O Início das Estranhezas

Na escola, tudo continua como sempre. As aulas começam e tudo segue normalmente até a hora do intervalo. Nesse momento, quando Emmily está sozinha, saindo do banheiro, Marisa aparece perto dela.

- Oi. Queria conversar com você, rapidinho pode ser? – pergunta Marisa.

- Puta merda, que susto menina. Sempre no banheiro, mas que tara, em. Pode falar.

As duas entram no banheiro, que está vazio. Marisa é uma garota muito bonita, mas se esconde por trás de vestidos neutros, brancos ou bege, e penteados bastante antigos. Todos sabem que ela é filha de uma ex-freira e que é bastante religiosa. Marisa fala bem rápido, visivelmente envergonhada.

- Bem, é muito estranho falar assim com alguém como você. Mas essa é minha primeira missão, então tenho que fazer. – Marisa está bastante envergonhada, olhando para os lados e para o chão – Primeiramente eu gostaria de lhe convidar para assistir algumas aulas de Doutrina Católica, com o professor de Ensino Cristão, na Paróquia Santo Afonso. Você é o que nós chamamos de “filha de São Rafael” e eu devo “cuidar” de você. Pode parecer um pouco estranho, mas tudo será explicado para você quando assistir ao primeiro sermão. Caso queira ir, me avise na aula amanhã, aí iremos juntas e eu te adiantarei algumas coisas. É somente isso que eu tenho para lhe dizer, e mais uma coisa, o sermão será na sexta-feira às 18 horas.

- Calma, você está me convidando para a sua seita bizarra católica? – espanta-se Emmily.

- Não é uma seita. – duas garotas entram no banheiro conversando – Até amanhã. – Marisa sai quase que correndo do banheiro.

- Mas tem muita gente doida nesse mundo… – Emmily fala para si mesma, em voz alta, enquanto sai do banheiro.

Emmily volta para a sua turma. Conta para eles sobre o que aconteceu e todos, exceto Tai Shio, começam a tirar sarro dela. Leonardo faz várias observações sexuais sobre os encontros das duas e todos riem. Tai Shio, por ser muito mais reservado e por nunca concordar com as “brincadeiras” de Leonardo, acaba saindo da roda de conversa e seguindo para a sala de aula.

A aula acaba e todos voltam para casa. Emmily e Bárbara voltam juntas, como todos os dias.

- Você está levando a sério o convite que a Marisa te fez, Emmily?

- Sei lá. Parecia uma parada, no mínimo, interessante.

- Pelo que você me falou, das costas e da perna dela, está me parecendo uma seita de padres pedófilos e estupradores, isso sim.

- Sei que a Igreja tem seus problemas, mas não adianta só analisarmos através desse ponto de vista, Bárbara.

- Nossa, está parecendo com o seu pai falando, não com a minha amiga Emmily. Espera só quando o Pedro souber disso…

- É mesmo, ele não foi para a escola nem ontem nem hoje. Será que a filha dele está bem?

- Espero que sim. Não é legal ver uma criança tão pequena assim passando por essas coisas.

- Ou será que ele só está visitando a ex? – novamente Emmily pensa alto, sem perceber que falou alto.

- É, acho que o Pedro está certo quando fala que você o ama, Emmily.

- Ah!!! Não enche. Vou virar aqui, até amanhã. – Emmily vira a esquina e acena para Bárbara.

- Até amanhã futura Madre Emmily! – Bárbara devolve o aceno.

A noite passou bem. Pedro passou em casa, tomou um banho e pegou uma muda de roupas limpas. Novamente pretendia passar a noite na oficina. O Téo estava escornado na poltrona da sala com a televisão ligada. Desmaiado de bêbado. Sua mãe estava na cama, nua e bêbada. Seu olho direito estava roxo, seu pescoço vermelho, parecendo com marca de enforcamento, sua bunda bastante vermelha e suas pernas com algumas marcas roxas. Pedro a cobre, olha para Téo e para uma faca em cima da pia.

