Capítulo 3

Na favela existe uma frase que diz: “ Pra viver aqui tem que ser lobo, porque aquele que te abraça é o mesmo que te apunhala.”

Allan não teve uma infância como as outras crianças: seus brinquedos eram armas. Assumiu o comando do morro aos dezessete anos, após o pai ser baleado em uma invasão e falecer.

Sua vida se resumia a perigo: um dia após o outro, curtindo a vida da melhor forma possível.

Depois de deixar a filha do pastor em casa, retornou para o morro. Tomou um longo banho e depois vestiu a calça jeans recém comprada e uma regata preta. Não economizou no perfume importado. Finalizou o visual com seus acessórios de ouro.

Desce as escadas e vê a mãe sentada no sofá, assistindo novela; sorrateiramente se aproxima, assustando-a.

- Onde vai assim tão arrumado? - Franze a testa.

Dona Joana deixa de lado a novela que acompanhava para observar o filho.

- Dá um rolê por ai. – Foi evasivo.

- Sei... – Não escondeu seu desagrado.

- Fica sussa Dona Joana, não precisa me esperar.

Os holofotes era do comandante do morro que chegava no bar. Ofuscando todos os outros.

- Finalmente você chegou Allan. - Lorena disparou na direção do traficante e mordeu o lóbulo de sua orelha.

- Saca só Lorena, dá um tempo. - Se afasta dela que faz cara de indignação.

- Essa mina não desgruda de tu mano. – Hulk, seu parça desdenha.

Allan se junta aos amigos e pede uma cerveja. Erick, Repolho, Hulk e Allan conversam coisas triviais.

- A moreninha ali não tira os olhos de tu chefe. - Repolho dá um soco de leve no braço de Allan.

- Tudo quenga. – Solta e os amigos gargalham.

- Vai lá mano. - Hulk dá um gole em sua cerveja.

De modo sedutor, o rapaz pisca o olho em direção a morena que dança sensualizando para Allan.

- É... até amanhã cambada. - Se levanta e vai até a mulher.

O funk soava alto no local. Ele se aproxima da morena segurando em seus braços, trazendo-a para o lado de fora. Sem rodeios a beija ferozmente.

- Vamos para um lugar mais reservado? – Pergunta contra seus lábios.

- Claro!! – Concordou extasiada.

Allan leva a mulher para o topo do morro. Não trocou palavra alguma com ela. Não queria saber seu nome, não fazia questão de saber nada sobre ela. Apenas desejava suprir seus instintos. No entanto, a jovem de cabelos cor de fogo pairou em seu pensamento. Por um momento acreditou que fosse ela em seus braços.

- Isabella!! – Sussurrou com os olhos fechados.

- Quem é Isabella? - A morena se afasta ofendida.

🌻

O dia nascia lindamente. Bella amava contemplar o sol surgir. A brisa leve que batia em seu rosto pela manhã. Aquilo melhorava seu humor matinal.

Estava apreensiva. Como seria ir para a escola e olhar para aqueles garotos que lhe fizeram tanto mal?

Acabou de colocar seu uniforme e desceu para o primeiro andar.

Seus pais a levaram para a escola; teriam uma longa conversa com o diretor.

- Vá para sua sala; iremos a diretoria agora. – Isaque lhe abraça.

- Tudo bem. – Se despediu dele e da mãe.

Ao entrar na sala foi olhada escancaradamente pelas amigas de Paty que foi suspensa por ter derramado suco em seu caderno. Ignorou as meninas e se sentou.

- Bom dia Luana! – Abriu a mochila para devolver as folhas de fichário da menina.

- Bom dia. - Sorriu timidamente. - Conseguiu copiar as matérias?

- Sim. Muito obrigada!

As primeiras aulas se passaram. No intervalo não viu Dylan e nem seus amigos: o que a fez suspirar de alívio.

Após o sinal retornou para a sala.

- Olha aqui. - Mel entra e se achega perto dela apontando o dedo em sua direção. - Eu não sei o que você fez, mas isso não vai ficar assim. - Diz rispidamente.

- Isso o que? – A encara entediada.

- Não adianta se fazer de desentendida, por sua culpa o meu namorado e os amigos dele foram expulsos da escola. - Grita.

- Ótima noticia. Quem sabe assim eles aprendem a respeitar as pessoas. – Dá de ombros e ela vai para o seu lugar bufando.

🌻

Já era quase noite quando a jovem chegou a igreja.

- Bella. - Ryan sorriu ao ver a amiga.

Ela o cumprimentou e logo após abraçou Malu. Amava estar ao lado dos amigos.

- Seu irmão não vai vir? - Malu pergunta. Era nítido que a jovem nutria sentimentos fortes por Cris.

- Hoje não amiga. Ele ficou muito atarefado com o trabalho.

Ela cumprimenta os outros e vagarosamente sobe ao púlpito com as tablaturas. Ao poucos sola alguns louvores no piano enquanto a igreja se enche.

As horas passam e a reunião termina.

Diego, líder dos jovens, chama o grupo para uma conversa.

- O que vocês estão achando da evangelização? – Pergunta ao pessoal.

- Uma benção, é sempre bom pregar a palavra de Deus para as pessoas e acho que temos aprendido bastante com a vida dessas pessoas tão sofridas. - Samuel diz sincero.

- Quem mais quer dizer algo? - Diego insiste.

- Na bíblia há uma passagem que diz: "E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura." – Bella se pronuncia. -Pessoas com tantos problemas, sofrimentos... usam as drogas como fonte de escape, precisam saber que há uma salvação para elas; que há alguém que as ama.

- Fico feliz com a dedicação de vocês. - Diego comenta. - E tenho certeza que Deus se alegra com isso. A evangelização a princípio seria apenas aos domingos, mas agora terá aos sábados também.

- Você já falou com o chefão do morro? - Ryan pergunta.

- Ele mesmo sugeriu. - Diego diz satisfeito. - Que Deus o abençoe!

🌻

A semana se passou lentamente. Paty infernizava Bella há todo momento. Deixava bilhetes do tipo: “ mexeu com a pessoa ERRADA” , “ VOCÊ VAI ME PAGAR CARO”.

Bella procurava não se abater com os comentários maldosos que ela e suas amigas faziam. Tentava ao máximo se fazer de demente e não entrar em discórdias. Era uma luta diária para não deixar a insegurança adentrar seu coração.

Ela contou os dias e as horas para chegar o bendito sábado. Naquele dia em especial se arrumava mais do que o costume. Daquela vez não cometeria o erro de usar salto, optou por uma sandália baixa.

- Que ninguém olhe pra você. - Cris disse ao contemplar a beleza da irmã.

- Não exagere. – Revirou os olhos.

Os jovens se encontraram no lugar marcado. Foram separados em duplas. Bella e Malu começaram a subir juntas.

- Ainda não me acostumei com esse brucutus armados aí na frente. - Cochicha Malu.

- Não tem como se acostumar com isso.

De repente o coração de Bella se descompassa.

“ Será que vou vê-lo? O dono dos olhos azuis mais lindos que já vi em toda minha vida.” - A pergunta martelava em sua mente tirando seu sossego.

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