Capítulo 93Augusto sentou-se à mesa da sala com o envelope nas mãos. A casa estava em silêncio, exceto pelos passos apressados de Júnior ao telefone com o médico e o som distante dos primeiros animais despertando na fazenda.As mãos trêmulas abriram o envelope com cuidado. O papel estava dobrado em quatro partes e carregava o cheiro antigo de um perfume doce, inconfundivelmente feminino.Ele desdobrou a folha com lentidão, como se cada movimento pesasse uma tonelada."Querido Augusto," começava a letra delicada e arredondada de Estela."Se você está lendo isso, é porque a verdade finalmente veio à tona, e talvez, de alguma forma, eu ainda possa encontrar perdão, mesmo que não mereça."Augusto respirou fundo e continuou."Eu estava grávida. Mas o filho não era seu. Foi um erro, um deslize do qual me arrependi todos os dias... Eu planejava esconder isso para sempre. Mas o castigo veio rápido: perdi o bebê sozinha, numa madrugada silenciosa naquela casa de praia. Mas o que fiz depois...
Capítulo 94Alguns dias depois, o advogado ligou com uma notícia aguardada:— O julgamento será amanhã cedo — informou, com voz firme. — Está tudo pronto.Augusto agradeceu, desligando o telefone com as mãos trêmulas. Encostou-se à cadeira e respirou fundo.— Amanhã... — murmurou para si mesmo.Ao saber da notícia, Patrícia tentou animá-lo, mas percebeu o quanto ele estava tenso.— Por que não tenta trabalhar um pouco? — sugeriu ela. — Às vezes, ocupar a cabeça ajuda a passar o tempo.Augusto concordou com um aceno breve, e logo saiu rumo ao escritório. Patrícia, por sua vez, decidiu aproveitar o dia para comprar o enxoval dos bebês. Ligou para Letícia.— Amiga, topa me acompanhar hoje? Quero ver algumas coisinhas para os bebês. Preciso pensar em algo bom.— Claro que sim! — respondeu Letícia animada. — Hoje é dia de pensar em vida nova!Enquanto as duas passeavam por lojas de artigos infantis, o dia corria tranquilo na empresa. O sol começava a baixar, e os corredores já se esvaziava
Capítulo 95A cada andar que descia pelo elevador, a imagem de Estela caindo voltava como um pesadelo em sua mente. O som do corpo dela batendo no chão ainda martelava em seus ouvidos.Quando alcançou o saguão, o tempo pareceu desacelerar.Algumas pessoas estavam ali, em choque, paralisadas. A recepcionista do turno da noite segurava o telefone com as mãos trêmulas, a voz embargada ao falar com a emergência:— Sim… ela caiu… acho que está morta. Estamos no edifício Avelar, Centro Empresarial. Por favor, mandem alguém rápido!Augusto atravessou o saguão como um raio. Ao ver o corpo de Estela estirado no chão, com os olhos vazios fixos no nada, sentiu um nó apertar sua garganta.— Estela… — murmurou, ajoelhando-se ao lado dela, sem conseguir tirar os olhos da cena. O vestido vermelho agora estava molhado, não só de sangue, mas de toda a dor que ela carregou e causou.A ambulância chegou em menos de dez minutos, as luzes vermelhas cortando a escuridão da noite. Em seguida, a polícia apar
Capítulo 96Na manhã seguinte, o prédio da Avelar Corp estava cercado por viaturas e faixas de isolamento. Nenhum funcionário pôde entrar. A movimentação de peritos e policiais no saguão chamava a atenção de quem passava pela rua, e alguns curiosos se aglomeravam do outro lado da calçada, cochichando e tirando fotos com o celular.Pâmela chegou cedo, como de costume, mas foi barrada logo na entrada.— Desculpe, senhorita — disse o segurança com expressão séria. — A polícia interditou o prédio. Ninguém entra até segunda ordem.— Mas eu trabalho aqui. Sou diretora administrativa.— Ordens da delegacia, senhorita. A perícia está recolhendo provas e os andares estão sendo vistoriados.***Enquanto isso, do outro lado da cidade, Rafael e o pai estavam a caminho da empresa quando receberam a ligação de um dos advogados.— A perícia ainda está coletando os registros — informou o advogado, do outro lado da linha. — Os peritos já encontraram a bala alojada na parede da sala e estão analisando