- É, seria muito bom para você. Sua hora chegará Téo, e você saberá que fui eu que acabei com sua raça, seu maldito! – Pedro fala olhando para Téo. Mas as lembranças de sua mãe defendendo-o e a todos os seus namorados e aceitando tudo que eles faziam, deixavam ele ainda mais confuso.

Pedro pega sua mochila, duas cervejas de Téo que, com toda certeza, as comprou com o dinheiro de sua mãe e um maço de cigarros dele também. Sai de casa e segue andando devagar até a oficina. Aproveita ao máximo o cigarro e tenta não pensar em nada, somente em andar.

Na oficina ele toma as duas cervejas enquanto assiste ao jornal na televisão. As horas passam e Pedro desliga a televisão para dormir. Precisa acordar cedo para a aula no outro dia ou então já poderia desistir da escola.

Finalmente chega a sexta-feira e todos os amigos se encontram na porta da escola. Quando veem Pedro todos gritam e o saúdam, parece que ele estava sumido há mais de um mês. Leonardo o atualiza da maneira mais tosca possível e Pedro morre de rir. Ele se vira para Emmily, pega em sua mão esquerda e fala:

- Garota bonita, devido aos seus novos votos de fidelidade e união para com Cristo, acredito que seu amor pela minha pessoa passa a ser suprimido. Não posso fazer nada, a não ser convidar meus amigos para curtimos um rock e tomarmos um vinho em algum lugar podre dessa cidade podre.

Emmily tira sua mão da mão de Pedro e pega no seu queixo. Olha no fundo dos seus olhos e diz:

- Vá à merda seu zé mané! Só vou experimentar coisas novas.

Todos riem alto e, como sempre, Leonardo solta algum comentário sexual sobre Emmily e Marisa. O sinal toca, Leonardo e Rebeca vão na frente, seguidos por Emmily e Bárbara e depois por Pedro e Tai Shio.

A aula corre bem. A cada momento que podem eles fazem algum comentário sobre a decisão de Emmily ir à igreja e riem. Tai Shio dá apoio à Emmily, porém avisa que caso ela não se sinta confortável, as reuniões budistas sempre estarão de braços abertos. O que faz com que Leonardo faça mais chacota.

No final da aula, Marisa aparece rapidamente na porta da sala de Emmily e pega nas suas mãos.

- Então Emmily, podemos contar com a sua ilustre presença?

- Bem, – começa a falar tirando as mãos da mão de Marisa – eu irei sim, mas é mais por curiosidade do que por qualquer outra coisa.

- É assim que tudo começa. Te encontro aqui, na porta da escola às 17:40.

Marisa recolhe as mãos e as coloca em seu ventre. Ela olha os amigos de Emmily, fica com o rosto bastante vermelho e sai andando bem rápido.

- Então é assim que as meninas se pedem em namoro? – questiona, de modo bastante irônico, Leonardo.

- Vai se ferrar Leonardo! – exclama Emmily e Tai Shio, quase que em uníssono.

Ficam uns dois segundos em silêncio quando todos começam a dar risadas altas. Caminham até a saída da escola, falando muitas bobagens e tirando muito sarro de Emmily. Todos seguem para suas respectivas casas e Pedro para a oficina.

Quando Emmily chega em casa, sua rotina novamente se inicia. Ela prepara o almoço e come. Separa a comida de seu pai na geladeira para o jantar, arruma a cozinha, faz suas atividades e se apronta para encontrar com Marisa. Ela não tem nenhuma roupa que seja adequada para ir à igreja, então veste a menos chamativa que tem, um vestido longo preto, sem decote. Muito simples, que ela normalmente usa em casa. Mas é o único que para ir, os outros abusam do couro, decotes e partes rasgadas.

Emmily sai de casa e segue para a escola. Leva junto uma bolsa com seus documentos, nunca se sabe, vai que as teorias do seu amigo Pedro estão corretas? Ela caminha durante um tempo e chega na porta da escola, onde Marisa já a esperava. Elas se cumprimentam com um aceno e continuam andando em direção a igreja. Porém, quando se emparelham Marisa começa a falar, com uma voz agora muito mais calma:

- Você é muito especial, sabia? Não é somente por você ter visto as minhas marcas, mas porque Deus a escolheu. Deus te chama e chama somente uma vez. Você sabe que deve ouvir o chamado e respondê-lo como é esperado que você o faça. Com um “Sim”. É somente isso.

