10°

Acordei cedo e já estou arrumada usando meu uniforme. Prendi meus cabelos em uma trança e estou na sala a espera do Sr. Lerdeza.

— Vamos princesa! — Grito para Allan e ele sai do banheiro apressado.

— Claro, estou pronto! — Pega suas chaves.

— Até que fim! — Pego minha bolsa guardando meu celular e minhas chaves.

O caminho a casa de Dylan foi tranquilo, Allan parou a moto em frente aos portões. Desço tirando o capacete o entregando.

— Boa sorte no dia de hoje e tome cuidado, ok? — Beija minha testa e passa as mãos na minha cabeça.

— Você também — Sorrio devolvendo o beijo — Até sexta xuxuzinho. — 

— Entre logo, até sexta docinho — Rimos

Apertei a campainha e logo o portão se abre, me viro e aceno para Allan que liga a moto e sai. Entro e dessa vez ninguém vem me encontrar até porque trabalho aqui, seria desnecessário alguém me recepcionando diariamente já que sei o caminho. Não canso de observar o quão lindo é esse jardim, e a beleza que essa casa tem. Dou a volta por trás e constato a porta da cozinha aberta.

— Bom dia! — Entro sorridente, Ruth e Angelina sorriem ao me ver.

— Bom dia — Ambas dizem — Parece que o final de semana foi ótimo — Ruth diz e vem em minha direção.

— Diremos que pude descansar — sorrio — Noah estar dormindo? — 

— Creio que sim. A noite não foi tão tranquila para ele — Diz com tristeza na voz.

— Como assim? — 

— Não dormiu bem. O patrão até ligou para Jade para vir para cá com urgência — Diz.

— Porque ele não me ligou? Sou a babá, poxa! — Ergo uma das sobrancelhas com as mãos na cintura.

— Não sei. Mas realmente, ele deveria ter ligado para você — Ela se senta.

— Verei como ele estar — Sorri de lado saindo da cozinha. 

A casa toda está tranquila. Subi as escadas e ao virar em direção ao quarto de Noah dou de cara com Dylan. Seus olhos param nos meus e imediatamente o beijo vem em minha mente, me deixando com vergonha de encara-lo. Desvio meus olhos e cruzo as mãos à frente do meu corpo.

— Bom dia senhor Carter — Sinto minhas bochechas vermelhas.

— Onde estava ontem? — O encaro no mesmo momento sem entender.

— Ontem? — Repito.

— Sim, ontem — Aumenta o tom de voz — Você trabalha para mim por isso deve estar disponível a qualquer hora. Ontem liguei para você mil vezes e minhas ligações iam direto para a caixa de mensagens. Que tipo de profissional você é? — Seu tom é frio e ele parece muito brabo.

— Desculpe senhor acabei não… — Ele me interrompe.

— Acabou o quê? Parou em outra ‘boate’. Bebeu e dançando vulgarmente para depois vir cuidar do meu filho? — Sinto um choque por todas minhas veias, para um bom entendedor meia palavra basta. 

Seu tom é de desprezo e isso fez subir o sangue pelos meus olhos.

— Peço desculpas por não ter visto suas ligações, mas do mesmo jeito que eu o respeito o senhor, peço que também me respeite. Sei separar as coisas e suponho que o senhor também deveria saber. Trabalho é uma coisa e minha vida social é outra. Minha vida pessoal não diz respeito ao senhor e uma coisa que não aceito são pessoas querendo ser melhores que as outras —. 

Ele me encara sério e não consigo ver nenhum vestígio do que estar passando na sua mente.

— E outra senhor Carter — Digo debochada — Mesmo que não seja da sua conta, eu estava em casa dormindo. Meu celular deve ter descarregado e meu colega de quarto o colocou para carregar e não faço a mínima ideia em que momento ele fez isso já que, eu estava dormindo — Digo com um sorriso irônico nos lábios e o encaro fixo.

— Estou atrasado, mas quando eu chegar conversaremos sobre ontem e sobre sexta-feira — Ele sai sem dizer mais nada e eu fico com os pés estagnados no chão.

Meu coração está acelerado. Merda, pensando bem eu deveria ter ficado calada. Na verdade, não mesmo, uma coisa que minha mãe vivia me dizendo é que eu nunca deveria deixar ser humilhada por alguém que é igual a mim, não financeira ou aparência e sim alguém que seja um ser humano como eu, não deveria me calar por medo.

Enquanto tomo rumo em direção ao quarto de Noah ouço seu choro.

— O que foi meu bebê? — O pego no colo e me sento no sofá em frente ao seu berço — Deve ter sido uma noite ruim, não é? — Brinco com ele e o mesmo vai se acalmando e parando de chorar.

Verifico sua fralda e vejo que estar cheia. Dou um banho morno nele e visto uma calça moletom azul com um moletom branco já que o dia estar frio. Desço e alimento ele com um iogurte e biscoitinhos.

