Capítulo – 02

O sol refletia-se nos quartos da mansão Efron e revestia de dourado as paredes brancas pintadas há pouco tempo, mas o vento que vinha de fora, trazia uma sensação agradável ao corpo de Michael que, por sua vez, mantinha-se deitado em sono leve na cama.

Era quase meio-dia quando acordou. Abriu e fechou às pálpebras para se acostumar com o clarão do sol, mas que mesmo assim, era inebriante em sua pele. 

Tirou as cobertas, levantando-se para apertar o corpo, e logo depois, caminhou até a varanda do seu quarto; o lugar da onde podia ter vista privilegiada para uma praça ao ar livre e, assim sendo, à piscina que havia no jardim da mansão. Sorriu levemente antes que voltasse para pegar a tolha, uma sunga, e uma calça moletom. Respirou fundo antes que adentrasse o banheiro.

Ligou o chuveiro e colocou o corpo aos poucos embaixo da água que caía fria, dissipando a sensação inevitável de encontrar sua mãe logo cedo. Dona Catherine, não era uma pessoa fácil de lidar, e Michael Jones Efron sentia na pele um pouco do desprezo que esta ousava disseminar como vírus pelo ambiente familiar. Woodrow, seu irmão mais novo, um loiro de olhos azuis e sorriso encantador, foi o mais prejudicado mentalmente pela separação dos pais. Buscou ao lado de Michael, um pouco mais de felicidade, saindo quase todos os finais de semanas para às festas, por mais que sua idade fosse insuficiente para estar num lugar como esses. Contudo, sempre arrumavam uma forma de burlar as leis americanas. Ainda mais, depois de buscar encrenca com um aluno na escola Dalton, uma das mais caras de Nova Iorque. Michael preparava-se para o embate com o responsável pelo outro rapaz, e sabia muito bem com quais armas lutar até o fim, a ponto de favorecer seu irmão.

Depois de tomar seu adorável banho, o rapaz vestiu sua roupa e arrumou o cabelo em frente ao espelho, e logo após, escovou os dentes perfeitamente alinhados. Sorriu brevemente ao lembrar do cara que confrontou na noite anterior, e pensou se um dia o veria novamente. Isso, se o veria de novo! Mas o destino costuma pregar algumas peças nas pessoas e como mesmo diz um ditado popular: nem todos os males vem para o mal! 

Michael era dono de um rosto harmonioso, loiro do sorriso gentil, e olhos azuis claros, que contrastavam perfeitamente com seu tom de pele bronzeado pelas horas de sol, e com as sobrancelhas grossas e bem feitas. 

Ele saiu do banheiro, passou desodorante e caminhou para fora do quarto, indo em direção ao andar de baixo, direto para a cozinha ampla e toda mobiliada com material inox. Não se importava se estava apenas de calça moletom e com o corpo a mostra. 

Desceu todos os degraus e caminhou direto para à cozinha onde sua mãe e Woodrow, tomavam o café da manhã. Depositou um beijo nos cabelos loiros de seu irmão, e outro no rosto da matriarca da família que, de imediato, estranhou o ato repentino de seu filho. 

Ele sentou-se ao lado de Woodrow e serviu-se com suco de laranja e um pedaço de bolo de cenoura. O silêncio instalou-se sobre o ar da atmosfera, até o instante em que sua mãe o olhou com um pouco de repúdio pela forma como se apresentava perante à mesa.

— Michael? — ela o chamou paciente. — Tenha modos, meu filho! 

Michael ergueu uma sobrancelha, mas não se deu ao prazer de revidar. Apenas encarou o irmão ao lado e apontou para o pote com manteiga que logo lhe foi entregue. Catherine endureceu a face, jamais permitira que um de seus filhos, muito menos o mais velho, lhe recusasse responder. No mesmo instante, uniu as mãos e entreolhou para Michael, que a encarava de volta com um sorriso entre os lábios.

— Mãe... — ele fez uma breve pausa antes que se desse ao luxo de continuar — eu sei que a senhora não deixa que andemos por aí exibindo o que temos. Contudo, estou em casa, e quem além de vocês, meus próprios familiares, hão de se preocupar com isso? — Catherine nada disse. 

