Meu Romeu Contemporâneo
Meu Romeu Contemporâneo
Por: Carol Catalani
Prometida

Desde pequena sou mimada por todos. Tenho uma criada que cuida de mim desde as fraldas. Seu nome é Uli. Trata - me como filha e impede minhas maluquices.

Aos sete anos se eu saísse da cama sem calçar os pés, já sabia o que viria.

-Bela, querida, não ande sem os sapatos. Pode se resfriar.

-Não mudou nada não é Uli? Voltei de viagem apenas ontem, após nove longos anos e ainda me trata como se tivesse a idade de quando saí daqui.

-Me preocupo menina. 

-Eu sei, não sei se vê, mas já passo dos dezesseis. Não tenho mais sete anos.

-De qualquer maneira, use as pantufas antes de sair para o banheiro - Disse ela colocando o par de pantufas em forma de ursinho no chão a minha frente.

Revirei os olhos, mas obedeci.

-Elas são ridículas. 

-Sim, são, mas também são confortáveis e quentes.

-Nunca esteve na Europa. Lá uma dessas não ajuda em nada. 

-É tão frio assim?

-Sim. No colégio eu dormia com quatro meias.

-Meu bom Deus!

Passei por ela sorrindo e fui ao banheiro fazer minha higiene matinal.

Após colocar uma calça jeans, blusa preta de manga comprida e tênis, desci para o café. 

-Bom dia Belinda. 

-Bom dia mamãe. Onde está o papai e o Martin?

-Eu estou aqui e seu irmão na certa ainda está dormindo. Chegou às quatro da manhã - Disse meu pai chegando a mesa.

-Teremos um jantar hoje - Anunciou minha mãe.

-Eu não participarei.

-Participará, é para você. Para reintegrá - la a sociedade.

-Mamãe, cheguei de viagem ontem.

-Por isso mesmo. Ficou muito tempo fora e agora precisamos que toda a sociedade a conheça - Completou o pai.

-São Paulo é uma cidade grande, não pode me mostrar para todos.

-Podemos sim, a imprensa tem um poder incrível. No jantar só virão conhecidos. 

Eu suspirei aliviada, ao menos não teria que lidar com completos estranhos, apesar de que era provável que não me lembrasse de ninguém. 

Acordei cedo e vi que em minha cama havia alguém. Dormi tão bêbado na noite anterior que sequer me lembrava de como a garota loira havia chegado ali. Me mexi de propósito e ela acordou.

-Oi- disse melosa.

-Oi. Você precisa ir.

-Não vai tomar café comigo? 

-Foi apenas uma noite, entenda, não me apego a ninguém. 

-Você me usou.

-E você me usou também, e julgando pela cara que acordou, você gostou bastante.

-Gostei e por isso quero repetir.

-Não repito figurinhas, é melhor você ir antes que minha mãe acorde.

A garota ficou emburrada mas se levantou. Se vestiu, pegou seus pertences e se foi. 

-Finalmente. 

Me levantei e fui ao banheiro. Minha higiene matinal foi rápida e em minutos eu estava na mesa do café. 

-Outra garota Cristian?

-Você a viu?

-Acha que eu acordo tarde como você? 

-Vou acordar cedo para quê?

-Sei lá, talvez para se exercitar.

-Me exercitei bastante ontem...

-Cristian! Poupe - me dos detalhes. Já me basta ver uma mulher diferente sair daqui a cada três dias. 

-Serei mais cuidadoso. 

Minha mãe revirou os olhos e abocanhou seu pedaço de bolo. Segundos depois meu pai surgiu a mesa.

-Pare de implicar com o menino Verônica. 

-Minha casa não é motel.

-Ele é homem.

-Então que vá ser homem em outro lugar.

-Está bem mãe, não trarei mais garotas aqui.

-Acho bom.

-Bom eu tenho que ir.

O primeiro dia de aula é o mais complicado de todos. Não conhecer ninguém não ajuda. A minha sorte era que minha prima estava na mesma sala que eu. Na verdade eu é quem estava na dela, já que ela está nessa universidade desde o ano passado. Como eu fiz um ano na Europa, dei sorte de cair na mesma unidade que ela.

Sabrina me guiou pelo campus e me apresentou a todos.

