2 - Reencontro

SAMANTHA

Assim que entrei, vi Clara, ela estava com o cabelo grande, agora num louro mais escuro. Não parecia ter envelhecido muito, mas estava diferente. Mais madura. E um pouco abatida.

Do corredor, saiu Caleb e Summer. Caleb com a mesma carinha de dezoito anos, e Sammer também não tinha envelhecido nada, mas seu cabelo agora estava liso. Estavam de mãos dadas. Pelo menos o tempo fez algo bom. Da última vez que os vi, estavam separados.

Onde ele está? — perguntei me referindo a Lucas.

Todos ficaram em silêncio me deixando aflita e preocupada, até que um garoto apareceu pelo corredor. Ele tinha o cabelo loiro e tinha muita coisa do Chuck nele quando era adolescente. Não diria que era a cópia do pai, porque comparar meu filho com aquele monstro era insano. Eu sabia que era meu bebê, meu menino. E estava tão grande, e mais alto do que eu.

Meus olhos se encheram de lágrimas, mas não consegui sair do lugar. Paralisei.

Ouvi que trouxe Forest Lake inteiro procurando por mim. — falei, nervosa, tentando sorrir.

Lucas andou rápido em minha direção e me abraçou tão apertado que eu pude sentir a dor que ele sentiu por eu tê-lo deixado.

O senti tremer e chorar. Meu filho já era um homem, e eu perdi tudo. Perdi toda a sua infância e adolescência. Eu perdi tudo.

Me desculpe por não voltar logo, meu filho. Me desculpa… — implorei, tentando conter minhas lágrimas.

Eu senti sua falta, mamãe… — disse ele ainda agarrado em mim.

Esperei tanto por esse momento, que nem sabia o dizer, além de pedir desculpas.

THOMAS

Vê-lo abraçar Samantha depois de tantos anos me deixou aliviado. Eu via o quanto ela não era nada sem ele, sem Amanda. Era como se ela não vivesse. E agora, eu via em seu rosto que ela era a pessoa mais feliz do mundo.

Lucas me olhou por cima do ombro de Samantha e a soltou. Veio andando em minha direção, eu não sabia como reagir. E então, de repente, ele me abraçou.

Pai…

Sem saber o que dizer ou reagir, eu o abracei de volta. Não sabia que ele me consideraria assim ainda. Depois de todas as coisas. Mas ele me chamou de pai. Sim, filho. Esse sou eu. Seu pai. Mais ninguém.

Senti sua falta, meu filho.

Eu beijei o topo de sua cabeça.

Preciso ver a Amanda. — disse Sam secando as lágrimas.

Ela não está aqui. — respondeu Clara um tanto nervosa.

E onde ela está? — Samantha não parecia muito simpática.

Clara não respondeu.

Cadê o Ben? — perguntei.

Com o pai dele. — Clara respondeu.

Desde quando? — perguntou Sam.

Desde que sua filha tentou matá-lo. — Clara ainda parecia magoada.

Eu sinto muito, Clara. Eu sei que ela não quis fazer isso. Você e eu sabemos o quanto essas crianças eram boas quando eram pequenas. — disse Samantha com cara de poucos amigos.

Você sabe o que você viu até os quatro anos de idade. Amanda vem se comportando assim desde que era pequena. Ela não é uma boa menina, Sammy.

Vi a ira dominar Samantha.

É da minha filha que você está falando, Clara!

E do Chuck. — Clara respirou. — Irmã, eu sei o quão doce você é. Sempre foi. Bondosa, cuidadosa… Amanda não é assim.

Clara. Não mencione Chuck. Nunca mais. Amanda é um lobisomem. Ela precisa de um tutor, ela precisa de controle. Ela não é nada como o progenitor.

Fala isso pro Ben.

Sam ficou calada. Era em vão discutir a essa altura. Ambas estavam magoadas.

SAMANTHA

Depois de falarmos com todos, pegamos Lucas e Tyler e fomos até o hospital onde Amanda estava. Acompanhados de Patch também. O lugar era horrível. As paredes que pareciam antes ser brancas, agora estavam amareladas e com mofo do lado de fora.