- Desculpa Marisa, mas o fato de eu ter visto suas “marcas” e ter tentado conversar com você foi apenas uma coincidência e eu tentando ajudar uma outra mulher, não um chamado divino.

- É preciso interpretar os sinais, Emmily. Deus age a todo momento e de formas que nós sequer imaginamos. Ele me colocou naquele banheiro, assim como você. Nosso encontro não foi coincidência nem nada disso, foi obra do Nosso Senhor.

- Espero que eu não me arrependa dessa empreitada…

As duas andam mais alguns minutos e chegam até a Igreja. Não é uma igreja grande, mas é uma igreja bonita e bastante respeitável. Elas chegam exatamente às 18 horas. Encontram algumas pessoas entrando e as seguem. O orador é o professor da escola de Moral e Cívica. Ele fala de coisas como viver em comunhão, de dedicação física e espiritual à Deus e de outras coisas relacionadas aos dogmas da Igreja Católica. O sermão demora cerca de 30 minutos e, quando termina, Marisa leva Emmily para que o professor a veja.

O professor é um homem de 40 anos de idade chamado Carlos Franco e, como todos os alunos sabem, ele é um jornalista pouco conhecido mas muito bom. Sempre foi um homem bom com as palavras. Ele vê Marisa se aproximando e vai ao encontro das duas. Ele cumprimenta Marisa, que lhe apresenta Emmily. Ele olha para Emmily e já começa a falar:

- Bem, como Marisa já deve ter adiantado, você foi escolhida por Deus para ser uma das suas fiéis seguidoras. Deus te chama e chama só uma vez. O que eu lhe direi ficará entre nós três e, em hipótese nenhuma, deverá passar disso, entendeu?

- Acho que sim. – responde Emmily, um pouco assustada.

- Para o seu bem, espero que sim. Bem, você é uma filha de São Rafael, uma das poucas mulheres que são convidadas para subir. Desculpe-me por ser um pouco incompreensível.

- De forma nenhuma, que isso. – responde Emmily com um leve tom de ironia.

- Vou lhe explicar melhor. Eu e Marisa fazemos parte de uma ordem Católica chamada L'opera di Dio, ou em português, “Obra de Deus”. Uma filha de São Rafael é uma mulher que recebe o chamado de Deus para subir, ou entrar para o círculo, para a ordem. E você, do mesmo modo que a Marisa, foi escolhida. Você sabe que deve dizer “Sim”. Negar esse chamado divino é o mesmo que negar a Deus, seu pai criador. É o mesmo que aceitar o Demônio, é ir contra todos os princípios cristãos e humanitários. É ser mais um desiludido pelas fábulas modernas, forçado a crer em um mundo sem vida, a viver de fachada sem perceber o que realmente está ao seu redor. Será viver para sempre em uma ilusão. Então, o que me diz, ou melhor, o que diz a Deus? Como responderá a este chamado divino?

O professor é bastante convincente. Emmily leva muito a sério tudo o que ele disse e suas feições, antes de alguém descrente, mudaram para alguém preocupada.

- Deus espera sua resposta, não seja uma filha que abandona o seu pai. Não demore e fique na paz do nosso Senhor. Ele lhe ajudará a escolher. – o professor finaliza, despedindo-se das duas.

Marisa e Emmily saem da Igreja e seguem de volta para a escola. Emmily ainda está um pouco atordoada com a enxurrada de informações, mas Marisa começa a falar com ela.

- Emmily, você sabe que deve dizer sim. É o que todos esperam que você faça, é o que Deus espera que você faça. Você nasceu para a L'opera di Dio, você nasceu para fazer das palavras do filho do Senhor algo concreto para os outros. Você é mais do que mais uma filha de Deus, você é uma escolhida pelo próprio Senhor para lhe representar junto de seus irmãos da Obra. Pense nisso. Deus espera isso de você, não o decepcione, não desperdice sua vida. Fique com Deus e até amanhã.

