CAPÍTULO DOIS

ALEX 

Estava analisando alguns documentos pela quarta vez, afinal, desde que vi Megan aceitando o meu convite para o jantar, não consegui mais pensar com coerência. Droga! Eu estava enfeitiçado por aquela mulher e não podia negar esse fato. 

O nosso almoço já havia me tirado dos eixos, pois nunca tinha tomado a coragem necessária para chamá-la para sair, então ter tido ao menos um pouco de tempo sozinho com ela me fez ficar extremamente contente. 

Só que não estava preparado para o que ia acontecer na minha tarde, já que eu estava feliz demais, animado demais. Então, alguma coisa tinha que estragar o meu humor. 

E por isso, quando minha mãe surgiu no meu escritório, eu sabia que meu dia estava por um fio de perder todo o encanto. Ela entrou sem bater, sem deixar minha secretária avisar sobre a sua presença, só entrou, sentou-se na poltrona de frente para minha mesa e me encarou com aqueles olhos de águia que só ela possuía. 

— Pode falar, dona Grace — murmurei, esperando que soltasse logo o motivo de sua visita. 

Eu fazia questão de sair de casa antes de todos acordarem e chegar enquanto todos não percebiam, para que não viesse nenhuma bomba em minha direção. No entanto, já estava claro que em algum momento eu teria que ouvir as reclamações da minha mãe, por isso, ela estava ali. E eu tinha certeza de que já sabia o motivo. 

— Querido filho, sabe quantos meses faltam para o seu aniversário? — mamãe questionou, fazendo com que eu tivesse certeza de que estava certo, ela fora me visitar para me lembrar do que eu queria esquecer. 

— Dois, mãe. Eu nunca esqueceria a minha data de nascimento, nem se eu quisesse, já que nos últimos tempos a senhora vem me lembrando dela constantemente. — Bufei, com raiva de estar em uma situação que não me agradava. 

— E eu estou errada, Alex? — Ela se levantou da poltrona, começando a andar de um lado para o outro em meu escritório, enquanto continuava a dizer: — Tenho que me preocupar, é a nossa herança, tudo o que temos que está em jogo, você quer perder para aquela mulher que nunca nos ajudou com nada? 

— Mãe, mas não tem como eu me casar em dois meses. 

— Claro, já que o noivado perfeito que tinha com Cameron você resolveu jogar fora por não amá-la mais. Me poupe, amor é uma mera condição de vida. O importante eram nossas empresas. — Ela quase, quase mesmo, perdeu a sua postura de mulher impecável, mas logo voltou a se recompor, sem alterar o tom de voz. 

— Isso é o que a senhora pensa, eu não ficaria casado com uma mulher que não amo. 

— Então, querido, trate de amar alguém logo. Não quero ver Elizabeth me humilhando por causa de um capricho seu — dizendo isso, ela simplesmente pegou sua bolsa e saiu do meu escritório. 

Minha mãe tinha uma grande mania de querer m****r em minha vida, e agora ela achava que estava no direito de esbravejar comigo, só por estar faltando tão pouco tempo para que eu completasse trinta e dois anos.

Passei as mãos por meus cabelos, que sempre estavam impecáveis, sem nenhum fio fora do lugar, bagunçando todo ele. Estava cansado de tanta pressão. Afastei-me da mesa, levantando-me e seguindo para o pequeno bar que ficava no canto do meu escritório. Coloquei uma dose de uísque no copo e tomei em um gole só; acho que infelizmente precisava daquele líquido quente para tentar me acalmar. 

Que merda de vida! Eu tinha que ter caído bem no meio da briga por uma herança? Meu pai só podia ter algum problema para ter deixado a maldita condição de eu estar casado até o meu próximo aniversário ou perderíamos tudo, de acordo com seu testamento. 

O resto do dia passou como um borrão, mas tentei deixar a minha infelicidade de lado. Eu ia sair com a mulher que sempre desejei, então, tinha que melhorar meu humor rapidamente. 

Voltei para casa, fazendo sempre o mesmo ato de não deixar nem que os empregados me vissem. Já estava de saco cheio por um dia, merecia meu momento de paz. 

Depois do banho, vesti um jeans escuro, uma camisa branca e um casaco preto, algo mais casual, então, saí de casa para encontrar Megan. Antes ela havia me mandado uma mensagem perguntando se deveria se vestir formal demais. Eu logo falei para que se colocasse mais à vontade, já que eu não queria que ficássemos como robôs um com outro. Queria intimidade, até mesmo com o que vestíamos. 

