Capítulo 4

— Não vai não. — Tio Jack estava possesso, era só notar a veia latejando em sua têmpora. — Nenhum de vocês vai sair atrás de um demônio do sexo.

— Tio Jack, não estou pedindo sua permissão e nem de convidado. — A grosseria doeu no meus ouvidos, mas eu não podia viver zumbizando homens por aí. — Tio Alex vai comigo, você é papai fica em casa.

— Por que eu vou ficar em casa? — Meu pai perguntou levantando do sofá.

— Acho que mamãe não vai gostar de você indo atrás de uma súcubo. — Dei de ombros.

— Ela tem razão. — Minha mãe levantou. — Será uma noite de meninas, que tal?

— Super topo. — Pulei animada. Dona Linda as vezes era chata, mas eu acho que isso é porque ela é mãe e tem que ser a adulta responsável e me ensinar limites e blá, blá, blá, mas quando caçava me divertia muito com ela. Aprendi a fazer os melhores venenos e a atirar com uma zarabatana.

— Não. — Meu pai disse.

— Querido, estaremos muito bem. — Minha mãe deu um beijo no meu pai.

— Vocês não estão pensando em ir no prostíbulo? — Tio Jack perguntou.

— Não seja bobo tio Jack. — Dei meu melhor sorriso. — Vamos pra balada.

— Bom, acho que essa é minha deixa. — Luck levantou do sofá. — Nos vemos por aí.

Ele simplesmente foi embora, eu só vi a linda tatuagem dele nas largas costas negras indo embora. Num impulso corri atrás dele, o peguei na escada do lado de fora. — Espera Luck.

— O que foi? — Luck abriu os braços. — Vai me atacar de novo? — Ele passou as mãos nos cabelos e olhou para além da cerca branca da minha casa. — Estou cansado de garotas demoníacas na minha vida, bagunçando tudo.

Não esperava aquilo, fiquei constrangida em primeiro momento depois fiquei brava, passei a manhã inteira me sentindo culpada por achar que matei ele, depois envergonhada por ter atacado uma coisa que eu não podia controlar.

— Quer saber de uma coisa? Vai se ferrar. — Cruzei os braços. — Eu não queria ir para a droga da escola, quase fui atropelada e por causa de você meus genes de demônia se ativaram, então não, eu não vou te atacar, só queria pedir desculpas. Idiota.

Dei meia volta brava, não tinha motivos, mas não podia controlar o sentimento. Em um momento queria o agarrar e outra lhe bater sem falar no choro. Eu estava me tornando uma adolescente estupida como aquelas dos filmes americanos. Era uma loucura total. Tio Alex estava saindo da sala e me olhou.

— Vamos treinar. — Eu estava ferrada, ele não era de me dar mole, sabe aquele negócio de que nerd era franzindo, não era o caso do meu tio, era tão forte e agiu como outro qualquer.

Caminhei atrás dele e fomos para o andar de cima, passei no meu quarto e troquei de roupas para algo mais confortável e fui para o quarto de treinamento. Tio Alex já estava lá aquecendo, olhei os vários equipamentos e pesos lá, os espelhos eram uma coisa que eu e minha mãe lutamos para ter, era difícil ser a minoria dentro de casa.

— Um pouco de MMA? — Tio Alex colocou as luvas e jogou um par para mim.

— Pode ser.

— Vamos gastar um pouco dessa energia acumulada?

— Por favor.

Uma hora depois, muito suor e quedas. Meu tio era o pior adversário, implacável. Estava deitada no chão depois da última queda olhando brava para ele. — Odeio você. — Fiz biquinho​.

— Odeia mesmo? — Ele gargalhou e me deu a mão para eu levantar.

— Não. Mas você poderia pegar leve.

— Não mesmo. — Ele olhou profundamente para mim. — Você tem certeza que quer ir atrás de uma súcubo?

— Eu sou uma bomba ambulante tio Alex. — Comecei a andar de um lado para outro. — Não sei o que fazer, quando... quando tudo aconteceu com Luck no banheiro. — Estava bastante constrangida de entrar em detalhes com ele, mas tio Alex era a Suíça em assuntos delicados. — Não era eu, era como se eu me fiz a distância, e aquela coisa tivesse tomado meu corpo e assumido as minhas funções.

— Entendo. — Tio Alex foi até uma geladeirinha no canto da sala e pegou duas garrafas de água, lançou uma para mim e ambos tomamos um generoso gole. — Há algo que ninguém sabe, mas eu e o Jack, nós temos uma ligação profunda, eu sinto as mesmas coisas que ele, principalmente as emoções fortes.

— Como assim tio? — Aquilo era novidade para mim.

— Quando Jack foi sequestrado. — Tio Alex fez aspas com os dedos quando disse a última palavra. — Eu senti tudo que ele sentia, cada uma das emoções, a luxúria, a dor, a humilhação, o desespero. — Ele desviou os olhos de mim e mirou o espelho. — Eu não pude ajudá-lo, porque estava no mesmo inferno que ele.

— Sinto muito tio Alex. — Abracei o meu próprio corpo.

— Eu daria tudo para exterminar cada uma súcubo do resto deste demônios do mundo todo. — Respirando fundo ele veio até mim. — Ai sua mãe foi mordida e mais uma vez me vi no desespero, de um lado meu irmão querendo morrer depois do que aconteceu com ele, de outro lado minha irmã querendo morrer por causa da possibilidade de virar um demônio. — Ele acariciou o meu rosto. — Foram sete meses de pura loucura em nossa casa, tentando manter os dois vivos.

— Deve ter sido terrível. — Eu o abracei.

— Foi sim. — Tio Alex me deu um beijo no topo da cabeça. — Sabe quem salvou eles dois?

