Capítulo 2

O primo da mocinha ficou muito aflito, procurou por ela, olhando para as águas, sem saber se pulava ou se esperava ela aparecer do fundo. Rapidamente Anri surgia com uma calda rósea enorme. Leno ficou admirado. Ela saltou do mar para terra firme com uma força incrível no salto que pousou em pé e sequinha do lado do primo.

—Uao! Que demais! Você é uma sereia?— Leno perguntou atônito.

—Sim! Eu sou uma sereia.— Anri confirmou.

—Como conseguiu?— Leno perguntou admirado.

—Eu nasci assim!― Anri disse sorrido.

—É mesmo!? Não fez nada para adquirir esta calda enorme?

— Não! Só sei que sou assim por causa da minha família!― Anri disse timidamente, balançando um dos pés.

—Ah! E eu também?— Leno perguntou receoso.

—Não! Seus pais são normais.

—Mas somos primos! —Leno disse desconfiado.

—Sim! Apenas meu pai é do mar. Minha mãe é da terra. Ela é sua tia. Ela é normal. Ou era...― Anri dizia, mas parou.

—Pensei que sereias fossem só mulheres. —Leno disse pensativo

—Oh não! —Anri disse rindo.—Eu vivo numa cidade repleta de pessoas meio peixe. São sereias e tritões!

—Ah! Legal!—Leno disse chocado com a revelação da prima.

—Vamos voltar para casa de vovó!—Anri sugeriu.

—Ei! Vamos nadar primeiro. —Leno pediu.

—Agora?—Anri estranhou.

—Sim! Quero ver você como sereia. —Leno disse com um risinho malicioso.

—Tá escurecendo, não vai me ver bem lá embaixo.

—Oh! Anri! Quero te tocar. — Leno confessou o desejo.

—Como é?

—Sentir suas escamas como tu vira peixe! Ver sua calda! —Leno disse rindo.

—Ah!? Enxerido! É isto?― Anri disse encabulada.

—Sim! Deve ser incrível a transformação de uma pele sensível ao monte de escama duras. Deve ser demais!—Leno disse imaginando.

—Não é somente nas pernas. —Anri acrescentou.

—Não?

—Meu corpo todo fica escamoso até o pescoço!

—Eh? Puxa vida! Nos filmes é somente até a cintura e as mulheres ficam seminuas da parte de cima.

—Mas as sereias de verdade não são assim.—Anri rebateu a ideia.

—E como é?

— A parte da calda você já sabe, mas a parte superior cria também escamas até no pescoço como se fosse uma gola muito alta. —Anri contou.

—Vixe! Então fica feio!— Leno deduziu, tentando imaginar.

—Não! Eu não me acho feia!  — Anri rebateu o pensamento.

—Desculpa! Eu quero ver! Mostra-me. — Leno insistiu.

—Ah teimoso! Tá escuro! Tô te avisando. — Anri disse.

—Só um pouquinho! Vai priminha! Um minutinho! —Leno pediu dengoso.

—Está bem! 5 minutos!― Anri concordou a contragosto.

—Oba!— Leno disse contente, batendo palmas.

—Então vamos! Pule comigo!— Anri chamou.

—Opa! Daqui?

—Sim! Não quer nadar com uma sereia.

—Eh! Quero! Mas... Olhe a altura!― Leno pediu, apontando para o precipício.

—Eu te protejo, primo!

—Certo!  Vou confiar!

Leno tirou o chinelo e a blusa, ficou apenas de calção. Anri que já estava com um vestido ensopado e colado no corpo, pulou do jeito que estava. E Leno foi atrás. Quando ele desceu, Anri o pegou e lhe deu beijo na boca.

—Ooooh! —Leno disse arregalando os olhos pela atitude inusitada da prima.

—Consegue respirar?— Anri perguntou.

—Sim! Legal! — Leno respondeu contente, por conseguir falar e respirar em baixo d´agua.

—É pra você falar comigo e respirar sem prender a respiração. —Anri disse e puxo ele para mais fundo do mar.

—Adorei este seu poder!― Leno disse contente.

Anri sorriu.

Eles nadaram muito, Anri mostrou bem sua calda, Leno não viu muita coisa, mas tocou o rabo para sentir as escamas. Ele achou incrível. E quis também ser um homem peixe para poder se aventurar no oceano com Anri.

Ao sair das águas, ao contato total com o ar, a calda de Anri voltava rapidamente a se tornar em pernas.

