Capítulo 5

Eu corria desesperada pela floresta escura. Meus pulmões estamos doloridos devido ao esforço que eu estava fazendo. A terra úmida nos meus pés era resultado da chuva tempestuosa que caía. O caminho era estreito; eu mal podia ver um palmo a minha frente e, mesmo assim, continuei a correr. Se eu não o fizesse, ele iria me alcançar e tudo estaria perdido. O medo tinha tomado conta do meu corpo, enquanto eu fugia para o mais longe possível. Não podia pedir socorro, afinal, quem escutaria meu grito no meio do nada? Ninguém.

Às lágrimas se misturavam a água da chuva, que escorria pelo meu corpo. Tenho certeza que tinha sangue escorrendo no braço, resultado da queda que sofri ao despencar de um barranco. Não sei por que ele me perseguia, mas sabia que precisava fugir.

No meio do caminho tropecei em algo e gritei com a dor. Não bastava eu ter me arrebentado no barranco, eu tinha que torcer o tornozelo também? O tempo estava passando e eu sabia que ele estava perto. Tentei me levantar e voltar a correr, mas não consegui. Chorei ainda mais com a dor que insistia em machucar meu coração. Foi então que desisti; me ajoelhei no chão, e esperei. E então ele surgiu na escuridão. Seus olhos cintilavam de raiva, e mesmo no escuro, eram apenas os olhos daquele que um dia me jurou amor eterno.

— Não haverá misericórdia! — em sua mão, uma lança de ponta afiada. Olhar para ela era ter a certeza de que tudo tinha acabado para mim.

— Eu te amo — eu disse fechando os olhos e esperando a minha morte.

Isso já estava me deixando preocupada. Quase todas as noites era um pesadelo diferente, mas com o mesmo propósito: eu ser morta. Acordei assustada, molhada pelo suor que cobria meu corpo. Ofegante, saí da cama em direção à cozinha, como eu fazia todas as vezes em que acordava daquele jeito. Queria poder saber o que fazer para que aquilo parasse de uma vez por todas. Respirei fundo, depois de tomar um bom copo com água e fechei os olhos. Sei que ainda era madrugada, mas fiquei pensando no sonho. Eu não o amava... E por que falei que o amava? Gabriel não fazia mais parte do meu mundo, não diretamente. Depois que o conheci, quase todas as noites eu sonhava com Blaine, mas agora havia sido com Gabby. Gregg acha que é sexualidade mal resolvida, no entanto eu sei que ele falou isso brincando. Eu jamais cogitaria voltar a ter algo com o meu ex-namorado; nem em sonho.

Voltando para o meu quarto, peguei o celular para verificar se existia alguma mensagem de Blaine para mim, e por sorte tinha. Eram três horas da manhã, e mesmo que ele não estivesse acordado, eu responderia a mensagem. Então respondi ainda sem jeito.

“Durma com os anjos. ;)” 00:03 AM – Blaine sabia me fazer sorrir em tão pouco tempo. Isso em parte era bom, no entanto, ainda me deixava assustada.

“Não consigo dormir... Desculpe não ter respondido antes” 03:014 AM – cliquei em enviar assim que terminei de digitar. Fiquei olhando a tela por um tempo e abri um sorriso quando a frase 'online' apareceu e ele logo começou a digitar.

“O que houve?” – 03:15 AM

“Tive outro pesadelo...” – 03:16 AM

Esperei que ele digitasse uma resposta, mas logo o online desapareceu. E eu sou do tipo que fica encarando a tela até ter certeza que a pessoa não vai mais responder. Isso não ajuda muito quando se inicia um namoro. Respirei resignada. Ele dormiu e nem me desejou boa noite? Que tipo de namorado faz uma coisa dessas? Quero jogar o celular longe, e sei que é algo infantil da minha parte. Revirei os olhos e tornei a encarar a tela. E então ele voltou e meu sorriso se abriu.

“Abra a porta. Tá frio pra caralho!” – 03:27 AM

Meu Deus! Ele estava do lado de fora, na frente da minha casa? Certo, Lili. Péssima hora para bugar. Corri até a porta, mas não sem antes olhar o meu estado. Eu estava um lixo. Só não tinha tempo para me arrumar melhor e, frustrada, abri a porta. Blaine não tinha sequer colocado uma camisa.

— Vai me deixar aqui fora, nesse frio desgraçado... — assim que ele começou a falar, abri espaço para que passasse e fechei a porta, seguindo-o até a sala.

— Você é louco!

