GraceObriguei-me a erguer, determinada a defender até o último fôlego. A mulher à direita lançou contra mim.Ergui o braço diante do rosto, tentando proteger. Um arquejo escapou quando a lâmina rasgou o meu pulso.As outras duas cercaram e agarraram meus braços. Debati, buscando libertar, porém, eram muito mais fortes.Elas puxaram meus braços para baixo, expondo meu rosto à mulher armada com a lâmina. Contorci e virei a tempo de flagrar o olhar cruel que ela lançou.O brilho acerado da lâmina se tornou ainda mais terrível na penumbra, e a minha garganta secou quando devolvi o olhar ao rosto dela.Ela prendeu as bochechas e apertou com força.— Agora fique quieta, vadia. Você não quer que eu espete os seus olhos.Cerrei os dentes e balancei a cabeça, recusando interromper a luta. Ela comprimiu ainda mais os dedos e aproximou a lâmina do meu rosto.Instintivamente, ergui a perna e acertei um chute no estômago dela. Ela soltou um grito e cambaleou alguns passos para trás.— Sua vadia! —

Grace— Você… — Engoli em seco, procurando coragem para formular a pergunta que mais me aterrorizava. — …tentou matar Tristin?A mão de Ethan despencou, inerte, ao longo do corpo quando um fulgor gélido lhe atravessou o olhar abatido.— Ele é tudo com o que você se importa…— Tentou? — Meu queixo tremeu. — Fez isso por minha causa?Ethan sustentou o meu olhar. Ignoro o instante exato, mas percebi que, naquele segundo, o brilho dos seus olhos se distanciou; parecia que enfim havíamos escolhido veredas opostas naquele entroncamento.Já não nos encontrávamos à beira do abismo procurando, desesperados, manter-nos lado a lado. Agora sabíamos que não havia retorno. Talvez tivéssemos entendido isso quando tentei assassiná-lo. Talvez ele houvesse percebido a verdade quando quase morreu.— Não. — Ethan balançou a cabeça e foi o primeiro a desviar o olhar. — Não tive nada a ver com o acidente dele.O peso que me esmagava os ombros pareceu aliviar-se. O torpor esvaiu-se do meu corpo e as lágrimas

— Ela não é minha irmã. — Disparei antes que conseguisse me controlar.Contudo, algo se encaixou em minha mente. Tentara matar o outro…— Mas é, sim. — Alma assentiu, fixando os olhos nos meus, arregalados e confusos. — O sangue que corre em suas veias… será o mesmo que escorrerá do corpo dela. Eu já lhe havia avisado, não havia? Você devia ter deixado meus filhos em paz.Um nó formou-se em minha garganta.— Eu… estou indo embora, Alma. Foi por isso que vim. Tristin fez muito por mim, ainda que depois pretendesse me usar. Só queria o ver uma vez antes de partir.— Não. — Alma falou com firmeza, dando um passo para o lado. — Você nunca mais vai o ver.— Acho que Tristin deveria…— Ele disse o mesmo. — Ela piscou.— Ele… — Engoli em seco. — Ele disse isso?Alma confirmou com a cabeça.Eu não devia acreditar nela. Precisava encontrar Tristin e contar-lhe que não voltara para Ethan para servir-lhe de tapete. Esse pensamento me corroía por dentro. Não me permitiria viver nem morrer em paz.

Uma contração latejante se enroscou no fundo do meu peito assim que recordei a chamada que partira dela e que, tomado pela ira da noite em que me fui, eu me recusara a atender. No instante seguinte, quando o caminhão esmigalhou o nosso carro, me arrependi de não ter escutado a voz dela ao menos uma última vez.Chegava a ser patético que eu nem sequer me angustiasse por haver fracassado na minha vingança. Não pensei na família, nos amigos, nas memórias que me sustentavam.Pensei apenas nela.Refleti sobre o que Ethan poderia lhe fazer, sobre como minha família acabaria por feri-la, ou sobre a forma solitária com que sobreviveria neste mundo apodrecido. Aquilo doeu mais do que o metal cravado no tórax e nas costas.— Tristin! — Mamãe sibilou rente ao meu rosto, e voltei enfim à realidade.— Cumpri aquilo que a senhora exigiu. Agora me diga onde escondeu Lily, Mamãe. — Fui direto ao ponto, ignorando a ardência que latejava nos dedos.Eu precisava alcançar Grace, dizer-lhe que não pretendi

GraceUm abalo seria pouco para descrever o que senti.Minha cabeça rodopiara no instante em que os lábios de Tristin se chocaram contra os meus. O beijo fora brusco, desesperado, ofegante.Não existira traço de delicadeza no modo como ele cingira minha cintura e me acomodara em seu colo, tampouco na maneira como seus dentes se cravaram em meu lábio inferior, instigando-me a ofertar a boca à investida de sua língua.Eu estremecia enquanto a chuva impiedosa continuava a despencar sobre meu corpo já enregelado. O contraste entre a temperatura ardente de sua boca e o calor de suas mãos, em meio ao vento cortante, entorpecera minha mente e deixara minhas mãos suspensas, sem direção.O quê…Tristin afastou nossos lábios e arfou contra minha boca latejante.— Pense em fazer essa merda de novo e eu garantirei que você jamais coloque os pés fora do seu quarto.Pisquei, completamente imóvel em seus braços. O que ele imaginava que eu pretendia?— Luca. — Gritou Tristin, mantendo o olhar colado a