Capítulo 91A noite caía serena sobre a Fazenda Avelar do Sol Nascente, e Augusto, de bom humor com o rumo das coisas, fez questão de convidar Júnior e o piloto do helicóptero para passarem a noite ali. A casa era ampla, com quartos de hóspedes prontos, e a lareira da sala já estava acesa, criando um clima acolhedor. Após o jantar reforçado de Dona Iraci, os homens se acomodaram com um copo de vinho e conversa leve, enquanto Patrícia preparava um banho quente antes de se recolher.Mas a tranquilidade não se estendia a todos os cantos do mundo Avelar.A algumas horas dali, numa casa de praia esquecida pelo tempo, o detetive contratado por Rafael finalmente encontrava uma pista valiosa. Depois de semanas seguindo rastros quase invisíveis de Estela, ele conseguiu ludibriar um funcionário antigo da família dela, fingindo ser um avaliador de imóveis. Com isso, teve acesso ao interior da casa, e lá, entre papéis antigos e objetos pessoais, encontrou uma caixa trancada no fundo de um armário
Capítulo 92O carro do detetive voava pela estrada deserta, os faróis rasgando a escuridão da madrugada enquanto o sangue escorria por seu braço, manchando a camisa. Ele apertava o volante com uma mão, a outra segurava a carta contra o peito, como se sua vida dependesse disso. E, no fundo, dependia mesmo.A dor era lancinante, mas a adrenalina o mantinha acordado. Ele precisava avisar alguém. Precisava entregar aquela carta.Com esforço, pegou o celular, desbloqueou com a digital trêmula e procurou o contato de Rafael Avelar. O telefone chamou algumas vezes antes de ser atendido.— Alô? — a voz de Rafael soou, rouca de sono.— É o detetive... Eu tenho uma prova. Uma carta. Preciso entregar nas mãos do seu pai. É urgente, Rafael. Me escuta! — disse ele, ofegante.— Como assim? Que prova? O que aconteceu?— Estela... ela tentou me matar. Me acertou de raspão. Mas eu peguei uma carta... escrita por ela. Confessando algo que o seu pai precisa saber. Não posso entregar isso a ninguém além
Capítulo 93Augusto sentou-se à mesa da sala com o envelope nas mãos. A casa estava em silêncio, exceto pelos passos apressados de Júnior ao telefone com o médico e o som distante dos primeiros animais despertando na fazenda.As mãos trêmulas abriram o envelope com cuidado. O papel estava dobrado em quatro partes e carregava o cheiro antigo de um perfume doce, inconfundivelmente feminino.Ele desdobrou a folha com lentidão, como se cada movimento pesasse uma tonelada."Querido Augusto," começava a letra delicada e arredondada de Estela."Se você está lendo isso, é porque a verdade finalmente veio à tona, e talvez, de alguma forma, eu ainda possa encontrar perdão, mesmo que não mereça."Augusto respirou fundo e continuou."Eu estava grávida. Mas o filho não era seu. Foi um erro, um deslize do qual me arrependi todos os dias... Eu planejava esconder isso para sempre. Mas o castigo veio rápido: perdi o bebê sozinha, numa madrugada silenciosa naquela casa de praia. Mas o que fiz depois...