— O que foi? — se fez de desentendido.

— Blaine, não precisava ter vindo...

— Claro que precisava. A minha namorada teve um pesadelo... Da última vez, ela acabou na porta de um cara gostoso, sarado e muito gostoso. Eu já falei gostoso? — eu tive que rir. Acho que eu poderia me habituar com aquele Blaine engraçado e sensual.

— Será que ele ainda está acordado? Acho que vou bater à porta dele novamente.

— Lili, você não precisa bater à porta dele — disse se aproximando de mim, me segurando pela cintura e me puxando para ficar mais próxima do seu corpo.

— Não? — perguntei sorrindo.

— Não. Você já tem ele bem aqui. Sou todo seu... — falou se inclinando para me beijar.

Seus olhos se fecharam e seus lábios tocaram os meus, quase como uma reverência. Não foi um beijo urgente, mas sim algo calmo. Lento. O tipo de beijo que se aproveita ao máximo. Minhas mãos seguravam seus braços firmes e quentes... Quentes, no sentido pegando fogo. Blaine estava com febre!

— Lindo, acho que você não está nada bem.... — disse ao me afastar dele. E naquele momento, percebi que seus lábios estavam vermelhos e que o suor escorria em seu corpo, assim como quando eu acordava dos pesadelos.

— É. Acho que não me sinto bem... — concordou. — Você me chamou de lindo? — perguntou abrindo um sorriso maroto, mas aí aconteceu algo que não tinha como prever.

Ele desabou. Blaine, com todo aquele corpo, caiu por cima de mim. Tentei manter a calma, só que ficava difícil ter um metro e cinquenta um de altura contra provavelmente um e oitenta dele. Como eu ia arrastá-lo até a minha cama? Não fazia a mínima ideia. Com jeito, consegui sair de debaixo dele. Precisava de ajuda e as únicas pessoas que me vieram à mente foram meus amigos Gregg e Mike.

— Lilith Chandler, sabe que eu vou te matar se não for uma urgência!? — ele nunca deixava de me atender. A qualquer hora do dia, ou da noite, Gregg me atenderia.

— E eu estou com uma urgência... Blaine caiu desmaiado no chão da minha sala...

— Mike... Querido! — deu para ouvir a voz sonolenta de Mike no fundo, quando ele perguntou o que era. — Lili precisa da nossa ajuda. Venha, levante-se.

— Desculpa acordar vocês..., mas eu não sabia o que fazer.

— Tudo bem, minha flor. Já estamos saindo.

Enquanto Gregg e Mike não chegavam, corri até o meu quarto e peguei um travesseiro. Blaine merecia ao menos um pouco de conforto, mesmo estando naquele chão frio e duro. Quando voltei, e acomodei o travesseiro atrás da sua cabeça, ele começou a despertar.

— Lindo, você consegue levantar? — perguntei olhando para ele.

— Acho que sim... — aos poucos ele foi se levantando e com o apoio que eu poderia dar, o ajudei para que fosse deitar na minha cama.

— Achei que tivesse a saúde de ferro... — brinquei e consegui fazer com que ele esboçasse um sorriso.

— Acho que não tenho mais...

Minutos depois da minha ligação a campainha tocou. Graças a Deus era Gregg, e assim que chegaram, me ajudaram a levar Blaine para o meu quarto.

— Ele despertou, Gregg, porém está ardendo em febre.

— Vai ficar tudo bem, Mike e eu cuidamos disso — disse Gregg.

 Mike correu e pegou uma compressa de água gelada em gel que eu sempre tinha no congelador para questões do tipo; na sequência, separou um comprimido e um copo com água, seguindo até o meu quarto. Gregg me chamou para que eu fosse com eles e me entregou a compressa. Explicou que era para baixar a temperatura do corpo dele, já que não tinha como levantá-lo naquele momento para lhe dar um banho gelado. Enquanto a compressa ia fazendo efeito, Mike fez com que Blaine tomasse o comprimido que havia separado. Ele entendia do assunto, afinal era enfermeiro no hospital da cidade, e poderia me ajudar.

— Lili, vamos deixá-lo em observação. Se a febre voltar, nos avise. De qualquer forma, peço que o leve ao hospital, mesmo que a temperatura baixe. O desmaio deve ter sido por outro motivo... — explicou Mike com aquela voz rouca e preocupada.

Deixamos o quarto, e eu, por fim, respirei aliviada. Não sei o que teria feito sem eles.

— Não sei o que seria de mim sem vocês dois... — falei cruzando os braços, buscando conforto.