—Puxa! Basta você pular do mar para terra seca e prontamente fica normal.

—Normal?— Anri estranhou o termo.

—Sim! Normal, uma moça com pernas lisas sem escamas.— Leno explicou.

—Ah! Eu não sou normal com pernas, meu normal é com calda.—Anri rebateu a ideia do primo.

—Oh! É claro!― Leno disse, mas estava meio confuso.

—Estranhou? —Anri perguntou, reparando na cara dele.

—Sim! É sério!?

—Sim! Meu habitat natural é as águas, é o oceano. —Anri disse apontando para o mar, e sentido o vento bater em seu rosto.

—Então! Sempre tem que voltar para o mar? —Leno perguntou triste.

—Sim! Eu gosto da terra, entretanto meu lugar é na cidade de Concha com meu pai Oser e minha mãe Anele.

—Bem! Sua vida parece ser maravilhosa! Vivendo entre dois mundos!—Leno deduziu.

—Sim!  Eu amo nadar, amo minha cidade e também amo vim aqui! Está contigo e com vovó Évora! —Anri contou sorridente.

—Gostaria de saber onde vive, como é sua vida no mar! Como sua mãe se adaptou, neh? —Leno disse desejando.

—É legal! Eu moro numa cidade submersa no meio do oceano Atlântico. E minha mãe adora viver lá. Tenho 5 irmãos mais velhos, todos estão para casar.

—Puxa!? Verdade?

—Lá vivem muitos machos e fêmeas.—Anri contou.

—Massa! Quantos?

—Cerca de 2 mil!

—Só!― Leno disse reparando que não era uma grande cidade como as capitais do país, mas sim como um vilarejo do interior.

—Acha pouco? — Anri perguntou.

—Sim! Nossa cidade que é pequena tem mais de 100 mil habitantes.—Leno comparou.

—É porque houve uma guerra e muito morreram.—Anri revelou.

—Foi?

—Sim! Os caldas Roxas se desentenderam com os caldas Verdes.

—Calda?

—Sim! A família dos Caldas Vinho, Vermelha e Róseo mora na minha cidade, Concha; as famílias de Caldas Branca, Cinza, Bege vivem na cidade Pérola; as famílias Calda Roxa, Azul e Verde na cidade Onda; as famílias de Caldas Marrom, Laranja e Amarela na cidade Estrela. E tem outras cidades onde vivem outras caldas mais coloridas e mais afastada da minha cidade.― Anri contou.

—Eh? Que legal!

—O ruim é a rixa centenária entre as Caldas!― Anri lamentou.

—E tem isto? —Leno disse admirado.

—Tem! Os Roxos são odiados na minha cidade.

—Por que?― Leno perguntou interessado.

—Eu não sei bem o motivo! Mas tem a ver com uma fada-princesa de Calda Verde que foi raptada por um roxo e causou uma guerra devastadora na cidade de Concha.

—Mas pelo que percebi os Verde e Roxos são da cidade Onda!― Leno ressaltou.

—Pois é! Mas a briga das famílias foi parar na minha cidade, e não sei direito o motivo.

—Shi!

—Só sei que houve grande confusão na minha cidade, brigas, morte, e os roxos foram proibidos de entrar na cidade.

—Shi!

—Sim! Muito complicado! —Anri disse pensativa.

—Uao! Ei!  Eu posso ir lá um dia!?— Leno perguntou ansioso.

—Não, Leno! Você não respira debaixo das águas. Esqueceu?

—Mas você me deu um beijo para respirar.

—Infelizmente isto dura pouco! Apenas 10 minutos!—Anri contou.

—Que pena! Bem que pode ir me beijando até lá.— Leno sugeriu dando um risinho malicioso.

—Engraçadinho! Lá é bastante longe, teria que te dar muitos beijos. ― Anri disse exaltada.

—Oh! Seria ótimo!— Leno disse sorridente.

—Tá muito assanhado hoje! —Anri percebeu.

—Pelo menos quantos?

—Talvez uns cem! Pois eu passo mais de 8 horas para chegar à cidade de Concha!

—Puxa vida! Tudo isto!— Leno disse admirado, mas depois fez as contas direito. —Epa! Nos meus cálculos seriam 48 beijos apenas.

—Só! Eh? —Anri disse com os olhos serrados.

—Puxa! Eu aguento!