Catherine era a prova viva que diabo existia em versão feminina. Dona de várias lojas e acionista em outras dezenas, vestia-se com glamour, e era amada por uma mídia que a cultuava como deusa. Porém, para seus próprios filhos, Catherine Jones Efron, não passava de alguém sem preceitos familiares e que fazia de tudo para enlouquecer seu próprio sangue. Woodrow, o mais novo, chateado pela forma como lhe tratava quotidianamente, sempre buscava uma maneira de, ao menos, chamar sua atenção. 

Ele mantinha-se quieto ao redor da mesa, como se não estivesse ali, e não participasse da conversa entre os dois que, possivelmente, sairia do controle. Esses distúrbios familiares era uma das causas pelas quais sempre buscara uma forma de encontrar seu pai, ou até mesmo, alguém capaz de, ao menos, ser feliz ao lado. Aos finais de semana, como de costume e rotineiro, sempre discutiam quando arrumavam uma oportunidade de fugirem da insurgência pecaminosa na qual eles metiam-se. Tanto Michael, quanto Woodrow, tiveram uma infância e adolescência conturbada, o que não agradava nenhum um pouco sua mãe. O mínimo amor que receberam de sua matriarca, era insuficiente para haver contribuição de ambas às partes. 

Catherine sabia ao certo do que deixou de fazer com o seu papel de mãe, no passado. Se houvesse criado seus filhos dando amor e, estivesse mais presente na vida deles, não teriam virado rebeldes adolescentes e jovens em busca de algo que chamassem sua atenção. Era de uma forma inovadora, contraditória e consequentemente proposital como agiam com ela. Contudo, Catherine tinha uma parcela enorme de culpa em tudo aquilo.

Insatisfeita, mais uma vez, deu-se o trabalho de mandar recolher a mesa do café, causando um ódio pequeno, só que não o suficiente para levarem aquela conversa rotineira adiante. Sempre foi assim, e não mudaria! Catherine Jones era sem sombra de dúvida, um ser amargo que nem mel e açúcar poderia adocicar.

Quando Oliver separou-se dela, no tempo em que Michael tinha apenas treze anos, e Woodrow, sete, foi mais que o suficiente para que perdesse a classe e o colocasse na justiça na tentativa de arrancar até o último tostão que o homem tinha nas contas bancárias. Foi difícil, mais após usar o sofrimento dos filhos como testemunho, conseguiu tirar tudo! 

Dona de mais de 75% das ações da Efron Event’s, e proprietária de um dos bancos privados mais lucrativos dos Estados Unidos, conquistou o mero título de uma das maiores multimilionárias de Nova York. Seus filhos ostentavam uma parte dessa riqueza com rigor, dando a eles alguns cartões de créditos que em dias estouravam. Bem como, nunca pediram para que ela os ajudassem nas causas necessárias que contribuíam, como: orfanatos e alguns hospitais com tratamento para o câncer.

Woodrow, o mais afetado dos dois, sempre arrumava confusões em espaço público, e uma vez ou outra, acabava sendo chamado na diretoria para responder por agressões físicas e verbais. Recentemente, arrumou discussão com um bolsista na sua escola, chamando-o de pobre e inválido perante o refeitório inteiro. Os alunos fizeram um vídeo que por uns dias circulou nas redes sociais até que a justiça intervisse e dispusesse uma liminar para puni-los iguais. Tanto os pais dos alunos, quantos o diretor, responderiam o processo em vigência dos fatos. 

Agora, sentado e pensativo enquanto os dois mais velhos trocavam injúrias entre si, seguia com seus olhos marejados, tentando inutilmente ser notado. Quando a pressão atmosférica atingiu-o em cheio, pegou a primeira coisa quebrável que havia encima da mesa e atirou contra a parede de vidro, e o barulho do objeto ao ser quebrado, trouxeram-os de volta à realidade.

Os olhos azuis que sua mãe portava recaíram sobre ele, e as mãos de Michael seguiram-se até o ombro esquerdo do irmão, dando-lhe apoio; passando em mínimos detalhes que estava ali para tudo.

