A sala de reuniões estava vazia por enquanto. O general conferia as fichas dos soldados que foram escalados para a escolta da Nave Um, todos jovens e inexperientes para tal tarefa.
Os outros integrantes da reunião chegaram quase que em uma fila organizada e se sentaram em seus devidos lugares, cada um de um lado da mesa retangular. Toda a segurança, proteção e defesa do Império Íris representada por aqueles homens e mulheres sentados naquela mesa.
- Foi uma perda trágica para todos nós.- O general diz fechando a pasta do garoto colocado como capitão. Ele ainda estava no hospital, mas teria que enfrentar um interrogatório e um julgamento ao sair.
- De fato, senhor general. - Uma mulher diz, sua pele era azul compacta e seu cabelo era vermelho escuro, realmente parecia se sentir culpada pelo o que houve ou apenas fingia muito bem esperando agradar o General Supremo.
- E é claro que vai haver mudanças depois desse crime terrível.- Ele continua se ajeitando na cadeira e organiza algumas pastas dos soldados. - Para começar, a mais importante delas. Senhor Oswald?
Um homem sem cabelos no topo da cabeça, e o que sobrou nas laterais eram alguns cachos castanhos, pigarreia e se colocou um pouco mais na beira da cadeira.
- Sim, senhor? - Anthony Oswald diz com a voz um pouco contida.
- Você já organizou ou participou de uma escolta?- O general pergunta com uma voz calma.
- Sim, senhor.- Ele responde sem coragem de olhar nos olhos do general, que eram como um céu carregado por uma tempestade devastadora.
- Ótimo, então o senhor pode me tirar uma dúvida.- O general pega a última pasta onde tinha a foto do jovem capitão.- Você sempre foi muito eficiente no seu trabalho de proteger a família real a todo custo, soube o que fazer, como fazer para que eles viajem em segurança para qualquer parte do mundo.
- Obrigado, senhor.- Oswald diz um pouco grato pelo elogio. O general contorceu a boca em desgosto.- Para mim é uma honra servir-
- E por isso, eu fiquei muito curioso em saber o que você estava pensando quando colocou na escolta do rei de Denver - O General Supremo repousa o queixo sobre a mão.- um bando de crianças.
Oswald arregala os olhos e engasga com a própria saliva, tenta parecer um pouco mais decente ao cobrir a boca com a mão, mas não adianta muito.
- Senhor, eles eram-
- São.- O general o interrompe mais uma vez.- Para a sua sorte, ou azar, teve apenas um morto.
- São jovens talentosos, os melhores relatórios de desempenho.- Oswald tenta argumentar.
- Mal completaram o treinamento e você os encarregou de proteger um rei?- O homem com olhos de céu pergunta com um sorriso falso no rosto.
- Achei que aprovaria...- O homem humilhado encolhe os ombros, parecia perceber o que tinha feito.- Coloquei seu filho...
Alguns presentes na reunião olham para Oswald incrédulos.
- Quer que eu agradeça por quase ter perdido ele?- O general provoca.
- General Supremo, estamos em paz, finalmente.
Todos na sala estão tensos, o General Supremo fica em silêncio unindo as duas mãos sobre a mesa.
- Vou lhe dar a chance de explicar essa frase.- O tom do general se torna pior, mais ameaçador. - E espero que explique muito bem.
- Não estamos em guerra há vinte anos, não há ameaças iminentes, nunca imaginei que haveria um ataque no nosso território.- Oswald explica, sua voz quase um sussurro.- Ninguém seria idiota em atacar o Império Íris.
"O mundo está cheio de idiotas". O general pensou.
Ele finge meditar um pouco sobre isso, chega até a fechar os olhos por alguns segundos e depois assentiu.
- Está demitido. - O homem de cabelo branco diz sem rodeios.
Oswald arregala os olhos, sem acreditar no que ouviu.
- Perdão, senhor. O senhor disse que eu...- Ele começa, mas é interrompido mais uma vez.
- Está demitido.- O general diz, arrumando as pastas dos soldados da Nave Um uma em cima da outra.- Esse seu tipo de pensamento não é sequer tolerável na Força de Íris. Quero todas as suas licenças retiradas, está proibido de entrar sequer em uma delegacia a não ser que seja para fazer uma denúncia. Qualquer benefício que tenha graças ao seu cargo serão retirados.
- O SENHOR NÃO PODE FAZER ISSO!! - Oswald diz batendo na mesa com os punhos, a expressão do general não muda.
- Caso pense assim, pode falar com a minha superior.- Ele diz com desdém, Oswald sai com os olhos baixos e a derrota no rosto.
- Que isso sirva de exemplo à todos vocês.- O general diz depois que a porta é fechada. - E eu quero que todos esses aqui sejam rebaixados às patentes de antes daquele idiota promovê-los. - Diz levantando as pastas que tinha nas mãos.
Nos corredores do Palácio Rubro, ele seguia para a saída acompanhado de outros soldados, estava furioso com o golpe e com o que tudo isso causaria no império e na sua vida pessoal. Sentia a dor da perda também, além da própria culpa, pensando em como tudo isso poderia ser evitado, mas não foi, por mero capricho. Por puro orgulho e excesso de confiança, mas ele não podia culpar muita gente. O que ele poderia fazer era não deixar isso passar em branco. Era um de seus deveres principais, afinal. Proteger o império e quem o governa. Sem contar que isso com certeza é um ato de guerra imperdoável. Ele tinha que punir os responsáveis por isso.
- Vasculhem cada centímetro do continente atrás desses traidores. Invadam todas as propriedades que estão no nome deles nem que seja uma mesa reservada em restaurante, vão até lá - Ele diz enquanto anda. - Não peguem leve com eles, pois eles não farão o mesmo com vocês. São traidores do império e devem ser levados à julgamento vivos, pois o que virá depois será pior. Mandem tropas para a mansão Bracken e as propriedades dos arredores e não deixem nada lá.
Os soldados saem para cumprir suas ordens, o homem parou e olhou para os próprios pés, com as mãos na cintura, contendo sua fúria dentro de si. Ele nem podia imaginar a dor que ela sentia, deve ser mil vezes pior, mas não ficaria por isso. Os Zander não iriam escapar impunes disso. Não mesmo.