— Amigos são para momentos como esse, Lili — disse Mike sorrindo. Michael Forks, com certeza, era a melhor pessoa do mundo, depois do meu amigo, é claro.

— Nos ligue se precisar de algo, meu bem — Gregg veio até mim e me abraçou apertado.

— Obrigada, meninos. Boa noite para vocês — me despedi deles e segui para o meu quarto. Assim que fosse possível, eu faria com que ele tomasse aquele banho gelado.

Observei Blaine deitado, de olhos fechados, e me permiti ficar admirando aquele belo pedaço de homem. Não tinha nada de errado com ele. Era tudo tão perfeito, que eu me perguntava se em algum momento surgiria algo para estragar.

— Eu estou sentindo você me comer com os olhos... — resmungou sorrindo e abrindo os olhos.

— Digamos que você é o meu tipo agora — dei de ombros.

— Venha aqui... — me chamou, se acomodando melhor na cama. — Era para eu estar cuidando de você, e não você de mim...

— Não vejo problema nenhum em cuidar de você.

— Deite aqui do meu lado — deu batidinhas no lado livre da cama, para que eu fosse me juntar a ele. — Se houver uma piora, será sua culpa...

— Ora, não se preocupe. Se você tiver um ataque e morrer, enterro você no campo, bem distante de Harlingen.

— Você faria isso com um pobre doente como eu? — perguntou fazendo beicinho.

— Não — suspirei indo me deitar ao seu lado. — Blaine?

— Sim?

— Estamos indo rápido demais?

— Não. Acho que estamos no tempo certo das coisas acontecerem entre nós dois — ele olhou para mim. — Não sou bom com namoros, Lili..., mas quero tanto que o que temos dê certo...

— E vamos dar certo. Só tenho medo...

— Não precisa ter. Nosso amor já estava destinado — falou com convicção.

— Acho que a febre não deve ter baixado. Começou a falar besteiras... — debochei rindo dele.

— Eu ainda estou pegando fogo... quer pegar na cabeça do meu termômetro?

— Meu Deus, Blaine! — dei um tapa no ombro dele. — Nem doente você tem jeito...

— Vem, me dá um beijinho antes de dormir — pediu me puxando para ficar mais colada no seu corpo ainda febril.

— Blaine...

— Blaine não. Eu sou seu lindo.

— Certo. Lindo. Feliz agora? — inclinei minha cabeça para beijar sua boca.

— Muito.

O resto da madrugada eu consegui dormir tranquila. Não sonhei com ninguém me perseguindo ou tentando me matar, o que já era um começo. O despertador tocou, mas a minha vontade era de arremessá-lo na parede e deixá-lo em pedaços. Um ardor tomava conta dos meus olhos quando tentei abri-los e senti a preguiça por todo o meu corpo. A pior coisa do mundo é uma noite de sono perdida. Tateei procurando por Blaine, porém ele não estava mais deitado. Onde diabos ele teria ido? Me dei conta que deveria estar um bagaço. Levantei rápido da cama e me olhei no espelho. Deus... que cabelo era aquele? Dei um jeito rápido nele e no meu rosto, já fazendo o básico que eu fazia toda manhã para ficar mais apresentável e ele não correr com medo.

Voltei para a cama, fingindo ainda dormir, quando ouvi passos no corredor. Senti a cama afundar do lado livre, e uma mão alisar o meu cabelo.

— Quando eu saí da cama, o seu cabelo não estava arrumado desse jeito... — merda. Lá se foi o grande método de mostrar que eu acordava linda todos os dias.

— Saco, Blaine... — resmunguei abrindo os olhos.

— Engraçado. Você também não estava com esse hálito de hortelã... — gargalhou alto.

— Seu grosso! — rosnei dando um tapa forte no braço dele, só então percebendo que ele estava bem melhor.

— Hummm, uma gatinha que gosta do uso da força — disse mudando o clima entre nós dois.

— Nada disso... — respirei com dificuldade ao falar.

— Acho que você é uma delícia sendo selvagem na cama. O que acha de pularmos o café e eu dar aquela bela lambida de gato em você? — como era que ele conseguia ser tão sensual com tão pouco? Eu já estava toda molhada, só com aquelas poucas palavras.

Foi então que o encanto quebrou e o meu celular tocou. Quando olhei o visor para saber quem era, o nome de Kate estava lá para me lembrar que eu estava bem atrasada para o trabalho, ou que algo mais grave poderia ter acontecido com Joe. Só esse último pensamento me deixou com calafrios.