—Não, bonito! Não vou te beijar! Pode tirar seu cavalinho da chuva.—Anri disse séria.

—Oh! Anri! Só são 48 beijos!— Leno disse sorrindo.

Os primos foram para o meio da ilha, onde ficava a casinha de dona Évora Macedo, avó dos dois.

Leno, muito animado com o segredo da prima, correu para contar a sua avó a novidade mágica. O rapaz estava no ponto de explodir e contar para quem visse no caminho. Era muita emoção em saber que tinha uma parenta sereia.

—VOVÓ! ANRI É SEREIA! — Leno chegou gritando.

—Hum!? Que disse?

—Ela é uma sereia de verdade. Sereia! Olhe! — Leno pediu.

—Eu sei! —Évora revelou com certo desdém.

—Ah! Sabe? Desde quando?― Leno perguntou triste por não lhe trazer uma novidade bombástica.

—Sim! Faz tempo, meu netinho.

—E nunca me contou! —Leno disse triste.

—Oh! Meu netinho! Isto é segredo!

—Ah! Mas sou seu neto! Sou da família! A senhora deveria contar tudo a mim. —Leno reclamou.

—Querido! Tem coisa que devem ficar oculta.— Évora justificou.

—Não acho!

—Sim, deve sim! —Évora continuou.

—Pois me conte hoje tudo! —Leno pediu.

—Tudo?— Évora disse e riu.

—Sim! Quero saber tudo sobre a família de Anri.

Évora contou que sua filha se casou com um homem do mar. E ela foi para o mar profundo, lhe cobrando um alto preço, pois ela perdeu suas duas pernas grossas e bonitas, porquanto se transformou em uma calda rósea e escamosa.

—Como aconteceu isto, vovó? Como eles se conheceram?—Leno perguntou curioso.

—Minha filha Anele costumava pescar em alto mar sozinha com seu pai Gilmar. Um dia o barco teve problemas, e os dois afundaram no meio do mar. Oser, pai de Anri, nadava por lá e salvou os dois da morte.—Évora contou.

—Foi assim o encontro!?—Leno disse admirado.

—Sim! Oser salvou Anele e trouxe ambos para praia. Eu convidei para almoçar, e ele passou uns dias aqui. E neste pouco tempo os dois se apaixonaram fortemente. Quando Oser foi embora levou minha Anele com ele.

—Como tia Anele conseguiu entrar no mar sem respirar?—Leno perguntou duvidando.

—Não sei! Só sei que foi pro mar apenas de pijama!

—Pai Oser deve ter-lhe beijado até a cidade! —Anri deduziu.

—Ah! Claro! Como eu queria fazer isto contigo.— Leno disse sorridente para Anri.

—Que?— Évora perguntou desconfiada.

—Nada não, minha vozinha!—Leno disse encabulado.

—Bem! Anele fugiu com Oser na escuridão da noite e para minha tristeza, minha filha se foi para nunca mais voltar. Apenas Anri vem me visitar de vez enquanto.—Évora contou triste.

—Ah! Por que, Anri?—Leno perguntou curioso.—Porque tia Anele não nos visita?

—Por que mamãe tomou Henxi para viver na cidade da Concha.

—O que é isto?—Leno perguntou mais.

É uma gordura róseo de um peixe raro que somente o Grão-Sentinela sabe onde encontrar. Depois de pisá-lo, extrai-se um líquido azul, e isto fez mamãe ter calda róseo igual de papai. —Anri contou.

—E você toma isto?— Leno perguntou.

—Não!

—Ah! E como faz para aparecer sua calda?—Leno perguntou.

—Ela aparece quando entro na água. É natural! Sou meio peixe. Esqueceu?

—Uh! Não existe outro motivo? —Leno perguntou duvidando.

—Que eu saiba não! Só sei que eu puxei papai. Já mamãe não tem calda. Mamãe teve que escolher pernas ou calda. Ela não pode mudar como eu.

—Ou seja, ou ficar com Oser ou ficar na terra firme comigo. —Évora contou lamentando a escolha da filha.

—Que triste, vó! Ela escolheu o tal Oser, o homem-peixe. —Leno disse.

—Sim! Mamãe escolheu meu papai.—Anri contou.

—Shi! E agora nem pode ver a vovó.— Leno deduziu.

—É isso! Por isso venho e dou notícia para vovó sobre ela, e faço o mesmo para mamãe.

—Uh! Sinto tanta saudade!—Évora disse triste.

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