Marisa não espera uma resposta de Emmily, que ainda está processando tudo, e segue seu caminho para sua casa. Emmily fica uns segundos parada até que segue, sozinha, até sua casa, sem entender muito o que aconteceu. Seu pai é bastante católico, ela conhece os dogmas da igreja e sempre foi contra eles. Porque agora tudo parece fazer sentido? Realmente Emmily está preocupada com isso e precisa saber mais.

Quando chega em casa seu pai está assistindo televisão. Ela o cumprimenta e fala bem por alto sobre sua ida à Igreja, não citando sobre a L'opera di Dio. Ele fica visivelmente contente e muito empolgado, mas Emmily não dá muita abertura para conversa. Ela vai para o banheiro, toma um banho e fica um tempo se olhando no espelho, nua. Parece que cada detalhe do seu corpo exala pecado. Ela se sente estranha… É como se todo o seu passado viesse à tona e a julgasse. Ela passa a mão no seu corpo e lembra de detalhes de sua vida amorosa e sexual. Pela primeira vez, Emmily sente vergonha de sua nudez… Emmily veste suas roupas, vai para o seu quarto e dorme. Um sono pesado.

Emmily acorda assustada no outro dia de manhã, já é sábado, dia da festa de Halloween. Ela se levanta, ainda zonza da enxurrada de informações da noite anterior. Vai até o espelho e se olha. Durante alguns minutos ela olha para o seu rosto e nem sabe o porquê. Depois ela tira sua blusa e olha para os seus seios. Não os vê mais com vergonha, ela os aprecia, como sempre o fez. Tira sua calça e fica completamente nua. Ela se olha durante algum tempo e não consegue entender o que aconteceu na noite anterior. Até que sua porta abre e uma voz conhecida lhe chama.

- Bom dia, garotinha linda… Meu Deus! – Pedro entra no quarto e fecha a porta atrás de si – Por favor volte mais vezes para essa igreja.

- Porra Pedro, não bate mais não, seu merda! – Emmily pega sua blusa no chão e coloca na frente de seu corpo.

- Eita, já virou carola? Nunca foi assim, ainda mais comigo!

- Porra, você me assustou caramba! O meu pai está aí? – pergunta em um tom mais baixo.

- Deve vir daqui a pouco para ver a filhinha dele… É muito triste mas você terá que se vestir… – Pedro faz que limpa um suor da testa e se encosta na parede.

- Vai se ferrar! Que merda, vai ficar aí olhando? – Emmily questiona enquanto pega roupas novas para se vestir.

- Quer a verdade? Vou sim! Queria poder tirar a roupa também, mas com papai em casa é dureza.

- Pensei que só o Leonardo falasse merda.

Emmily se veste rapidamente enquanto Pedro tenta ver o seu corpo o máximo que pode. Os dois já ficaram algumas vezes e até chegaram a transar, na verdade eles perderam a virgindade um com o outro, mas nunca assumiram um relacionamento, por mais que todo mundo suspeite de que ambos se gostam. Emmily é uma garota livre, não se prende às amarras sociais que obrigam as mulheres a guardarem os seus corpos para os maridos ou que proíbem a nudez, ela sempre amou a nudez.

Os dois saem do quarto na hora que o pai de Emmily ia bater. Ele os chama para tomarem um café. Pedro aceita e Emmily vai ao banheiro. Eles tomam café e vão até a casa de Bárbara. No caminho começam a conversar.

- Aqui, que viagem é essa de você aparecer na minha casa? – questiona Emmily.

- Sabe como é, o universo conspira a seu favor. De alguma forma eu sabia que você estava querendo me seduzir, então eu fui.

- Vá à merda, Pedro! É sério, porque veio?

- Preciso de maquiagem para a festa a noite, além de um lugar para me trocar e tomar banho… Saí de casa por um tempo ainda não determinado.