— Por favor, parem com isso! — implorou entre o choro. — Ou vocês me tornarão um pouco mais louco do que eu já sou — Woodrow levantou-se do redor da mesa e caminhou apressadamente até seu quarto. 

Michael reprovou a mãe de imediato. Olhou para ela cheio de mágoa, mas sabia ao certo, que seu transtorno mental vinha diretamente do que ocorreu no passado próximo, ao ser abandonada.

— Satisfeita, mãe? — perguntou ironicamente. 

Ele não precisou ouvir mais um sermão para que se retirasse dali, à caminho do quarto de Woodrow. Michael, como o mais velho, sabia que seu irmão vinha sofrendo absurdamente nos últimos dias. O amava tanto, a ponto de tirá-lo que qualquer furo, como o que havia se metido na escola. Assim que subiu às escadas, e percorreu até o quarto, bateu algumas vezes, e ouviu a voz de Woodrow do outro lado, e entrou. 

O irmão mantinha-se sentado no piso, com a costa apoiada na armação da cama e seguia com os olhos azuis profundos que herdou com bom gosto da mãe, para uma foto do pai em uma estante. Michael agachou-se perto dele, sem ideia mínima do que poderia lhe dizer afim de acalmá-lo, e como ainda formulava algo em sua mente, só o agarrou abraçando-o fortemente, e acariciando o rosto dele em seguida.

Woodrow chorava como uma criança de colo, um lobo ômega, enquanto Michael era o alfa e o protegia de tudo. Além de si mesmo, o único pelo qual prezava dentro daquela mansão, era o irmão. Apertou-o com força, repassando segurança e amor. Era incrível que mesmo na idade que estavam, tanto Michael quanto Woodrow, eram inseparáveis, e portavam-se como crianças solitárias, como se houvesse apenas eles, ali. Esse elo de amor fraterno era como ferro. Porém, até mesmo o ferro acaba sendo traído pela sua própria ferrugem um dia, e Michael sentiria na pele o amargo de seu ácido.

Passada algumas horas, o irmão dormiu em seu colo, e segurou-o para depositá-lo na cama. Assim que cobriu o corpo de Woodrow, Michael depositou um beijo em sua fronte, admirando como ele estava tornando-se um homem belo e atraente. 

Os cabelos loiros dificultavam um pouco que seus olhos ficassem expostos, mas nada que interferisse ao observar o rosto bastante desenhado. Michael deitou-se ao lado do irmão, para passá-lhe segurança, e ali dormiu, bolando em pensamento uma forma de livrá-lo do castigo que poderia ter na manhã seguinte, em sua escola.

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Enquanto isso, do outro lado da cidade, no Distrito de Brooklyn, Alexander ajudava sua tia com os serviços domésticos no momento em que, seu irmão, formulava sua defesa que, para ele, naquele instante, não surtiria efeito gradativo algum. Sabia mentalmente que Woodrow Jones Efron, era rico e de grande destaque em sua escola, e ele... como mesmo disse Woody, não passava de alguém de vida infeliz que havia nascido para a dor. Aquelas palavras eram como lâminas em sua carne, penetrando e sem nem ao menos, dar chance para respirar antes que outra fosse enterrada sem dó! 

Ali, ao redor da mesa, pegou a pensar em como seria sua expulsão da Dalton. Por mais que fosse tão esforçado quanto Woody, os diretores optariam sempre por aquele que é influente e deposita mais dinheiro em seus cofres. Não alguém, que por azar do destino, bateu sua porta atrás das migalhas que caíam da célebre mesa do jantar.

Vendo que seu irmão mais novo estava nas alturas, seguiu em sua direção, sentando-se ao lado e apoiando o cotovelo direito no ombro esquerdo dele. 

— Em que tanto pensa, Matthew? — indagou o mais velho, vendo o rosto do irmão com uma expressão de inquietude.

— Em como será minha expulsão, amanhã! — ele sorriu para dispersar a tensão formada no ar — mais se isso acontecer...

— Isso não vai acontecer porquê eu não vou permitir — Alexander passou-lhe segurança — vem cá? 

Ele o abraçou, e logo após, foram fazer o restante dos serviços domésticos, sem pensar no amanhã.

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