(Blanka Bianchi)
Eu não imaginava que depois daquela noite a minha vida fosse mudar completamente. Ou, que eu quase fosse quase perdê-la.
Sim! Naquela noite, por pouco eu não perdi a vida, eu só sobrevivi por causa de Zeus, meu belo cachorro grande, melhor do que certos seres humanos que eu conheço.
Não havia lua naquela noite. Noite escura, feita, breu e assustadora para quem se atrevesse a andar aquela hora pela cidade.
Eu já havia cansado. Já não aguentava mais ir buscar meu pai na porta dos bares, e trazê-lo se apoiando em mim, totalmente embriagado.
Era apenas eu e ele naquela casa. Era uma casa alugada. A casa pertencia a, madame Carrero, dona de um luxuoso bordel que existia fora da cidade e quase uma hora dali, de carro.
Aquela cidade ficava no fim do mundo, as entranhas do Brasil, onde o Judas havia perdido as botas.
Eu pensava em um dia sair dali, ir embora daquele lugar, conhecer a capital!
Mas, eu não pensei que fosse sair dali obrigada. Eu acreditava que fosse ir embora dali, com minhas próprias pernas e não comprada feito um objeto.
Meu pai trabalhava em uma mina de carvão e praticamente todo o pouco de dinheiro que ele ganhava, gastava em bebidas e eu, para não morrer de fome, lavava e passava para algumas senhoras ricas da cidade.
Eu estava com vinte anos, e minha mãe havia morrido há cinco anos. Ela morreu no dia do meu aniversário. Portanto, toda vez que eu fazia aniversário, fazia anos também de sua morte.
Eu percebi que a sua saúde não andava bem, quando ela começou a emagrecer rapidamente. Procuramos um médico, e ela ficou sabendo que estava com câncer no útero e já havia se espalhado.
Não havia nada a ser feito.
Eu havia prometido a mim mesma que não ia buscar mais o meu pai na porta de nenhum bar.
Por isso, naquela noite, depois de alimentar Zeus, eu fui deitar mais cedo.
Estava cansada e peguei rapidamente no sono. Zeus dormia ao meu lado da cama, no chão, sobre um tapete que eu havia comprado especialmente para ele.
Eu estava cansada, e não vi quando o meu pai chegou.