- Que merda em? Porque não foi na casa do Japa, ficou com medo de vê-lo pelado e gostar?

- Os pais dele me odeiam, você sabe disso. Além do quê ele não tem maquiagem…

- Tá bom, Alice Cooper, vou fingir que acredito. Mas acho que a verdade é que você me ama!

- Se você aparecer para mim, pelada daquele jeito, todo dia, pode ter certeza que sim!

- E é assim que se pega um machista safado! Então só me ama pelo meu corpo? Está virando um dos namorados… – Emmily parou na hora certa, ela sentiu que ia falar alguma besteira.

- Pois é, né. Foi mal. Estava... brincando… eu acho… Então, vou poder usar sua casa para me aprontar para a festa? – Pedro desconversa, deixando demonstrar um certo desconforto em sua fala.

- Claro. Pode sim. Mas vamos revezar as maquiagens, certos produtos são bem caros. É bom que a Bárbara vai para lá também.

Os dois chegam na casa da Bárbara e é a própria que os atende. Ela está usando somente uma blusa grande e uma calcinha, está sem sutiã e descalça.

- Acho que aqui não deu certo, né Pedro? – cutuca Emmily, mas ao olhar a roupa da amiga – É, mas quase deu certo, né!

- Sacanagem, viu! Por pouco! – Pedro dá um leve soco no ar, com tom de brincadeira.

- Pois é, o que não deu certo? Estou meio por fora desse romance seus aí. – Bárbara questiona.

- Deixa para lá. Podemos entrar para resolvermos as paradas da festa de hoje a noite? – pergunta Emmily.

- Claro, vamos, entrem. Já tomaram café da manhã?

- Ainda não! – responde Pedro. Emmily olha para ele com uma cara de reprovação – O que foi? Estou sem casa agora, só não sou um sem teto porque trabalho e durmo na oficina.

Enquanto estão andando até a sala de jantar, Pedro tenta dar uma espiada na bunda de Bárbara, mas Emmily lhe dá um tapa na ombro, fazendo uma cara séria para o mesmo, que apenas dá um sorriso de canto de boca.

- Gente, preciso de uma atualização urgente. O que está acontecendo aqui, por favor! – suplica Bárbara, virando-se para os dois e vendo a troca de olhares entre eles.

Pedro explica resumidamente o que aconteceu e Emmily o corrige com alguns de seus exageros. Pedro come mais um pouco e acertam os detalhes para a noite. Pedro se despede das duas e volta para a oficina, ainda tem muito trabalho para fazer.

O dia passa tranquilo, sem nenhum problema. Bárbara separa sua fantasia, de uma bruxa de Salém. Emmily irá com um vestido mais pomposo, como uma dama da Renascença, mas todo preto. Já Pedro irá como um zumbi, estilo algumas performances do Alice Cooper. Elas separam as maquiagens e passam o dia trabalhando nisso.

Tai Shio acorda bem cedo, às 06 horas da manhã, para o seu treino de Tai Chi. Depois do treino ele toma um banho e toma o café da manhã. Ajuda o seu pai na padaria e comenta sobre o incidente com os jovens na porta da escola.

- Bem filho, eu não sei o que pode ter acontecido exatamente, mas nós sabemos que o Chi é poderoso. Sua presença pode sim ter afastado qualquer vontade de confronto do outro adolescente, você é treinado para isso. Porém esses efeitos em você, isso me parece que você precisa meditar mais. Treinar mais.

- Não sei pai, mas por hora eu vou me concentrar em entender isso. A meditação sempre ajuda.

- Sim, e um pouco de distração às vezes é necessário. Espero que se divirta nessa festa e que me conte no mesmo dia caso algo de estranho aconteça, Tai Shio. Eu sou seu pai, tenho que saber dessas coisas. Além disso podemos, até mesmo, pesquisar juntos.

- Pode deixar pai, desculpe-me.