Quando me vi diante da porta do café, mandei uma mensagem para ela avisando que havia chegado. Saí do carro para esperá-la descer, enquanto fiquei mexendo em meu celular. Mas quando senti um cheiro característico levantei meu rosto. Era o perfume mais maravilhoso que eu já havia sentido, e sempre estava nela, a mulher mais sexy e linda que já conheci. 

Parecia que até mesmo o casual ficava magnífico naquela mulher. Ela estava com o cabelo loiro solto caído em ondas por suas costas, uma calça jeans que não deixava nada para imaginação, o que contrastava com sua jaqueta de couro e sua bota que a deixava ainda mais perfeita, uma elegância infalível. 

— Boa noite! — foi a primeira a cumprimentar, já que eu ainda estava totalmente parado, encarando-a como um belo idiota. 

Seus olhos azuis observavam os meus de um forma constrangida, e eu soube que o motivo era eu. Limpei minha garganta, dizendo em seguida:

— Desculpa, é só que você está linda demais. — Abriu um sorriso, sem graça em minha direção, e eu me xinguei mentalmente por ser ridículo. — Esqueça o que eu disse, só vamos começar de novo… Boa noite, Megan! 

Estendi minha mão em sua direção, e ela retribuiu o cumprimento. Beijei-a sendo o mais brega possível, o que arrancou uma gargalhada daqueles lábios fascinantes. 

— Só você para fazer algo do tipo, Alex. Quase um cavalheiro à moda antiga — comentou assim que abri a porta do carro para que ela entrasse e saísse da noite fria de Nova Iorque. 

— Eu sabia que tinha caído no século errado — comentei antes de fechar sua porta. Logo dei a volta no carro e entrei, partindo para o lugar aonde eu queria levá-la há algum tempo. 

No caminho fomos comentando coisas triviais só para não ficarmos em um silêncio mortal. Só que só de imaginar a companhia de Megan, nada ficava monótono. Ela havia comentado que estava faminta, e eu só pude rir, pois conhecendo a mulher a meu lado há bastante tempo, sabia que se ela estava com fome, significava que ela comeria de tudo que colocasse em sua frente. 

Ao chegarmos no restaurante, vi o quanto ela ficou encantada, mas não era para menos, o lugar era simplesmente maravilhoso, com uma vista para o Empire State Building, o que tornava o ambiente ainda mais agradável. 

Sentamos a uma mesa e antes de começarmos a olhar o cardápio, Megan comentou:

— Nossa, que lugar incrível. Nem sabia que existia. 

Olhei para ela meio encantado, e ao mesmo tempo não concordando por ela passar tempo de mais no café e não viver uma vida mais baladeira. 

— Você é jovem demais para não se permitir viver, Megan — não pude deixar de comentar, enquanto olhava para ela. 

— Você sabe que o café é a minha vida. — Ela suspirou, e perdeu um pouco do brilho que estava em seus olhos. — Sem ele não sei o que vou fazer, meu futuro está tão incerto, Alex. 

— Já disse que se você quiser… 

— Não, eu não quero — Megan me cortou, mas logo sorriu, demonstrando que não estava com raiva. — Vamos falar de outra coisa, senão vou acabar chorando aqui, igual a uma criancinha. 

— Seu pedido é uma ordem — brinquei, enquanto o garçom depositava nossa bebida em cima da mesa. 

— Como estão indo as coisas na empresa? — ela perguntou toda atenciosa. 

— Do mesmo jeito, cobrança em cima de cobrança. — Pensei por um momento em falar para ela o que estava passando, com uma contagem regressiva para me casar, mas desisti. O nosso clima estava gostoso demais para trazer novos dramas. 

Por isso, ignorei meu pensamento e voltamos a falar de coisas triviais. Desfrutamos do nosso jantar, com algumas piadas, e até mesmo troca de olhares em alguns momentos oportunos. 

Megan era linda, mas quando sorria o mundo até parecia parar por um segundo só para contemplar sua beleza. Quando finalizamos o jantar, pedi uma sobremesa para ela, já que eu quase nunca comia doces. 

Por outro lado, a mulher à minha frente, era uma viciada neles. Quando seu cheesecake chegou, ela quase o devorou com os olhos antes de prová-lo, e, quando o fez, deu um leve gemido que por uma fração de segundo fez com que eu quase perdesse o controle das minhas ações. 

— Isso aqui é muito maravilhoso, você precisa provar. — Ela estendeu um pedaço para mim, em sua colher, e eu até queria negar, mas... porra acho que se ela me oferecesse uma bomba eu aceitaria de bom grado. 