— Bom dia, Kate...

— Lili... — fez uma pausa e aquilo me preocupou.

— Joe?

— Ah, querida... — disse ela chorosa. — Joe piorou e estamos com ele no hospital. Tudo indica que terá que fazer um tratamento mais agressivo... não sei se quero ver o meu Joe sofrendo mais do que já está.

— Eu cuido do café para você, Kate...

— Não, querida. Joe a quer aqui no hospital. Você sabe que o carinho que temos por você é de uma filha...

— Kate... — todo o calor que eu sentia antes dela me ligar foi embora por completo. Eu já estava começando a chorar, quando senti os braços de Blaine me envolver. — Eu vou. Me espere que irei ver o Joe.

— Obrigada, Lili — e encerramos a ligação.

Toda tensão que eu sentia naquele momento era resultado de um sentimento que eu não queria ter: medo. Joe tinha se tornado parte da minha vida, assim como Kate, sua esposa. A minha antiga relação com Gabriel não afetou a minha amizade com seus pais. Agradeci tanto a Deus por Blaine, que, mesmo tendo tido uma madrugada difícil, fez questão de me acompanhar. Parecia ser algo bem egoísta da minha parte... e era. Assim que chegássemos mandaria ele correr atrás do médico para que o orientasse com os exames. O que o meu namorado tinha tido não era normal, mesmo que agora ele estivesse aparentando estar muito bem.

No corredor do hospital, seguindo em direção ao quarto de Joe, apertei firme a mão de Blaine. Ele parecia saber o que eu queria dizer com aquele gesto: que ele era muito importante para mim, ainda mais agora. Não queria pensar que seria constrangedor ter um encontro entre ele e Gabriel. Aquele não era o momento para se ter tais pensamentos. Mesmo conhecendo pouco meu namorado, confiava que ele seria maduro para enfrentar tudo ao meu lado. Assim que chegamos na porta do quarto, congelei. Será que eu queria mesmo ver Joe não tão Joe?

Me acostumara com o homem alegre e jovial, mesmo com os seus sessenta e cinco anos de idade. Ele tinha um sorriso nos olhos, que mesmo que não quisesse, era contagiante. Como explicar que alguém sorri com os olhos? Simples. Não tem explicação. Você apenas sabe que lhe sorriu e segue a vida agradecida por algo do tipo ter acontecido.

— Estou aqui fora, se precisar... — disse Blaine, me tirando dos meus devaneios. Olhei para ele agradecida por me entender. Antes que eu batesse na porta, ele beijou o topo da minha cabeça e me abraçou. Nesse exato momento, ela se abriu e de lá saiu Gabriel.

Nada daquilo era confortável, mas era inevitável.

Em algum momento teria que confrontar os olhares curiosos daquele que um dia tinha sido parte da minha vida. Quem tomou a iniciativa de se afastar foi Blaine, porém, apenas para cumprimentar o homem que o encarava de forma descarada e fria.

— Blaine, esse é Gabriel, filho do Joe...

— Ah... — disse Blaine, devolvendo o mesmo olhar de desprezo que lhe foi lançado. De alguma forma, ele entendeu o meu tom de voz para Gabriel.

— Então, Blaine. Se não se importa, apenas a Lili pode entrar. Coisa de família... — deu de ombros e o jeito como Gabby falou com ele me fez espumar de raiva. Mas controlei minha língua. Ali não era o lugar e nem o momento para aquela competição de testosterona misturado com muito whey protein.

— Eu entendo... — Blaine parecia não ter se abalado com o comentário desnecessário e sorriu, voltando sua atenção para mim, segurando meu rosto entre as mãos e me beijando de forma inapropriada até.

Sua língua dançava dentro da minha boca, acariciando e logo depois mordiscando meu lábio inferior. Constrangedor, mas eu gostei. Na verdade, gostei mais do que deveria e quase esqueci que Gabriel assistia à cena sem direito a pipoca e um copo cheio de Coca-Cola bem geladinha.

— Estou aqui fora, meu anjo — ele sorriu, colocando as mãos nos bolsos da calça ao se afastar e sentar na cadeira ao lado da porta.

Balancei a cabeça fingindo estar exasperada, mas não conseguia enganá-lo. No meu íntimo, mesmo não querendo aquele confronto dentro do hospital, com Joe daquele jeito, me sentia protegida por Blaine. O ar superior dele frente a Gabby me deixou orgulhosa.