Capítulo 94Alguns dias depois, o advogado ligou com uma notícia aguardada:— O julgamento será amanhã cedo — informou, com voz firme. — Está tudo pronto.Augusto agradeceu, desligando o telefone com as mãos trêmulas. Encostou-se à cadeira e respirou fundo.— Amanhã... — murmurou para si mesmo.Ao saber da notícia, Patrícia tentou animá-lo, mas percebeu o quanto ele estava tenso.— Por que não tenta trabalhar um pouco? — sugeriu ela. — Às vezes, ocupar a cabeça ajuda a passar o tempo.Augusto concordou com um aceno breve, e logo saiu rumo ao escritório. Patrícia, por sua vez, decidiu aproveitar o dia para comprar o enxoval dos bebês. Ligou para Letícia.— Amiga, topa me acompanhar hoje? Quero ver algumas coisinhas para os bebês. Preciso pensar em algo bom.— Claro que sim! — respondeu Letícia animada. — Hoje é dia de pensar em vida nova!Enquanto as duas passeavam por lojas de artigos infantis, o dia corria tranquilo na empresa. O sol começava a baixar, e os corredores já se esvaziava
Capítulo 1O silêncio no quarto era quase opressor, quebrado apenas pelo som ritmado dos aparelhos e da respiração profunda do homem deitado na cama. Rafael entrou devagar no aposento, como se temesse perturbar a paz que envolvia o ambiente. A penumbra da manhã filtrava-se pelas cortinas entreabertas, projetando sombras suaves sobre o rosto de seu pai.Com passos lentos, aproximou-se da cama e sentou-se ao lado dele. Seus olhos, sempre firmes diante do mundo, agora brilhavam com a ameaça de lágrimas. Ele estendeu a mão, entrelaçando seus dedos aos do pai, sentindo o calor ainda presente ali, a única prova de que ele estava vivo.— Acorda, pai… — murmurou, a voz embargada. — Você faz tanta falta pra mim...Por um instante, ficou ali, observando cada detalhe do rosto do pai: as olheiras profundas, o cabelo que já passava do comprimento habitual, a barba crescida que não tinha nada haver com a imagem impecável do CEO poderoso que todos conheciam. Rafael fazia questão de chamar um barbeir
Capítulo 2Após aceitar o serviço, Rafael pediu ao mordomo que mostrasse seus aposentos.Sempre discreto e eficiente, o mordomo guiou Patrícia pelos amplos corredores da mansão até um quarto confortável, localizado ao lado do Senhor Avelar.- Este será o seu quarto, senhorita Patrícia. Se precisar de algo, estarei à disposição. - Ele abriu a porta, revelando um espaço aconchegante, com móveis elegantes.Ela agradeceu com um leve aceno e entrou para se trocar. Vestindo o uniforme branco impecável, sentindo a responsabilidade se instalar de vez. Respirou fundo e saiu do quarto.Ao retornar ao quarto do paciente, analisou cada detalhe com atenção. Abriu o prontuário médico ao lado da cama e começou a revisar as medicações, os horários de administração, os cuidados diários e as rotinas. Tudo precisava ser seguido à risca.Enquanto lia as anotações anteriores, seu olhar voltou-se para o homem desacordado na cama. Senhor Avelar. Mesmo em repouso, ele exalava imponência. Sua presença era qua
Capítulo 3Após horas lendo em voz alta, Patrícia acabou cochilando na poltrona ao lado da cama. Acordou sobressaltada ao sentir uma mão em seu ombro. Ao abrir os olhos, deparou-se com Rafael. Por um instante, temeu que ele fosse repreendê-la, mas sua expressão era tranquila.— Vá jantar — disse ele simplesmente. — Vou ficar um pouco com meu pai.Patrícia se sentou melhor e esfregou os olhos, tentando despertar.— Eu preciso dar banho nele antes, senhor.— Eu faço isso todos os dias. Hoje não será diferente.Ela hesitou por um momento, mas assentiu.— Sim, senhor.Ao vê-la sair do quarto, Rafael suspirou, passando a mão pelos cabelos. Não duvidava das intenções de Patrícia, mas não queria que ela assumisse mais do que podia. Seu pai era um homem grande, com 1,85m e mais de 100 quilos, enquanto ela parecia tão pequena e delicada. Movê-lo exigia força e prática, algo que ele já fazia há dois anos.Ele sabia que, em algum momento, teria que permitir que ela ajudasse, mas não gostava da i
Capítulo 4Após Rafael se recolher, Patrícia se sentou na poltrona ao lado da cama, segurando o livro nas mãos. Com um sorriso suave, olhou para o paciente adormecido.— O livro está quase na metade. Vamos continuar? — perguntou baixinho, como se ele pudesse ouvi-la.Ela abriu na página onde havia parado e começou a ler. A história estava ficando intensa, e, sem perceber, as lágrimas começaram a escorrer por seu rosto. O casal do romance havia se separado por um grande mal-entendido, e a dor na narrativa a tocou profundamente.Patrícia parou por um instante, respirando fundo para se recompor. Levou a mão ao rosto para limpar as lágrimas e, no mesmo instante, algo chamou sua atenção.Seu coração quase parou.Por um breve momento, viu dois dedos do senhor Avelar se moverem rapidamente.Ela prendeu a respiração, seus olhos arregalados fixos na mão dele. Teria sido apenas sua imaginação… ou ele realmente havia se mexido?Patrícia congelou. Seu coração disparou no peito, e a respiração fic