Capítulo 05

Passado Já se passaram três anos que fui tirada da minha casa e colocada em um orfanato. Três anos desde que eu vi o meu pai. Disseram-me que ele traficava armas para a América do Sul. Eu ainda não entendo nada, mas, novamente, eu sou apenas uma garota de oito anos de idade. Em custódia do estado de Illinois. Três anos e eu sinto falta do meu pai todos os dias. Ninguém vai me levar para vê-lo, pois ele está a mais de seis horas de distância, cumprindo a sua pena de nove anos em Menard Prison. 

Sento-me no meu quarto e espero minha assistente social, Barbara, me buscar para me levar para a minha nova casa. Três anos e eu estou deixando a minha quinta casa para ir à sexta. O primeiro lugar que eu fui era na mesma cidade de Northbrook, onde eu morava. Mas depois de ser pega saindo pela janela do meu quarto algumas vezes durante a noite, eles disseram que não me queriam, e então eu os deixei. A mesma coisa aconteceu em cada casa que eu morei. 

No começo eu ficava com medo. Chorava muito. Eu sentia falta do meu pai e gritava por ele, mas ele nunca vinha. Eu não entendia na época, mas agora entendo. Eu não vou conseguir vê-lo até que ele saia. Eu vou ter 14 anos de idade. Quatorze é o meu novo número da sorte. Eu conto tudo em grupos de catorze só para me lembrar de que virá o tempo em que possa vê-lo novamente e poderemos voltar a nossa vida juntos em nossa casa e vizinhança agradáveis. Eu sinto falta do seu sorriso e do jeito que ele cheirava. Eu não posso explicar isso, mas às vezes quando estava na pré-escola, eu posso lembrar vagamente, de levantar a camisa para inalar o cheiro dele quando estava sentindo sua falta. O cheiro do meu pai. 

Conforto. 

Casa. 

Quando ouço a campainha tocar, eu sei que é a hora. Eu já passei por várias trocas de casa antes. Você pensaria que eu estaria com medo, mas estou acostumada com isso agora. Então pego minhas malas e vou para a porta da frente. Barbara está lá falando com Molly, a mãe adotiva que não quer mais lidar comigo. Ambas se viram quando me aproximo e falam um oi. 

— Você está pronta, Elizabeth? — Barbara pergunta. 

Balançando a cabeça, eu passo por Molly quando ela coloca a mão no meu ombro, dizendo: — Espere. 

Ela se ajoelha para me dar um abraço, mas eu não o devolvo. Estou triste, mas eu não choro; só a deixo, então quando ela me libera para ir, é isso o que eu faço. 

Eu me sento no banco do passageiro, observando os edifícios passarem enquanto Barbara dirige, ela se vira para mim, abaixa o rádio e diz: — Fale comigo, criança. 

Eu odeio quando ela me chama de criança, como se eu não fosse especial o suficiente para ela usar o meu nome. Ela só o usa quando há outras pessoas ao redor, mas sozinha, eu sou criança. 

— O que você quer falar? — pergunto. 

— Eu encontrei cinco boas casas para você, e você conseguiu ser chutada para fora de cada uma delas. Você me mantém ocupada, sabe disso? Eu não tenho certeza se ela realmente quer uma resposta, então fico quieta antes dela acrescentar: — Você não pode continuar esgueirando à noite. 

O que diabos você está fazendo nas ruas no meio da noite, afinal? — Nada. — murmuro só para dizer algo para apaziguá-la. A verdade é que eu comecei a esgueirar-me para ver se eu poderia encontrar Carnegie. Soa estúpido agora, mas quando eu tinha cinco anos, eu pensei que ele estaria lá, esperando por mim para encontrá-lo. Assim, fugia e andava por aí, na esperança de topar com a floresta mágica. Isso nunca aconteceu, e agora eu sou velha o suficiente para saber que contos de fadas não são reais, mas eu ainda esgueiro-me e olho para a floresta de qualquer maneira. 

— Bem, ouça, eu não consegui encontrar uma casa para colocá-la por aqui, então você irá para uma cidade diferente. Você não vai me ver mais, uma vez que eu não moro lá. Ainda vou lidar com seu caso, mas Lucia será o seu contato. Ela deve fazer uma visita para você no final dessa semana. Mas um conselho, se não parar de causar problemas a sua próxima parada será a casa do grupo. — Então eu não vou te ver de novo? 

Ela olha para mim, dizendo: — Provavelmente não, criança. 

Nós ficamos no carro por quase duas horas quando finalmente saímos da rodovia. 

— Bem-vinda à Posen. — diz Barbara, não mais de alguns de minutos depois, ela entra para um bairro degradado. 

Cercas de arame correm ao lado das calçadas rachadas. As casas são antigas e pequenas, ao contrário da grande casa de tijolos que morava com meu pai. A maioria dessas casas tem carros estacionados em seus gramados descuidados, pintura lascada, e tudo que vejo me deixa em uma poça de lágrimas. Meu estômago torce, e dirijo-me a Barbara, dizendo: — Eu acho que não quero viver aqui, Barb. 