Ainda sem acreditar no que tinha acontecido, dei um passo à frente, dando muito bem a entender que eu queria espaço para passar. Sem olhar para mim, Gabby, que ainda encarava Blaine, me deixou passar, fechando a porta quase de imediato.

— Joe... — tive que me segurar para não chorar na sua frente. Kate parecia estar tão cansada, e mesmo assim me sorriu antes de me abraçar.

— Que bom que veio... — como podia uma doença, em tão pouco tempo, desarmar uma família daquela forma? Eu não aceitava que estivesse acontecendo com ele. Não com o Joe que tanto me ajudou e que eu amava como a um pai.

— Jamais deixaria de vir vê-lo, meu amigo — falei me aproximando da sua cama, com Kate do meu lado.

— Sabe, um dia achei que seria mesmo minha nora... — aquele comentário me surpreendeu, mas logo ele continuou. — Hoje vejo que não era para ser. — falou olhando com amargura na direção do filho.

O seu olhar tinha tudo que ele nunca havia falado para mim há dois anos quando soube de tudo. Dor, decepção e reprimenda. Gabriel, que estava no canto do quarto, se encolheu sob o olhar do pai. Joe, que eu saiba, jamais tinha olhado daquele jeito para qualquer outra pessoa.

— Aconteceu o que tinha de acontecer, Joe — não queria que parecesse que eu estava defendendo o seu filho, mesmo com minhas palavras. Pelo contrário. Eu apenas queria esquecer, seguir em frente e entender toda aquela conversa.

— Sabemos que não gosta de falar sobre isso, querida — disse Kate de modo gentil, olhando para o marido e o repreendendo da forma mais delicada que sabia. — O Joe não a chamou aqui para ficar relembrando o passado. Não é, meu amor?

— Desculpe, meu amor — pediu ele olhando carinhosamente para sua esposa com o seu sorriso habitual, mas não menos apaixonado, e voltou a me encarar. — Essa semana fiz algo que é bem provável que não vá agradá-la, Lili. Mas temos você como uma filha e não poderia partir sem que lhe desse a notícia...

— Do que você está falando, Joe? — perguntei nervosa.

— Passamos metade do café para você, querida — disse Kate por fim. Emocionada, ela começou a chorar. Eu estava petrificada ao seu lado, nem uma palavra se formulava na minha mente. Precisei do que pareceu uma eternidade para voltar a raciocinar direito e ter mais clareza.

— Não posso aceitar... — murmurei atônita.

— Eu não sou a melhor pessoa para falar ou dar conselhos a você, Lili... Mas acho que deve aceitar — Gabriel falou de repente, do lado oposto ao meu.

— É o trabalho da vida toda dos seus pais! — como ele podia falar aquilo com tanta tranquilidade? Olhei chocada para Kate, não dava para acreditar que ela tinha concordado com o que eles estavam falando.

— Calma, criança... — pediu Joe.

— Lili, não saberia continuar trabalhando com o café sem o meu Joe. Entende? — de repente, tudo se tornou real quando falou daquela forma.

Não teríamos mais Joe para receber o queijo ou ficar jogando conversa fora com o Peter mal-humorado. Ele não estaria lá todas as manhãs para recepcionar os clientes com seu sorriso no olhar, que era tão caloroso quanto seu dono. Seria muito difícil para ela olhar para o lugar no canto perto da porta e não o ver jogando um beijo no ar em sua direção, fazendo ela corar na frente de todos.

Eu poderia conviver com as lembranças do lugar, mas Kate não. Quando o amor é puro e verdadeiro, tudo nos faz lembrar a pessoa amada. Me senti derrotada com tudo aquilo, cansada até, porém, ficaria firme diante deles. Por Joe e Kate, apenas por eles.

— Como vou ficar sem vocês? — olhei para Kate e em seguida para Joe, que sorriu para mim com carinho.

— Seguir com a sua vida — disse Joe de modo calmo. — Gabriel não passará muito tempo por aqui...

— Eu já me sinto sendo expulso da cidade — rebateu, revirando os olhos para o pai de modo grosseiro até. A raiva só fazia aumentar.

— Trato é trato — resmungou Kate para o filho. Eu não entendi sobre que trato era aquele que ela mencionou, mas não queria que fosse nenhum envolvendo Gabriel. — Nada fará com que mudemos a vontade do meu Joe, Lili — disse ela olhando agora para mim.

— Eu não vejo sentido nisso tudo... — resmunguei chorosa.

— Apenas aceite, querida — pediu Joe, agora sorrindo. — E tudo vai ficar bem. — disse ele, segurando a mão de Kate com carinho.