Na hora do intervalo, lá estava eu com a galera dela.

-Você entendeu o que a professora de anatomia disse sobre os músculos Belinda? 

-Acho que entendi, passa lá em casa que eu te explico melhor.

-Combinado então? 

-Sim. Eu vou...

Próximo a porta estava um garoto. Ele conversava animadamente com mais dois. Seus cabelos castanhos caiam sobre a testa. E eu podia ver seus olhos azuis de onde eu estava.

Seus dentes eram brancos e perfeitos. Pude ver quando ele gargalhou, jogando a cabeça para trás. Sua camisa aberta mostrava seu abdômen definido.

-Está me ouvindo Belinda? 

-Eu... Quem é ele? O rapaz de camisa branca?

-Aquele é Cristian Montesano, nossa família não fala com a dele.

-Por que?

-Dizem que é uma briga antiga por causa de terras. Ele está na cidade há pouco tempo, mas já partiu o coração de metade das garotas daqui. Fique longe, ele é perigoso.

-Não tenho medo.

-Seus pais não aprovariam.

Sorri com a possibilidade de beijar aqueles lábios vermelhos.

A aula foi muito chata. Só estava fazendo engenharia, por insistência de meus pais. Eu queria mesmo era medicina. No intervalo eu conversava com Martin de Castro. A família dele detestava a minha, mas nos eramos amigos desde sempre, mesmo contra a vontade de seus pais. Na verdade os velhos nem me conheciam. Se passassem por mim seriam totalmente cordiais sem se dar conta de que me odiavam por sobrenome.

Martin estava dizendo que teria um jantar em homenagem a sua irmã, que por sinal estudava na mesma faculdade, mas ele disse que eu só a conheceria no jantar. Ela havia estudado quase toda a vida na Europa e voltara para o Brasil no dia anterior. Com certeza eu iria nesse jantar.

A noite estava próxima e todos os preparativos para o jantar já estavam concluídos. Uli me ajudava a escolher uma roupa.

-Que tal esse menina?

-Por mim vestia uma calça e um suéter. É só um jantar.

-É um jantar formal. E precisa estar elegante. 

Abri o closet e olhei todos os vestidos sem vontade. Coloquei os olhos em um que não me lembrava de ter. 

Ele havia sido comprado para minha festa de quinze anos. Mas eu não havia conseguido chegar ao Brasil para ela. Ele era um tomara que caia simples. Com alguns bordados no corpete. Com a ajuda de Uli eu o vesti.

Ficou perfeito. 

-Vai ser esse então. 

-Mas...

-Ou é esse, ou calça jeans e suéter.

Uli se calou porque ela sabia que eu seria capaz de descer assim.

-Os sapatos também? 

-Por favor.

Não era um jantar, era uma festa, haviam pelo menos duzentas pessoas ali. Martin trouxe um drinque e ficamos ali conversando por um tempo.

-E ai cara, não vai me apresentar sua irmã? 

-Ela não é como as outras que você pega Cristian. 

-Só quero conhecê -la.

-Ela lá já deve estar vindo...Olha ela ali.

Olhei na direção em que Martin apontava. No alto da escada uma beldade de cabelos negros que lhe chegavam até a baixo do busto em longos cachos alinhados, olhava para a multidão de pessoas incrédula.

Aquele que supus ser seu pai, subiu até o topo da escada e pegou em sua mão, a conduzindo até o cento da festa.

- Quero que todos conheçam Belinda, minha filha que estava na Europa. Ela está de volta e nada me faz mais feliz.

Todos aplaudiram e a garota ficou carmesim. Ela se afastou e uma garota a acompanhou. Um velho que eu não me lembrava o nome se aproximou do pai dela e cochichou algo em seu ouvido

O homem sorriu e cumprimentou o velho. 

Mais para o final da noite o pai de Martin acompanhado do tal velho reuniram a todos para um comunicado.

Meu pai chamou a todos e disse que faria um comunicado. Isso não me cheirava bem, mas ainda assim eu fui.

-Eu não vou me demorar. Bem, como eu disse minha filha foi para a Europa com apenas sete anos e voltou uma doce jovem. Quase uma mulher feita. E é com muita alegria que eu anuncio a vocês que a família Bertolli e a família Castro se tornarão uma através do matrimônio de nossos filhos.