A relação de Tai Shio com seu pai sempre foi boa, porém seu pai sempre cobra demais dele. Tai Shio vive no Brasil e gosta de coisas brasileiras, muitas dessas o seu pai odeia. Raramente ele abre uma exceção, nesse caso foi para a festa. Mas Tai Shio irá fantasiado de monge, o que acaba agradando um pouco o seu pai.

Rebeca também acorda cedo. Toma café com seus pais, faz suas atividades escolares e algumas atividades físicas com sua mãe. As duas escolhem a sua fantasia. Rebeca queria ir de pirata, com um belo decote, já que possui seios fartos. Porém sua mãe não acha prudente, muito menos o seu pai. Elas reduzem o decote, mas mantém a fantasia. Rebeca fica chateada, mas tudo bem, ela sabe que Emmily ou Bárbara poderão dar um jeito na hora!

Leonardo é o bom vivant da turma. Acorda tarde e já vai almoçar. Sua mãe grita alguma coisa sem sentido no fundo da casa. Ele se serve e sua mãe fala que ele tem que ajudar um senhor a consertar alguma coisa no barraco dele. Leonardo não escuta direito, ele odeia morar na favela. Mas ele faz o que pode, como, por exemplo, ajudar algumas pessoas com problemas em casa. Sua fantasia será de Zorro, um herói que ele e sua família admiram.

O dia passa e os amigos se encontram na porta da escola, às 16:30. Bárbara ajuda Rebeca com o decote. Leonardo pergunta porque Tai Shio não está de fantasia e todos se divertem entre si um pouco. Então decidem entrar! Será iniciada a festa. Até aquele momento, Pedro não estava ouvindo o tal zumbido, até chegar perto da escola. Ele afirma que o professor espião está na escola.

A decoração da escola ficou muito boa, um estilo de cemitério vampírico gótico. As músicas variavam desde Alice Cooper e Black Sabbath, passando por Barão Vermelho e Titãs e chegando em Bee Gees! Todos se divertiram muito, ainda mais que Pedro, Bárbara e Leonardo levaram bebidas alcoólicas escondidas.

Leonardo acaba saindo do grupo e vai atrás de alguma garota de outra turma. Bárbara percebe uma outra menina que parece que gostou de sua fantasia e decide tentar a sorte. Uma garota estranha convida Tai Shio para dançarem e ele acaba aceitando. Rebeca percebe um conhecido e decide ir até ele. Pedro e Emmily decidem ir para fora da escola para fumarem. Pedro acaba tentando uma cantada em Emmily, mas falha miseravelmente. Os dois riem, fumam um cigarro e, quando parece que ia rolar um beijo, um cara muito estranho chega por trás de Pedro e encosta algo nas suas costas.

- Passa a grana moleque, passa a grana.

- Eu não tenho grana, seu cocô! – retruca Pedro.

Mas antes que qualquer outra coisa fosse feita, Emmily acerta um soco no rosto do assaltante! Ele cambaleia para trás. Pedro se vira, ajeita a sua jaqueta e olha para o assaltante.

- Acho que você machucou a mão da minha garota, rapaz. Isso não pode ficar assim não.

Pedro avança sobre o assaltante e o agride, mas não o suficiente para desmaiá-lo. Descobre que ele usou o dedo para assaltá-lo, simulando uma arma ou o que quer que fosse. Eles decidem entrar de volta na escola, será mais seguro.

Enquanto estão entrando, Emmily questiona Pedro:

- Não sabia que eu era a sua garota. Novidade para mim, em!

- Foi só um modo de falar, sei lá. Pára com essas coisas, vamos achar o pessoal e beber alguma coisa.

Eles entram na escola mas não encontram ninguém, então conversam mais um pouco, bebem um pouco mais da bebida que estava com Pedro e, novamente quando parece que vai sair um beijo, Leonardo aparece no meio dos dois.

- Que casal mais lindo! Não se desgrudaram nem um minuto, que amor. Quando é o casório?

- Leonardo sendo Leonardo… Quero novidade aqui. – resmunga Emmily.

Pouco depois Tai Shio e Bárbara aparecem, cada um vindo de um lugar. Eles voltam a conversar quando, estranhamente, Alexandre aparece no meio deles e fala, de forma rápida e ofegante.

