Estou na sala terminando de dar a refeição que Angelina preparou para Noah, dou a última colherada quando ouço a porta abrindo e vejo Dylan, ele de primeira parece não perceber que estou aqui, até Noah dar um gritinho e balançar suas pequenas mãos fazendo festa.

— Aí está você! — Vem até a nossa direção e beija a testa de Noah.

— Boa noite, senhor Carter — Sorrio gentilmente enquanto ele pega seu filho de minhas mãos.

— Boa noite — Senta no sofá já com o pequeno Noah em seu colo.

— Papa — Ele sorri com a tentativa do pequeno de fazer a pronúncia de sua primeira palavra.

— Papai — Dylan diz tentando ensinar e Noah apenas ri.

— Senhor Carter, gostaria de perguntar se o senhor poderia ficar com Noah até eu voltar. Já que ainda não peguei minhas coisas — Ele me observa.

— Só tomarei um banho, me dê 20 minutos — Entrega Noah em meus braços e sobe as escadas.

Sento-me no chão onde eu estava de primeira. Noah sorri e eu fico admirando o sorriso dele com apenas dois pequenos dentinhos.

— Que menino fofo! — aperto levemente suas duas bochechas, fazendo ele ficar com uma cara engraçada. Ele ri mais ainda — Que coisa gostosa! — Pego um paninho e limpo sua boca onde está sujo, tirando o resto de comida que sobrou.

Fico brincando com ele e o mesmo não para que gargalhar. Dylan volta vestido um jeans e uma blusa preta. O cheiro de seu perfume toma de conta da sala em questão de segundos, fazendo com que eu entre em uma hipnose. Ele vai até à cozinha e logo volta segurando a cadeirinha de Noah.

— Vamos! — Ele diz e eu acordo dando um salto e espantando minha inércia.

— Vai me levar? — O olho sem entender muito bem e ele parece apressado.

— É o jeito, pedi para Rick levar meu pai em casa — Ele pega a chave do carro e me olha — Estar esperando o quê? — Ele é sempre assim? Parece que estar a todo momento correndo contra o tempo. Noah estende as mãozinhas em sua direção e Dylan pega, colocando-o em seu bebê conforto.

O carro estar parado quase em frente a porta de entrada, uma Mercedes C Class branca. Assisto Dylan colocando Noah no banco de trás, checando se o pequeno está bem preso ao banco. Ele me olha ao bater a porta, logo entro na parte de trás do carro passando a mão em Noah que parece se divertir com seus pés.

— Aonde é? — Falei o endereço e o guiava pelas ruas encontrando o meio mais rápido até minha casa. Dylan continuou quieto o caminho inteiro.

Depois de um tempinho chegamos a frente ao meu prédio. Ele olhou de cima a baixo, parecendo avaliar a estrutura.

— Você mora aqui? — Me olhou pelo retrovisor do carro e voltou a olhar prédio alaranjado.

— Sim, serei rápida! — Pulo do carro e enquanto vou em direção a porta vejo Allan chegando.

Corro em sua direção o abraço forte por trás, fazendo ele dar um pulo de susto e se virar para mim.

— Está louca Kath? Quer me matar do coração? — Rimos, ele me olha e pega a mecha teimosa a colocando atrás da minha orelha — Pela sua felicidade, já vi que conseguiu o emprego — Me abraça novamente — Parabéns!  — 

— Obrigada! — Sorrio em agradecimento.

— Ficará chegando esse horário? — 

— Então… — Olho para o carro de Dylan que me encara enquanto converso com meu colega de quarto — Vamos subir, eu explico tudo. —

Chegando em casa e expliquei que ficarei na casa do chefe de segunda a sexta, talvez no sábado ou domingo, se necessário e Allan parece que não gostou muito da ideia. Tentou rebater dizendo que eu não precisava disso e que ele poderia sustentar nós dois. Fiz uma pequena mala, com roupas, pijamas e produtos de higiene.

Enquanto arrumava a mala Allan continuava a me encarar com o semblante preocupado. 

— Relaxa — Coloco a mão em seu rosto — Ainda moraremos juntos — Ele sorri de lado.

— Não terá graça aqui sem você — Ele diz com uma cara de cachorro sem dono 

  — Super concordo — Digo debochada e ele me dar um tapa em meu ombro.

— Convencida — Rimos e fomos para fora de casa, Allan levava a minha mala e eu me certificava haver pegado todos os meus documentos e coisas necessárias na bolsa. Ao chegar no final da escada vejo Dylan já impaciente fora do carro, balançando as chaves.

— Quer que eu leve você? — Olho para Allan que pergunta parecendo não notar minha carona de hoje.