Como eu diria não a Joe? Como negar um pedido daquele homem que fora tão gentil comigo? Suspirei, derrotada, com os três pares de olhos me observando por algum tempo, até que eu tomasse a decisão de realmente aceitar o que me foi imposto. Imposto sim, já que não me consultaram antes de me passar a metade do café.

— Tudo bem — eu disse por fim, começando a chorar. — Mas só aceito se a Kate estiver comigo sempre.

— Ah, Lili... —Kate falou, vindo na minha direção, e me abraçando. — Mesmo não sabendo se vou conseguir, prometo pensar no que pediu. — sei que seria uma dor muito grande para ela, e entendia que precisaria de um tempo longe, depois de tudo, para se recompor.

— Joe, quero que conheça uma pessoa... — ele tinha que conhecer Blaine antes que todo o tratamento tomasse conta da sua última gota de vida. Kate e Joe se entreolharam entendendo o que aquela frase implicava. Não ia me privar de apresentar o meu namorado, e aquilo era uma lição para que Gabby soubesse que não dominava a situação.

Me afastei, seguindo em direção à porta e, assim que a abri, Blaine se pôs de pé. Seus olhos preocupados me encheram o coração de amor... Amor que era algo tão precioso para mim naquele momento.

— Preciso apresentar você a uma pessoa... — o chamei para dentro do quarto, gesticulando com a mão.

Ele apenas assentiu sem dizer uma palavra. Não olhei para o canto do quarto, onde agora Gabriel se encontrava e Blaine também ignorou por completo a sua existência. Os olhos de Joe eram gentis para o homem grande e espaçoso que havia acabado de entrar. Por alguns instantes, pareceu que Joe conversava silenciosamente com Blaine apenas com o olhar. A facilidade de sorrir com os olhos que eu tanto via em Joe, agora percebia que o homem por quem eu estava perdidamente apaixonada também tinha.

— Joe, esse é Blaine... — assim que pronunciei o nome para ele, o sorriso cansado se abriu.

— Blaine Carter, senhor — cumprimentou ao se aproximar de Joe, estendendo sua mão grande para ele.

— Joe MacColl, ao seu dispor, jovem — assentiu segurando sua mão da maneira mais firme que podia. — Então, foi você quem conseguiu conquistar o coração da nossa adorável Lili?

— Acho que foi ela quem conquistou o meu primeiro — respondeu Blaine sorrindo para Joe. E por Deus, como o sorriso dele era lindo. Fascinante, para ser mais honesta. Nunca me cansaria de olhar para ele.

— Cuide bem dela — não foi um pedido. Estava mais para uma ordem imposta por Joe ao dizer aquilo para ele. Eu ainda podia sentir o olhar de Gabby pairando sobre mim. Um arrepio tomou conta do meu corpo, mas não deixei transparecer o meu incômodo.

— Com a minha vida, se for preciso — rebateu Blaine, sorrindo, mas o seu tom de voz estava mais sério ao falar.

Blaine se aproximou de Joe e fez algo que nunca pensei que o veria fazer. Segurou a mão dele e fechou os olhos, como as pessoas fazem quando estão orando ou coisa parecida. Assim como Blaine tinha fechado os olhos, Joe também fechou e ficamos observando os dois em silêncio. Depois de alguns minutos, Joe suspirou como se faz quando se sente um grande alívio de uma dor, e abriu os olhos, assentindo para Blaine. Se eu não tivesse visto o que acabara de acontecer, teria duvidado se um estranho me contasse.

— Bom garoto esse que você arrumou, Lili — Joe olhou para mim, satisfeito.

— Sou melhor agora, ao lado dela — Blaine me puxou pela cintura, de modo protetor, e eu me desmanchei ainda mais por ele.

Terminamos a visita a Joe e seguimos em busca de Mike no hospital, mesmo contra a vontade de Blaine, que me afirmava estar tudo bem com ele. Na verdade, eu não aceitava que tudo estaria bem depois do desmaio da noite passada. Mike nos conseguiu uma consulta com o médico de plantão, que furou Blaine de todas as maneiras possíveis para retirar seu sangue para exames. Quase duas horas depois os exames ficaram prontos e fiquei mais aliviada ao perceber que tudo estava muito bem. A saúde do meu namorado era equivalente à de um urso da montanha na idade jovem.

— Desculpa ter duvidado de você...

— Gostei dessa sua preocupação comigo — suspirou olhando os furinhos nas veias dos braços.

