Capítulo 6 Floresta das cobras

Sírius entrava na floresta das cobras com os olhos serrilhados, mãos e braços abertos como se esperasse um ataque a qualquer momento; ouvidos apurados, demonstrando total atenção a cada ruído que a floresta reproduzia a sua volta. Os sons dos ventos entre as árvores ricocheteando entre os galhos e folhas, ruídos de animais e monstros nas profundezas, mas nada aparentava estar próximo o suficiente para atacá-lo de surpresa, talvez por isso ele se recusasse a pegar seu arco, dando apenas passos curtos, aprofundando-se cada vez mais na floresta.

– Psixim! – Ecoava nas árvores próximas de Sírius.

Nesse momento, vultos negros como fantasmas passavam entre as árvores rapidamente e Sírius tentava acompanha-los com os seus olhos.

– Psixim! – Novamente rosnava o som amedrontador ao redor do príncipe.

No escuro da floresta devido às grandes árvores a sua volta e às folhas escondendo o céu nublado, os olhos verdes-esmeraldas de Sírius brilhavam fortemente, suas pupilas se dilatavam como navalhas, escamas surgiam entre suas pálpebras e rachaduras surgiam de suas bochechas até seus olhos, com sua atenção total.

De repente, Sírius se deparava com uma cobra de dois metros de comprimento pulando do tronco da árvore mais próxima em sua direção.

Rapidamente ele pegou desastrosamente a cabeça da cobra negra escorregadia e a segurou com toda sua força.

– Arrá! PONTO PARA SÍRIUS SNAKE! – Berrava Sírius para a grande cobra em sua mão.

– Seu dia de sorte, Sírius... Psixim! Agora dá para me soltar? Está desconfortável.

Prefiro um abraço. Psixim! – Falava a cobra com a voz abafada.

– Pi, você não tem chances contra mim. – Respondia Sírius à cobra, parando de apertar.

– Venha cá. Psixim! – Falava Pi, carinhosamente.

A cobra se enrolava nos braços de Sírius, subia até o seu peito, arrastava-se até seu pescoço e dava um abraço carinhosamente apertado. Sírius retribuía o carinho e se abraçava ao mesmo tempo em que abraçava a cobra. Pi se ajeitava, acomodando sua cabeça no ombro de Sírius e também no resto do corpo do príncipe.

– Qual é a caça de hoje, Psixim? – Questionava Pi, animadamente olhando para Sírius.

– Está tudo anotado aqui. – Respondia Sírius, levando sua mão ao bolso e coletando o pequeno papel desgastado com anotações.

Cinco rosas de fogo

Dois girassóis clareadores

Três tulipas copo de café

– Psixim, Psixim, Psixim... – Sussurrava Pi.

– Você não consegue ler na mente ou está tentando me incomodar? – Falava Sírius nervosamente, contorcendo seus lábios.

– Você fica engraçado irritado, parece um tomate, Psixim! – Respondia Pi com um ar sarcástico.

– Isso vai dar um pouco de trabalho, príncipe! Os mapinguaris protegem o jardim dessas flores. – Completava a cobra, enquanto Sírius dava um leve sorriso e aos poucos sua feição se normalizava, sua pupila voltava ao normal, seus olhos verdes não brilhavam mais e as escamas em suas pálpebras já desapareciam.

– Jardim dos mapinguaris, Pi? – Perguntava Sírius, encarando a cobra negra no seu ombro.

– Sim! Psixim... – Respondia Pi balançando a cabeça positivamente.

O príncipe ignorava o comentário de sua cobra e apenas sorria, caminhava lentamente, com receio de encontrar algum monstro ou cobra desconhecida. No caminho, eles ouviam galopes de pôneis e relinchos de cavalos alados, fogo crepitando, gritos de monstros que se assemelhavam aos de crianças e diversas outras criaturas horripilantes enquanto caminhavam para o jardim dos mapinguaris.

Quanto mais próximo eles chegavam do jardim, mais escassas ficavam as árvores. Todo o terreno e a grama verde com o tom esbranquiçado devido ao frio substituíam as folhas cinzentas que costumeiramente estão espalhadas pelo chão da famosa floresta das cobras. Aos poucos, eles saíram das árvores da floresta e se encontravam em um jardim, com a grama bastante verde e zelada, com arbustos e diversas flores ao seu redor. Era, fabulosamente, uma vista de tirar o fôlego de qualquer admirador da natureza, de modo que apenas ouvia-se o som dos pássaros e das árvores balançando e chocando-se entre si.

– Esconda-se, Sírius. Psixim... – Sussurrava Pi, esticando-se ao máximo do ombro de

Sírius em direção a um arbusto. Sírius não questionava e se jogava rapidamente em um arbusto alto o suficiente para cobrir seu corpo e o de sua cobra.