— Sabe — Jade senta em minha frente — Você é a mãe que o Noah não teve — Noah ainda come o biscoito todo entretido enquanto limpo minhas mãos.

— Você ainda não me contou o que aconteceu com ela — Jade arregala os olhos.

— Nunca pesquisou? —

— E tem na internet? — Ela b**e na própria testa.

— Em que século você vive? — Me olha séria — Na internet tem tudo sobre as pessoas ricas — Diz por fim.

— Nunca me interessei de ir pesquisar — Limpo a boca de Noah.

— Ela o deixou depois de um mês do nascimento do pequeno Noah — Encaro a mesma — Ela fugiu com o irmão do chefe e ninguém sabe onde os dois estão. Ela nunca se interessou por Noah, nunca o amamentou e muito mesmo queria segura-lo. Dizia que aquela vida não era para ela, que nasceu para ser livre e não amarrada em casa cuidado de um filho chorão. — 

— Meu Deus, que horror! Como uma pessoa pode fazer isso com o próprio filho? — 

— Pois é. Deste então o chefe não é a mesma pessoa de antes. Vive sério, sempre sendo frio e o único que recebe o seu amor é Noah — Ela alisa a bochecha do mesmo — Ele realmente o ama. — 

— Sei que a maternidade não é para todas, mas se ela tinha pavor de ser mãe deveria ter tomado cuidado — Digo — Camisinhas estouram e sei que pílulas não são 100% confiáveis, mas se não queria tanto assim, deveria ter sido mais cuidadosa. — 

— Pois é — Jade ainda olha para Noah — Ele tem os olhos dela — Sorriu de lado — Mesmo que o chefe tente fugir das lembranças, creio eu que toda vez que olha para Noah, deve se lembrar dela. Isso deve ser horrível — Diz.

Talvez seja verdade que a cada vez que Dylan olhe para Noah a imagem da ex e do irmão fugindo venha em sua mente. Mas a cada vez que pego ele olhando para Noah é com um grande sorriso no rosto e um amor incondicional nos olhos.

— Como ele era? Digo, como ele era com ela? — Jade sorri de lado.

— Alegre, romântico, sorria toda vez que olhava para ela. Era carinhoso, gentil, atencioso, calmo. Depois que ela se foi o único que o faz sorrir é Noah, tirando ele, ninguém consegue tirar um sorriso que seja daquele homem. O coração dele endureceu em tão pouco tempo, ele não é mais o mesmo. — Diz.

— Uma decepção realmente consegue mudar alguém. Tornamos frios e distantes, mas cabe a cada um virar aquilo que deseja. Decepção amorosa sempre existirá, terão várias ao decorrer dos anos, mas não acredito que vale a pena virar uma pessoa fria ou dizer que nunca mais amará novamente. Cada decepção é um aprendizado doloroso, mas não podemos deixar que isso controle nossa mente e coração — Ela me olha e logo abre um sorriso.

— Você fala isso parecendo que sabe muito bem como é ter uma decepção amorosa — Sorri.

— Você não? Todos nós já passamos por coisas parecidas e se não passou um dia acabará passando. Já me decepcionei e sei como dói — Olho para Noah e só agora percebo que estar com a cabeça apoiada no meu ombro e parece cochilar.

— Então já se apaixonou!? — Ri de lado com sua curiosidade.

— Já. Pensei que seria o amor da minha vida e seria com ele que eu iria casar, ter filhos e passar o resto da minha vida ao seu lado, mas estava totalmente errada — Me levanto — Depois continuamos esse assunto, ok? Preciso levar o Noah para o berço. — 

— Claro — Jade sorri e sai da cozinha.

Tive que achar um jeito para sair de lá porque se continuasse com aquele assunto, eu iria acabar chorando. Muitas vezes dizemos a nós mesmos que já superamos e na primeira lembrança, sentimos um aperto no peito e não sabemos porque ainda nos sentimos assim. 

Sempre acabamos chorando por isso, mas querendo ou não, sabemos que foi a melhor opção. Sinto muito por Dylan passar por isso, sinto muito por todas as pessoas que passaram por isso. A dor amorosa é uma das piores dores que existem. 

Você se pergunta quando a dor passará e quanto tempo demorará. Mas ela sempre continua lá, e quando você começa a esquecer, essa mesma dorzinha faz com que você se lembre de novo. Sempre nesse mesmo círculo vicioso.

Enquanto caminhava em direção a janela para tentar espantar meus pensamentos, o pequeno Noah se mexe em meu colo e o sinto mais leve, sinal que ele já dormiu. Continuo parada em frente a janela olhando para a água da piscina. O vento b**e em meus braços e me arrepio, apertando mais o pequeno que dorme em meus braços, o protegendo desse dia frio.

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