— Deveria ter pensado nisso quando eu lhe disse para parar de esgueirar-se à noite. 

— Eu prometo. Eu não vou fazer isso de novo. Eu vou pedir desculpas à Molly. — eu imploro, e quando ela estaciona em uma casa velha, suja, de dois andares, que parece que mal está em pé, eu começo a chorar. — Por Favor. Eu não quero viver aqui. Eu quero ir para casa. Ela vira o carro e olha para mim. Eu sinto que faria qualquer coisa para convencê-la a virar o carro e me levar de volta para Northbrook. 

— Estou em um dilema. Você tem oito anos com uma história de origem instável. Agora, essa família tem adotado por anos. Eles estão atualmente adotando um menino um pouco mais velho do que você. — ela me diz. — Eu conversei com eles apenas no outro dia. Você vai ter o seu próprio quarto e vai para a mesma escola que o outro garoto adotivo deles. Eu mantenho minha boca fechada e ouço. Eu não quero ficar aqui. Eu quero correr, apenas abrir a porta do carro e correr o mais rápido que eu puder. 

Gostaria de saber se ela conseguiria me pegar. 

— Você está ouvindo? — ela pergunta e reorienta a minha atenção de volta para ela. 

Eu aceno com a cabeça. 

— Venha. Eu tenho uma longa viagem de volta. — ela fala, enquanto sai do carro e abre a porta de trás para pegar minhas malas. 

Com a mão trêmula, abro a porta e a sigo ao longo da calçada que resiste aos degraus que levam até a porta da frente. A porta de tela enferrujada guincha mais alto conforme abre e b**e algumas vezes. Eu fico lá, mexendo nas minhas unhas, rezando a Deus para que ninguém abra a porta. Que tudo isso seja um grande erro e estejamos na casa errada.

Mas não é um erro, e alguém atende a porta. Uma mulher, vestida com uma saia jeans longa e um suéter roxo claro, abre a porta. Encaro-a quando Barbara começa a falar. A mulher não parece assustadora, mas ainda sinto-me com gazes. Ela olha para mim e me dá um sorriso suave. Seu rabo de cavalo maltrapilho está tentando domar os cabelos crespos longos e castanhos. 

Dando um passo ao lado, ela nos convida, e o lugar cheira a fumaça de cigarro. Enquanto ela nos leva através da pequena sala de estar e de volta para a cozinha, as duas continuam a falar conforme observo tudo. Paredes com painéis de madeira, tapete marrom, móveis incompatíveis, e patos em toda parte. Em todos os lugares. Patos em travesseiros, patos de madeira, patos de cerâmica, patos de vidro. Eles enchem as prateleiras de livros, cobrem as mesas, e quando eu olho para cima, eles estão até mesmo nos armários da cozinha. 

— Elizabeth. 

Leva-me um segundo para perceber que Barbara está dizendo meu nome, e quando olho, ela me dá um dos seus sorrisos falsos e diz: — Sra. Garrison diz que seu quarto é lá em cima. 

— Espero que você goste de roxo. — a mulher diz para mim quando eu olho para seu top roxo e depois de volta até seu rosto, e ela diz: — Você é a primeira garota que temos, então eu perdi um pouco o controle. Barbara me dá um olhar irritado, balançando a cabeça para me incentivar a falar. 

— Sim. — eu finalmente digo. — Roxo está bom. 

Ela sorri e coloca a mão sobre a minha. Quero arrebatá-la, mas não faço isso. Eu não faço qualquer coisa que minha mente está gritando que eu deveria. Eu apenas concordo. 

— Bem, então, por que não a ajudo a subir com suas malas antes de eu ir? 

— Barbara fala. 

Nós três subimos as escadas, que rangem sob nossos pés, para o quarto roxo. As paredes combinam com a roupa da senhora Garrison, e eu vejo quando ela me mostra o armário e, em seguida, o banheiro Jack-e-Jill4 que une ao outro quarto. 

— Este parece ser um quarto grande, hein? — Barbara diz quando coloca minhas malas em cima da cama de solteiro roxa. 

 4 Banheiro com duas portas, normalmente acessível para dois quartos. 

— Mmm hmm. 

— Bem, eu tenho que voltar para a estrada. — ela me diz, e quando o faz, eu sinto as lágrimas atingirem meu rosto. 

De repente, eu nunca me senti mais sozinha. Vazia. 

— Não há necessidade de chorar. Você vai ficar bem. Eu sei que a mudança pode ser difícil, mas você vai ficar bem. Como eu disse, Lucia vai encontrá-la aqui em poucos dias, ok? — Ok. — é uma resposta automática, porque eu estou longe de estar concordando. 

Com um tapinha leve no meu ombro, Barbara me deixa para trás, em pé no quarto roxo com a Senhora pato. 

— Você gostaria que eu ajudasse a desembalar, querida? — ela pergunta. 

