VICTORIA:Ricardo me manteve o olhar por um momento, completamente de acordo comigo, até que, finalmente, desviou os olhos para o meu tio. Manteve-se em silêncio sem parar de me olhar. Eu podia ver que ele queria fechar esse capítulo e, pelo tremor de sua mão ao pegar os papéis, soube que havia mais do que ele não me dizia.  — Eles não querem apenas dinheiro ou fama. Eles querem controle. O controle sobre o que você representa, Vicky — disse com um tom grave e direto —. E isso inclui os bebês. Precisamos acabar com eles antes que acabem com vocês, como fizeram com seus pais.  Não tive tempo de reagir. Ricardo empurrou a cadeira onde eu estava sentada e caminhou em direção ao meu tio como um predador que havia sido provocado.  — Não os compare. Os Castellanos não farão conosco o que fizeram com os pais da minha esp

VICTORIA:O quarto havia se tornado uma jaula de tensão silenciosa. Ricardo permanecia de pé ao lado da porta, me olhando fixamente enquanto eu fingia descansar na cama. O ar entre nós se tornara denso, quase irrespirável. Eu sabia que ele suspeitava de mim; percebia isso na forma como seus olhos seguiam cada um dos meus movimentos, na maneira como seus dedos tamborilavam nervosamente contra sua coxa. Não sabia como ele havia aprendido a me conhecer tão bem.Permanecei quieta, tentando projetar uma calma que estava longe de sentir. A mensagem de Matías continuava queimando no meu celular. Meus bebês se moviam inquietos, percebendo a tempestade que estava prestes a se desencadear.Ricardo deu um passo à frente e depois outro. Seu rosto, normalmente sereno, mostrava agora uma mistura de preocupação. O nó na minha garganta se apertou. Não estávamos juntos há tempo su

VICTORIA:O som na minha janela me fez tentar abrir os olhos, mas pesavam demais. Algumas figuras sombrias se aproximaram da cama e me colocaram um pano no rosto, e eu afundei na escuridão. Quando voltei a abrir os olhos, não sabia onde estava. Era um quarto luxuoso, embora em penumbras. O que significava isso? Assustada, levei minhas mãos ao meu ventre, sentindo meus bebês se moverem inquietos sob uma mão; a outra estava algemada à cama. Minha cabeça ainda pesava, e um vertigem veio de repente.  Tentei ouvir, mas havia apenas um silêncio enorme que me assustou ainda mais. Fui sequestrada na minha própria casa? Como isso era possível? O que havia acontecido com todos os meus seguranças?  Minha respiração acelerou e os soluços surgiram sem permissão. Tentei me levantar, mas a corrente me impedia; puxei com desespero, machucando meu pulso no processo. Tiv

RICARDO:A cena à minha frente parecia congelada no tempo, como se o universo quisesse parar para me presentear com uma revelação que nem minha mente nem meu coração estavam prontos para processar. Todos estavam mortos; fiquei tocado ao ver Javier morto abraçado a Alberto. Era um gesto tão íntimo que descrevia o que havia sido sua vida, um amor único e para sempre.  — Não pode ser... — sussurrei, mal audivelmente.  Inclinei a cabeça diante da desgarradora visão dos dois únicos familiares que Victoria tinha. Seria devastador quando ela soubesse. A inversão de papéis, as traições, estavam diante dos meus olhos: Javier havia sido o amor de Alberto Montenegro por toda sua vida e vice-versa.  — Reconhece esses dois? — a voz do policial ao meu lado me despertou.  — Sim, é o advogado Al

VICTORIA:A doutora não respondeu de imediato. Seu olhar permanecia fixo em minha barriga, frio e calculador; parecia que meu corpo estava sendo gravado em sua mente. Sua indiferença me fazia sentir ainda mais vulnerável, encadeada às sombras de um destino que desconhecia.  —Por enquanto, você deve alimentá-la bem; a gravidez é gemelar —disse finalmente, sem levantar a vista. Seu tom era inexpresivo, quase clínico, como se minhas palavras não tivessem relevância alguma. —Geralmente, os filhos herdam o grupo sanguíneo dos pais, não das mães.  Não entendia o que queriam dizer com isso, mas minha mão instinctivamente se dirigiu à minha barriga. Será que não me viam a mim e aos meus bebês como pessoas? Apenas como um meio para alcançar algum fim macabro? Minha respiração se tornou errá