Levei a minha boca até onde ela estava com a colher estendida e provei do doce que realmente estava maravilhoso. 

— Tenho que concordar que está uma delícia. 

Megan voltou a comer seu doce, mas logo depois de um pedaço generoso, ela começou a dizer:

— Quero te agradecer, de verdade, Alex. Não me lembro quando foi a última vez que saí, muito menos em uma sexta-feira. Acho que isso não está na minha lista de afazeres desde que meu pai faleceu. 

— Então, que bom que te tirei dessa zona de conforto. O mundo precisa ver mais dessa beleza na rua — brinquei, e Megan corou. E aquilo acabava comigo só um pouco. — Eu sempre passo dos limites quando vou falar da sua beleza. 

— Não é que eu não goste de ouvir, é só que não confio muito nessas palavras — sua confissão me chocou de uma maneira que parei por um momento para encará-la profundamente. 

— Como assim, não acredita? — questionei sem me importar se estava parecendo um maluco. 

— É só que você faz parecer que sou magnífica, e eu sou só uma pessoa normal. 

Quase gargalhei, se o assunto não fosse tão sério. Megan não se achava a perfeição em pessoa, e eu precisava mudar isso urgentemente, já que era inadmissível ela não aceitar sua beleza. 

— Megan, não falo pra encher sua bola ou só por você ser minha amiga. Eu falo a verdade, te acho linda, encantadora, inteligente, se não for a mulher mais maravilhosa que já vi, é uma delas. 

— Alex…

— Estou falando sério. — Segurei sua mão que estava disposta sobre a mesa e a afaguei um pouco. Percebi que ela engoliu em seco, mas eu precisava ao menos daquele contato. — Acredite em mim, eu nunca mentiria para você. 

— Tudo bem — respondeu, revirando os olhos, não dando a mínima importância para as minhas palavras. 

Garota maravilhosa, mas teimosa, muito teimosa. 

Onde já se viu se colocar tão pra baixo, ainda mais na minha frente. Só podia estar louca. 

Depois de conversarmos mais um pouco, pedi a conta e fomos embora. Megan não podia chegar muito tarde em casa, já que no outro dia ela abria o café. Ao estacionar na porta, desci para abrir sua porta, mas ela já havia saído. 

— Assim você faz eu falhar como um cavalheiro do século passado — murmurei quando me aproximei dela. 

— Desculpa, força do hábito — respondeu, sorrindo. 

— Te perdoo dessa vez. 

Megan estava segurando sua bolsa com uma mão e a outra estava livre, então me atrevi a pegá-la e brincar com meus dedos, roçando em sua pele. 

— Adorei a nossa noite — resolvi quebrar o silêncio que caiu sobre nós. 

— Também gostei, foi… mágico. — Olhou em meus olhos ao falar. 

E a atmosfera mudou por completo, o clima que estava frio pareceu esquentar, eu só conseguia ver aqueles olhos me encarando de uma maneira quase ansiosa. Como se aquele momento fosse importante para nós. Meus olhos recaíram por um momento em seus lábios, que estavam tão desejosos. Caralho! Eu estava louco naquela mulher.

Mal percebi quando me aproximei ainda mais dela. Assim que estava perto o suficiente do seu corpo, meu braço livre tomou a liberdade de enlaçar sua cintura. Ela não fez nem um gesto para me impedir, parecia que estava hipnotizada assim como eu no momento. A palavra que ela usou estava certa, tudo ali parecia mágico. 

Aproximei meu rosto do dela lentamente, e quando faltava alguns poucos centímetros para nossos lábios se encostarem um maldito alarme de um carro que estava próximo à casa de Megan disparou, quando uma fruta de uma das árvores que enfeitavam as ruas caiu bem no capô do automóvel, fazendo o efeito do momento passar. Ela saiu do transe, eu saí do meu… estava tudo acabado.  

E a mulher que eu tanto desejava afastou-se dos meus braços parecendo se arrepender do que quase fizemos. Pensei em pedir desculpas, mas ela logo colocou um sorriso em seus lábios, e murmurou:

— Obrigada pela noite, Alex. Foi maravilhosa. — Ela respirou por um momento, mas continuou sorrindo. — Boa noite! 

— Boa noite! — fui obrigado a responder. 

Observei enquanto ela abria a porta ao lado da entrada do café, que dava a uma escada que levava para o andar superior, onde ficava sua casa. Antes de fechá-la, Megan sorriu e acenou, depois desapareceu. 

E eu só podia voltar para minha casa, com a vontade louca de beijá-la.

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