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PRÓLOGO

Oklahoma - Texas.

━ • ✿ • ━ Nicoly ━ • ✿ • ━

Nunca gostei de ficar presa em casa, papai sempre me brigava por me pegar na rua quando chegava do trabalho. Mesmo minha irmã me dizendo que isso iria acontecer, eu precisava sentir o sol, o ar fresco, ver as coisas mudando.

Tenho cabelos castanhos e olhos azuis piscina, mas minha irmã diz que são semelhantes aos dos lobos, a menina dos olhos de lobo, como ela me chama, se bem que agora sou uma mulher feita. Modéstia parte meu corpo é excepcional, curvas delineadas, corpo magro e um pouco malhada, sempre gostei de me exercitar, fazer trilha, acampar, tudo para me deixar livre.

Meu pai Ehrich Leicam sempre foi o contrário de mim, o carrancudo caseiro, aquele que reúne a família todo domingo só para ter o prazer de os ver mesmo os vendo todos os dias. Não que eu não goste da minha família, eu só queria ser livre, sair por aí, conhecer as coisas, viver! Porque a vida é vivida apenas uma vez, sempre pensei assim e meu pensamento se tornou mais firme após o incidente.

Minha mãe Aisha Leicam descobriu um câncer no cérebro tarde demais, o estágio já estava tão avançado que nem a quimioterapia dava jeito. Só havia mais seis meses de vida, os seis meses mais tortuosos que já tive, até a sua morte, a partir daí descobri que poderiam ser piores.

Ela era a mais bela e gentil mulher que uma pessoa pode conhecer, meu pai se apaixonou no mesmo instante em que pôs os olhos nela, porém a vida quis nos tirar dela, Deus recolheu um de seus anjos de volta. Nossa vida era aquela perfeita como nos comerciais de margarina, até tudo desabar, minha irmã se manteve firme, meu pai se isolou na sua bolha de tristeza e eu, eu não não consegui viver lá onde tudo o que eu via era minha mãe.

Meu pai não aceitou muito bem minha decisão, ele disse que eu estava dando as costas para meu sangue no momento em que mais eles precisavam de mim, que devíamos estar unidos, que era isso que a mãe queria. A sorte era que eu não precisava mais da sua permissão, já me sustentava, estava planejando morar sozinha antes de a mamãe descobrir o câncer, mandava em mim mesma, ele ficou inconformado.

— Se sair por essa porta pode esquecer de que eu sou seu pai. — foram duras palavras em um momento em que estávamos fragilizados. Eu o entendo que ele não concordava comigo pelo seu modo arcaico de viver. Só não acho justo ele querer que eu viva como ele, sempre chorando a cada canto da casa com a linda recordação da mamãe.

— Sinto muito pai, eu te amo. — minhas últimas palavras antes de sair com minha mochila nas costas e montar minha Harley CVO - Limited.

Consegui essa belezinha em uma liquidação da polícia. Eles estavam se livrando de vários veículos defeituosos apreendidos em acidentes, uma delas era minha bebê Dyna, não pensei duas vezes e a comprei. Ela estava com a frontal detonada, nada que um bom tempo cuidando dela para a deixar perfeita, e foi o que fiz.

Até que foi bom porque pude ocupar minha mente e não ficar deprimida pela perda da minha mãe, ela dizia que eu era uma menina com alma de menino. Não que eu goste de mulher, nada contra também, só que meus gostos se assemelham aos dos meninos, moto maneira, cor favorita cinza, igual a cor da minha bebê, mochileira, deixando a vida me levar. Fiquei dia e noite trabalhando nela até que ficou nova em folha, sempre amei motos, mas essa é a moto, o único bem material que tenho alta estima.

Minha irmã Liv Leicam Cavalier, que é uma versão de mim um pouco mais velha, temos três anos de diferença, ela tem cabelos castanhos e olhos azuis como eu, ela já era casada quando tudo ocorreu, o Jimmy Cavalier sempre foi um bom homem e eles tem um filho chamado Tyler de 5 anos, meu menino lindo, o garoto tem olhos azuis também, mas herdou os cabelos loiros do pai. Foi doloroso deixar ele para trás, eles, porém eu precisava disso, a dor precisava ser ofuscada pelas novidades, não sabia por quanto tempo, eu só sabia que precisava ir.

Três anos depois eu ainda estou livre, sem amarras, sem destino, sem lar, e me sinto bem assim, era o que eu sempre quis, conheço alguns caras por aí, tiro o atraso e sigo a estrada. Nada melhor do que algo casual, nesse momento estou no Texas, na verdade deixando o Texas, dois dias aqui já é o suficiente, há muitos lugares para eu explorar mais gatos sem camisa para verificar a qualidade.

