CAPÍTULO 5

Beatrice

— Antes de começar tenho que dizer apenas uma coisa — exigi e ele maneou a cabeça confirmando — na escola você nem ousa falar comigo.

— Nem o tencionava fazer — colocou as mãos no bolso relaxado.

— Vamos estudar no meu quarto — subi as escadas meio a contragosto.

Comecei a procurar dentre as minhas estantes os livros, e assim que os encontrei, coloquei na mesa e me sentei na cadeira, esperando o Sr. Esquisito, eu ainda vou ter uma conversa com o diretor.

— E então? Por onde começamos?

— Matemática — quando ele disse a matéria não pude deixar de fazer uma careta meio visível — vou te explicar e logo depois passo uns exercícios — disse ele e eu apenas assenti.

Como Parker tinha dito, ele me explicou e logo depois passou os tais exercícios, e assim que olhei para o caderno cheio de números e fórmulas fiz uma careta, ele era bom explicando, mas ainda sim, ele não podia me fazer amar matemática.

— Eu não entendo... E isso é chato, como aguenta estudar? — larguei o lápis que só de pensar um pouco minha mão já suava.

— Eu não estudo em casa — contou e eu arregalei os olhos — o quê?

— O que você toma pra entender esse monte de matéria? — questionei meio invejosa.

Tipo assim, eu queria tanto ouvir uma vez a matéria e ela já ficar na minha cabeça, mas parece que nem todos têm a mesma sorte, se isso acontecesse eu me sentiria a pessoa mais sortuda do mundo.

— Eu só presto atenção nas aulas, gosto de aprender — explicou e fiz uma cara desanimada.

— Está explicado... E se a gente tornasse os estudos mais interessantes — sugeri mais animada.

— O que sugere? — questionou arqueando uma de suas sobrancelhas.

Filho da mãe, mesmo arqueando a sobrancelha ele ficava incrivelmente sexy. Se controla garota, esse esquisitão é só um nerd qualquer que não vale nem a roupa que usei da coleção passada e eu não vou deixar meu ego pra trás.

— Que tal... se eu acertar faço uma pergunta e você tem que responder sinceramente e vice-versa.

— Passo — protestou e eu bufei.

— Eu sabia que ia amarelar, acho que não sabe se divertir, é um completo idiota — provoquei tentando causar algum efeito.

— E você é uma patricinha mimada que odeia levar um "não" então faz de tudo para ter um "sim" ... só faz os exercícios que eu já vou indo, ta na minha hora mesmo — Parker se levantou e saiu porta fora.

— É isso mesmo FOGE, COMO VOCÊ SEMPRE FAZ — olhei no relógio confirmando o horário — E AINDA FALTA VINTE MINUTOS PRA AULA ACABAR — elevei o meu tom de voz para que ele ouvisse apesar de achar que ele já estava longe demais.

É impossível conversar com esse ogro. Que ódio, com que direito ele tinha para estar me virando a cara e ainda apontar os meus defeitos, ainda que fossem defeitos verdadeiros. Eu sempre soube que era uma mimada, lembro de quando era criança, quando eu ia com o papai no shopping, eu sempre fazia birra pra que ele levasse o que eu quisesse, e no final, eu conseguia. Eu sei fazer o bom drama quando necessário, não é à toa que sempre saio ilesa na escola. Teve um dia que eu pichei o armário da minha irmã, eu fui pra sala da diretoria, contei uma história dramática ainda derramando algumas lágrimas falsas, fingi arrependimento e sai sem qualquer castigo, viu? Rainha dos dramas. Provoquei Parker porque só queria tornar isso mais interessante pra além de satisfazer minha curiosidade.

Suspirei frustada, essa foi a primeira vez que recebi um "não", quem ele era pra me negar alguma coisa? Acho que só um esquisitão... Eu poderia ficar aqui enumerando um monte dos seus defeitos, mas eu ainda tinha que estudar. Por mais que odiasse tudo isso, eu ainda precisava passar de ano. Em uma coisa aquele professorzinho de merda estava certo, eu não queria ficar pra trás, eu não daria essa brecha para Genevieve, por isso eu estudei até sentir meus dedos tremerem de tanto escrever, cansados de tanto fazer exercícios.

[...]

Levantei minha cabeça e logo vi o motivo do meu corpo dolorido, eu havia dormido sentada com a cabeça na mesa, peguei meu celular e logo vi que teria que me apressar se não quisesse perder o primeiro tempo. Tomei meu banho, vesti minha roupa e sai, é claro que eu não ia correr por causa da aula, eu não ia cheirar a suor até o final do dia por perder uma aula de merda, e também não ia estragar minha maquiagem.

Entrei na sala quando já faltava vinte minutos para o toque, a Senhora me olhou com aquela cara tipo: só agora?! Eu apenas ignorei e adentrei pela sala. Tom me sinalizou para que eu me sentasse ao seu lado, mas hoje eu não estava com paciência para mais uma briga, então fui para o lado de Brianna. A professora continuou com sua aula chata e por incrível que pareça estava gostando da matéria, ontem havia estudado sobre isso então até que eu estava aprendendo.

Uau, Beatrice Connor estava aprendendo em uma sala de aula!

— O que aconteceu ontem, num momento estava na pista dançando loucamente e no outro tinha sumido? — questionou Brianna e eu sorri amarelo.

Pensei que talvez Brianna soubesse quem me tirou da festa, mas se nem ela sabia, então eu bem podia esquecer que alguém soubesse, ela geralmente não bebe pra ficar falando com os que bebem, assim tentar encontrar algum furo.

— Onde está Chloe? — mudei de assunto.

— De ressaca — rimos, já não era a primeira vez que Chloe faltava por estar de ressaca.