— Eu faço isso. 

— Está com fome? Eu poderia fazer-lhe um sanduíche. Eu olho para ela, através das lágrimas restantes nos meus olhos e aceno com a cabeça. 

— Ótimo. Nós normalmente sempre comemos na mesa da cozinha, mas trago para você, se você quiser. — Tudo bem. — eu digo e começo a desarrumar as minhas malas. 

— Elizabeth. — ela chama do corredor, em frente ao quarto. — Eu espero que você goste daqui. Carl, meu marido, trabalhou duro pintando este espaço para você. Ele saiu para fazer algumas coisas, mas deve estar em casa em breve. Quando eu não respondo, ela pede licença e desce, deixando-me sozinha para desfazer as malas. Ao lado da cama há uma pequena janela que tem vista para frente da casa. Todas as casas são iguais, exceto as várias cores da pintura. Tudo parece deteriorado aqui. 

Eu gasto o meu tempo arrumando as minhas roupas e, eventualmente como o sanduíche de manteiga de amendoim que Bobbi me trouxe. Ela me disse para chamá-la assim, em vez de Senhora Garrison. 

Além de uma pequena cômoda, escrivaninha, e quadro de avisos, o quarto é bastante nu. Quando entro no banheiro, o balcão da pia já está ocupado com coisas do outro menino. Eu me pergunto se ele é como eu, quantos anos ele tem, e se ele é legal. Eu sinto que preciso de um amigo mais do que nunca agora. Eu estou tão longe de casa e tão sozinha. 

Um estrondo forte do lado de fora chama a minha atenção, e eu corro para olhar pela janela. Uma caminhonete velha, cinza estaciona na entrada de automóveis. Eu vejo quando um cara gordo mais velho sai do banco do motorista e começa a caminhar na direção da casa. Em seguida, o rapaz sai, mas eu não posso ver como ele é sob seu boné de beisebol. 

Eu fico no meu quarto e os ouço caminhar, falar uns com os outros, e então eu ouço o ranger das escadas. Bobbi é a primeira que eu vejo, seguida por seu marido. 

— Elizabeth, como está indo a arrumação? — ela pergunta. 

— Bem. — eu digo, enquanto olho para o homem. Ele tem uma grande barriga, manchas em sua camisa e cabelo longo, embaraçado. 

— Isso é bom. Este é Carl, o meu marido. — ela apresenta. 

— Elizabeth, não é? — ele pergunta. 

Aceno com a cabeça. 

— Você se acomodou bem? 

Aceno com a cabeça. 

— Você não fala muito, não é? 

Sentindo como se precisasse dizer alguma coisa, eu murmuro. — Eu só estou cansada. 

— Bem, então vou deixá-la. — ele fala. — Fico feliz em ter você aqui. 

Bobbi sorri quando Carl sai e depois ela me pergunta como estou passando e se eu preciso de alguma coisa, minto e garanto-lhe que estou bem. 

Ela fecha a porta atrás dela e, assim que faz isso, eu vejo a luz do outro quarto pela fresta do banheiro. Eu observo, e quando vejo o menino com o boné de beisebol, ele se vira para olhar para mim. 

— Oi. — ele diz, de pé no seu lado do banheiro. 

— Oi. 

Tira o boné, atira-o na sua cama e corre a mão por seu cabelo suado, marrom escuro quase preto. Em seguida, ele percorre o banheiro e para no meu quarto, olhando ao redor. 

— Essa cor é revoltante. — ele fala, dando-me o meu primeiro sorriso verdadeiro em um longo tempo. 

— Eu menti. — digo a ele. — Eu disse a ela que gosto de roxo, mas não gosto. 

— Você está no sistema há muito tempo? 

— Três anos. 

— Nove para mim. Eu estou aqui apenas há algumas semanas. — Eles são bons? — pergunto. 

Ele senta na cama ao meu lado, e tem cheiro de fumaça de cigarro e sabão. — Bobbi não fica muito por aqui. Ela acabou de voltar da cidade de alguma feira de artesanato que ela fez. — Feira de artesanato? 

— Sim, ela faz estatuetas de patos de madeira e lixo para vender em feiras, mercados de pulga, e merdas, então ela sai muito. Carl trabalha na oficina mecânica na estrada abaixo. — ele faz uma pausa e, em seguida, acrescenta: — Ele bebe muito. Eu não digo nada, e nós nos sentamos em silêncio por um momento antes de ele perguntar: — Quantos anos você tem? 

— Oito. Você? — Onze. Quase doze. Nome? — Elizabeth. 

— Você está assustada, Elizabeth? 

Olhando para ele, eu puxo meus joelhos no meu peito, meus braços em volta deles, e aceno com a cabeça, sussurrando: — Sim. 

— Vai ficar tudo bem. Prometo. 

Eu vejo quando a sugestão de um sorriso cruza seu rosto e algo sobre ele me diz que posso acreditar nele. 

— Sou Pike, por sinal.

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