Quase Gêmeas: O começo
Quase Gêmeas: O começo
Por: Thainara Duarte
Muito prazer eu sou Olívia Rzaev

- Bracy Simon

- Presente

- Bruno Aisklort – ele continuou a chamar o nome dos alunos antes de começar a aula...

- Olívia Rzaev ... – o meu “adorável” professor me encarou com um sorriso idiota, o mesmo sorriso que ele dá para todos os alunos, o mesmo estúpido sorriso que todos amam e aprenderam automaticamente a sorrir de volta, desde que eu me lembre eu achava irritante o ar de bobo alegre desse professor maluco... Hoje?

Eu acho mais irritante ainda.

- Presente

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- Olívia sinceramente até quando você vai manter esse ódio infundado pelo professor Vacláv? – Aileen, a minha melhor amiga, me encarou com aquele famoso olhar que dizia “não rola os olhos” e eu apenas fiz beicinho antes de socar meus livros no meu armário e fechá-lo – Olívia acorda, ele não fez nada para merecer isso, às vezes, você age se ele tivesse uma doença contagiosa, é meio estranho na verdade, e as pessoas estão começando a notar que você trata ele estranho.

- A doença do unicórnio saltitante, ela é transmitida através do olhar e do sorriso daquela bola rosa. – eu sussurrei e revirei os olhos mais uma vez antes de levar um gancho da Aileen. Ah, ela tá exagerando, Eu não ajo assim para todo mundo ver, na verdade eu duvido muito que alguém tenha percebido isso a não ser ela.

- Deixa de ser moleca Olívia. – eu ri um pouco antes dela me soltar.                                                       

- Sério, eu ainda não consegui entender por que precisamos assistir mais de 40% das aulas com ele? Já estamos no ensino médio, pelo amor dos céus, ele não pode ser tão bom ao ponto de ensinar tantas matérias, eu deveria ter escolhido outro curso complementar, qualquer um que não tivesse ele como professor. Ele não é um curandeiro ou sei o que... Um unicórnio? – eu bufei extremamente irritada.

Não eu não sou o tipo de pessoa que odeia estudar e os meus professores, ao contrário, sou o que chamam de aluna extremamente promissora, mas, tem algo nesse tal de Václav Luciel que não passa pela minha garganta, eu não sei sinceramente, mas eu não consigo ficar a vontade com ele. É uma sensação incômoda bem no fundo da minha alma. Sabe quanto você tem aquela coceirinha que não passa de jeito nenhum? É assim que eu me sinto perto dele.

- Olívia sério, isso é apenas um implicância idiota, você sabe até melhor do que eu o quão inteligente e competente esse professor é! – ela me puxou até a nossa mesa no canto esquerdo da cantina e eu apenas me joguei no fundo da cadeira, é inútil continuar discutindo com ela por causa disso, é só mais um assunto para perturbar minha paciência e ultimamente eu ando tão cansada de tudo, que sei lá, parece que minha válvula de escape é odiar esse professor... Eu acho que estou sentindo falta das brigas da Kounicova, lá sempre tinha algo para fazer, eu nunca ficava entediada, saudades do meu Ensino Fundamental – Olívia você tá me ouvindo? – eu fiz que não e ela bufou antes de se sentar do meu lado – Olívia é bem provável que do jeito que as coisas estão indo, você vai acabar presa no projeto de conclusão de curso com ele e se duvidar com o pior tema entre todos. – ela colocou a mão no meu ombro como se o que ela disse fosse uma espécie de verdade absoluta ou profecia estranha, e eu tremi nas bases com a simples ideia disso acontecer.

- Deus que me livre, vira essa boca pra lá – eu fiz uma careta batendo em uma madeira próxima e a Aileen apenas riu.

