A ideia de enterrar a caixa

Em uma manhã de domingo, os amigos do 3ºB se reuni-

ram no parque do horto florestal da cidade. A ideia central era 

fazer uma festa americana, com dança da vassoura e tudo mais. 

Quando deu meio-dia, o sol estava forte, então se sentaram 

em uma grande mesa de madeira à sombra da arvore. Tiveram 

uma ideia. “Vamos brincar de jogo da verdade”.

A mesa era retangular, mas deram um jeito e sentaram em 

círculo, colocaram a inicial do nome ou apelido de cada um e 

começaram a rodar a garrafa de cerveja. Onde a ponta da garrafa 

apontasse seria o que ia responder a pergunta, o fundo elabora 

a pergunta, o castigo de quem mentisse ou recusasse responder 

era dado pelo próximo sorteado que respondesse a questão a ele 

feita. O castigo poderia ser qualquer coisa, sem restrição alguma. 

Se ele fosse recusado, a pessoa perderia seus privilégios, nos con-

vites a festas, ou outras coisas feitas pelos amigos.

No centro da roda, a garrafa é rodada, apreensivos, todos 

olham para verem quem seria a vítima. E assim a ponta para 

na letra G e o fundo para na L. os olhares vão para Luciana que 

faria a primeira pergunta ao Garguinho.

A loira de olhos azuis, sorrindo, pergunta imediatamente

para satisfação da galera.

— Garguinho! Quem escreveu no caderno do Marquinho,

“essa folha você não usa mais, nem essa, essa, essa e...”?

Por ter perdido mais de cem folhas do caderno por causa

da brincadeira, rapidamente Marquinho olha para Garguinho,

que responde:

— Fui eu! Droga, Luciana agora vai ter vinganças na sala.

Está satisfeita por iniciar uma guerra?

— Nem vem, mocinho, não tenho que te responder per-

gunta alguma — diz, abrindo um sorriso satisfeito.

Todos riem e começam a zoar com a cara dele, e Marqui-

nho aproveita para apontar lhe o dedo e fazer ameaças com

tom descontraído.

A garrafa é girada novamente, ainda em meio às risadas, o

destino aponta: Harlei pergunta e Sergio responde.

Antes quero apresentá-los; Harlei sempre foi bom aluno, não

bebe, não fuma, nem é pegador de garotas como os outros, pois

pertencia a um grupo de pessoas que se reuniam aos sábados e

domingos com o intuito de estudar a bíblia e louvar a Deus.

Realmente o posicionamento do rapaz era bonito. Sim, ti-

nha bons conselhos e palavras amigas, nunca o vi triste, estava

em paz consigo mesmo. Sempre queria falar alguma coisa so-

bre sua crença, e, quando falava, as pessoas ouviam, não sei o

motivo, mas era bom ouvi-lo. Deixo claro que, para todos, ele

era careta e não sabia se divertir.

Agora o Sergio, sim, esse cara conhecia o valor da vida, ado-

rava beber, fumar, sair com as garotas, curtições, baladas, luaus etc. Mestre em capoeira, dava aula para as crianças do bairro.

Charmoso e simpático, sempre estava xavecando as meninas,

não importa onde estivesse.

Voltando ao assunto. Harlei faz a pergunta:

— De todos os que estão aqui, qual você mais admira? Ad-

miração essa, que você gostaria até de ser essa pessoa, se não

pudesse mais ser você.

Todos silenciaram, pois a pergunta era muito difícil de res-

ponder. Então os olhos do perguntado percorreram todos os

ali presentes e a resposta veio em seguida a um suspense.

— Cara, você é sempre louco, está de alguma forma queren-

do ensinar alguma coisa com suas perguntas, mas vou entrar

no seu jogo. Pois bem, se eu não fosse ser eu, gostaria de ser o

Everaldo, que é um excelente nadador e com certeza logo irá

para as olimpíadas, meu sonho é ser conhecido e adorado por

todos os brasileiros. E, como todos podem ver, o único aqui

que pode realizar o meu sonho é ele. Agora me deixa rodar

essa garrafa, quem sabe sai por aí uma pergunta mais quente.

