O Começo de Tudo

“Antes de você chegar só tinha solidão, somente marcas e feridas no meu coração”

— Eu posso entrar? — questiona me observando, faço uma careta involuntária e lhe dou passagem. Estranhando toda essa sua história de ser da família. Como assim da família? Como nunca nos conhecemos antes?

— MÃEEEE! — grito ao pé da escada, ela desce em segundos. Estranhando a presença do homem loiro bem no meio da nossa sala.

— Oi!? Sou a Lilian, e você é o... — murmura, estendendo a mão para ele, que a aperta com um sorriso amplo. Mostrando seus dentes perfeitamente brancos e alinhados.

— Noah, Noah Thompson. — diz fazendo minha mãe arregalar os olhos, ela acaricia sua face com carinho e o abraça rapidamente. Ergo as sobrancelhas diante a essa demostração de afeto. Ela nem conhece ele.

— Pensamos que nunca mais te encontraríamos. — Murmura dona Lilian quando se desfaz do abraço apertado de Noah. — Bea! Esse é o seu tio, aquele que eu falei que desapareceu quando fez um ano de idade. Meu amor, ele está de volta! — Minha mãe transborda felicidade, com os olhos marejados observava o loiro em sua frente. Dou um sorriso amplo para mostrar que estou feliz por ela.

— Eu quero saber de tudo, tudo sobre a sua vida. Como você viveu todos esses anos? Tá bonito! — Tagarelava lhe direcionando até o estofado macio. — Está com quantos anos? 22? Sim, desapareceu quando eu tinha 22 e... — Ela não o deixava falar, apenas soltava palavras sem freio. 

— Eu fui criado por uma família classe média, sempre tive uma ótima vida. Mas também sempre tive curiosidade para saber quem é a minha família biológica. O meu pai adotivo é juiz, ele tem alguns contatos e me ajudou a achar você, sua filha e nossa outra irmã Vivian. As únicas que restou dos Thompson's. — Ele diz as palavras com pressa. Então percebo o quanto são iguais, me sento no estofado em frente à eles e observo de olhos arregalados esse reencontro maluco.

— Não fui a única, nós fomos os únicos. Eu sinto muito por tudo o que aconteceu com você, mesmo tendo uma vida boa. Não consigo imaginar o choque em saber que foi sequestrado. — Fala segurando as mãos dele, que aparenta estar feliz com a situação. Isso é informação demais para o meu cérebro processar.

— Estou feliz de ter encontrado vocês duas, eu posso voltar outra hora, né? — Pergunta olhando para minha mãe e depois para mim.

— Outra hora? Pensei que passaria um tempo conosco. Para tentar recuperar o tempo perdido. — Diz dona Lilian quase em súplicas, me fazendo encará-la incrédula. Nem conhece ele!

— Recuperar 22 anos perdidos é difícil, hein. — Murmuro fazendo pouco caso da situação e olhando para as minhas unhas. Recebo os olhares dos dois e percebo que não era necessário minha sinceridade nesse momento.

— Eu realmente adoraria, mas acabei de comprar um apartamento e... — Olha para os olhos tristes de minha mãe. — Ok! Talvez eu possa ficar por algum tempo, se não for incomodo para vocês.

— Jamais seria um incomodo, Noah! Bea, peça para Tânia arrumar o quarto de hóspedes para seu tio! — Ordena se levantando do sofá e olhando para ele. Ela está realmente feliz, isso é notável. O brilho em seus olhos e a felicidade estampada sem seu rosto, tão inconsequente.

— Pode ir subindo as escadas e vira a segunda porta a direita, preciso conversar com a minha mãe. — Digo para Noah que estranha meu pedido, mas não reluta e se retira da sala.

— Filha! Seja mais educada com seu tio! Eu não o vejo a 22 anos, colabore comigo! — Pede me fazendo revirar os olhos, como alguém consegue ser tão lerda trabalhando na área da medicina?

— Mãe, você nem conhece esse cara. Não sabe nada sobre ele, nem se o nome verdadeiro é Noah. Talvez você esteja sendo rápida demais em chamá-lo para morar com nós. — faço bem a escolhas de palavras para não magoá-la. Minha mãe é sentimental demais.

— Você está certa! Mas eu sinto em meu coração que é o meu irmão. Filha, Noah para mim era um filho. Eu cuidava dele como se fosse um filho mesmo, por favor! Fique feliz por mim. — Pede, concordo com a cabeça e dou um sorriso compreensivo.

Me retiro da sala subindo as escadas bufando, bom, eu só espero que ele esteja falando a verdade. Porque eu odiaria que magoasse a minha mãe. 

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