— Você não gostou das furadas, não é?

— Quem gosta de ser furado? — fez uma careta que me fez gargalhar alto.

— Ninguém — respondi depois que consegui me controlar.

Quando chegamos em casa, percebi que ele parecia bem desconfortável com algo. Assim que entramos, segui até a cozinha para beber um copo com água e ele deixou os capacetes sobre o sofá; ficou em pé ao lado da janela, olhando através dela, e seu olhar parecia distante e pensativo.

— Blaine Carter? — debochei brincando, chamando sua atenção, colocando o copo sobre a mesa.

— Já está louca para se tornar a senhora Carter, não é? — a malícia em sua voz me deixou arrepiada. Lentamente ele foi se aproximando de mim, me segurando pela cintura e me puxando para ficar colada ao seu corpo. Eu tinha que inclinar minha cabeça para trás um pouco para assim poder olhar melhor para ele.

— Acho que um pedido de casamento é algo cedo demais... — resmunguei para ele.

— Mas você vai me pedir um dia... — deu de ombros sorrindo.

— Não abuse da sorte, Blaine Carter — ele fechou os olhos e pareceu absorver a forma como eu pronunciei o seu nome. — No que você estava pensando, olhando para o nada lá fora? — ele abriu olhos e me perscrutou.

Ele continuou olhando para mim, mas agora estava indeciso se falaria ou não.

— Ele é o motivo de você ter sofrido tanto? — precisei de alguns segundos até entender sobre quem estávamos falando. Não queria que ele me soltasse nem por um segundo, mas ele o fez. Me conduziu até o sofá e me fez sentar, ficando de frente para mim ao se sentar no outro.

— Hoje em dia é apenas uma cicatriz que não gosto muito de mostrar — se eu comecei, tinha que continuar. — Há uns cinco anos, me apaixonei perdidamente por ele, Gabriel. No começo, tudo ia bem. Eu tinha minhas ambições e ele também. Três anos de namoro e ele ganhou uma bolsa de estudos para uma universidade. Então eu descobri que estava grávida... — os olhos de Blaine estavam atentos em mim. E esperou que eu continuasse. — Foi então que eu falei para ele, e ele se foi. E eu perdi meu bebê.

— Agora entendo o jeito que ele me encarou... — sua voz era um misto de raiva com algo mais.

— Tudo bem — sorri para ele, passando a mão em seu rosto com carinho. — Eu superei...

— Mas ele não — rebateu Blaine com raiva. — Ele ainda quer você, Lili.

— Ele nunca me terá como você me tem — assegurei. — O que eu sinto por você é algo que não consigo explicar, Blaine...

— Mesmo eu tendo sido um idiota no dia em que a conheci...

— O idiota mais lindo que já vi na vida. Você se tornou um pesadelo todos os dias pela manhã, atazanando a minha ida ao trabalho — ri da careta dele.

— Não gosto da ideia de você no mesmo lugar que aquele cara — disse carrancudo.

— Ciúme? — arqueei a sobrancelha para ele.

— Muito. Principalmente sabendo que aquele babaca já beijou essa sua boca maravilhosa... — se inclinou para frente, segurando meu rosto entre as mãos e me beijando.

— Só que essa boca agora é sua. Apenas sua — sussurrei entre seus lábios.

— A outra também — arregalei os olhos constrangida para ele, a tempo de ver seu olhar divertido para mim.

— Blaine!

— Se eu fechar os olhos, não preciso nem me concentrar para lembrar o sabor dela... — disse mordendo meu lábio inferior, com umas das mãos envolvendo minha nuca e a outra agora segurando firme a minha cintura.

Não tinha como não fechar os olhos. Quando dei por mim, já estava deitada no sofá com Blaine sobre mim, tirando minha roupa entre beijos e risos. Minhas mãos se perdiam pelo seu corpo firme e musculoso. Abri meus olhos e vi que ele me encarava com aquele olhar pesado de desejo, pronto para continuar a promessa implícita naquele sorriso maroto no canto da boca.

Ele já estava sem camisa e eu apenas de lingerie, já que na ida ao hospital optei por ir de vestido. Agora parecia uma boa ideia vesti-los pelo resto da vida, apenas para ter Blaine tirando-os daquele jeito sensual e me olhando como se fosse chupar até a cabeça do meu dedo do pé. Não queria rir, mas a imagem dele chupando o dedão do meu pé foi engraçada e ao mesmo tempo bem erótica. Deixei esse pensamento de lado por ter coisa melhor para fazer, e deslizei minhas mãos pelo seu abdômen até chegar ao seu cinto grosso e tentar, quase sem sucesso, tirá-lo. Ainda sem jeito, por estar sendo esmagada pelo corpo dele, abri o botão da sua calça e o zíper.