Meu ar faltou. Os Bertolli não tinham filha mulher, por isso não poderia ser Martin. Seria eu e um dos filhos dos Bertolli.

-Estevão Bertolli, se torna noivo de minha filha Belinda de Castro hoje.

Eu não pude conter a minha decepção e corri para o jardim. 

Me sentei na balança que eu brincava aos sete anos e chorei. Senti uma presença ao meu lado e me virei assustada. 

-Te assustei?

-Não. 

Era o garoto da escola.

-Percebi que você não gostou do seu noivo.

-A gente brincava de pegar, quando éramos crianças Ele está mais para um irmão.

-Agora é que vão brincar de pegar.

-Idiota! 

-Desculpe. 

Mais lágrimas surgiram e Cristian enxugou com os polegares.

-Não se preocupe. Tudo vai dar certo.

-Tenho minhas dúvidas. 

Eu tinha vontade de consolá - la e por isso aproximei meu rosto do dela. Ficamos a poucos centímetros de distância...

-O que está fazendo com a minha noiva?

Me afastei rapidamente e olhei para o rapaz que me olhava com o rosto vermelho em fúria. 

-Ela nem quer ser sua noiva.

-Mas ela é, e vai se acostumar com isso.

-A vontade dela não conta?

-A dela ou a sua?

-Como ousa falar dela assim? 

-Falo como eu quiser.

Ele socou o meu rosto e eu parti para cima dele. 

Nós dois rolamos no chão. Belinda começou a gritar para que parássemos. 

Dois homens chegaram e nos separaram.

-Quem é você? 

-Este é Cristian Montesano.

-O que um Montesano faz em minha casa?

-Eu o chamei papai.

-Ousa me contrariar? Sabe que esta família não é bem vinda aqui.

-Ouso papai. Cristian é uma ótima pessoa.

-Não é você quem decide. Levem esse rapaz daqui.

-Papai deixe - o. 

-Não Belinda. Ele deve ser preso.

-Será preso porque se defendeu? Estevão socou o rosto dele primeiro.

-Mas ele estava tentando te beijar.

-Que tentando me beijar? Eu nem conhecia ele. 

-Então por que está defendendo?

-Porque não suporto injustiças. 

-Já chega! Martin leve esse rapaz daqui, e que fique bem claro que não desejo vê -lo mais aqui. E quanto a você Belinda, vá para o seu quarto.

-Mas pai...

-Agora Belinda!

-Humpf! 

Eu saí correndo e entrei, bati a porta do quarto.

Todos os convidados haviam ido embora e Martin me acompanhava até o portão da frente. Ele me deixou do lado de fora, e após se despedir voltou para dentro. Já na rua, notei que havia uma sacada iluminada, olhei em sua direção e vi Belinda de longe. Pulei o muro de volta e joguei uma pedra. 

Ouvi um barulho e notei que havia uma pedra no chão. Alguém me chamava pela sacada. Sai e vi que lá em baixo estava Cristian. 

-Ficou louco?

-Pode - se dizer que sim.

-Você é mesmo um Montesano?

-Sou. E o que me importa se você é uma Castro? O que importa é o que vem da alma.

-Você faz parecer fácil. 

-E é.

-Por que me tenta?

-Porque o amor chegou a mim assim que te vi.

-Então acredita em amor a primeira vista?

-Sim, e por que não? 

-Porque vindo de quem já quebrou muitos corações, soa duvidoso.

-E acha que me arriscaria por algo que não fosse verdadeiro?

-Talvez, pela emoção da conquista.

-Faz - me rir.

-É melhor que vá agora.

-Sim, irei. Mas todas as noites me aguarde nesta sacada que virei.

-Pode me ver na faculdade.

-Não seria gracioso como ver - te no conforto de seu lar.

-Muito engraçado. Agora vá. 

Eu fiz uma mensura exagerada, lembrando Romeu e sai andando de costas até que cheguei ao muro, me virei e pulei.

Dentre todas as garotas que passaram em minha cama, fui me apaixonar pela proibida e que não passou em minha cama.

Eu estava ferrado. 

Ferrado mas feliz. 

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