- Eu tenho que ir agora Olívia você sabe que meu projeto de Direito Criminal está atrasado, eu preciso me encontrar com aquele aluno o Lojza, ele é um gênio mas sei lá ele é estranho e no mínimo desleixado, eu passo mais da metade dos nossos encontros me matando para terminar esse trabalho enquanto ele fica jogando, cara, eu não mereço isso. – ela revirou os olhos e pegou a bolsa dela e a carteira, pelo que eu conheço da Aileen ela vai comprar chocolate para aliviar a raiva, esse cara Lojza Marcus sempre consegue tirar ela do sério, chega até a ser engraçado. Eu suspeito que bem no fundo ele sempre age assim para irritar ela, a personalidade daquele menino é seriamente meio maliciosa e travessa, mas ele é uma pessoa muito inteligente todos o professores elogiam ele, então não faz muito sentido ele deixar todo o trabalho para ela a não ser que seja verdadeiramente uma travessura.

- Okay, você está realmente precisando de sorte, muito mais do que eu. – eu dei para ela um olhar de pena e em troca recebi um peteleco na cabeça, mas não deixei de rir um pouco - Então, estou indo para sua casa – eu respondi baixinho depois de rir e ela automaticamente fechou a cara.

- Olívia, quando é que você vai atrás do Théo? Você não pode viver pra sempre assim, eu o vi semana passada, ele está acabado, ele nunca superou Olívia... – ela me deu um olhar que dizia claramente que eu precisava resolver meus problemas e eu só consegui me afundar mais na cadeira do refeitório... Théo é o meu irmão mais velho e as coisas tão bem complicadas entre nós dois ultimamente.

- Olívia!

- Eu sei, eu sei! – eu soltei um suspiro - Eu vou lá... Você está certa, eu já adiei esse encontro por muito tempo, ele não vai suportar por mais tempo comigo longe dele.

- Boa garota – ela voltou e bagunçou meu cabelo comprido e mais uma vez eu dei língua para ela... Mas fazer o que, eu amo a Aileen.

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Enquanto eu caminhava pelos portões desse colégio gigantesco eu cai em uma onda de nostalgia, eu lembrei de como as coisas chegaram até aqui. Bem, o que eu posso dizer sobre mim? Eu me chamo Olivia Rzaev, eu sou só uma garota normal de 17 anos, e o meu maior problema atualmente é o meu irmão chamado Rzaev Théo. Eu nasci quando o Théo tinha quase três anos. Eu certamente não me lembro de quando éramos muito pequenos mais eu me lembro claramente que quando tinha 5 ou 6 anos, eu sofria muito bullying, eu não parecia ser asiática como ele e o resto da família, mesmo que nosso sobrenome seja natural daqui da República Tcheca, os nossos pais eram descendentes de chineses, então as pessoas ao nosso redor sempre tiravam onda com a minha cara por causa do meu cabelo não muito liso e minha pele não tão clara, diziam que eu era adotada, renegada, feia, estranha, gorda... As crianças hoje em dia são maldosas, mas eu sempre tive o Théo do meu lado, ele sempre foi muito forte e brigava com os meninos mais velhos por minha causa, ele aprendeu Karate bem novo, hoje ele é como um hiper atleta aposentado, quando ele tinha 14-15 anos ele venceu o mundial juvenil e isso trouxe uma série de prêmios e fama para ele, ele foi um professor em uma academia até começar o curso de Design com 18 anos, ele ainda não se formou, mas, no fim da conta ele trabalha com isso nos tempos livres, meu Théo é na verdade um grande Designer de Moda, recentemente ele assinou um contrato e está muito ocupado com o trabalho.

E bem, foi exatamente aí que as coisas começaram a complicar, ele tinha esse ar de Diva, e eu sempre tentei negar isso, mas eu sempre soube da verdade, mesmo sempre repetindo para mim mesma que meu irmão não é gay, eu repetia isso na minha mente todos os momentos, mas, isso só foi até um dia a uns 6 meses em que eu peguei ele e o nosso melhor amigo Brian no sofá da nossa casa fazendo coisas. Foi traumatizante, muito traumatizante, eu corri e corri o máximo que eu pude e fui parar na casa da Aileen , encharcada de suor e chorando, e então desde esse momento ele se sente culpado, afinal era meu irmão e meu melhor amigo fazendo coisas no meu sofá favorito. Depois disso eu o ignorei completamente e sai de casa, eu não sei como as coisas com ele estão porque eu ainda não voltei a falar com ele. E ele me segue por ai as vezes, me espera na porta do colégio, mas eu o evito como a peste, eu… Não quero falar sobre isso com ele.