- Vocês precisam ir embora daqui agora! Algo muito grave está para acontecer, vamos sair antes…

Não foi possível terminar a estranha frase, pois um dos banheiros do segundo andar, literalmente, explode! Um pedaço do muro é destruído e muitas pedras, assim como água suja, cai em cima de várias pessoas, incluindo o grupo de amigos.

Inicia-se a gritaria! Vários alunos e alunas correm desesperados, tentando fugir de medo. Alguns são acertados pelos pedaços de tijolo e pedra e desmaiam no chão. Outros ficam em choque, catatônicos. Pedro manda todos irem embora enquanto ele busca pela Rebeca, mas eles não querem se separar e vão juntos. Encontram Rebeca um pouco distante, perto de várias mesas, porém ela machucou o pé.

Enquanto tentam levantá-la, eles veem, no meio do pátio, duas pessoas conhecidas andando lado a lado. Uma é o professor Dave LerChandu, que retira uma espada de dentro de sua bengala, e a outra pessoa é o Alexandre, que está com uma espada em mãos. Eles andam e param no meio do pátio. Os amigos se escondem atrás de algumas mesas viradas.

Rebeca fala baixo para Pedro e Emmily:

- Eu sabia que o professor escondia algo, só não sabia que era uma espada. Por isso cai da cadeira aquele dia.

Eles a ouvem, mas a atenção está mesmo nos dois no meio do pátio.

Dave dá mais um passo e grita umas palavras que não parecem fazer nenhum sentido.

- Narrow Iram de Berzzire!

Depois de alguns segundos, um homem alto, calvo, com uma grande barriga e com uma grande barba aparece. Todos reconhecem que é o professor Herculano, mas a sua pele e suas roupas não são as normais. Sua pele está branca em um tom azulado, suas veias estão estufadas e azuis, seus olhos completamente pretos. Ele usa somente uma calça de couro preta e botas pretas.

Dave se vira levemente para trás e dá uma ordem!

- Caso tenha alguma pessoa, saia imediatamente!

A espinha chegou a gelar e eles veem um aluno sair correndo de trás de outras mesas. Eles se mantêm firmes, morrendo de medo, mas firmes.

O professor Herculano dá um passo para frente e levanta os dois braços. De trás dele um portal com círculos roxo e preto se abre na parede, cuspindo quatro criaturas disformes. Essas criaturas são como  misturas de insetos com animais maiores, como touros. As criaturas avançam sobre os dois e se inicia um combate. O professor Dave consegue, sem muita dificuldade, matar três criaturas com sua espada, dando alguns golpes precisos. Porém Alexandre tem dificuldades com a única criatura que enfrentou, tendo um dos braços atingido por uma arma de corte das criaturas, causando um ferimento grande.

Com as quatro criaturas mortas, o professor Herculano abre a boca, como em um grito, porém sem som algum, e foge pelo mesmo portal que as criaturas foram cuspidas. O professor Dave, usando de uma habilidade sobrenatural salta até onde estava o portal, há mais de três metros de altura, e persegue o professor Herculano, ou o que quer que ele tenha se transformado. Alexandre fica para trás.

As criaturas começam a se desfazer e a desaparecer no ar. Alexandre vai até o bar e pega uma cerveja. Abre, joga um pouco no ferimento e vai embora. Apenas os seis amigos estão na escola. Tudo está bagunçado e ninguém sabe o que aconteceu. Todos estão bastante aturdidos e com medo. Pedro acende um cigarro e se encosta em uma parede.

- Acho melhor irmos embora, não sabemos o que aconteceu aqui e nem se o bicho vai voltar! – exclama Leonardo.

- Concordo, vamos embora agora e vamos manter isso em segredo, até descobrirmos o que realmente aconteceu aqui. – completa Tai Shio.

- É a guerra, bicho. É a guerra. – balbucia Pedro.

- Vamos galera, bora! – chama Leonardo.