Paro no posto para abastecer antes de seguir viagem porque o próximo posto fica a horas de distância deste, não posso deixar minha bebê Dyna morrer de sede. Assim que encho o tanque e pago pela gasolina, ouço meu celular tocar uma das músicas do meu cantor favorito, Zayn - Rainberry, adoro essa música, as únicas pessoas que tem meu número são a Liv e o Jimmy para emergência.

— Hey! — a saúdo com animação.

— Graças a Deus, por que não atendeu? — sua voz soa preocupada e eu mesma fico preocupada.

— Estava fora do ar, a noite foi... Longa. — falo evasiva, não preciso dizer à minha irmã que passei a noite com um loiro texano.

— Pensei que tinha acontecido algo. — ela suspirou alto aliviada.

— Vocês estão bem? Aconteceu alguma coisa por aí? — questiono entrando na loja de conveniência do posto, preciso de suprimentos.

— Sim, estamos bem, não ligo apenas para dizer se algo ruim acontece aqui, Nic. Me importo com você, nós nos importamos, o Ty sente sua falta. — ela fala emotiva, sempre é assim a cada ligação.

— Eu também sinto falta dele, de vocês. — tento não falar muito para não ficar emotiva, odeio as emoções. Elas me deixam confusa e uma manteiga.

— Então volta para casa, sabe que pode voltar. Já foram três anos Nic, eu nem sei mais como está sua aparência. — ela resmunga.

— Eu mando fotos para você toda semana, Liv. — reviro os olhos com seu drama enquanto pego alguns crab cakes, nachos e cookies de chocolate para a viagem.

— Não é a mesma coisa. — posso até ver ela fazendo bico ao protestar.

— Preciso ir agora Liv, tenho que seguir estrada. — pego duas sodas de limão e uma água mineral.

— O pai perguntou por você. — congelo onde estou ao ouvir isso, ele nunca pergunta por mim. Pelo menos a Liv não diz que sim ou que não.

— Perguntou? — engulo o nó na minha garganta. As palavras dele giram em minha mente sempre que lembro do dia em que saí de casa.

— Ele perguntou se você estava bem. — ela fala suave e posso dizer que soa feliz. — Foi só isso mas... Ele perguntou Nic, ele não falou sério aquela vez, você sabe. Ele só estava triste por ter perdido a mãe e você indo embora, eu já estava com o Jimmy. Ele ia ficar sozinho e seu lado carrancudo falou naquela hora, ele só é um velho que perdeu um pedaço da sua alma e não quer perder o que lhe restou. — suas palavras são como punhais em meu coração.

— Não posso recuar Liv, estou vivendo o que sempre sonhei, diga a ele que mandei um beijo e um abraço. Aquele que eu lhe dava quando ele chegava do trabalho. — sinto uma lágrima rolar e a limpo rapidamente.

— Ele iria gostar que você desse pessoalmente. — ela fala com a voz embargada.

— Amo vocês. — falo não querendo prolongar esse assunto.

— Também te amamos, se cuida Nic. Nunca se esqueça que sempre tem para onde voltar quando as coisas estiverem ruins. — e assim finalizo a chamada.

Nossa mãe nos deixou heranças da parte da família dela, estamos financeiramente bem, cada um de nós obteve uma porcentagem, ela fez isso assim que soube da doença. Eu não quis, eu não queria isso porque era dela, queria dar a Liv, ou ao Ty, porém a Liv disse que se eu não aceitasse ao menos o dinheiro para me manter por aí ela iria conseguir um mandado de prisão para mim e eu jamais iria sair de perto dela.

A mulher é a melhor advogada da cidade de Washington - D.C, não posso combater com isso, então uso esse dinheiro enquanto viajo. Investi em ações ao portador e o dinheiro só cresce, posso dizer que sou uma boa empreendedora.

— São $20 dólares gata. — o caixa fala mascando um chiclete entreabrindo a boca.

Ele parece nojento na verdade, barba por fazer, sua camisa está toda manchada de suor, vejo uma barriga saliente, deve ser muita cerveja. Seus olhos negros me olham de um jeito que sinto vontade de vomitar, além do cabelo comprido estilo roqueiro. Ele é repulsivo, diferente do loiro com sotaque arrastado da noite passada.

