Capítulo 41 — A nova aquisição...Narrador:Eles saíram do escritório de Nero sem pressa. Ele caminhava com as mãos nos bolsos das calças, seguro em cada passo, como se aquele prédio lhe pertencesse não apenas por direito legal, mas pelo peso de sua presença.Cleo o seguia com uma mistura de atenção e contenção, sentindo-se uma intrusa em um mundo que não era seu... ainda.—Vamos —disse ele, com aquele tom seco, mas cheio de intenção —É hora de você conhecer as peças do tabuleiro.O passeio começou pela ala leste do andar, onde ficavam os escritórios principais. A cada porta que passavam, Nero abria, espreitava um pouco e fazia uma apresentação breve, mas contundente. “Esta é a senhorita Cleo Morel. Minha nova estagiária.” Cada vez que dizia isso, ele enfatizava levemente o “minha”, como se não estivesse falando apenas de uma relação profissional.—Ele é Mateo Delucchi —disse ele, apontando para um homem de cerca de cinquenta anos, cabelos grisalhos, óculos de armação grossa e um olhar

Capítulo 43 — Mais perigosaNarrador:A segunda-feira amanheceu com um céu tão claro que parecia suspeito. Cleo acordou antes do despertador tocar, verificou a bolsa três vezes, escolheu cuidadosamente o conjunto mais sóbrio que havia comprado na loja chique: calça preta, blusa branca sem decote e um blazer combinando. Cabelo preso, rosto fresco, expressão contida. Ela havia ensaiado seu sorriso no espelho, mas nada podia ensaiar o que sentia por dentro.Desceu no elevador privado e dirigiu-se ao prédio onde Valmont tinha seu escritório. Ao chegar, atravessou a recepção do escritório com passo seguro. Várias cabeças se viraram ao vê-la, mas nenhuma palavra. Apenas olhares. Isso era ainda pior. Eles já a conheciam. Já sabiam quem ela era.Nerón a esperava em seu escritório, lendo alguns documentos como se o mundo não pudesse interrompê-lo.— Bom dia — disse ela, deixando a bolsa sobre a mesa auxiliar.— Você está apresentável — comentou ele, sem levantar os olhos — Isso já é um começo.

Capítulo 45 — Sem açúcarNarrador:Cleo não conseguia dormir. Ela havia se deitado com a falsa segurança de que Nero iria embora depois de terminar sua bebida, mas cada rangido na estrutura da cobertura a mantinha alerta. Ela imaginava a porta se abrindo, seus passos se aproximando, sua voz grave rompendo a escuridão. Mas nada disso aconteceu. Os minutos se passaram. Depois, quase uma hora. O relógio do telefone marcava três da manhã quando, com o corpo enredado entre os lençóis e os pensamentos, ela decidiu que era ridículo continuar assim. Já estava convencida de que ele tinha ido embora. Levantou-se furtivamente. Não acendeu nenhuma luz, apenas vestiu um suéter longo e saiu do quarto descalça, com a ideia de procurar algo na cozinha.Talvez um iogurte, um pouco de fruta... algo que lhe servisse de desculpa para se movimentar e clarear a mente. Ao atravessar a sala, seu olhar desviou-se quase automaticamente para a varanda. E lá estava ele... Nero. Continuava na mesma posição em que

Capítulo 47 — O DIABO entra em cena...Narrador:Minutos depois daquele encontro no escritório, a voz de Nero foi ouvida pelo interfone.— Cleo, venha ao meu escritório.Ela deixou o que estava fazendo, pegou seu caderno de anotações e atravessou o escritório em silêncio. Bateu suavemente na porta antes de entrar.—Você me chamou, doutor?—Sim. Feche a porta, por favor —indicou ele, sem tirar os olhos de um arquivo aberto sobre a mesa. Ela obedeceu, sentou-se e esperou. Nero parecia absorto em uma leitura densa, com a testa ligeiramente franzida. Finalmente, fechou a pasta e a empurrou para o centro da mesa.— Preciso da sua cabeça nisso — disse ele — É um caso complicado. Um grande amigo meu, que é congressista, me apresentou o caso esta manhã, é sobre um grande amigo dele. Eu vi seu arquivo e sei que você se saiu muito bem com leis migratórias, você até fez um ensaio muito interessante, expondo um caso de outra perspectiva.Cleo assentiu, disposta.— Estou ouvindo.— Trata-se de uma

Capítulo 49 — A fazenda é seguraNarrador:Quando Cleo desceu as escadas, o calor a envolveu imediatamente. A lareira estava acesa e o fogo crepitava com aquele som acolhedor que faz esquecer, por um instante, a tempestade lá fora. As roupas emprestadas não lhe ficavam mal, embora ela se sentisse estranha com elas. Ela havia escolhido um conjunto confortável de Lía: calças de algodão claro e uma blusa larga de mangas compridas. O cabelo ainda úmido caía sobre os ombros e os pés descalços mal faziam barulho no chão de madeira. Ao chegar à sala principal, ela parou por alguns segundos na moldura da porta. Nero estava sentado no tapete, em frente à mesa baixa da sala de estar. Havia pratos com diferentes tipos de comida: pão, queijos, frios, frutas, alguns molhos. E ao lado, uma bandeja com taças, copos, garrafas de vinho e cerveja. Ele já tinha tomado banho. Ele usava calças esportivas cinza escuras, uma camiseta preta de algodão e estava descalço. Seu cabelo estava levemente úmido e ele