Aquela vadia não podia ter colocado Amanda em um lugar melhor? — perguntei com raiva.

Aquela vadia tomou conta dos seus dois filhos e do dela por mais de dez anos. — disse Tyler me dando um esporro.

Eu não respondi. Ele tinha razão. Eu é que estava com raiva demais.

Nós chegamos até a entrada do hospital e Thomas parou.

Talvez você queira esperar aqui fora. — disse ele se referindo a Patch. — Agora é um momento familiar.

Patch não respondeu. O vi contrair o maxilar. Ficou com raiva por esse pedido ter vindo de Thomas. Mas entendeu que era melhor que ficasse de fora mesmo.

Assim que entrei, senti o calor. Ela realmente estava aqui. Mas seu calor era muito forte. Tanto quanto o de Chuck. Talvez fosse algo especial que os dois tinham, que mexia comigo.

Oi, Shelly, vim ver a Mandy. — disse Tyler para a recepcionista.

Duas pessoas de cada vez. Sabe o protocolo, não é, Ty? — perguntou a recepcionista para ele como se já se conhecessem a muito tempo. Penso em quanto tempo minha menina estava aqui. Sozinha.

Samantha, você vai com o Thomas. Só… Se lembre que a menina que deixou há dez anos, não é mais a mesma. E se ela te machucar com algumas palavras. Releve. — disse Tyler tocando meu braço com carinho.

Eu assenti, e ele ficou com Lucas na recepção. Um enfermeiro grande nos escoltou até um corredor branco. Era tudo limpo, parecia um hospital bem conservado, pelo menos por dentro, tinham muitas portas, provavelmente onde ficavam os pacientes.

Andamos esse corredor longo até uma outra porta meio enferrujada. Que nos levou a outro corredor, onde já não era tão bonito. Parecia sujo e mal cuidado. Ele abriu uma porta no final do corredor, onde deu a um espaço pequeno que mal cabiam quatro pessoas. O enfermeiro pegou outra chave e acendeu uma luz, eu vi uma porta e ele a abriu.

Estarei aqui fora, é só gritar, ou bater duas vezes. — disse o enfermeiro empurrando toda a porta. O quarto era horrível. As paredes estavam sujas, mas a cama estava limpa. O enfermeiro fechou a porta atrás de nós. E não vi nada de Amanda pelo quarto, talvez estivesse em baixo da cama. Olhamos em volta e não a vimos. Mas eu sentia a presença dela.

Assim que senti mais forte, me virei em direção a Thomas que estava mais perto da porta, e foi onde eu a vi. Atrás da porta. Parada. Nos encarando.

Mandy estava com os cabelos grandes e castanhos. Ela parecia muito abatida. Não parecia acreditar no que estava vendo. Seus olhos deveriam estar embaçados de tanta lágrima que se acumulava.

M-Mamãe…? — sussurrou.

Amanda deu dois passos devagar, e, aliviada, eu segui seus passos e fui até ela. Quando ela me abraçou senti que finalmente estava em casa, depois ver Lucas, Amanda… meu deus quanto tempo demorei pra me sentir assim.

Ela chorou desesperadamente no meu ombro.

Por que, por que não voltou, mamãe…?

Estou aqui agora. Me desculpe. Me desculpe…

Amanda me soltou, e viu Thomas. Ela o fitou, mas não disse nada. Só ficou encarando.

Você tirou tudo de mim. Desde o começo. — Ela disse para Thomas. — O que aconteceu com meu pai, hein mãe? — perguntou ela agora se virando para mim.

Mandy, seu pai está bem aqui na sua frente.

Não. Não esse sequestrador assassino. Meu verdadeiro pai. Chuck.

Pude ver Thomas engolindo a bile. Ele estava decepcionado e triste.

Quem te falou isso? Quem colocou isso na sua cabeça?

Ninguém colocou na minha cabeça. Eu sei. Meu pai fala comigo e eu sei.

