Capítulo Quatro

- Olá, Olívia. – murmurei calmamente. 

Ela corou e sorriu. Isso, eu estava indo bem. 

- Oi. – Senti meu coração querer pular pela minha blusa branca bufante. 

Eu nunca tinha sentido essa sensação de nervosismo e ansiedade. Nunca. E agora eu não sabia como agir, o que falar e como tratá-la. 

Respirei fundo e tomei coragem. Caramba, eu era um anjo. Poderoso e protetor com dois mil anos de idade e isso tinha servir para alguma coisa. 

Olívia ainda me encarava confusa e sua expressão era uma doçura. 

ela disse, tímida. 

- Você deve estar um pouco confusa, não é? – sorri. 

Por um pequeno segundo vi seu olhar estudar meu rosto, meu corpo e por fim meus olhos. Ela parecia intrigada com minha escolha pela máscara e mesmo assim ela sorriu mais uma vez e acenou com a cabeça.

- Vou esclarecer as coisas para você. – falei, pois eu não aguentava mais não me apresentar a ela. – Sou um anjo. Um anjo do Céu, que foi enviado para proteger você. 

Ela parou de respirar naquele segundo. Seus olhos ficaram chocados e ela tinha dificuldade em processar o que eu havia acabado de falar. Era claro que isso não acontecia todos os dias. 

Mas, eu queria uma reação dela. Uma reação positiva. Não de alguém que ia sair correndo e gritando de medo ou possivelmente pirando. 

Olívia após poucos minutos, recuperou sua expressão normal, e se fixou em meus olhos. Vi uma pequena adoração em seus olhos. Ela havia gostado de mim e se sentia especial. Era isso. 

Sorri mais feliz do que minha vida inteira, só que me mantive quieto para esperar que ela falasse.

E ela falou.

- Me proteger? Por quê? Do que? – ela olhou para mim questionadora.

- Amada, me escute. – soltei a palavra amada sem querer e os olhos dela brilharam. Parecia que sua adoração tinha sido tão instantânea quanto a minha por ela. Isso me deu ainda mais coragem. Peguei suas pequenas mãos nas minhas e ela corou. – Você tem tido sonhos que se provam verdade após alguns dias, não é? – olhei para ela, e ela assentiu. – Isso são visões. 

- Eu conversei com uma amiga e ela me disse a mesma coisa, mas é difícil acreditar nisso. Por que eu? – ela disse não como se não gostasse do presente divino, mas sim como se achasse insignificante demais para receber tal presente. 

Sorri, ela era tão cega. 

- Venha comigo. – puxei suas mãos e de mãos dadas passeamos pelo convés do barco. Ela alegremente me seguiu. – Amada, você é uma pessoa muito especial. Que tem capacidade de suportar algo tão grande como um dom. Claro que isso requer responsabilidades, e por isso estou aqui para te ajudar. Seu anjo protetor. – quando falei isso, parei e segurei suas mãos, fixando meus olhos azuis mar, nos dourados dela. 

- Ainda sim, eu não entendo. Eu não mereço isso. – ela disse. 

Como ela não podia enxergar a quão linda ela é? O singular e especial ser que ela era?

Peguei seu rosto entre minhas mãos e falei suavemente.

- Você é maravilhosa, amada. Seus dons fazem de você uma incrível pessoa. O fardo é pesado sim, mas eu estou aqui para sempre te proteger, para servir como tutor, para ser a pessoa que vai te orientar para que você aprenda a lidar com seus dons, por que ainda é só o começo, por que você tem uma luz tão brilhante dentro de você que só vai fazer com que você cresça ainda mais, minha protegida. – falei com toda emoção que poderia. 

Ela ficou completamente muda. O choque mais uma vez tomou seu lindo rosto. Dessa vez por que ela estava surpresa com minhas palavras, com meus sentimentos intensos sobre ela, que eram tão grandes que eu sabia que ela sentia. 

Ela sorriu de um jeito tão meigo que fez meu coração parar. E em seguida me abraçou. De um jeito apertado. 

- Obrigada. – ela sussurrou emocionada. – Obrigada por estar aqui. Obrigada por ser um anjo lindo que vai me proteger e cuidar de mim. Obrigada por esclarecer todas as confusões que estavam em minha mente. – ela continuou me abraçando. 

Apertei um braço ao redor dela e com o outro passei a mão por seu cabelo. Era macio e lindo. Eu adorava tudo que estava acontecendo. Era um dia que eu estava vivendo, que eu sabia que mudaria toda minha existência. 

Uma pequena lágrima se formou e rolou por meu rosto, mas ela não viu por que a máscara escondeu.

- Não precisa me agradecer, amada. – falei. 

Ela se soltou de mim e riu. 

- Sou mesmo vidente. Isso ainda me espanta. – ela disse como uma criança que recebia presentes na manhã de Natal. – Mas, você disse que sempre estaria comigo... Como vou falar com você se você é um anjo?

- Sou um anjo. Mas, o seu anjo. – falei e minha voz ficou rouca. – Estarei todos os segundos com você. E se você não conseguir me sentir, é só rezar me chamando e irei correndo para você. Vou fazer com que a partir de agora você possa sentir minha presença integralmente. Fiquei o dia inteiro ao seu lado hoje. E sei tudo sobre você. Então me considere seu para qualquer coisa. 

Ela corou com minhas palavras. 

- Qual seu nome? – ela me perguntou ainda corada e doce pelo que eu disse.

Eu sentia que ela estava êxtase. Tanto pela minha presença, mas pelas coisas que estavam acontecendo. E eu poderia dizer que eu não poderia ter me saído melhor. 

- Melahel. – sorri. 

- Lindo nome, guardião meu. 

Foi minha vez de corar. Fiquei tão feliz ao ouvir aquelas palavras! 

Porém, foi quando eu senti algo se desintegrando ao nosso redor, e percebi que nosso tempo estava acabando. Sonhos tinham tempo limitado para terminar, e o nosso restava pouco. 

Rapidamente olhei para ela. Olívia sorriu, aquele sorriso amigo e convidativo. 

- Até logo, amada. – falei. 

Seus olhos murcharam um pouco com minhas palavras, e gostei de saber que ela se importava comigo e com nosso tempo juntos. 

- Até, Melahel. – ela disse. 

Me aproximei e beijei sua testa com um sussurro. Os braços dela me rodearam e pude  senti-la sorrindo. E foi bem nessa hora que ela desapareceu em meus braços e fui expulso de seus sonhos.    


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