— Está querendo permissão para pegar no mimoso? — perguntou com a voz rouca e sexy.

— Achei que só eu tinha permissão para meter a mão aqui, fora você... — ele gostou da minha resposta.

— E é apenas você que tem... — ele segurou a respiração por um instante, no exato momento em que passei a mão por cima da sua cueca, sentindo todo o volume que me aguardava.

— E você ainda o chama de mimoso? — brinquei com sarcasmo.

— Ele sabe tratar uma boceta com carinho... — seus olhos ficaram em brasas quando abaixei a calça dele um pouco mais, e logo em seguida enfiei minha mão dentro da cueca, segurando-o firme e deslizando para cima e para baixo, sentindo a umidade se formar na ponta. Enquanto o masturbava, sentia sua respiração ficar mais pesada e seu olhar mais intenso.

Quando eu achei que nada poderia estragar aquele momento, a campainha tocou várias vezes.

— Lili!!! — eu já sabia quem era e o mataria assim que tivesse chance. — Abre a porta. Sei que você está aí! — Gregg me pagaria muito caro.

— Desculpa... — gemi, tirando a mão de dentro da cueca às presas. Eu ainda estava deitada quando ele abaixou seu rosto até ficar de frente a minha boceta, puxou de lado a calcinha e deu uma lambida demorada, antes de se afastar e me ajudar com o vestido.

— Não resisti. Ela estava me chamando... — riu, vestindo a camisa bem rápido e fechando a calça. — Na verdade, gritando o meu nome.

— Não acredito que fez isso... — falei sem graça.

— Quer saber o que ela me disse? — perguntou assim que me levantei para abrir a porta para Gregg, que estava impaciente.

— Sei que não era para perguntar, mas o que ela disse? — ele levantou, ficou colado no meu corpo e, inclinando a cabeça para frente, chegou no meu ouvido e disse:

— Me come.

Fiquei tonta. Não falei mais nada, apenas saí sem saber o que estava fazendo. Quando pensei que tinha ido na direção da porta, fui para o lado oposto, seguindo em direção à cozinha. Se aquilo me deixou chocada? Sim. Muito mais chocada do que eu poderia imaginar.

— Oi, gosto... — disse Gregg ao entrar — quer dizer, Blaine. — ele era descarado demais para não falar com Blaine daquela forma. — O que ela tem?

— Oi, Gregg — segurou o riso com a pergunta dele. — Não sei.

— Lili, me fazendo passar vergonha? — balançou a cabeça em reprovação.

— Vou deixar vocês sozinhos... — disse Blaine se aproximando de mim, ainda sorrindo de modo cínico. — Até à noite, meu anjo... — me beijou na boca bem rápido, antes de sair.

Eu fiquei tão fora de órbita, que precisei que o meu amigo me puxasse pelo braço.

— O que foi isso? — Gregg arqueou a sobrancelha perfeita para mim.

— Isso foi você chegando bem na hora que a coisa estava esquentando, Gregg — gemi com pura frustração.

— Que merda! — ele parecia mesmo arrependido. Mas não durou muito quando ele me puxou para sentar no sofá em que, minutos atrás, eu me agarrava com Blaine.

— Então... — Gregg sorriu com aquela maldade que só ele tinha.

— Então... — fingi não entender o que ele queria saber.

— Dá para segurar com as duas mãos, ou só com uma? — perguntou com empolgação. Eu ainda não estava acreditando que ia falar com ele sobre o tamanho do pau do meu namorado, mas parecia justo, já que Gregg, contra a minha vontade, contou o tamanho de Mike, seu noivo.

— Dá para segurar com as duas mãos e ainda sobra. Sem contar a parte que é grosso. Tem mais grossura, na verdade... — revirei os olhos.

— Ai que delícia! — gritou ele. — Meu cu piscou de felicidade agora!

— Gregg! — falei sem graça. Se tinha uma coisa que o meu amigo não tinha, era juízo.

— Gregg nada, isso significa fartura, meu bem. Sinal que sua vagina vai bater palmas no final da trepada com aquele deus grego... — explicou ele, ao se abanar. — Quando enjoar dele, eu quero...

— Acho que não vou enjoar dele — fui sincera ao falar, e o clima da nossa conversa mudou.

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