Querida, eu sei que você e Chuck tem uma conexão muito forte. Mas ele não era uma pessoa boa e confiável. Seu pai matou seu avô, tentou matar seu tio Josh. Tentou nos matar. Thomas cuidou de você por quatro anos. Não Chuck.

Tem essa coisa… — ela começou dizendo e gesticulando com as mãos e andando pelo quarto. — … dentro de mim. Chuck está aqui. E eu não sei o que fazer… Mas não quero ficar perto dele. De acordo com meu pai, Thomas sequestrou você quando Luke e eu ainda estávamos na sua barriga e você nunca mais voltou.

Não, querida. Eu não voltei porque eu o amava. E tínhamos uma vida feliz lá onde estávamos. Ele era um bom pai, nos protegeu de muitas coisas. E me levando de novo foi pra proteger você e Luke. Eu estava fora de mim, eu também tinha essa coisa dentro de mim, se eu ficasse, vocês estariam em risco.

A tia Clara repetiu mil vezes que tudo o que eu fazia era porque eu tinha herdado o gênio meu pai. Mas nunca me falou dele. Eu já escutei ela e o tio Jim brigando por causa disso. E eles sempre culpavam Thomas por tudo.

Thomas sempre nos ajudou, Mandy. Ele é o seu pai. Chuck só nos machucou.

Eu olhei para Thomas que estava observando a janela com as mãos no bolso.

Hey, Tom. Vai lá fora resolver os papéis da alta dela. — Tom virou para nós, sorriu e bateu duas vezes na porta, o homem abriu e ele saiu em seguida.

Chamei Mandy para sentar na cama comigo.

Deixa eu te explicar uma coisa. Tia Clara estava muito sobrecarregada com três crianças. Ela disse umas coisas que não eram verdades. E pode ter exagerado em outras coisas também. Mas Tom sempre foi um ótimo pai. E a verdade é que, estamos separados, porque ele era tão bom pra mim, que eu sentia a presença de vocês em certos momentos que estava com ele. E aquilo passou a me machucar, então eu o afastei. Mas ele foi a melhor pessoa que conheci em anos. Não o maltrate, não diga coisas que o machuque. Ele ama vocês dois mais do que a própria vida. — Arrumei seu cabelo atrás da orelha. — Vamos pra casa?

Ela assentiu tentando sorrir entre as lágrimas.

Na hora de sair, percebi que o sol machucava os olhos de Amanda. Há quanto tempo ela estava lá dentro sem poder ver a luz do sol?

Caminhamos até o carro, e Luke veio até mim.

Mãe. Eu acho que a tia Clara não vai gostar muito disso.

Meu filho, a tia Clara pode chupar…

Samantha! — arfou Thomas.

As vezes eu esquecia que eram meus filhos e palavrões perto deles não era nada bom e responsável.

Vamos pra nossa casa agora. E você me ajuda a fazer um campo de proteção? — falei bagunçando o cabelo dele e sorrindo.

Ele resmungou e sorriu de volta.

Quando chegamos até a casa de Caleb e entramos.

Clara estava com uma xícara bebendo alguma coisa e a deixou cair quando nos viu entrar com Amanda. O vidro se espatifou chamando a atenção de quem estava presente.

O que ela está fazendo aqui?

Não se preocupe Clara, estamos saindo. — disse Thomas.

Meninos, vão pegar as coisas de vocês. — falei fitando Clara.

Lucas e Amanda foram até o corredor que dava para os quartos.

Preciso conversar com meus irmãos. Por favor, saiam. — falei para todos que estavam ali.

Todos saíram. Incluindo Thomas.

Como vocês puderam deixar minha filha naquele lugar? — falei machucada quando ficamos a sós.

Samantha, ela estava fora de si. Não podíamos deixá-la perto de Ben, Luke ou de qualquer pessoa. Ela é uma ameaça. — disse Clara.

Ela é uma criança! — estremeci.

Ela não é mais uma criança! — exclamou Clara.