— Quem? — Olhei para cima e vi tio Alex sorrindo, era raro ele sorrir, mas quando acontecia era incrível.

— Você.

— Como é que é?

— Sua mãe entrou em trabalho de parto e a única pessoa na casa era Jack. — Arregalei os olhos. — Ele fez o seu parto e algo aconteceu com os dois e o desejo de morte foi embora.

— Por causa de mim?

— Exato, você é nosso pequeno milagre. — Me abraçando ele sussurrou em meu ouvido. — Se você quer encontrar uma súcubo, então vamos atrás de uma. — Pegando em meu rosto e deu o sorriso diabólico reservado para as caçadas. — Deus tenha piedade da alma dessa demônia, porque a família Souza estará no pé dela.

***

Nossa missão foi dividida em partes: primeiro achar o local. Depois que nossa sessão de treinamento acabou, eu e o tio Alex fomos atrás de alguma balada pela região. Quer um lugar de sexo fácil? Achei um que tenha muitos jovens bêbados ou drogados para que não saiba o que de fato está acontecendo ao redor. Achamos uma rave em uma fazenda a uns quarenta quilômetros de onde morávamos.

Segunda parte conheça o local. Tio Jack e papai foram até a fazenda com a desculpa perfeita, vender um plano de segurança de nossa empresa. Assim eles colocaram câmeras espalhadas por todo o local. Tiveram acesso a central de segurança onde papai colocou um malware que daria entra perfeita para que pudermos ter acesso a tudo. Nesta parte do plano, traçamos as melhores rotas de fuga do local, caso precisássemos.

Terceira parte, é a mais difícil para mim, foi os preparativos. A minha letargia chegou no ápice depois do almoço, não conseguia ficar com os olhos abertos então fui dormir. Meu pai acha que é efeito dos hormônios que ele me deu, eu sei lá, só sei que dormir a tarde toda e só acordei com a minha mãe me sacudindo dizendo que precisamos nos aprontar.

Fui tomar um banho para tirar os resquícios do sono. Sequei meu cabelo de qualquer jeito, dando graças a Deus que tinha puxado a minha mãe, já que ele era meio ondulado e não crespos igual ao do meu pai, se não teria que passar um século para desembaraçar. Cacei por entre as caixas uma roupa aceitável para lutar e ainda estar bonita para rave, mas algo estava terrivelmente errado. O jeans que eu peguei não subia nas coxas, a camiseta preta do Nirvana também não servia, o meu sutiã estava apertado e me machucando. Fui até o espelho do banheiro e me dei uma boa olhada.

  — Lari, você está pronta? — Ouvir minha mãe entrando no quarto. — Sinceramente, filha. Você precisa arrumar seu quarto.

— Mãe, acho que temos um problema. — Sai do banheiro e a encarei. — Tem algo errado comigo.

Minha mãe me olhou de cima a baixo várias vezes me avaliando. — Parece que você ganhou algumas curvas.

Ela estava de brincadeira. Provavelmente ganhei dois números de busto, coxas e quadris, minha bunda estava, uau. Sempre tive o corpo em forma por causa dos treinos, não era uma louca pelo peso e nada disso, comia um monte de tranqueira, mas treinava seis horas por dia para poder matar criaturas noturnas.

— O que faremos agora? — Passei minhas mãos pelos meus cabelos soltos.

— Vou buscar um dos meus vestidos...

— Vestidos? Não. — Odiava vestir vestidos. — Não tem outro coisa?

— Você precisa ser mais feminina, minha filha. — Minha mãe sorriu e eu gemi internamente. — Venha, vamos ao meu quarto.

Depois de cinquenta vestido um finalmente deu certo. Um vermelho colado ao meu corpo que acentua minhas curvas, completei com meias três quartos onde coloquei uma cinta-liga que dava para colocar algumas facas ali. Os sapatos foi outra briga, minha mãe queria que eu colocasse os sapatos de salto alto, no fim vence, coloquei uma bota cano longo e fechei o look com a jaqueta de couro do meu tio Jack onde coloquei mais alguns apetrechos.

 — Falta a maquiagem. — Minha mãe mostrou uma bolsa gigante. — Não faz essa cara de terror.

Suspirei e sentei na cama dela. Minha mãe usou um monte de coisa na minha cara que eu nem sei o que era e nem queria saber. Deve ter passado horas ou minutos eu não sei, mas dei graças a Deus quando ela disse que tinha terminado. Saímos do quarto dela, observei a minha mãe em seu vestido preto estilo tubinho colado em seu corpo, com um decote profundo nas costas, sandálias de salto alto de tirinhas, uma jaqueta branca e seu longo cabelo trançado assim como o meu, era mais fácil para lutarmos.

Descemos as escadas e os meninos que estavam lá embaixo conversando param de falar olhando para a gente. O olhar de meu pai para minha mãe era inexplicável, era óbvio o amor entre eles, parecia que não existia ninguém mais na sala, só eles dois. Papai veio até as escadas e deu a mão para ela.

— Você está linda, meu torrão de açúcar. — Eles deram um pequeno selinho. Meu pai olhou para mim e arregalou os olhos. — O que aconteceu com você?

— Os genes de súcubos estão ativos. — Eu dei de ombros fingindo despreocupação que eu estava longe de sentir.

— Vamos nessa, lindas ladies. — Tio Alex ofereceu os braços para nós.

— Ainda acho que isso é loucura. — Tio Jack veio atrás de nós. Ele e papai ficariam como apoio em uma van um pouco afastado de nós vendo tudo.

— Loucura é o nome do meio da nossa família, tio Jack. — Sorrir faceira.

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