A garrafa girou e girou, enfim os nomes foram sorteados,

Nanda pergunta e Franzino responde, realmente o clima es-

quentou, pois há muito não se falavam, o rapaz mal a encarava.

— Pois bem, gostaria de saber se há possibilidades de con-

versarmos hoje e acertar de vez nossa situação. Sinto muitas

saudades de sua amizade, estou completamente infeliz.

— Podemos, mas acho que nada vai mudar. Você sabe o

quanto me magoa ser feito de bobo e ainda por cima se fazer

de desentendida. Mas não vamos discutir agora, a resposta é

sim. Agora eu rodo.

E assim rodou e caíram muitas pessoas, perguntas interes-

santes, mas em outra situação contarei. Agora vou contar algo

mais importante.

Já era quase 16h, todos dançavam, Fabíola conversava com

o Balbino, um camarada muito louco, cheio de ideias malucas,

mas que t tinha um coração muito bondoso. Sua paixão é sua

nova namorada, Tâmara, que está sempre ao seu lado.

De repente Fabíola sai de perto de Balbino sem lhe falar

nada, desliga o som e diz em voz alta, enquanto todos paravam

para olhá-la:

— Amigos! Tive uma ideia extraordinária.

— Espero mesmo que seja assim, pois agora que consegui

trocar a vassoura — diz Marquinho.

— Então, estava aqui conversando com o Balbino a respeito

de um filme a que assisti. Em uma cena, alguns personagens se

uniram e escreveram coisas que gostariam de fazer no futuro.

Sonhos, profissão, vontades, qualquer coisa assim, lacraram em

uma caixa e enterraram, depois de alguns anos, se reuniram

para lerem em voz alta as coisas que escreveram. O que acham

de fazermos a mesma coisa?

— Legal! Vamos fazer isso sim — grita Harlei.

— Mas teremos que fazer um juramento que depois de dez

anos, nos reuniremos para desenterrar, abrir e ler as coisas es-

critas — diz Fabíola.

Rapidamente papel e caneta foram usados, enquanto Jacia-

ra correu até a loja de seu pai, na rua atrás do horto, e pegou

uma caixa de ferro com um belo cadeado inox, e levou até

seus amigos. A caixa era linda, parecida com as do filme de pirata, mas em miniatura. Por dentro forrada de veludo de cor

vermelha.

— Acho que vai servir — falou ao colocar a caixa sobre a

mesa e continuou. — Agora vou escrever o meu sonho em

um papel.

Reuniram e fizeram um juramento, todos prometeram que

fariam o possível para se reunirem exatamente em dez anos, a

contar a partir daquela data.

Subiram um morro com a caixa, foram em fila, alguns fa-

ziam brincadeiras sobre o que haviam escrito, mas claro que

era especulação, pois tudo foi escrito em segredo e só seria re-

velado muitos anos depois.

Ao pé da quinta árvore centenária, cavaram cerca de um

metro de profundidade, trancaram o cadeado e desceram a cai-

xa, terra em cima, a marca era o final da quarta raiz. Todos ti-

nham certeza que voltariam para ler. A chave? Essa foi deixada

com o Jonas, que se encarregou de cuidar dela até o grande dia.

Como o pai de Jonas era pertencente à família tradicional

da cidade, ele era o mais confiável a não deixar a cidade para se

aventurar, ou construir nova vida em outro lugar, pelo menos

foi pensado assim.

A chave do cadeado foi colocada em um saquinho, embru-

lhada em um jornal e entregue a Jonas, o guardião. Nome esse

que pegou.

O tempo passou após tudo isso, muitos encontros. Franzi-

no e Nanda já conversavam novamente. Querem saber como

foi que voltaram a conversar? Vou contar, foi no mesmo dia

que algo importante aconteceu, mas no próximo capítulo.

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