Estou os levando pra longe. Não vão mais precisar se preocupar com isso.

De nada por cuidar dos seus filhos. — murmurou Clara.

Obrigada? Eu deveria dizer obrigada? Meu filho está em perigo e minha filha estava presa num hospital para pessoas perigosas e insanas. Um manicômio! Eu deveria te agradecer por isso?

Pelo menos estão vivos.

Não foi isso que combinamos, Clara. Você não deveria só cuidar da vida deles, deveria os proteger de toda essa merda que cerca nossa família.

Oh, enquanto você tirava umas férias de dez anos?

Férias? — eu ri. — Você não sabe de merda nenhuma.

Ela é a versão feminina de Chuck desde que era pequena. É um monstro!

Eu larguei minha mão no rosto de Clara. Sem pensar. Mas ouvir que minha filha tinha alguma coisa a ver com aquele psicopata era demais pra mim.

Samantha… o que há de errado com você? — perguntou Tyler. — Nós fizemos o melhor que pudemos.

Bom, não foi suficiente!

Na mesma hora os meninos voltaram do quarto e nós saímos. Patch e Thomas estavam lá fora com Summer e Caleb. Entramos no carro que Patch pegou “emprestado” em algum lugar da cidade.

Pai, vem aqui atrás. — disse Lucas para Thomas.

Ele não é nosso pai. — ouvi Amanda sussurrar.

Pelo que eu me lembro, é sim. Você deveria lembrar também. — respondeu Lucas.

Thomas foi atrás com Lucas e Amanda, enquanto Patch dirigia e eu ia no banco do passageiro.

E quem é esse aí? Guarda-costas de vocês? — perguntou Amanda mal-humorada.

Esse é o novo namorado da sua mãe. — disse Thomas indiferente.

O que? Vocês não estão mais juntos? — perguntou Lucas.

Não. E ele não é meu namorado.

Ah, é o cara que você fode. — disse Amanda.

Olha a boca. — Falei pra ela. Olhei para Lucas. — Seu pai e eu não estamos mais juntos, Luke. Patch é só um amigo.

Patch acelerou o carro, estava zangado. Eu o fitei de relance.

Thomas já comprou a nova casa? — perguntou Patch na estrada.

Já. E uma só pra você. — respondeu Thomas irônico.

Gente, por favor. Vamos parar com isso. — pedi. Eles estavam fazendo algum tipo de competição pra ver quem era o melhor? Já estive nessa situação antes, e não terminou muito bem.

Depois de momentos constrangedores chegamos até a casa que Thomas havia comprado. Não era tão grande quanto as outras, mas era bem escondida e tinha bastante árvores. Parecia antiga, era feita com pedras e tinha bastante lodo. Eu tive a impressão de que já estive aqui.

Nós descemos do carro e Thomas foi até a porta e a abriu com uma chave do seu chaveiro enorme. A porta fez um barulho quando abriu. Estava enferrujada.

Venham. — disse ela entrando.

Quando entrei vi alguns quadros na parede. Antigos, algumas eram pinturas e Thomas aparecia em muitas delas. Todd também estava em algumas, e um casal mais velho em outra. Algumas partes da parede tinha marcas, como se alguns quadros tivessem sido retirados recentemente.

De quem é essa casa, Thomas? — perguntei.

Minha. — respondeu indiferente.

Quantas casas você tem?

Nos Estados Unidos?

No mundo todo.

Não sei ao certo.

Ele caminhou até o hall, e o seguimos. Algo me dizia que eu já estive aqui antes. Mas parecia uma lembrança antiga ou talvez um sonho.

Crianças, tem muitos quartos lá em cima abertos. Os fechados, deixem fechados. Escolham um.

Os meninos correram para cima.

Tem um quarto pra vocês dois lá em cima. — disse Thomas. Parecia enjoado.

Eu quero um só pra mim. — falei.

Escolha um. Eu vou sair. Não entrem no meu quarto. O da porta vermelha no final do corredor. E nem nos quartos que estão trancados.

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