisava pensativa.
Fabian levantou-se falando:
— Pouco me importa mãe! Só quero resolver essa situação de uma vez.
Fabian saiu da sala de reunião acompanhado da mãe. Ele foi para a sua sala. Precisava voltar ao trabalho.
Chegando lá, sentou-se e pôs-se a reclamar da decoração:
— Mãe precisa mudar tudo nessa sala.
Era a antiga sala de Beatrice. A decoração era sóbria e conservadora. Fabian se sentia velho, sentado àquela mesa de madeira torneada.
— Vou trocar todos esses móveis, filho! — ela dizia tocando o tecido escuro e pesado da cortina atrás de Fabian.
— Quero tudo moderno, novo, de bom gosto! Tire todos esses objetos tristes de decoração! — Fabian falava se referindo às estatuetas, das quais Beatrice tinha tanto apreço.
Giovanna era uma espécie de secretária. Passava o dia quase todo auxiliando o filho. Quando não, circulava por todos os setores do prédio, dando palpite em tudo, o que deixava os funcionários contrariados.
Giovanna olhava em volta com expressão de desagrado, ao tocar nos objetos, antes intocáveis.
Ninguém se atrevia a dar qualquer palpite sobre decoração com Beatrice.