Capítulo 1O silêncio no quarto era quase opressor, quebrado apenas pelo som ritmado dos aparelhos e da respiração profunda do homem deitado na cama. Rafael entrou devagar no aposento, como se temesse perturbar a paz que envolvia o ambiente. A penumbra da manhã filtrava-se pelas cortinas entreabertas, projetando sombras suaves sobre o rosto de seu pai.Com passos lentos, aproximou-se da cama e sentou-se ao lado dele. Seus olhos, sempre firmes diante do mundo, agora brilhavam com a ameaça de lágrimas. Ele estendeu a mão, entrelaçando seus dedos aos do pai, sentindo o calor ainda presente ali, a única prova de que ele estava vivo.— Acorda, pai… — murmurou, a voz embargada. — Você faz tanta falta pra mim...Por um instante, ficou ali, observando cada detalhe do rosto do pai: as olheiras profundas, o cabelo que já passava do comprimento habitual, a barba crescida que não tinha nada haver com a imagem impecável do CEO poderoso que todos conheciam. Rafael fazia questão de chamar um barbeir
Capítulo 2Após aceitar o serviço, Rafael pediu ao mordomo que mostrasse seus aposentos.Sempre discreto e eficiente, o mordomo guiou Patrícia pelos amplos corredores da mansão até um quarto confortável, localizado ao lado do Senhor Avelar.- Este será o seu quarto, senhorita Patrícia. Se precisar de algo, estarei à disposição. - Ele abriu a porta, revelando um espaço aconchegante, com móveis elegantes.Ela agradeceu com um leve aceno e entrou para se trocar. Vestindo o uniforme branco impecável, sentindo a responsabilidade se instalar de vez. Respirou fundo e saiu do quarto.Ao retornar ao quarto do paciente, analisou cada detalhe com atenção. Abriu o prontuário médico ao lado da cama e começou a revisar as medicações, os horários de administração, os cuidados diários e as rotinas. Tudo precisava ser seguido à risca.Enquanto lia as anotações anteriores, seu olhar voltou-se para o homem desacordado na cama. Senhor Avelar. Mesmo em repouso, ele exalava imponência. Sua presença era qua
Capítulo 3Após horas lendo em voz alta, Patrícia acabou cochilando na poltrona ao lado da cama. Acordou sobressaltada ao sentir uma mão em seu ombro. Ao abrir os olhos, deparou-se com Rafael. Por um instante, temeu que ele fosse repreendê-la, mas sua expressão era tranquila.— Vá jantar — disse ele simplesmente. — Vou ficar um pouco com meu pai.Patrícia se sentou melhor e esfregou os olhos, tentando despertar.— Eu preciso dar banho nele antes, senhor.— Eu faço isso todos os dias. Hoje não será diferente.Ela hesitou por um momento, mas assentiu.— Sim, senhor.Ao vê-la sair do quarto, Rafael suspirou, passando a mão pelos cabelos. Não duvidava das intenções de Patrícia, mas não queria que ela assumisse mais do que podia. Seu pai era um homem grande, com 1,85m e mais de 100 quilos, enquanto ela parecia tão pequena e delicada. Movê-lo exigia força e prática, algo que ele já fazia há dois anos.Ele sabia que, em algum momento, teria que permitir que ela ajudasse, mas não gostava da i
Capítulo 4Após Rafael se recolher, Patrícia se sentou na poltrona ao lado da cama, segurando o livro nas mãos. Com um sorriso suave, olhou para o paciente adormecido.— O livro está quase na metade. Vamos continuar? — perguntou baixinho, como se ele pudesse ouvi-la.Ela abriu na página onde havia parado e começou a ler. A história estava ficando intensa, e, sem perceber, as lágrimas começaram a escorrer por seu rosto. O casal do romance havia se separado por um grande mal-entendido, e a dor na narrativa a tocou profundamente.Patrícia parou por um instante, respirando fundo para se recompor. Levou a mão ao rosto para limpar as lágrimas e, no mesmo instante, algo chamou sua atenção.Seu coração quase parou.Por um breve momento, viu dois dedos do senhor Avelar se moverem rapidamente.Ela prendeu a respiração, seus olhos arregalados fixos na mão dele. Teria sido apenas sua imaginação… ou ele realmente havia se mexido?Patrícia congelou. Seu coração disparou no peito, e a respiração fic