Pedro joga o cigarro no chão e vai até Emmily, a pega pela mão e seguem para a saída. Seguindo eles está Tai Shio, que pega Rebeca pelo braço e segue com ela para fora da escola, apoiando o peso dela nele. Leonardo pega Bárbara pelo braço também e sai da escola com ela.

Tai Shio pega um caminho diferente, para levar Rebeca em casa e depois ir para a sua. Leonardo, Bárbara, Pedro e Emmily seguem pelo mesmo caminho durante um tempo, mas não conversam. Leonardo e Bárbara seguem para a casa de Bárbara, onde Leonardo a deixa e segue para sua casa depois. Pedro tenta deixar Emmily em casa, mas antes de ir embora Emmily pede para ele ficar, e ele fica. Os dois dormem juntos.

Porém, a noite não foi boa para todos. Tai Shio mal conseguiu dormir a noite, acordando várias vezes com pesadelos terríveis. Mas o pior veio por volta das 05 da manhã. Seu pai o acordou dizendo que iria levar sua mãe para o hospital, ela estava com uma dor de cabeça muito forte desde a tarde de sábado. A dor era tamanha que, pouco antes dele acordar Tai Shio, sua mãe tinha desmaiado. Sem saber o que fazer, todos os três foram para o hospital. No hospital, ela foi levada para dentro e eles ficaram esperando, sem saber o que poderia ter acontecido. Tai Shio não consegue descansar.

Rebeca, que foi deixada em casa por Tai Shio, entra e vai direto para o banho. Ela está um pouco traumatizada com tudo o que viu, mas tenta segurar a onda. Toma um banho e acaba indo conversar com seus pais sobre a explosão e o seu tornozelo. Porém, antes mesmo de pensarem em fazer um curativo ou ir ao posto de saúde, uma vizinha esmurra a porta, gritando o nome de sua mãe. Sua mãe vai correndo saber o que houve e solta um grito! Rebeca e seu pai correm e veem a cena, seu irmão caçula estava com uma perna totalmente destruída, todo coberto de sangue. Estava em um carrinho de mão do vizinho. De acordo com eles, um cachorro muito grande apareceu do nada e atacou. Ele só soltou depois que o vizinho disparou com uma arma de fogo contra o animal, que levou dois tiros, mas, ainda assim, conseguiu fugir. A vizinha já tinha chamado uma ambulância que, poucos minutos depois, chegou. Eles colocam o menino na ambulância e o levam para um hospital especialista em traumas graves, o Hospital de Pronto-Socorro João XXIII. No hospital as notícias não são muito boas. Seu irmão passará por algumas cirurgias, mas o mais provável é que terá que amputar a perna.

Para Leonardo, o problema começou assim que chegou em casa. Sua irmã mais nova sofre de anemia e teve uma crise de sangramento nasal enquanto ele estava na festa. Quando chegou em casa, sua irmã estava pálida e quase desmaiando. Só deu tempo dele trocar de blusa e irem os três para o hospital. No hospital ela foi colocada no soro e recebeu medicação, porém não houve melhora até a parte da manhã. Teve uma das veias do nariz cauterizada para evitar novos sangramentos. Ela corre risco de morrer caso não melhore em breve.

Bárbara foi deixada em casa por Leonardo. Ela tomou um longo banho, onde chorou e tentou melhorar seu estado. Seus pais não perceberam nada, eles nunca percebiam mesmo. Não conseguiu deitar na cama, deitou no chão, enrolada em um edredom, completamente nua. O trauma de ver aquelas criaturas parece ter sido bastante agressivo. Chora bastante até cair no sono. Porém não durou muito. Por volta das 05 da manhã sua mãe a acorda em prantos. Seu pai, que estava fazendo bico em uma fábrica de automóveis, sofreu um gravíssimo acidente. Parece que alguma coisa na fábrica cortou o seu pescoço. Elas foram correndo para o hospital indicado pela fábrica e souberam que um pedaço de uma máquina quebrou e arremessou um ferro para longe, acertando o pescoço de seu pai. Ele estava passando por uma cirurgia, porém as chances de sobreviver são muito baixas.

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