— Aqui, fica com o troco. — lhe dou uma nota de $50 dólares só para não dizer que sou má. Ele não precisa disso por si só.

Paguei minhas compras no caixa e sai do local, arrumo minha mochila nas costas e sigo meu caminho. Vou apenas pilotar minha Dyna e ver a próxima cidade que ela me leva no percurso.

Porque é assim que eu vivo, uma surpresa a cada curva, a emoção do desconhecido e principalmente vivendo a vida intensamente. Minha mãe estaria orgulhosa de mim, ela sempre dizia “Você é dona de si querida, faça o que lhe faz feliz e não o que as pessoas esperam que faça, ninguém que te ama de verdade irá te amar menos se o fizer”. 

Thompson - Dakota do Norte.

━ • ✿ • ━ Damien ━ • ✿ • ━

Minha família é uma das famílias fundadoras da nossa comunidade, composta por mais quatro cidades pilares, porém muitos de nós estão espalhados pelo mundo, alguns humanos sabem da nossa existência, não são todos, apenas os abertos às possibilidades. Nossa cidade é a central das cinco, ela foi a primeira fundada pelos nossos ancestrais décadas atrás, nossos costumes foram se aperfeiçoando com o tempo.

A família Hancock é a regente dessa cidade mas há vários outros Pure Blood que tem seu valor dentre a sociedade, eles exercem cargos de suma importância no desenvolvimento do nosso povo. Eu sou a espécie de prefeito no mundo humano, aqui se chama regente, cuido de toda a cidade, já sendo preparado para ser o próximo ancião quando meu pai se aposentar.

Meu primogênito será consequentemente o próximo regente quando atingir a idade certa, se eu tiver uma mulher, não acho que conseguiria namorar com tudo o que faço. Na verdade eu mal tenho tempo para dormir, um cargo grande requer muita responsabilidade, tudo o que faço é meticulosamente analisado e se houver algum erro eu posso ser duramente chamado a atenção, é muito tenso.

Os anciões exercem, além de reger a nossa cidade pilar, eles regem as outras quatro, ambos entrando em consenso com o que é melhor para o povo, normalmente criam leis e regras adequadas dependendo do que ocorre com a comunidade a cada século. Esse será meu dever um dia, então preciso estar apto quando me for dada essa honra, sempre fui o mais centrado dos irmão, não só por ser o primeiro, e sim por ter sido educado assim.

Enquanto meus irmãos se divertiam fazendo suas coisas, escolhendo seus hobbies, eu estava sendo treinado para ser o líder que Thompson precisa. Tenho mais quatro irmãos após a mim, o Deus Hancock, sim o nome dele é Deus, meu pai disse que a mãe teve uma gestação difícil e o Deus nasceu após muitas orações, foi um milagre, normalmente chamamos ele apenas de D, até ele mesmo prefere, só usa o nome quando quer se vangloriar, ele é o mais pegador de todos nós, sua lista é interminável.

O terceiro irmão é o Dimitri Hancock, ele é o mais brincalhão de nós, por ser o intermediário de todos ele sempre escapou das encrencas e adorava tirar sarro da nossa cara por isso, ele gosta de dar uma de espertinho. O quarto irmão é o Dominik Hancock ele é o mais calado, passa seus dias enfiado na biblioteca, lendo e relendo livros antigos, se quiser saber algo é só perguntar a ele, o Dimitri sempre bagunça com ele o chamando de nerd, o cara pode até ser nerd mas é um dos que mais ajuda na comunidade.

O quinto irmão é o Duran Hancock, o caçula da nossa mãe, ele é o mais protegido, além de ser o último de cinco irmão, não há muita responsabilidade para ele já que eu sou o regente, mamãe cerca ele como uma mamãe lobo cerca o seu bebê. Eu a entendo, ambos somos crescidos e somos independentes, o Duran é o mais novo e ela precisa de pelo menos um para paparicar, mamãe sempre foi uma boa mãe, aquelas que fazem de tudo pelos filhos.

Dara Hancock conquistou meu pai não só pela beleza externa com seus olhos cor de mel, cabelos castanhos e pele clara, mas também por sua simpatia e bondade com o próximo, ele precisava de uma mulher bondosa e querida para ficar ao seu lado como Royals, ela se encaixou perfeitamente. Derick Hancock já é bem imponente, cabelos negros e olhos azuis, sua presença causa impacto onde chega por seus ombros largos e grandes músculos que todos os filhos herdaram, minha mãe os adora, ele tem uma fachada de rígido, porém sempre foi muito amoroso conosco e principalmente com a mamãe.