— Na verdade, meu chefe estar bem ali — Aceno com a cabeça e Allan o encara.

— Mais um rico metido a besta — Revira os olhos, eu rio de sua proteção o abraçando forte enquanto ele dar beijo em meu pescoço.

— Não estou indo embora, sexta-feira você já me tem de volta. — 

— Me ligue diariamente, dê sinal de vida sempre, por favor — Concordo.

— Se cuida. Arrume a casa e lave os pratos todos os dias -- Digo pegando a mala de sua mão me afastando.

— Tá bom mãe! — Grita fazendo o quarteirão todo ouvir.

— Idiota! — Rio e grito de volta.

Vou em direção ao carro, Dylan pega minha mala, colocando na traseira do carro.

— Pode ir à frente — Diz por fim enquanto fecha o porta mala.

—  Mas… —  Ele me interrompe 

— Depois dessa demorar toda, ele dormiu! — Resmunga revirando os olhos.

Olho para Allan que me encara e dou tchau e ele solta um beijo no ar. 

Entro no carro e logo Dylan também. Vejo Allan ainda parado em frente ao apartamento, desvio meus olhos para Noah que dorme calmamente e sorrir.

— Seu namorado? — Quebra o silêncio enquanto acelera nos fazendo sair dali.

Penso por alguns segundos e decido o rebater da mesma forma que fez comigo quando soube sobre a mãe de Noah, por fim respondo.

— Onde fica aquilo que o senhor falou? Nada sobre vida pessoal? — Digo levantando uma sobrancelha, ele revira os olhos e eu juro ter visto um meio sorriso.

O resto do trajeto foi feito em silêncio, logo chegamos e enquanto eu pegava minha mala, Dylan desprendia o bebê conforto e subia as escadas com Noah.

— Coloque sua mala no quarto, descanse um pouco, pode deixar que coloco ele no berço — Saiu antes mesmo que eu pudesse responder.

Subo as escadas logo depois dele, entro no quarto que será meu durante a semana, colocando a mala ao lado da mesinha. Jogo-me na cama tirando o elástico do meu cabelo. A cama é tão macia que sinto meu corpo derreter, não sabia estar cansada assim. 

Levanto e pego um porta-retrato onde tem uma foto em que estar eu, minha mãe e minha tia, o coloco na mesinha e encaro por longos segundos. Decido tomar um banho e saio vestindo um moletom preto e uma blusa com alças, deito na cama caindo no sono.

Acordo com o choro de Noah, pulo da cama e corro para seu quarto e ele estar vermelho de tanto chorar. São 01:52 da madrugada e pela hora ele estar com fome, desço com ele e vou à cozinha para fazer o leite. Sento-me em uma cadeira com ele em meu colo o esperando tomar tudo. 

Quando terminou, logo caiu no sono novamente, levantei voltando com ele para o quarto o colocando no berço o cobrindo com um lençol, coloco a chupeta em sua boca e um coelhinho de pelúcia branco entre seus braços. Olhando-o assim, tão calmo e sereno me faz querer saber o que aconteceu com sua mãe.

Paro em frente a porta do meu quarto querendo voltar aos sonhos, mas descido descer para beber água. A casa está um silêncio grande que me faz perguntar se as outras empregadas dormem aqui ou não. Ficar a sós com um estranho é realmente assustador.

Desço as escadas sentindo o piso frio sob meus pés, empurro a porta da cozinha pegando um copo nos armários próximo à pia. Pego uma garrafa na geladeira, enchendo o copo e me apoiando no balcão em seguida.

— Noite difícil? — Dou um pulo ao ouvir uma voz rouca. Engasgo-me de susto e levo a mão ao meu peito — Calma, sou só eu, não uma assombração — Dylan sorri divertido sem mostrar os dentes.

“P**a merda, que sorriso” -- Grita meu subconsciente e eu rio com o pensamento.

— Não esperava ver o senhor aqui a essa hora — Ele pega um copo em um dos armários colocando água para ele.

— Por que não? Essa é minha casa — Diz irônico enquanto sorria levando o copo aos lábios.

— Quis dizer… — Ele interrompe pelo que parece ser a décima vez em um dia.

— Sei o que quis dizer. Acordei com o choro de Noah — Explica e se apoia no balcão a minha frente.

— Entendi — Bebo a água tentando disfarçar a vergonha sem olha-lo.

— Então, Katherine o que uma moça jovem como você faz aqui? Digo, trabalhando como babá se poderia ter um futuro — Ele se inclina ainda mais no balcão fazendo eu o encarar.