A uns cinco metros encontravam-se três mapinguaris em rotas como vigilantes.

Eram criaturas horripilantes, com seus pelos esverdeados, uma gigantesca boca que ia de seus peitos até seus respectivos narizes em forma vertical, rostos deformados e um grande e único olho que ocupava todo seu crânio. Sírius prendia sua respiração, devido à aproximação das feras, tentando ficar o mais silencioso possível.

– Arhghg!

– Arhghg!

– Arhthhggghgtt! – Conversavam entre si os mapinguaris em uma língua desconhecida.

– Ah, que bafo miserável! Sussurrava Pi que, com o seu corpo enrolado no de Sírius, apertava o pulso do seu amigo.

– Argh? – Balbuciava a fera.

Em seguida, as criaturas voltavam a caminhar em sua rota. Ao estar distante o suficiente dos bichos, Sírius arrastava-se rapidamente para o arbusto mais à frente e se escondia novamente dos seres.

– Ali estão as rosas de fogos. – Sussurrava Sírius para Pi.

– Deixa que eu pego! Quase fomos pegos por sua causa, Psixim. – Respondia Pi, encarando o príncipe seriamente, com um leve sorriso.

Arrastando-se lentamente, Pi desenrolava-se do corpo de Sírius e ia em direção às rosas com cores brilhantes como brasa de fogo em suas pétalas. Com a boca, a cobra conseguia arrancar e carregar dez rosas de fogo pelo seu caule e trazer em direção a Sírius.

Sem nenhum mapinguari perceber, Pi depositava as flores na cesta de palha dada por Florinda e as arrumava da melhor maneira.

– Não deixe chegar tão perto da palha, a brasa interna dessas rosas pode atear fogo. –

Sussurrava Sírius que ajeitava as rosas do seu jeito, delicadamente, da melhor forma possível. Logo após, pegava o papel em seu bolso e olhava mais uma vez as anotações.

– Ótimo! Agora faltam apenas dois girassóis clareadores e três tulipas copo de café.

– Sussurrava Sírius lentamente.

Enquanto isso, Pi ajeitava-se no corpo de Sírius até sua cabeça ficar novamente apoiada sobre o ombro do seu amigo, enquanto o príncipe ajeitava a cesta e caminhava lentamente para o próximo arbusto, encolhendo-se no meio da planta. À sua frente estavam os muitos girassóis clareadores e as tulipas copos de café; entretanto, estavam com a companhia de muitos mapinguaris, tão altos e fortes quanto Sírius e Pi juntos.

– Um, dois, três... Quantos mapinguaris têm aqui? – Perguntava Sírius, olhando Pi assustada.

– Arhthhggghgtt! – Ainda resmungavam as criaturas.

Pi apertava novamente o pulso de Sírius, desesperadamente, mas o grito da fera era muito próximo. Com medo e receio, suas pupilas novamente dilatavam ao ponto de ficarem tão finas como uma navalha, expandindo o brilho verde-esmeralda dos seus olhos e as escamas das suas pálpebras sobressaindo a sua face.

Nesse momento, uma grande sombra em formato de mão com três dedos surgia mexendo no arbusto. Sírius se virava rapidamente, pegava uma flecha no seu alforje e, agilmente, colocava em seu arco. Impulsivamente, o príncipe atirava a flecha, acertando um dos mapinguaris na cabeça, matando-o instantaneamente enquanto caía de costas no chão, jorrando sangue e levantando um pouco da grama. Assustado, Sírius saía do arbusto, enquanto Pi se encontrava coberta de grama com o seu olhar tenebroso para o príncipe.

– Arhthhggghgtt! – Gritavam todos os mapinguaris, enquanto apontavam para Sírius e Pi.

Rapidamente, o príncipe Sírius pegava três flechas do seu alforje, colocava-as em seu arco e disparava em três criaturas a sua frente, acertando–os com um só ataque.

– Pi, pegue as tulipas copo de café! Deixe comigo os girassóis clareadores! –

Esbravejava Sírius roucamente, com um tom de medo em sua voz.

A cobra se jogava do corpo do seu amigo e se arrastava rapidamente. Sírius corria em direção aos girassóis clareadores, aos tropeços de desespero, até ser impedido por dois mapinguaris que surgiam em sua frente. A primeira criatura tentava acertá-lo com um soco, mas Sírius desviava e acertava um chute no abdômen da fera, quase tendo seu pé engolido pela enorme boca dentada. Em seguida, apanhava mais uma flecha, mas foi impedido de atirar quando outra besta pegava em seu capuz e puxava-o de sua cabeça, expondo os cabelos negros com sua pele pálida.

O príncipe agiu rapidamente, batendo com o arco no rosto deformado da criatura, girando seu corpo novamente para a primeira criatura e atirando a flecha na boca que continha no peito do monstro, mas percebe que não finalizou seu rival e corre em direção à fera.

