A VIAGEM TRANSCORRIA sem maiores problemas, a não ser por uma visão um tanto quanto diferente.
Raoni estava olhando a água, debruçado no parapeito deslumbrado com a inusitada viagem, quando viu uma sereia, e ouviu uma voz doce penetrar–lhe a cabeça:
Venha grande guerreiro, seu lugar é ao meu lado...
Era simplesmente a mulher mais bela que ele já tinha visto, cabelos ruivos brilhantes, seios enormes à mostra, olhos verdes e uma voz que encantaria o mais tolo dos homens, quiçá um garoto de quinze anos.
Por um instante ele percebeu que iria cair, quando um homem o segurou e disse sorridente:
— Cuidado, filho, nem sempre estarei aqui para e segurar.
Raoni ficou atônito, de repente voltou à realidade, ele sentia que já o tinha visto em algum lugar, e sua voz era inconfundível, mas antes de pensar sobre o assunto, sua mãe chegou correndo e o abraçou.
— Filho, o que deu na sua cabeça?
— Eu...
— Nunca mais faça isso, está entendendo?
Raoni tentou olhar para agradecer ao homem que o salvou, mas ele tinha desaparecido.
— Cadê ele?
— Ele quem?
— O homem que me salvou, ele me puxou para não cair.
— Não tinha ninguém aqui, Raoni, o vi se desequilibrando, mas conseguiu voltar para o barco sozinho, foi tudo o que aconteceu.
Mas ele sabia que não tinha sido isso o que tinha acontecido...
Ele olhou novamente para o rio, mas já não tinha mais ninguém ali, mas alguma coisa dizia em seu coração que aquela não seria a última vez que veria aquela mulher.
— Mãe... tudo bem não falar sobre o meu pai, mas... porque então você foi expulsa da aldeia?
Tainá pensou por alguns instantes.
— Porque acharam que eu tinha engravidado do Boto.
Raoni fez cara de quem não tinha entendido absolutamente nada.
— Existe uma lenda que o boto sai durante as noites e engravida as mulheres, como eu era uma mulher solteira e fiquei grávida, disseram que eu caí nos encantos do boto, trazendo desonra para a nossa família.
— E eu não sou filho do Boto, certo?
— Claro que não, seu bobinho... Você teria que ter um nariz enorme se fosse filho dele.