Atualmente estamos passando por um tempo de crise, vários Unclean estão desaparecendo em torno da cidade, isso não é bom porque o caos está se instaurando, se eu não achar os culpados disso vou ter muitos problemas. Desconfio dos Beast, entretanto eles não são os mais inteligentes, até um Unclean poderia fugir facilmente de um Beast ou até o matar, entretanto está sumindo um número alarmante de Unclean, isso não é normal.

— Dame? — ouço a voz do meu melhor amigo Coy Brown, um Pure Blood, mais conhecido como meu assessor pessoal. O Coy e eu fomos criados juntos, assim como eu fui treinado para reger o Coy foi treinado para me assessorar, criamos um vínculo de irmãos.

O Coy tem cabelos negros e olhos verdes como os da sua mãe Meredith Brown, sempre treinamos nosso físico então ele não fica para trás no quesito músculos. Porém o Coy é um molenga, ele é sempre amigável com todos, a cara séria que eu carrego se suaviza ao lado do seu semblante acolhedor, funcionamos bem juntos.

— Coy! Entra. — falo organizando alguns papéis que estava analisando sobre as novas estruturas que estou planejando construir na cidade e os futuros trabalhos para os Unclean. Está havendo muito desemprego e é preciso resolver isso.

— Ainda vendo os papéis das construções? — ele entra e se senta na poltrona à frente da minha mesa. Ele já está familiarizado, então não temos essas frescuras de etiqueta para pedir permissão para sentar ou não.

— Já ia dar uma pausa. — suspiro passando a mão direita no rosto. — O projeto está excelente, só preciso levantar os custos, a mão de obra, essas coisas. — lhe explico. — Algum problema? — levanto da minha poltrona e me dirijo a adega de bebidas. — Quer uma dose?

— Não, estou guardando meu fígado para a noite. — ele sorri.

— Claro, a comemoração do Dia do Fundador. — sirvo um Bourbon duplo sem gelo e dou uma só golada.

Nosso feriado mais importante será esta noite, o dia em que a cidade foi fundada, em 26 de setembro, 500 anos A.C., o Dimi e o Ryan Gillian, Pure Blood, cuidam das organizações dos eventos e festas anuais, como a dessa noite. O Ryan é o melhor amigo do Dimi, ele é um moreno bem bronzeado de cabelos negros e olhos verdes, em se tratando de organizar as festividades da cidade eles são os melhores e mais requisitados, o Dimi é especialista nisso, ele é o mais festeiro.

— Exato, vou comer e beber muito para ver se consigo esquecer um pouco dos problemas que temos que resolver quando a festa acabar. — ele perde o sorriso e percebo que o assunto é mais sério do que eu pensava.

— Dispare de uma vez homem. — bebo outra vez para o impacto que virá a seguir.

— Sumiram mais Unclean. — o ouço suspirar e abrir sua pasta amarela. Ele tira alguns papéis com informações e fotos dos desaparecidos.

— Merda! Quantos dessa vez? — rosno voltando a me sentar e pego os papéis com o conteúdo que foi relatado pelo depoimento recolhido da polícia.

— Um casal dessa vez, estavam vindo pela estrada, a mãe da mulher disse que eles estavam viajando há uma semana e voltariam hoje. As câmeras captaram eles passando pela entrada da cidade, a partir daí eles sumiram. Como eles não são pessoas de fazer isso, de acordo com a testemunha. — vejo as fotos da mulher e do homem, parecem jovens mas não do jeito que iriam fugir.

Até porque já estavam voltando de uma viagem, ninguém era contra o relacionamento, não há motivos para sumirem. Ela tem cabelos loiros e olhos castanhos, ele já tem cabelos castanhos e olhos negros, um belo casal, parecem felizes.

— Não estou gostando disso. — travo o maxilar irritado enquanto vejo os relatos coletados pela polícia, ninguém os viu, nem uma só pessoa os viu. Se não fossem as câmeras que temos nas extremidades da cidade para nos prevenir contra os Beast jamais iríamos saber que eles retornaram.

— Nem eu irmão, não há motivo algum para eles sumirem. Um casal feliz voltando de uma viagem. Com esses dois já aumentam os números para sete desaparecidos, só nessas duas semanas. — o bom do meu assessor ser meu melhor amigo é que podemos falar como quisermos.

— Inacreditável! Odeio não conseguir saber o que está havendo na minha cidade, sete! — bato na mesa irritado. — Droga de sete Unclean, isso é um absurdo. — passo a mão no meu cabelo curto em frustração. — Diga pelo menos que pode ser os Beast. — o olho na expectativa.