Sírius logo retira a flecha babada entre a gengiva e os dentes verticais da criatura e crava novamente diversas vezes, jorrando sangue nas suas vestes e lambuzando seu capuz e queixo. Em seguida, Sírius girou seu corpo em trezentos e sessenta graus e recolocou o capuz.

Com o outro inimigo em pé, Sírius pegou mais uma flecha no seu alforje e atirou na cabeça do segundo mapinguari, acertando no olho da criatura, que derramava um liquido gelatinoso e incolor dos seus globos oculares. Rapidamente, o príncipe correu em direção aos girassóis clareadores e coletou um punhado das flores que logo joga na cesta de qualquer jeito, enquanto Pi pulava de um pescoço peludo dos mapinguaris a outro com suas grandes presas, precisando dar apenas uma mordida para finalizar as criaturas em combate.

– Arhthhggghgtt! – Gritava as criaturas, com suas garras estendidas para a cobra.

Sírius pulava e acertava as costas de uma das criaturas com os dois pés, derrubando o inimigo desastrosamente, entretanto também caía sem jeito no chão, sendo amortecido pela grama.

– Para de brincadeira, Sírius! Pxsim! – Esbravejava a Pi seriamente.

Em seguida, a cobra se arrastava velozmente sobre a grama até algumas tulipas copo de café e agarrava uma grande quantidade das flores com sua boca, correndo para depositá-las na cesta. Sírius corria em direção a sua cobra, pegava a cesta e puxava sua amiga rastejante pela cabeça, jogando-a em seu pescoço, correndo disparadamente em direção à floresta das cobras com uns dez mapinguaris ferozes em suas costas.

Entretanto, ao chegar à floresta, as criaturas recuaram ao jardim, livrando Sírius e Pi de uma perseguição cansativa.

– Conseguimos, Pi. – Falava Sírius sem fôlego.

– Conseguimos! Eu preciso de água! E boa comida! Por causa dessas flores! – Falava alto Pi, procurando oxigênio.

Lentamente, Sírius caminhava, retornando ao reino com Pi em seu pescoço e a cesta em suas mãos, lotada de flores. Ao chegar ao reino, ele retirou o capuz de sua cabeça, passando a mão em um rasgo supostamente feito por um dos mapinguaris, mas ignora o acontecido. O sorriso no seu rosto pálido, sem escamas e os olhos verdes-esmeraldas normais sem qualquer alteração demonstravam a sua felicidade de missão cumprida.

Após passar por muitos comerciantes oferecendo seus produtos, Sírius se encontrava na floricultura da Florinda, que lhe recebe com um abraço animado, fazendo Pi gemer de dor no ombro do príncipe.

– Ah, Pi, me desculpe! – Lamentava Florinda.

Pi apenas ignorava o comentário, virava o seu rosto e lambia seus lábios com sua língua.

– Ignore, Flor. Aqui está seu pedido. – Respondia Sírius, colocando a cesta de flores na mesa à sua frente.

Sírius sentava-se em uma das cadeiras de madeira à sua frente, ao lado de Florinda, acariciando a mão de moça enquanto olhava seus olhos cor de samambaias.

– O que vai fazer hoje à noite, príncipe Snake? – Perguntava Florinda enquanto alisava seus cabelos.

Sírius não respondia imediatamente, apenas encarava a moça alisando suas mãos.

– Não sei, que tal fazermos uma caminhada mais tarde? – Respondia Sírius, pegando uma rosa de fogo.

Enquanto isso, Pi arrastava-se do corpo de Sírius em direção aos ratofos, flores brancas cinzentas, que possuíam um cheiro de rato, horríveis para o consumo ou decoração, mas excelente para feitiços. O príncipe percebia a cobra se arrastando do seu corpo e a observa seriamente com sua testa franzida.

– Pode comer, Pi. – Comenta Florinda, balançando suas mãos no ar em direção à cobra, que não pensa duas vezes e agarra um buquê de ratofos.

– Estou com frio. – Falava Florinda, alisando seus braços rapidamente.

Sírius retira sua capa e enrola no corpo da moça, aconchegando o corpo dela, que retribui a ação com um sorriso. Os dois se encaram por um breve tempo.

O príncipe observava os olhos cor de samambaia da moça e, com suas mãos, ele pega o capuz da capa e puxa até os olhos de Florinda.

– Que cheiro de sangue, Sírius. – Comenta Florinda, sorrindo e retirando o capuz.

De repente, uma forte movimentação fora da floricultura ocorre e três camponeses invadem o ambiente aos prantos gritando:

– Cadê o príncipe Sírius Snake?! Cadê o príncipe Sírius Snake?!