— Senhorita Connor, poderia vir até o quadro e resolver essa equação? — perguntou direcionando seus olhos para mim já com um sorriso certeiro.

Normalmente, eu preferia mil vezes ir à sala do diretor do que ir ao quadro, mas aquela equação era tão parecida das que fiz ontem que decidi me arriscar. Eu me levantei e pude ver algumas das pessoas arregalarem os olhos de tão surpresas. Peguei o giz que estava na mão da professora e comecei a resolver o problema, o que me surpreendia era que, antes me parecia um bicho de sete cabeças, mas agora me parecia tão simples como combinar roupas. Quando entreguei o giz novamente à Senhora Nelson, ela avaliou a minha resposta meio encabulada.

— Eu errei no resultado? — perguntei meio convencida.

— Não — saiu mais como um sussurro — pode se sentar — retomou a sua postura.

O fato da Senhora Nelson estar constantemente tentando me ferrar já estava começando a me irritar, ela tenta, mas só tenta, ela nunca consegue, mas seu jeito de tentar me constranger em frente a turma toda não estava me dando outra escolha.

— Senhora Nelson? — olhei por cima do ombro — sua maquiagem hoje está excecional — a mesma sorriu — compensa o aplique de quinta.

Todos riram da sua cara e apenas sorri de lado por ter mexido no seu ponto fraco, eu sabia que a professora só queria me humilhar em frente à turma, ela me odiava, mas vamos ser sinceros, ninguém ofusca o meu brilho. Eu me sentei orgulhosa de mim mesma, foi aí que pensei. Será que é assim que os nerds se sentem quando faz uma equação certa? Ok, por mais que eu odiasse aquilo, aquela equação certa havia ganhado o meu dia.

O toque soou e antes mesmo de passar pela porta ouvi a voz da professora. Caminhei até á mesma sem me abalar. De fato, Senhorita Nelson era bonita, ela sempre vinha maquiada e sempre usava roupas de estilistas famosos o que me fazia questionar o quanto ela era rica, mas ainda sim seu jeito de nariz empinado me obrigava a coloca-la no seu lugar.

— Vou comunicar ao Diretor Miles seu atraso de hoje e ele lhe dará sua punição.

— Tenho a certeza que se diretor souber o que andou aprontando vai esquecer da minha punição — joguei meu cabelo pra trás com confiança.

— Do que está falando? — arqueou a sobrancelha fingindo desentendimento.

— Do dia que entrou no armário do zelador e coincidentemente um dos estudantes atletas entrou minutos depois, o que acha que vai te acontecer se eu contar? — levantei a cabeça de um modo pensativo.

— Acha mesmo que o Diretor Miles vai acreditar numa pirralha metida a besta?!

— Não que eu duvide do meu poder de manipulação, mas acho que uma gravação basta e você é expulsa, pra além do seu maridinho ficar sabendo, aí eu quero ver quem vai sustentar suas roupas de marca — esbocei um sorriso zombeteiro e ela vacilou mostrando seu descontentamento — te vejo na próxima aula Senhora Nelson.

Estava pronta pra sair quando a mesma agarrou meu braço fincando suas unhas postiças, quase fiz uma careta de dor mas me contive.

— Você não me provoca garota, você não me conhece — rosnou mais próxima como se fosse um segredo.

— Então estou ansiosa prestes a conhece-la — sussurrei debochada.

Ela soltou meu braço e eu sai andando como uma vencedora me sentindo no auge, o blefe numa partida de pôquer é tudo, foi a única coisa que aprendi do meu avô de bom e hoje agradeço seu ensinamento a qual foi muito prestativo. Meu avô já dizia:

"No pôquer você precisa aprender a blefar, do contrário vai ter sempre que contar com a sorte, e uma Connor tem que saber jogar com o que tem, e se não tiver nada, blefe, se souber jogar pôquer assim, vai saber como usar essas habilidades na vida real"

Peguei o primeiro corredor, precisava tirar uns livros da minha bolsa e depositar no meu armário.

— Trice? — chamou Tom — o que foi aquilo lá na sala?

— Aquilo fui eu resolvendo uma equação — continuei andando e ele me acompanhando.

— É que você odeia matemática e também odeia estudar, então pensei que...

— Está me chamando de burra? — parei na sua frente.

— Trice, vamos combinar né?! Você não é uma garota que leva propriamente os estudos a sério — respondeu colocando as mãos nos bolsos e um sorriso no rosto.

— Então você está me chamando de burra — conclui erguendo a sobrancelha.

— Não, eu estou dizendo que você prefere lidar com os problemas usando seu lindo rosto.

Então pra todos eu não era nada mais que uma cara linda? Eu não passava de uma piada? Quero dizer, pra falar a verdade, eu nunca me importei com isso, mas eu já estava me sentindo tão feliz com aquela equação.

— Qual é Trice? Pensei que odiasse nerds!!—falou ele com uma cara mais séria.

— Talvez eu só os odeie porque eles tem cérebro e eu não — resmunguei mais pra mim do que pra ele.

— Vai me dizer que prefere agora ser uma nerd? — disse incrédulo — qual é Trice você ganha mais sendo quem você é — ele acariciou a minha bochecha.

Esse é o problema, quem eu sou? Não é possível que eu seja só uma vilã de uma história, alguém como eu não poderia ter um final feliz?! Tudo bem que sou impulsiva e uso a manipulação pra trapacear, mas não existe regras de como chegar ao final feliz. Naquele momento tive tanta raiva. O toque soou e eu continuei meu caminho sem me importar com Tom que me olhava ainda sem entender pelo meu surto repentino. Mas qual é?... ele estava me chamando de burra, bom... talvez eu fosse mesmo, mas eu deveria me orgulhar?

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