— Nada confirmado, eles não são cuidadosos, sabemos disso. — ele fala e tem razão, não há rastros, os Beast iriam deixar um rastro colossal de sangue fora a destruição ao redor, barulhos, bagunça total.

— Nossas únicas ameaças são os Beast, se não são eles, quem são? — rosno frustrado vendo o Coy guardar os papéis de volta na pasta.

— Eu gostaria muito de saber, não gosto tanto quanto você de ver nosso povo sumir, Unclean ou não, somos todos importantes, quem garante que não seremos os próximos? — ele fala um bom ponto.

— Já sabe, esse assunto ainda precisa ficar oculto, se todos souberem que estão desaparecendo Unclean assim vai ser um caos. Temos que resolver isso antes que se agrave. — termino minha bebida e taco o copo na parede. — Ninguém vem à minha cidade, pega meu povo e sai impune disso.

— Fala irmão. — meu irmão Dimitri entra no meu escritório mais uma vez sem bater.

— Me dê um motivo para não chutar essa sua bunda intrometida daqui agora! — o encaro ainda irritado.

— Credo irmão! — ele levanta as mãos me olhando como se tivesse nascido um olho a mais no meu rosto. — Só vim avisar que o pai e a mãe já foram para a praça onde está sendo celebrado nosso Dia do Fundador. Eles mandaram eu vir te avisar para você não esquecer do discurso.

— Merda, o discurso! — rosno ainda mais irritado. Eu não não fiz nada ocupado com os papéis.

— Eu fiz para você. — o Coy mostra o papel com o discurso pronto.

— Se você fosse uma mulher eu te beijava cara. — falo mais aliviado.

— Eu sabia que vocês se pegavam, vivem muito tempo aqui dentro para ser só trabalho. — o Dimitri começa a gargalhar.

— Idiota! — pego uma bola de borracha que tenho na mesa, a uso para apertar quando a raiva aumenta a ponto de me fazer descontar nos outros. Ela não é letal mas não é tão confortável sendo lançada com bastante força.

— Aí! — ele resmunga quando a bola acerta sua cabeça. — Isso foi cruel, prometo guardar segredo do amor de vocês, não precisa me espancar. — o bastardo está pedindo para apanhar.

— Se não sair daqui em dez segundos eu vou bater a merda fora de você agora mesmo! — o encaro desafiador.

— Diacho! Ele não te agradou muito hoje, foi? — ele resmunga me vendo dar um passo em sua direção.

— Cinco... — falo a contagem em voz alta andando mais até ele.

— Certo, tô saindo! — ele sai correndo pela porta e o Coy começa a gargalhar.

— Ninguém consegue se manter firme quando você faz essa cara. — ele ri mais alto.

— Que cara? — ergo uma sobrancelha questionando.

— Ou foge ou arranco suas vísceras com meus dentes.

— Eu não faço uma cara assim. — nego freneticamente enquanto caminho para sair do escritório.

— Oh você faz irmão, é absurdamente assustador. Não quero ter essa expressão direcionada a mim nunca. — ele fala humorado saindo comigo.

— Anos de prática. — rio fraco indo na brincadeira. Não sou muito de rir então aproveito cada momento que posso.

— Aqui seu discurso. — pego o papel e o guardo no bolso.

— Valeu. — aceno com a cabeça em agradecimento.

— Nos vemos na praça, e vê se vai preparado para encher a cara porque não importa o que diga você vai amanhecer com os caras.

— Coy eu... — ele me interrompeu erguendo uma sobrancelha.

— Leve sua carcaça para aquela festança e esteja preparado para beber todas, ter algumas garotas e amanhã resolvemos esse assunto. Você já perdeu muito cara, se dê uma pausa pelo menos hoje.

— Bastardo sujo. — rio dele e sigo para meu quarto.

— Eu falei sério! — ele grita enquanto subo as escadas. — Nem que eu te prenda na droga da cadeira e mande a Tiffany sentar no seu colo enquanto assistimos. — gargalho alto porque sei que o filho da mãe faria isso mesmo, esse merdinha sujo.

— Mal posso esperar. — entro em meu quarto e fecho a porta, entretanto sei que ele ouviu.

Então lá vamos nós para mais uma das muitas funções que tenho, preciso estar impecável para ser o regente que todos esperam. O regente que cuida do povo, e quando isso acabar irei atrás dos responsáveis que deram sumiço nos habitantes da minha cidade.

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