Sírius pula de sua cadeira e encara os três camponeses com os rostos vermelhos e inchados de medo, acompanhados de lágrimas em suas grandes bochechas.

– Eu sou Sírius Snake! O que aconteceu?! – Esbravejava Sírius para os homens.

– Oooooooh... – Tentava falar um dos homens, mas não conseguia, com seu olhar paralisado no tempo.

Neste momento, Pi arrastava-se pela floricultura, subindo na perna de Sírius até o seu ombro.

– O quê? Psxim! – Sussurrava a Pi.

Entretanto, apenas o príncipe conseguia entender a cobra, enquanto os camponeses observavam assustados.

– O Palácio! O Palácio! O Palácio Snake! – Berrava um camponês desesperadamente.

Sírius não respondeu, apenas agiu rapidamente correndo em direção ao palácio, empurrando pessoas, carroças, animais e feras, passando por cima de tudo o que estava em sua frente, desesperadamente.

– O império? Alguma fera? Os mapinguaris? – Todas essas dúvidas martelavam a cabeça de Sírius freneticamente. Quanto mais Sírius se aproximava do palácio, mais pessoas surgiam em sua frente, ficando mais difícil de andar.

– Pi! Vá! Corra! – Berrava Sírius à sua cobra, que saltava de seu pescoço e arrastava-se em direção ao palácio.

Ao chegar ao palácio Snake, soldados com armaduras prateadas e o símbolo da Águia Vermelha em seu peito faziam uma barreira em torno de toda a área, enquanto toda a população tentava se aproximar ou se esticar o máximo que podia para ver o que acontecia atrás das muralhas de soldados.

– Saía da minha frente, eu sou o príncipe Sírius Snake! – Berrava Sírius aos soldados da Águia Vermelha a sua frente.

Os soldados apenas encaravam Sírius com um sorriso debochado.

O príncipe se irritava com a ação dos homens e seus olhos novamente voltavam a brilhar de cor verde-esmeralda. Rapidamente, os soldados retiraram suas espadas e apontaram para Sírius, que apenas recuou mostrando respeito ao exército, mas, quando os soldados recuaram suas espadas para o coldre, Sírius avançou em direção ao palácio, pulando sobre um soldado, derrubando-o.

– Peguem ele! – Gritava o soldado caído.

Sírius corria desesperadamente até o palácio. Ao chegar à porta principal, arrombou com um forte chute e se deparou com sua irmã nua, com suas partes íntimas ensanguentadas, o pescoço pulsando sangue, suas mãos amarradas em uma pilastra de madeira ao centro do salão principal e, da mesma forma, encontrava sua mãe. Niro, seu irmão, com um buraco no peito, cravado por uma espada, sua boca rasgada, totalmente avermelhada com seu próprio sangue e sua língua cortada ao lado de sua cabeça. Seu pai estava à sua frente com as mãos amarradas, um olho perfurado e prestes a ser degolado, sob ameaça do soldado que apontava a espada em seu pescoço.

– Pai! – Gritava Sírius, avançando em direção ao soldado e acertando um chute em seu peito, afastando-o do seu pai, enquanto mais homens do império invadiam o palácio e os cercavam.

Rapidamente um soldado tentou atacá-lo com um golpe de espada, mas Sírius foi mais rápido e desviou da lâmina. Utilizando seu arco, o príncipe acerta brutalmente o cabo de madeira na cabeça do soldado, quebrando o seu arco. Sem jeito, ele rodopia entre seus pés, desviando de mais um golpe por um triz.

– Pai! Pai! Eu vou te salvar, pai! Eu vou te salvar! – Berrava Sírius, enquanto chorava desesperadamente e engasgava com suas próprias lágrimas.

Entretanto, um dos soldados o golpeia em suas costas, resultando em um grande corte que jorrou sangue para todos os lados. O príncipe Sírius se ajoelha devido à dor, enquanto sentia o líquido quente avermelhado escorrendo por suas vestes.

– Pai, eu vou te salvar. – Falava Sírius, baixinho, para si mesmo, tentando se aproximar do seu pai, ajoelhado a sua frente.

Nesse momento, um dos soldados decapitou o rei Cornélio Snake com uma espada prata brilhante desenhada com uma grande Águia Vermelha. Sírius não tinha mais forças para reagir, apenas observava o corpo do seu pai jorrar sangue do pescoço, enquanto a cabeça dele estava sendo segurada como um troféu pelo soldado. Sua visão escurecia aos poucos, enquanto ele tentava se esticar para se aproximar do assassino de seu pai, no anseio de decorar sua feição: um homem alto, branco, com uma marca de queimadura do lado esquerdo do seu rosto. De repente, outro soldado pisava em sua mão, impedindo de se aproximar, durante isso, sua visão escurecia de vez.

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