— Dificuldades da vida. Nem todo mundo nasce em berço de ouro — Dou de ombros.

Ele me olha com um sorriso de canto e o clima fica um pouco estranho. Dylan me encarando desse jeito me faz ter um frio na barriga, meus pelos da nuca se arrepiam, decido desviar o olhar.

— Estou indo dormir — Digo por fim engolindo seco.

Ele vem ao meu encontro ficando frente a frente comigo, minha cabeça b**e em seu peito e me sinto um pouco vulnerável. Meu coração acelera e minha mente grita para sair de perto dessa aproximação, mas meus pés não parecem querer se mover. Ele permanece parado, parece ver através de meus olhos.

Suas mãos estão uma de cada lado do meu corpo se apoiando no balcão de mármore. Acabo passando a língua nos lábios e engulo seco, mordendo o lábio inferior tentando expulsar o nervosismo do meu corpo.

Dylan encara minha boca por longos segundos. 

— Vamos? — Minha mente trava e eu olho para ele sem reação.

“Vamos onde? “-- Penso.

Ele parece me analisar de cima a baixo. 

—  Você não ia dormir? — Me pergunta sorrindo de lado parecendo satisfeito com a minha reação.

— Si-sim, cl-claro — Digo nervosa denunciando o que eu estava pensando, ele me dá espaço e passo na sua frente.

Subimos calados, ele parou em frente a porta do seu quarto e me olhou.

— Boa noite — Diz entrando e fechando a porta atrás de si.

— Boa noite — Sai como um sussurro.

Entro no meu quarto e percebo meu celular vibrando na escrivaninha.

— Uma hora dessa acordado? — Digo sabendo que é Allan do outro lado da linha.

— Espero que não tenha acordado você — Me deito na cama de barriga para cima.

— Noah já fez isso — Ouço ele rindo — Mas diga, aconteceu algo? —  

— Na verdade, nada. Só liguei porque não estou conseguindo dormir e essa seria a hora que nós dois iríamos para sala assistir a um filme de terror e falar sobre o quão idiota os personagens são — Sorrio com a lembrança de várias noites fazendo isso.

— Queria tanto isso. Digo, estou com tanto sono que acabaria dormindo antes mesmo do filme começar, mas seria bom ter alguém familiar por perto. —  

— É… então seu chefe é o incrivelmente charmoso e lindo Dylan Carter — Sinto a ironia no tom de voz.

— Acha meu chefe incrivelmente charmoso e lindo Allan? — debochei — Não sabia jogarmos no mesmo time. —  

— Hahaha muito engraçadinha — Ele diz divertindo.

— Eu sei. Enfim, ele é meu chefe. —.  

— Hum! —  Allan não parece acreditar muito nas minhas palavras.

— Como foi seu dia? — Mudo de assunto.

— Uma confusão… -- Antes mesmo de ele contar ouço o choro de Noah.

— Noah acordou de novo. Preciso ir, mais tarde a gente se fala — Desligo a chamada jogando o celular na cama e vou até seu quarto. Pego o pequeno no colo tentando o acalmar o máximo possível, antes que acorde a casa inteira novamente.

Lembro de uma música de ninar que minha mãe sempre cantava para mim.

“Se essa rua 

Se essa rua fosse minha 

Eu mandava 

Eu mandava ladrilhar 

Com pedrinhas 

Com pedrinhas de brilhante 

Para o meu 

Para o meu amor passar 

Nessa rua 

Nessa rua tem um bosque 

Que se chama 

Que se chama solidão 

Dentro dele 

Dentro dele mora um anjo 

Que roubou 

Que roubou meu coração

Se eu roubei 

Se eu roubei teu coração 

Tu roubaste 

Tu roubaste o meu também 

Se eu roubei 

Se eu roubei teu coração 

É porque 

É porque te quero bem”

Repito duas vezes e ele já parece estar mais calmo, mas não me pareceu querer dormir. Me sentei na poltrona esticando os meus pés enquanto Noah parece se divertir com uma mecha do meu cabelo ruivo.

Fico observando seu quarto e logo percebo que nenhum canto da casa há alguma foto da mãe dele, não há nada dela por aqui, mas talvez tenha no quarto de Dylan. Seja lá o que aconteceu, ainda dói para ele lembrar sobre ela, mas não minto, fiquei super curiosa para saber a história.

Cerca de trinta minutos depois Noah dormiu e eu estava quase caindo de sono. Coloco ele novamente no berço e vou para meu quarto vendo que já são 2:45 da manhã. Merda, eu realmente preciso de uma boa noite de sono se não, estarei acabada amanhã. 

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