Eu acho que esse foi o maior baque que eu poderia ter dado no meu irmão, sabe? Nós sempre fomos próximos e depois à medida que eu fui me apaixonando por ele eu decidi que precisava crescer e aprender a cuidar de mim mesma, nessa mesma época eu conheci o Brian e bem crescemos juntos nos metendo em enrascadas mais eu nunca imaginei que meu melhor amigo, meu vizinho que subia no meu quarto pela árvore do quintal na verdade era apaixonado pelo mesmo cara que eu.

Bem... As coisas começaram a mudar dentro da minha casa depois que eu fiquei doente um pouco antes do primeiro ano do ensino médio, essa foi uma das razões que me fizeram sair do meu antigo colégio a Kounicova, eu não queria que meus amigo percebessem que eu não estava mais tão bem de saúde, eu não queria que eles ficassem preocupados, mas dentro de casa as coisas ficaram mais tensas e no meio disso tudo, meus pais preocupados eu comecei a perceber que o Théo estava se distanciando dos nossos pais, que as coisas dentro de casa estavam mais tristes, e depois de um ano, assim que meu tratamento terminou pouco antes do meu segundo ano do ensino médio começar o Théo se mudou da nossa antiga casa e financiou a casa em que vivemos hoje, eu decidi me mudar mas eu só segui ele um pouco depois por causa da relutância do nosso pai, mas no fim das contas ali estávamos nós dois, eu adolescente com meus 15 anos e sem saber como cuidar de uma casa e meu irmão tendo que se virar com tudo aos 18 anos.

Nossos pais... Eles morreram pouco depois de termos nos mudado, de alguma forma houve um vazamento de gás e a casa explodiu com eles dentro, foi um choque... Um choque imenso, principalmente para o Théo, não que isso não tenha me afetado, mas foi pior por Théo que teve que arcar mais ainda com a responsabilidade de cuidar de nós dois, mesmo que nossos pais tenham deixado um pouco de dinheiro para nós. E bem, depois disso estávamos mais próximo do que nunca já que só havia restado nós dois no mundo, até o momento que eu peguei ele e o Brian no nosso sofá, o resto é apenas história, e aqui estou eu seis meses depois no meio do meu segundo bimestre do terceiro ano do ensino médio, com uma vida fodida, apaixonada pelo meu irmão e órfã. Até hoje eu não gosto de pensar na morte dos nossos pais, foi muito estranho, e muito de repente… Eu ainda não consigo passar perto do nosso bairro antigo, eu não consigo ir em recitais de piano por que me lembra a minha mãe, eu não consigo nem mesmo acompanhar os jogos do Karvina por que me lembra do meu pai.

Eu não sabia o porquê do Théo ter mudado da casa dos nossos pais, eu percebi que eles estavam tratando ele diferente mas, eu realmente não quis acreditar que nossos pais estavam negando ele por causa de uma coisa que ele nem mesmo pode mudar nele.  Um pouco antes deles morrerem eles tiveram uma briga muito séria na época que aconteceu eu não fazia a menor ideia do que poderia ter ocasionado isso, mas agora eu sei, era por que ele era gay e minha família não aceitava, afinal meus pais sempre foram muito cabeça dura e tradicionais.

Nessas ultimas semanas eu faltei no colégio e chorei o máximo que eu pude, acho que eu chorei tudo que eu não pude desde a morte dos nossos pais e não eu não estava negando meu irmão, eu estava negando o meu coração, eu tentei, juro que tentei ao máximo esquecer essa paixão tola e infantil, mais eu ainda não consegui, eu quero dar um jeito nisso tudo eu sei que ele merece a verdade, mas, eu não estou pronta para dizer essa verdade, ele ainda está sofrendo muito por causa do que aconteceu com a nossa família e agora vem mais isso… Eu não quero que ele pense que eu estou me afastando dele por que ele é gay, mas eu não queria ter que falar a verdade, eu não estou pronta para fazer isso só que...

Dessa vez, parece que eu não vou poder estar pronta.

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